Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 041: Culturas populares: entre tradições, espetáculos e protagonismos contemporâneos
Memória é potência: Encruzilhadas de conexão como resistência nos giros das mães baianas do Império Serrano.
Este trabalho é o fragmento de um mergulho no mundo da ala das baianas da escola de samba Império Serrano, em Madureira, no Rio de janeiro. Com o interesse na trajetória destas mulheres do grupo, o texto evidencia os diálogos no caminho da observação e a história individual das protagonistas deste enredo. Nessa conjuntura, por meio do trabalho de campo pude compreender a conexão e admiração destas baianas, por outras gerações do grupo.
E estes sentimentos serem utilizados como táticas para o fortalecimento da autoestima, e da noção de pertencimento do coletivo. Tal como kabengele Munanga (1988) traduz sobre o sentido de continuidade, como fortalecimento de pertencer para memória negra de um grupo social.
Por esta linha de pensamento, a memória da grande e primeiríssima matriarca da comunidade da Serrinha e do Grêmio Recreativo Escola de Samba Império Serrano, Tia Eulália, se faz presente na memória individual de infância da baiana Claraindia. Na sua narrativa a ênfase está no lugar marcante da sua lembrança, na importância da matriarca para história da comunidade da Serrinha, do Império e do próprio carnaval.
A noção da memória referencial destas mulheres é centrada em outras mulheres, numa configuração em sua maioria, de mães e avós negras. A lembrança da Lúcia Iara de sua mãe como baiana, o ensinamento da Claraindia do doce da avó, e sua recordação da Tia que apresentou o universo do Império Serrano quando ainda era criança.
E ainda, esta ideia de afeto nas relações entre mulheres negras, alcança a linha teórica da socióloga Collins (2019) que aborda a construção nessa dinâmica social de um coletivo de mulheres negras, construir um saber alternativo. Este, conectado ao princípio de cuidar e de falar com o coração, sendo a expressão individual e as emoções, características fundamentais para um desenvolvimento válido deste conhecimento.
Esta ideia de respeito, admiração, e honra pelas baianas mais antigas, leva a pensar no lugar de autoridade e afeição que geralmente é transmitido no papel das grandes matriarcas de uma família. Tendo a prática de honrar as mulheres que vieram antes, através das memórias com sentimento de admiração.
Assim, trazer para a superfície os relatos das mais antigas no cruzamento com a vivência do presente, foram dimensões necessárias para refletir sobre a memória das baianas imperianas como potência. E a partir disso, tocar nos fatores que elaboram a transmissão dos valores da ala no dia de hoje, torna visível o contexto social desta memória periférica, sendo a resistência como prática, uma orientação guia nos giros cíclicos do tempo-carnaval das matriarcas do Império Serrano.