Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 041: Culturas populares: entre tradições, espetáculos e protagonismos contemporâneos
Experimentações e circuitos dos sentidos de corpos-territórios, gênero e sexualidades a partir de um terreiro de candomblé na cidade de Dourados MS
Pensar experimentações de gênero e sexualidades de sujeitas/es/os como manifesto performático, político e insurgente nos solos sagrados é pensar, ao meu juízo, nas corporalidades como ferramenta de usos e abusos da radical máxima de constantes e intermináveis produções de corpos, personas, humanos e mais-que-humanos. Agudizando esse debate como tentativa de sobrepor e contestar as categorias auto evidentes, esse paper tem como objetivo apresentar e escarrar pó de pemba nas e das dinâmicas do que se entende por territórios, em concomitância com abordagens da fazeção de macumba como prática pedagógica e política, que subjetiva e ordena o que estarei a reivindicar como corpos-territórios a partir de contratos sociais e cosmologia local. Fruto de uma dissertação de mestrado, esse trabalho centra-se em narrativas e observações participantes realizadas em um terreiro de candomblé ketu, localizado em uma periferia de Dourados. Ao evocar Dourados, cidade localizada ao sul de Mato Grosso do Sul, como lugar em que o debate de território(s) sempre está envolto pelo agronegócio e disputas territoriais, procuro me ater a outras matizes sobre territórios e disputas, compreendendo o terreiro, que é um território que reitera disputas, e os corpos que o ocupam, como territórios polissêmico, remontando a cosmo-ontologia e o modo de existir a partir de ancestrais, que circulam e produzem fluxos e circuitos que enxergo como duais, ou seja, humanos, mais-que-humanos e suas possibilidades extensivas. Proponho, em um primeiro instante, uma leitura cartográfica e rizomática do território do solo sagrado, que está além e aquém do reducionismo do espaço físico, ao passo que demonstrarei como a periferia tem seus acordos tácitos e o máximo respeito como o Ile Asè Alaketu Omó Okòró Ogum Oniré e suas/seus adeptas/es/os. Abordarei com mais afinco como a produção subjetiva é resultado da relação vincular com o cosmos, na relação de ressurgência para com os mortos e como os corpos humanos, ou seja, das pessoas vivas, se constituem enquanto territórios estes invioláveis , e como gênero e sexualidades no contexto estudado será tecnologia de mediação do sagrado. Os sentidos dados a esses corpos-territórios, veremos, são ulteriores à relação com os vivos. Articulado, pois, entre gênero, sexualidades, noção de território em bricolagem com o corpo, temos que o espaço estudado tende a recusar aspectos dramatizáveis tão conhecidos por candomblecistas, no que diz respeito à reiteração de violências calcadas no tradicionalismo, ao mesmo tempo que foi possível observar por parte de interlocutores, em conversas informais, a regurgitação dos pensamentos que se ocultam na seara pública das figuras de dissidências e como as negociações são limitadas a partir do parentesco.