Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 041: Culturas populares: entre tradições, espetáculos e protagonismos contemporâneos
Capoeira a um clique: adaptações e reminiscências no jogo da capoeira nas rodas digitais
Com a crise da COVID-19 e a implementação das medidas de segurança, desde 2020, no Brasil, se evidenciou a centralidade das tecnologias no dia a dia e as plataformas digitais passaram a intermediar todo tipo de relações sociais, produzindo efeitos e transformações dignas de atenção. Desde então, o que se revela de modo aparentemente irreversível é a conversão dessas tecnologias digitais em objetos vitais para a humanidade, na ampla acepção do conceito de vitalidade (Cruz; Siles, 2021; Cruz, 2022). Em 2022, passei a conduzir uma pesquisa etnográfica que tem como objetivo compreender de que modo a capoeira e suas estruturas, fundamentos, métodos, rituais, segredos, tradições e princípios, em suma, seus processos de afirmação cultural, passam a se transformar ao interagir num universo marcado pelas tecnologias e plataformas digitais. Em outras palavras, a partir de uma abordagem que toma como lócus alguns grupos de capoeira estabelecidos na cidade de Salvador-Ba até navegações onlines, por aplicativos e plataformas como Instagram, Youtube e WhatsApp, me interessa pensar, junto aos meus interlocutores, as seguintes questões: como acessar o axé e os saberes mobilizados, de forma física, num encontro online? Quais as vantagens práticas e as desvantagens subjetivas - ou, ao contrário, as vantagens subjetivas e as desvantagens práticas - destes novos formatos? De que modo gingam a tradição e a modernidade nessas rodas e redes? Tomo como objetos de análise algumas experiências vivenciadas por mim, e registradas em diário de campo, que nos permitem pensar, em perspectiva comparada, as principais transformações e permanências entre os treinos que ocorrem na modalidade presencial e na modalidade online. Devem se somar a esse esforço analítico os principais resultados e dados etnográficos produzidos ao longo da minha pesquisa de mestrado (2019-2021) e, desde julho de 2023, no campo (ainda em curso) do doutorado. São entrevistas, relatos, notas de campo e registros de experiência que, aqui, apresento como jogos de conversa - colocando os diferentes posicionamentos dos interlocutores-chave em perspectiva comparada com o intuito de acessar a complexidade e ambiguidade que marca a interpretação desses atravessamentos digitais pelos agentes diretamente envolvidos.