Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 041: Culturas populares: entre tradições, espetáculos e protagonismos contemporâneos
Maracatu Raízes da Tradição: notas sobre Culturas negras, Territórios ancestrais e Educação patrimonial
O estado de Alagoas concentra um número expressivo de diferentes manifestações culturais negras que foram compreendidas como objetos por excelência da pesquisa folclórica nas décadas de 1930-1980. A elite intelectual alagoana tomou para si a missão de registrar, classificar e preservar a memória do Folclore e da Cultura Popular, no entanto, ainda que vasta, estas produções revelam lacunas, ausências e tentativas de silênciamentos de narrativas que em um contexto de tantos privilégios não foram elas contempladas. Conforme Carlos Eduardo A. Lima(2016), as manifestações negras, sobretudo os Maracatus, que tomavam as ruas da capital no período do Carnaval, sofreram duras represálias da sociedade alagoana em decorrência da Quebra de Xangô em 1912, o que ocasionou o desaparecimento da prática no estado. Como bem observa, Jefferson S. Santo(2014) se por um lado a historiografia oficial aborda os segmentos menos favorecidos evidenciando os mecanismo de criação dessa manifestação cultural negra, uma vez que esta foram feitas pelas tradicionais famílias senhoriais permitiu o prolongamento da condição de objeto de estudo da população negra, sob o exotismo característica do pensamento folclórico. Nos últimos anos houveram diferentes movimentações que possibilitaram a retomada de grupos de Maracatu, através da iniciativa de diferentes fazedores da cultura negra na cidade de Maceió. Diante disso, me proponho nas discussões iniciais da minha pesquisa de mestrado colocar o desafio de em meio às contradições, jogos de forças, continuidades e descontinuidades de construir uma análise mais coerente e capaz de causar rupturas com os discursos colonialista e preservacionista produzida pela elite local, e reproduzida no imaginário social ainda nos dias de hoje. Os Maracatus são aqui entendidos como cultura popular negra que age como sujeito político na diáspora, com presença de conflitos legitimadores e lutas simbólicas como observam Denys Cuche(2002) e Stuart Hall(2018), portanto, são manifestações culturais, artísticas e afro-religiosas responsáveis pela promoção e valorização da diversidade étnico-racial, e que assumem um papel fundamental no processo de construção de contra narrativas no estado de Alagoas, sobretudo diante dos debates em torno da aplicação das Leis 10.639/2003 e 11.645/2008. Dessa forma, busco nesta comunicação desenvolver uma reflexão sobre a atuação político-cultural-pedagógica do grupo Maracatu Raízes da Tradição, criado por Mãe Vera de Oyá, em meados dos anos 2000, cuja suas atividades eram desenvolvidas no Conjunto Otacílio Holanda, parte alta e periférica de Maceió/AL, para tanto, apoio-me na revisão bibliográfica, registros audiovisuais e entrevistas semiestruturadas.