Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 041: Culturas populares: entre tradições, espetáculos e protagonismos contemporâneos
“Hoje tem maracatu?”: as possibilidades educativas da cultura popular no encontro com as infâncias periféricas.
“Hoje tem maracatu?” - questionava com tom de cobrança e repreensão uma menina de 8 anos aos educadores, que não compareciam à favela da Pedreira há algum tempo devido a uma greve universitária. Trata-se de um projeto, iniciado em 2022 e intitulado "Maracatu Maracá: música no sangue, África no soro", concebido por Antonio Fernandes Donizeti, professor universitário, capoeirista e percussionista do grupo Toneladas de Maracatu. Seu propósito era explorar a cultura do batuque com as crianças da favela da Pedreira, provocando reflexões sobre as identidades raciais na cidade.
Jacarezinho, uma pequena cidade com pouco mais de 40.000 habitantes na região nordeste do Paraná, possui aproximadamente 40% da população identificada como preta e parda, conforme dados do Censo de 2023. No entanto, há pouca documentação sobre essa presença na memória da cidade, já que foi consolidado um ethos urbano brancocêntrico e estabelecida uma política informal de apagamento e esquecimento das presenças, histórias e experiências não brancas na cidade.
Na favela da Pedreira – como é chamada por muitos, inclusive pelas crianças – a presença negra é proeminente e, entre a rua de pedras, casas e vielas, vibra uma infância engajada no brincar que se encontra com o maracatu. Em sintonia com a sonoridade das alfaias, gonguês, ganzás, tarol e agbê, as vozes das crianças anunciam as novas narrativas sobre a cidade, sobre seus lugares de habitar e conviver.
As vozes da infância e dos tambores - ambas silenciadas ao longo história - expressam a intencionalidade pedagógica da cultura popular, que se manifesta como uma “cultura rebelde” (Brandão, 2009), para além das margens impostas socialmente, delineando novos territórios educativos na cidade, convidando todos ao cortejo “ô meu povo, venha cá, venha ver que está chegando, Maracá Pedreira, da Estação Maracatu”
Assim, este texto busca refletir sobre as potencialidades educativas da cultura popular na elaboração de territórios antirracistas e identidades afirmativas a partir das experiências em um projeto de extensão que é realizado com crianças periféricas de uma pequena cidade. Para embasar teoricamente essa reflexão, serão utilizados referenciais da Antropologia (Brandão, 2009; Gusmão, 2012; Gomes, 2017) e da Educação (Arroyo, 1997; Freire, 2001, 2005).