ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 041: Culturas populares: entre tradições, espetáculos e protagonismos contemporâneos
Canto do Tempo. Marcadores temporais na oralidade dos Congados mineiros
Daniel Luiz Arrebola (UFES)
Os cantos, ou pontos, entoados por capitães e congadeiros da cultura popular dos Congados são carregados de símbolos e marcadores temporais da história do período do Brasil escravocrata e de antes. Através destas melodias, os cantantes levam os devotos a um outro lugar do tempo, de memórias doloridas e, ao mesmo tempo, da construção de uma devoção aos Santos e Santas católicos. Nesta pesquisa, irei abordar os marcadores do tempo presentes nos cantos congadeiros e apontar o uso simbólico destes como uma forma de viagem temporal que traz aos expectadores o passado ancestral dos capitães negros, o presente da vida cotidiana local e o futuro através do agenciamento da fé do devoto que faz suas promessas. A pesquisa será desenvolvida ao longo de dois anos com trabalhos de campo no centro-oeste mineiro, local de grande efervescência da tradição do Congado, em diálogo com pesquisadores da antropologia do tempo e da cultura popular, em especial com pesquisadores que tratam a oralidade popular e a contra-antropologia. O trabalho tem como hipótese que estes cantos podem ser considerados mecanismos de viagem no tempo através da narrativa histórica somada a catarse da devoção as entidades divinas que estão presentificadas através dos ternos de Congado. A pesquisa tem como metodologia, além do uso da etnografia, o registro audiovisual e as entrevistas semi-estruturadas. O desafio principal será o acesso a respostas, sobretudo dos devotos, que possam ser pessoalmente restritas devido as sacralidades das promessas feitas aos santos, contudo, mediante meu tempo de inserção em campo nestas localidades creio que seja possível angariar respostas em quantidade significativa para a pesquisa. A relevância deste trabalho pode ser apontada pela necessidade do registro e debate sobre oralidades carregadas de tempos anteriores e que trazem importante marcadores culturais e sociais populares e, apesar de evidenciar em suas letras, ainda são apagados pelo racismo, a liberdade social do negro e a história de uma fé que foi construída de maneira impositiva. Além disso, esse trabalho pretende contribuir com novas discussões e abordagens sobre o tema da oralidade no campo da Antropologia do Tempo.