ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Grupos de Trabalho (GT)
GT 006: Antropologia audiovisual com fotografias e filmes: da película ao digital
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Coordenação
Alexsânder Nakaóka Elias (Pesquisador), Jesus Marmanillo Pereira (UFPB)
Debatedor(a)
Olavo Ramalho Marques (UFRGS), João Martinho Braga de Mendonça (UFPB)

Resumo:
A fotografia, o cinema e o vídeo acompanham a Antropologia desde o momento de seus respectivos surgimentos. Inicialmente como simples formas de representação, atestados do real, essas formas de expressão se constituem, cada vez mais, como parte significativa dos processos de pesquisa, passando de meros recursos ilustrativos, adereços e anexos, ao estatuto de objetos e componentes metodológicos das pesquisas (Nakaóka Elias, 2018, 2019). Partindo dessa perspectiva, o presente GT irá acolher trabalhos que reflitam sobre as potencialidades da fotografia, do cinema e do vídeo nas produções etnográficas/antropológicas. Nossa proposta é reunir pesquisadoras/es que promovam debates que orbitem em torno da centralidade dessas linguagens, enfatizando sua importância na aproximação com o campo de pesquisa, seu poder de uso, seu potencial metodológico, as possíveis relações com a escrita, etc. Tudo isso levando em consideração as múltiplas materialidades das imagens, sejam elas analógicas ou digitais. Além disso, o GT buscará estimular discussões sobre as múltiplas potencialidades narrativas acionadas nos atos de registrar, descrever, imaginar e compartilhar pesquisas com e por imagens, sejam elas provenientes de acervos, produzidas pelo/a pesquisador/a, ou feitas dialogicamente com nossos/as interlocutores/as. Buscará, ainda, o diálogo com outras especializações da Antropologia que focam em temas diversos como, por exemplo, religião, técnica, questões urbanas, de gênero, trabalho etc.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
A imagem como eixo infraestrutural. Contato e exposição do porto de Suape
Alex Giuliano Vailati (UFPE)
Resumo: Uma das infraestruturas mais impactantes da história do Brasil é o Complexo Portuário de Suape, que a partir da década de setenta foi responsável por uma rápida transformação do litoral ao sul de Recife, capital do estado de Pernambuco. As comunidades que foram deslocadas e que vivem hoje em dia ao redor do Porto foram objeto de uma extensa exploração imagética, e muitas imagens e gravações audiovisuais foram realizadas em coincidência de laudos ou outros acontecimentos. Este trabalho visa propor uma análise dessas imagens, destacando como essas formas materiais são uma parte fundamental da infraestrutura do Porto e permitem uma exploração das poéticas e das temporalidades que foram impostas aos moradores das regiões interessadas. Esta chave de leitura permite uma repolitização do Porto, que passa fundamentalmente pela materialidade das imagens, além do concreto das suas instalações.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Fotrica: apontamentos à construção de uma metodologia de conjunto destinada ao cruzamento de fotografias, memórias e trajetórias de mulheres que compartilham uma territorialidade
Aline de Jesus Maffi (UNESP)
Resumo: A partir da década de 1930, a história oficial do norte do Estado do Paraná passou por um amplo processo de (re)escrita. A violência, a exclusão e o silenciamento são elementos constitutivos da (re)ocupação das terras ao norte do Estado. Contudo, a produção do discurso “Norte do Paraná” buscou promover um amplo conjunto de ideias e imagens sobre a região que visava produzir e consolidar um imaginário de que o processo ocorreu de modo pacífico, com uma estrutura racional e ordenada. Esse contexto fundamenta a pesquisa “À margem do visível: a reemergência de memórias e trajetórias de mulheres ao longo de uma pesquisa com imagens no Distrito de Maravilha”, construída em interlocução com mulheres negras e brancas, migrantes ou de família migrante, que tiveram as suas trajetórias (in)visibilizadas pela história oficial do estado. Ao considerar as disputas políticas que envolvem os processos de construção da memória, entende-se que as mobilizações e os agenciamentos produzidos pelas fotografias, integrantes de álbuns de família das interlocutoras do estudo, podem se configurar como práticas de contramemória e como uma possibilidade de reemergência da memória coletiva local. Nesse contexto, este texto busca apresentar uma metodologia de conjunto, denominada como fotrica, destinada ao trabalho de memória realizado a partir da articulação de fotografias e relatos orais, para subsidiar o cruzamento de memórias, trajetórias e imagens de mulheres que compartilham uma territorialidade.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Cinema e artivismo no Recife Contemporâneo: intepretação histórico- antropológica sobre uma ativação de circuito cultural urbano e audiovisual
Fabiano Lucena de Araujo (UFPE)
Resumo: O presente artigo apresenta uma discussão sobre a formação de um circuito cultural urbano no Recife e área metropolitana, dando destaque para a constituição da cena audiovisual como linguagem e interesse orientador de uma modalidade de ocupação espacial na cidade e sua emergência a partir do contexto contemporâneo. O estudo deriva de uma imersão etnográfica do autor, requisito da pesquisa de doutoramento em antropologia, entre os anos de 2016 e 2020, onde constatou-se o relacionamento entre as táticas ou demarcações socioespaciais, empregando os termos usados por Michel de Certeau e seu desdobramento em Rogério Proença Leite, e a dimensão do artivismo, enquanto reivindicação estética e política de um uso da cidade e de questionamento da cultura dominante por parte de uma fração da classe artística e intelectual. Este setor articulou-se, contemporaneamente, a partir do contexto de redemocratização, o que suscitou uma cena videoativista e cineclubista no final dos anos 80, associada ao manguebeat nos 90, posteriormente convertida ao formato digital na década de 2000. Palavras-chave: Direito à cidade; Cinemas de Rua; Ruínas; videoativismo; Cena Mangue
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Memória em movimento: resgate de trajetos e práticas ilhota, território negro mítico de Porto Alegre/RS, a partir de fotografias de acervo
Felipe da Silva Rodrigues (UFRGS), Elisa Algayer Casagrande (UFRGS)
Resumo: O presente artigo busca relatar o processo de elaboração de uma crônica videográfica que objetiva um resgate da memória, dos caminhos e de práticas da antiga Ilhota, um significativo território negro na história de Porto Alegre/RS, bem como de seus habitantes. A crônica fotográfica foi concebida a partir da animação de coleções fotográficas obtidas de acervos museais específicos da cidade, como, por exemplo, Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo, Memorial do Legislativo do RS e Banco de Imagens e Efeitos Visuais (BIEV/PPGAS/UFRGS), e reunidas a partir do método de convergência (Eckert & Rocha, 2013). A ideia foi criar uma narrativa que evidenciasse os aspectos da Ilhota, bairro agora desaparecido, e que, de certa forma, trouxesse à tona o cotidiano dos seus moradores. O roteiro que resultou neste material foi baseado nas narrativas de Mestre Borel (Walter Calixto Ferreira), obtidas através de entrevistas realizadas pela Profª Drª Ana Luiza Carvalho da Rocha. Essas entrevistas, juntamente com outros materiais, contribuíram para a produção do documentário "Memória do Trabalho na Cidade de Porto Alegre", uma peça importante do acervo BIEV. No seu depoimento, Borel relata detalhes dos trajetos da população local até o Mercado Público, utilizando barcos como meio de transporte para chegar aos seus locais de trabalho. A crônica videográfica se fundamenta na análise dos registros temporais dos processos de retificação do Arroio Dilúvio e da construção da Avenida Ipiranga, eventos que resultaram no desaparecimento da Ilhota e em uma drástica transformação na paisagem urbana de Porto Alegre. Estas intervenções urbanísticas se somam aos projetos de remoção da população negra de certos espaços da capital gaúcha, como é o caso do Projeto Renascença, que se aplicou à região mencionada e transferiu os habitantes da Ilhota para o bairro da Restinga. No entanto, apesar das tentativas de apagar a presença da população negra da memória coletiva da cidade, a Ilhota, assim como outros territórios emblemáticos, permanece viva na memória da cidade e de seus antigos moradores. A ideia é que esse material possa atuar como uma forma de contrapor essas narrativas de apagamento e evidenciar os conflitos socioambientais e raciais presentes em Porto Alegre ao longo do tempo. Para pensar o contexto e a memória da cidade nesse contexto,, traremos partes desses depoimentos e dados da memória urbana, para falar sobre os personagens presentes nas imagens, sob o olhar da Antropologia Urbana e da Antropologia Visual, utilizando a etnografia da duração, proposto por Eckert e Rocha (2013).
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
“Exu nas escolas”
Francisco Gleidson Vieira dos Santos (Universidade Estadual Vale do Acara)
Resumo: Este trabalho versa sobre a produção de um documentário de curta metragem intitulado “Caminhos de Exu”. Faz parte de um processo de pesquisa cujo objeto é o discurso religioso público, observado por meio da produção de uma série de documentários de curta-metragem sobre as religiões afro-ameríndias, destinados aos professores e alunos do ensino básico. A escolha das temáticas dos filmes e a produção é compartilhada com os sujeitos religiosos, pais e filhos-de-santo do “Centro de Umbanda Rei Urubatan da Guia” e do “Terreiro de Candomblé Iemanjá Ogunté”. A temática escolhida para o primeiro filme versa sobre Exu, a parti da cosmologia umbandista. Embora existam diversos filmes produzidos sobre a entidade, chegou-se à conclusão da importância desta produção, tendo em vista ser direcionado para o público escolar. Tal conclusão reverberou no desafio de encontrar uma linguagem verbal e imagética adequada, que preserve os aspectos ontológicos pertinentes ao universo religioso afro-indígena, mas que seja inteligível para a sociedade englobante, uma vez que os filmes se propõem a serem instrumentos de diálogo, em função dos altos índices de racismo religioso no ambiente escolar.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Da futilidade à potência em "Legalmente Loira": análise fílmica como recurso educacional para o ensino de socioantropologia
Gabriel Cortezi Schefer Cardoso (UFRGS)
Resumo: Este trabalho tem como objetivo apresentar um projeto de análise fílmica voltado para o ensino de socioantropologia no Ensino Médio, que tem como conteúdo “identidade e diversidade cultural”, conforme especificação da Base Nacional Comum Curricular (2018). Utilizando-se da obra cinematográfica “Legalmente Loira” (2001), apresenta-se uma proposta didática que utiliza o filme para refletir sobre questões de identidade, cultura, diversidade e diferença, temáticas centrais do ensino de socioantropologia. A fim de proporcionar um ensino que movimenta a imaginação sociológica (Mills, 1982), a análise do filme usufrui de recursos sociais que permitem com que os alunos imaginem e fabulem a realidade, dispondo-se a pensar e refletir como os conceitos de teorias socioantropológicas são mobilizados na obra, tendo em vista que a personagem principal se choca com culturas distintas entre as universidades da Califórnia e de Nova York. Para fins didáticos e metodológicos, a aula irá expor trechos do filme para gerar debates seguidos por perguntas norteadoras. Entende-se, portanto, que apesar do filme parecer fútil, sua narrativa é imbuída de discussões sobre a vida social, tornando potente o uso didático de recursos da indústria cultural, principalmente de filmes mainstream, que atravessam as vidas dos estudantes. Além disso, acredita-se na necessidade de criação de aulas que contemplem as realidades sociais dos estudantes, a fim de proporcionar uma educação que esteja engajada com temáticas de interesse dos jovens, e que movimente seus mundos sociais, com o intuito de compreender e interpretar as temáticas sociais por óticas críticas das produções audiovisuais. Por fim, este projeto reafirma as teorias de didáticas que usufruem de materiais alternativos ao ensino tradicional, como a análise fílmica, que contribuem para maneiras de imaginar o social de forma criativa estimulando a participação dos estudantes e favorecendo a compreensão de teorias complexas.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Um defeito de cor: Reflexões sobre o racismo na fotografia analógica a partir do caso dos “Shirley Cards”
Gabriel Nunes da Silva (esta)
Resumo: O presente trabalho se propõe a analisar uma das maneiras como o racismo se manifesta na fotografia através da análise do que foram as cartelas de calibração de cor para revelação de fotografias analógicas introduzida pela Eastman Kodak Company nos anos 1940, conhecidas popularmente nos Estados Unidos como “Shirley Cards”. As cartelas possuem a função de calibrar e padronizar as cores, particularmente tons de pele, no processo de revelação e ampliação de negativos fotográficos por laboratórios da Kodak. Os cartões receberam seu apelido em referência a mulher que estampa a primeira versão da ferramenta, Shirley Page. O tom de pele de Shirley, mulher branca, era utilizado como o instrumento oficial para a calibração de cores e ajustes de tons de pele em todos os laboratórios da empresa que foi a maior companhia de produtos fotográficos do mundo, revelando um viés racial na própria constituição da fotografia enquanto suporte, técnica e mídia. Esta comunicação visa retomar as discussões e críticas já levantadas vários intelectuais acerca das problemáticas que podem ser observadas a partir da questão dos Cartões Shirley e os impactos que esse viés racial pode ter conferido a relação histórica entre as populações negras do mundo e a fotografia. Pretende-se também ensaiar sobre estratégias de superação desse viés empregadas por pessoas negras na fotografia e possíveis reverberações desse caso na fotografia digital e no trabalho de artistas negros e negras na contemporaneidade. O trabalho visa compreender como esta querela aparece e é discutida nos campos dos estudos das relações étnico-raciais e das imagens.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Revisitando fotografias documentais a luz de Henri Cartier-Bresson e outros autores.
João Piuzana Rosa (UFMG)
Resumo: Desde minha entrada na graduação tive a oportunidade, em especial através da minha orientação junto do docente, etnólogo e fotografo Rogerio Duarte do Pateo, de aprender sobre fotografia. Inicialmente, mergulhei no âmbito técnico das câmeras e do tratamento das imagens, e posteriormente o lado teórico do fazer fotográfico através de uma disciplina sobre Narrativas Fotográficas na Antropologia, ministrada por Rogerio. Nesse cenário, o ano de 2023 foi muito produtivo pensando nas práticas visuais, uma vez que integrei uma série de trabalhos de campo, atividades extensionistas e eventos acadêmicos, contemplando as áreas da Antropologia e Arqueologia, como fotografo, direcionando meu trabalho sempre em um viés documental. Em especial, me aproximei das proposições de Henri Cartier-Bresson, renomado fotógrafo francês responsável por desenvolver a temática do instante decisivo, isto é, aquele momento onde a composição do que se tenta fotografar está em uma harmonia única, onde o fotógrafo vê e faz ver determinados acontecimentos através justamente destes instantes decisivos. Dessa forma, o objetivo deste trabalho é compartilhar uma serie de meus registros e refletir sobre estes por meio de Bresson, mas também acionando conceitos e bibliografias como serie e sequencia, abordado por Inês Bonduki em seu trabalho sobre Nathan Lyons, o Verdadeiro Fotográfico de Rouilllé e o Artista como Etnógrafo de Hal Foster; possibilitando assim uma ampla reflexão sobre o potencial das visualidades dentro da nossa área do conhecimento, pensando principalmente no aspecto interdisciplinar Antropologia/Arqueologia presente na UFMG.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Entre fotografias e memórias: notas sobre a circulação das imagens técnicas na cidade de Mamanguape-PB
José Muniz Falcão Neto (UFPB)
Resumo: Este trabalho tem como objetivo analisar dados, coletados para pesquisa de doutoramento em Antropologia, sobre circulação de fotografias antigas da cidade de Mamanguape - PB na rede mundial de computadores. Através do contato com antigos fotógrafos nesta cidade, pretende-se discutir como as fotografias do passado tem circulado no universo digital, em especial nos aplicativos que buscam simular redes sociais. Como os usuários destes programas compartilham imagens? Em que medida foram responsáveis pela digitalização? Como tratam da questão da autoria fotográfica nos seus compartilhamentos? Que tipo de narrativas e interatividades tais imagens agenciam e até que ponto esse tipo de circulação ajuda a refletir sobre a construção de uma memória fotográfica histórica no vale do Mamanguape. Tratando-se, pois, de uma etnografia das práticas fotográficas e da sua circulação em ambiente digital, busco analisar duas entrevistas realizadas com dois antigos fotógrafos deste município, no sentido de explorar algumas questões em seus relatos, desde a atribuição de autorias, contextos retratados e experiências da profissão de fotógrafo no século XX no vale do Mamanguape - PB. Nesse movimento, entre as vozes dos antigos fotógrafos e os conteúdos visuais e verbais das postagens de imagens nas redes sociais, são despertadas reflexões antropológicas em relação à fotografia antiga, sua circulação e os processos de colonialidade na constituição de uma memória visual na região.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Imagens e instalações de resiliências: o experimentar de uma professora da/sobre a EJA
Katiuci Pavei (Professora)
Resumo: Busco com esse trabalho apresentar experimentações na produção de grafias como fotografia e instalação, enquanto formas de expressão e comunicação. Parto da visão circunscrita pela minha experiência pessoal, enquanto professora de Ciências Sociais/Sociologia, de uma escola pública, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Tal proposta surgiu da necessidade de conhecer as alunas/os/es da modalidade de ensino Educação de Jovens e Adultos. Sentia que, para estabelecer uma relação dialógica, precisava propor iniciativas que abordassem suas percepções sobre o retorno à escola e ao cotidiano escolar. A escuta dessas pessoas sobre suas trajetórias, bem como os enfrentamentos diários por estarem estudando e trabalhando (ou procurando trabalho), tendo uma gama de responsabilidades, engendrou um repensar sobre a minha prática docente. Também fez surgir a vontade de produção de visualidades para externalizar meus sentimentos e minhas reflexões sobre o próprio status social que a EJA e seu público discente tem no nosso país. Comecei a criar imagens e, por meio do sensível, fui experimentando narrativas visuais que tentassem abordar temáticas como evasão e regresso escolar; desafios da condição estudantil e trabalhadora; autorretratos; caminhada etnográfica estudantil pelo colégio no turno da noite. Tais ensaios, junto com uma outra proposta de produção de autorrepresentação discente, compõem o Projeto de Extensão Imagens e Retratos de EJA (@imagens_e_retratos_eja). Aqui pretendo socializar imagens das instalações “O que me arrancou da escola”, “Porque voltei a estudar”, “Mesas Estudantis-Trabalhadoras” que foram montadas no próprio colégio e depois fotografadas por mim. Também a série fotográfica "Mãos Estudantis-Trabalhadoras". Utilizei o ambiente da sala de aula, artefatos da cena escolar como mesas-cadeiras, cadernos, quadro, bem como objetos representativos das temáticas abordadas, na tentativa de trazer fragmentos narrativos e expressar de forma figurada situações. Essas instalações foram remontadas com manuscritos, fotos, áudios e vídeos em exposições realizadas em diferentes espaços culturais da cidade (MARS, Pinacoteca Ajuris, Espaço Força e Luz, UFCSPA, UFRGS) e na VII ALA, com o intuito de levar a discussão para além dos muros escolares e ampliar a visibilidade social da EJA. Nesses eventos locais convidei estudantes para falarem sobre si e suas histórias, pois foi junto com elas/eles que consegui realizar essas produções. Vale registrar que, movida pela força coletiva dessa ação, lancei-me a retomar neste ano a minha trajetória acadêmica, ingressando no curso de doutorado junto ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sob a orientação da professora Fabiene M. V. Gama (NAVISUAL).
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
A Fotografia no Tempo e o Tempo do Outro: Notas etnográficas sobre álbuns de fotografia de família
Kennedy Anderson da Silva Valério (UNIFESP)
Resumo: Fruto de uma pesquisa de mestrado em andamento que se propõe a discutir sobre como álbuns fotográficos de uma família negra, interiorana e pobre podem desvelar memórias, vivências e poéticas que perpassam as relações sociais desta família. Este resumo trata-se de uma pesquisa que é construída numa relação em que as fotografia de família e meus interlocutores, as guardiãs dessas imagens, são minhas parentes-interlocutoras. Dessa maneira, nos propomos à reflexão que parte dos apontamentos de Johannes Fabian (1983) sobre o Tempo e o lugar do Outro na pesquisa etnográfica. Nos indagamos aqui, sobre as possibilidades e limites da crítica feita por Fabian. Uma vez que ocupo o lugar de parente-pesquisador, questiono aqui, em que medida a crítica de Fabian acerca da noção de Tempo pode ser incorporada em uma pesquisa etnográfica que pensa a partir dos/com os álbuns de fotografia da mesma família do pesquisador, em outros termos, refletimos como se mobiliza a noção de temporalidade e outridade, a partir das imagens e de uma relação etnográfica em que o pesquisador é alguém de dentro.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Fotografar, esquecer e revelar: fotografias e outros registros de ausência e presença em uma monografia.
Mariana Ribeiro de Oliveira (UFRGS)
Resumo: Em março de 2023 me dirijo à capital portenha com o objetivo de iniciar uma possível pesquisa de graduação. A procura de materiais que demonstrassem a presença do meu objeto que viveu e estreou-se como escritora há dez décadas atrás nessa cidade. Encontro seus arredores, as publicações de seus colegas e amigos, os locais que frequentava e centros culturais nomeados após seus contemporâneos. Mas em Buenos Aires, nessa cidade que se lembra tanto, havia uma presença que parecia só existir para mim, e como se documenta a ausência? Quando a luz encontra a película do filme através do obturador, não há dúvidas da captura, mas só se descobre posteriormente o que foi encontrado. A procura de María Luisa Bombal, é uma tentativa de experimentação através da fotografia, montagem e colagem do primeiro contato com o campo que se tornaria trabalho de conclusão de curso em Ciências Sociais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A busca pelas palavras dessa escritora surrealista chilena mas que se fez em diversos países, especialmente na Argentina, e compôs uma das grandes cenas literárias da América Latina. Publicou na revista Sur e escreveu obras consideradas, atualmente, vanguardistas do realismo mágico latino americano. Uma figura enevoada de escândalos, contradições e categorias estratégicas para sua definição tanto nas áreas acadêmicas quanto artísticas. Este material acabou se distanciando dos conhecidos estudos de trajetórias com fotografias meramente acompanhantes do processo, ou da conversão da arte em artigo de uso (Sontag, 2020). Se tornou uma oportunidade de trabalhar com essas imagens pela beleza da faísca do momento obtido (Breton, 1972), ao encontro com as palavras de Bombal, no contexto da cidade de Buenos Aires. Assim como a própria tentativa de um possível resgate, que também havia ficado apenas na pretensão, os filmes revelados elucidam a possibilidade do viver depois de esquecer. Seja pela demora do processo de transformar o negativo em foto, ou por uma artista assombrada pelo constante fantasma desse esquecimento, em suas obras, seus testemunhos e suas biografias desenvolvidas anos após sua morte. O encontro das fotografias com as palavras de Bombal abriu caminhos de intersecção, para um estudo sobre esta escritora em conjunto da sua obra, entendendo como a separação do artista e de seu trabalho raramente é benéfica, pois é possível encontrar fragmentos de Bombal em suas produções, se levados a sério e compreendermos suas devidas agências. O viver depois de esquecer pode ser entendido pela ressignificação da relação com os fragmentos distribuídos que são mantidos nos mais diversos formatos, no começo eram os romances de Bombal, depois as fotografias de campo, para o material desenvolvido pela montagem e agora esta pesquisa.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
"Mal de Família": perspectivas e articulações entre cinema de horror, família e parentesco
Mário Ferreira da Silva (UFRGS)
Resumo: Este trabalho versa sobre movimentos, articulações e imbricações entre a família, sua representação e [re]criação dentro do cinema, focando especificamente no cinema de horror enquanto gerador, formador e [de]formador (Grunvald, 2016) de família. O cinema de horror enquanto um objeto antropológico, nos permite analisar diversas formas pelas quais as famílias são construídas e [des]construídas em tela; o horror enquanto gênero, produz brutalidade mas também produz tensões e emoções pungentes, que permitem não só nos atermos a esses filmes como um espelho nefando da realidade, mas como um reflexo implacável, o qual tal fabulação traz com sangue e medo, laços de parentesco que se cristalizam tanto em tela quanto no nosso tecido social. Inspirado no estudo que Rose Satiko Hikiji (1998) faz da representação da violência no cinema para a pensar dentro da sociedade, aqui coloco o foco no horror para analisar de que formas as famílias são articuladas, representadas e enquadradas dentro desse gênero fílmico. Fazer essa etnografia fílmica (Reyna, 2019), não é apenas ser espectador do filme, não fazer apenas uma etnografia da tela mas fazer parte da narrativa, estar no mundo-película convivendo com esses personagens acompanhando-os durante o percurso fílmico. Assim, o cinema é o locus, a gênese imagética para estudar as formas de ser e estar enquanto família, às pensando dentro de um devir do seu fazer-família (Grunvald, 2021), constituídas no seu fazer e não como algo já dado e concreto, monolítico. A película, ao retratar diversos modelos e formações familiares não apenas articula as formas que as famílias são retratadas na tela, seja para cristalizar formatos já prescritos na sociedade quanto para ressignificar e dar um novo molde para relações de parentesco. O filme, neste caso, é tanto o objeto de estudo quanto a tecnologia que produz as famílias e a realidade social, o locus de estudo e a gênese produtora de família.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Turmalina Paraíba e os olhares possíveis da alteridade na Feira de São Cristóvão
Nicolas Alexandria Pinheiro (UFRJ), Fernando Cordeiro Barbosa (UFF)
Resumo: No início do ano de 2003 começamos a filmagem do Turmalina Paraíba, que tem por objetivo registrar um processo de mudança em pleno desenvolvimento: a transformação da Feira de São Cristóvão em Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, ocorrida em setembro daquele ano. A relevância deste documentário está relacionada à importância cultural e social da Feira de São Cristóvão e ao impacto desse processo de mudança na vida social dos agentes sociais, os migrantes nordestinos, que mantêm uma estreita relação com este espaço na Cidade do Rio de Janeiro. A mudança não foi radical no que se refere à localidade, uma vez que a feira continuou a ser realizada no Campo de São Cristóvão, só que não mais ao redor do Pavilhão de São Cristóvão e sim no seu interior. Contudo, o de fora para dentro, não é um deslocamento espacial desprovido de significações. O “lugar”, conforme aponta Bourdieu, é definido pela relação entre as estruturas do espaço físico e as do espaço social, assim, estar dentro, em oposição a estar fora, apresenta graduações de uma certa ordem. Esse processo de mudança foi captado pelo filme: a razão da mudança, como foi o processo, quem se beneficia, quem é prejudicado, os prós e os contras, os pontos de conflitos entre os diferentes agentes sociais que estão direta ou indiretamente ligados à feira: feirantes, frequentadores, moradores do bairro, habitantes da cidade e representantes do poder público. As oposições tradição/modernização, primitivo/civilizado e atrasado/desenvolvido são os referenciais teóricos do filme. No ano de 2023 o documentário foi finalizado. Os motivos da demora foram diversos, mas foi compensada pela emocionante primeira exibição, que ocorreu em outubro de 2023, 20 anos após o início das filmagens, na Praça Catolé do Rocha, conhecida como Praça dos repentistas, na Feira de São Cristóvão. Os convidados para a exibição foram os feirantes, artistas e frequentadores que participaram das filmagens, bem como seus familiares e amigos, por conta inclusive de alguns já terem falecido. Se reverem 20 anos depois na tela do cinema, ou verem os familiares ou amigos falecidos, bem como ver a antiga feira e esse processo de mudança foi muito emocionante para o público presente. O filme, que tem uma estética voltada à emoção, bem como sua exibição em um espaço, que é referência de trajetórias sociais, cumpriram a missão que havia sido desenhada desde o início do projeto fílmico: ser a expressão de uma despedida e uma forma de lembrança. Nesse sentido, nosso trabalho traz uma discussão sobre as possibilidades de diálogos sobre olhares postos pela produção fílmica e suas interações com os próprios sujeitos retratados, procurando contribuir com o debate sobre a produção de imagens como suporte privilegiado em pesquisas etnográficas.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Da imagem dos vaqueiros de gibão ao NOSSO ENTES
Pablo B. Pinheiro (UFRN)
Resumo: Neste trabalho, abordo questões importantes para minhas investigações pessoais e acadêmicas sobre a imagem, tendo como base minha experiência com os vaqueiros de gibão de Acari, no Rio Grande do Norte, e a utilização de imagens na ação expositiva "NOSSOS ENTES" de 2019. Minha jornada começou como fotógrafo curioso e evoluiu para um fotógrafo-antropólogo após o mestrado em Antropologia Social na UFRN, sob orientação da professora Dra. Lisabete Coradini. Ao longo de mais de 13 anos, estabeleci vínculos e estratégias de pesquisa de campo, percebendo um olhar antropológico desde 2010. Neste ensaio, busco construir um caminho que une minha experiência no campo das imagens com textos que fortalecem a reflexão. A antropologia visual serve como ponto de partida para observar as imagens e seu contexto, enquanto a abordagem de objetos e artefatos artísticos ajuda a compreender e contextualizar as imagens produzidas. Destaco a influência de autores como Alfred Gell, Els Lagrou e Howard Morphy, este último especialmente no debate sobre estética transcultural, que me inspira a investigar a imagem no projeto "NOSSOS ENTES". É importante contextualizar esse projeto e a ação para entender como as imagens estão posicionadas tanto no campo real quanto no simbólico, e como as figuras humanas se relacionam com essas imagens. Ainda há muito a ser explorado nesse "entre" a imagem e o humano, um espaço desconhecido que oferece possibilidades metodológicas e teóricas. Embora seja possível focar nas potencialidades da antropologia para a imagem ou nas pessoas envolvidas, como os "Guardiões das Imagens", pretendo concentrar-me nesse espaço intermediário ainda inexplorado.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Patrimônio Mundial na Ilha de Moçambique: os desafios da produção compartilhada de imagens no trabalho de campo
Pedro Henrique Baima Paiva (NIPAM-UFG)
Resumo: O trabalho de campo é uma etapa fundamental para a pesquisa antropológica, pois em termos de posição epistemológica, a antropologia se caracteriza pelo relativismo, valorizando o discurso do nativo e preterindo quadros de interpretação e análise mais gerais e universalizantes. Conforme José Guilherme Magnani, a etnografia, seu método tradicional, é uma forma especial de operar em que o pesquisador entra em contato com o universo dos pesquisados compartilhando seus horizontes numa relação dialógica de troca, comparando suas próprias representações e teorias com as deles, para então refletir e partir para um modelo novo de entendimento, ou ao menos, partir para uma pista nova. Nesse sentido, em minha pesquisa de doutorado, optei pela produção compartilhada de vídeos e a produção de fotografias durante o trabalho de campo em 2019 na Ilha de Moçambique. A Ilha de Moçambique é um lindo recife de corais com 445 km² a 15° de latitude Sul caprichosamente deitado à frente da baía de Mussuril na Província de Nampula, região norte de Moçambique. Estrategicamente localizada no caminho das rotas marítimas que por séculos atravessam o Oceano Índico, Omuhipiti, como pode ser chamada localmente, é considerada um sítio maningui nice em qualquer lugar em que você perguntar pelo país, mesmo que seu interlocutor nunca tenha pisado lá. Com a área peninsular delimitada como Patrimônio Mundial, toda a cidade da Ilha de Moçambique, que é composta por 08 bairros na ilha e outros 25 bairros no continente, ligados por uma ponte de um pouco mais de três quilômetros inaugurada em 1967, vive cotidianamente atravessada pelo título concedido pela Unesco em 1991, assim como pelos sentidos que são atribuídos aos lugares e as emoções de vivê-los. Tendo em vista o processo de gentrificação e de degradação ambiental provocados pela política de turismo e de restauro dos imóveis patrimonializados, optei pela produção de uma caderneta de campo virtual com imagens, a produção compartilhada de vídeos de cunho etnográfico com interlocutores e a realização de uma oficina sobre o método da Câmera Participante com alunos da Universidade Lúrio na Ilha de Moçambique. Portanto, nesse artigo pretendo apresentar as dificuldades e as potencialidades da metodologia escolhida.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Imagens como testemunhas, instrumentos e atores de uma pesquisa etnográfica visceral
Rose-France de Farias Panet (UEMA)
Resumo: A comunicação pretende abordar a compreensão e a concepção do uso do audiovisual e da fotografia, como ferramentas da pesquisa social e sobretudo etnográfica à partir de experiencias pessoais durante o período do trabalho de campo com os Kanela-Ramkokamekra para a elaboração da minha tese de doutorado. Abordarei o uso de câmeras fotográfica e filmadora, na produção de imagens e de filmes etnográficos como instrumentos de pesquisa bem como a metodologia antropológica e sua influência no cinema etnográfico. A câmera fotográfica e a câmera de filmar registraram inúmeras cenas no trabalho de campo de duração de 9 meses, e assim como utilizadas na antropologia desde o final do séc. XIX enquanto recursos de análise cultural por Franz Boas, M. Mead, Gregory Baterson, Jean Rouch, me servi desta metodologia para revisitar as imagens produzidas. A materialização dessas imagens contribuiu não apenas para a elaboração da pesquisa, mas foram além de instrumentos, importante material com o qual produzi diversos filmes e exposições fotográficas, hoje suportes e janelas de observações disponíveis.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Por entre fotos e Deuses: Uma etnografia visual em terras pagãs
Sâmara Vanessa Nascimento Costa (UFPB)
Resumo: Em uma dimensão epistemológica do imaginário e do sagrado, pensamos a imagem como elemento de pesquisa e transitamos por diferentes representações que se entrelaçam a manifestações artísticas; entre elas pinturas, esculturas, fotografias, e construções de sigilos através de conexões mediúnicas. A imagem aqui, atravessa o sensível e acessa uma dimensão de “seres outros”. Entendemos assim o lugar da imagem como um lugar de fenômeno e de sujeito de conhecimento. A presente pesquisa debruça-se em uma investigação sobre cultos neopagãos na região da mata de cocais, tendo a Vila Pagã - santuário politeísta localizado na zona rural do município de José de Freitas - PI, como locus da pesquisa. O grupo de neopagãos que ocupam e vivem a Vila Pagã, constroem o Paganismo Piaga ou Piaganismo, que é compreendido como um movimento cultural, identitário e religioso. O Piaganismo segue três princípios básicos comuns às tradições neopagãs: o politeísmo, a conexão com a natureza e o culto à ancestralidade. Este também é denominado como “o culto mágico da terra e dos espíritos do lugar”. (NOLÊTO, 2015, p. 13). A “terra e o “lugar”, fazem referência à localização do meio que é sacralizado; a natureza é o lar de diversos animais da região e também a casa de diferentes “seres outros”; divindades, encantados e elementais. É importante frisar que os grupos neopagãos precisam reconstruir suas liturgias que foram violentadas pela colonização cristã, que por diversas vezes demonizaram, marginalizaram, e reduziram à categorias de lendas divindades pagãs. Assim, a pesquisa também vai se enlaçando a reflexões sobre os processos colonizadores que ainda afetam e deturpam diferentes práticas, religiões e modos de existir. Nesta pesquisa busca-se compreender como o paganismo piaga constrói um elo entre a materialidade religiosa, o meio ambiente e a identidade regional, tendo vínculos com práticas e cultos que vão em direção a uma força contra-hegemônica, e um movimento de reavivamento de cultos pagãos. Além disso apostamos na dimensão epistemológica do imaginário, da arte e do sagrado, pensando a imagem (fílmica e fotográfica) como elemento de pesquisa. Através do universo Piaga compreendemos que a dimensão do invisível não se aparta do mundo material, tornando-se assim um campo riquíssimo de aprendizagem para se pensar imagem e cosmologia. Esta pesquisa é uma construção etnográfica com os Piagas. Sua metodologia é composta de produção de imagens, observações e entrevistas, explorando os recursos da subjetividade. A reflexão teórica se baseia em: CAIUBY NOVAES, Sylvia(2021); FREUND,Gisèle(1983); GAMA, Fabienne(2009); KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce.(2015); KOURY, Mauro (2014); KRENAK, Ailton.(2020); OLIVEIRA, João Pacheco(2018); SANTOS, Antônio Bispo(2015), etc.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Método autoetnográfico e processo de criação fílmica: relato-reflexivo sobre a experiência com a ficção documental Matriarcas da Serra
Simone Marques de Moura (PUC MINAS)
Resumo: O trabalho relata o processo de pesquisa que culminou na produção da ficção documental "Matriarcas da Serra" lançado em 2023 e dirigido por cineastas negras, faveladas, belo-horizontinas. O longa, resultado de pesquisa documental e de campo, realizada entre 2018 e 2019, é protagonizado tanto à frente, quanto atrás das câmeras por mulheres étnica e etariamente diversas que têm em comum morarem no Aglomerado da Serra (BH/MG). Na obra, as participantes contracenam com atrizes profissionais, também moradoras do Aglomerado, encenando seus dramas, experiências e histórias, numa proposta que articula fabulação e realidade. A partir dessa contextualização sobre o filme, o objetivo deste relato-reflexivo é relacionar conceitualmente algumas questões relativas à criação artística colaborativa e a autoetnografia, enquanto método de pesquisa e sistematização de dados, impressões e ideias que emergiram durante o itinerário de pesquisa e também de feitura da obra audiovisual digital e independente. O relato e as reflexões nele tecidas terão como base teórico-metodológica as contribuições de Reed-Danahay (1997) e Ellis e Bochner (2000), dentre outros(as), que articulam filme e autoetnografia.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Do Berço ao Túmulo: um olhar etnográfico sobre o “lixo” - Simone Portela de Azambuja, Navisual/UFRGS/RS; Alexsânder Nakaóka Elias, Navisual/UFRGS/RS, NIISA/Unimontes/MG
Simone Portela de Azambuja (Agapan), Alexsânder Nakaóka Elias (Pesquisador), Alexandro Cardoso (UFRGS)
Resumo: Resumo: Desde tenra idade sempre fui fascinada por tudo que dizia respeito ao elemento água. Ela representa 70% dos nossos corpos (LOTE, 2012) e 70% da superfície do planeta (PRESS et al., 2006). Deste percentual, aproximadamente 3% são de água doce. Numa caminhada pela orla da cidade, observando o vai e vem das ondas do Guaíba, vejo o que restou de um bebê de plástico se movimentando em suas águas. Há quem diga que o primeiro plástico do mundo ainda existe e que ou ele está poluindo alguma região do planeta ou, no melhor cenário, foi transformado em um brinquedo, um produto ou o que for. A sociedade humana consome cerca de 400 milhões de toneladas de plástico por ano (United Nations Environment Programme, 2021). Ele está em nossas casas, nos solos, nas águas, na forma de grandes ilhas como no Pacífico ou na forma de microplásticos nos líquidos que ingerimos. As imagens trazidas neste estudo foram realizadas durante o curso “(Des)Montagens como Modos de Conhecimento” que realizei no Núcleo de Antropologia Visual na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sob orientação de Alexsânder Nakaóka Elias, o qual ocorreu de 14 de março a 4 de abril de 2023. O processo de produção de meu trabalho, tentava refletir porque não só o plástico, mas o “lixo” em geral, se tornou tão presente em nossas vidas. Os problemas relacionados à geração, acondicionamento e destinação final do “lixo” têm sido vinculados ao processo de passagem da humanidade à vida em grupo e a sua fixação em determinados lugares, agravando-se com o acelerado desenvolvimento de muitas comunidades humanas. Por outro lado, a emergência da civilização industrial, o acelerado crescimento urbano e rural e a desconsideração em relação à variável socioambiental nos planos de desenvolvimento, são fatores que provocaram expressivo aumento da geração de resíduos sólidos. O “lixo” é a expressão de uma sociedade. Sua composição e o tratamento recebido por parte das pessoas denuncia o tipo de sistema sob o qual elas estão submetidas e reproduzem, e a relação deste com a natureza. Neste contexto, este estudo buscará interpretar a complexidade da relação entre a humanidade e a produção de resíduos, com uma abordagem centrada em um caso específico: Porto Alegre (RS, Brasil). Ao observar esta realidade local, do ponto de vista imagético e contextual, esperamos trazer as intricadas teias que conectam as práticas de produção e destinação final de resíduos sólidos à escala global. Um caso tão particular como o de nossa cidade carrega consigo reflexões que transcendem fronteiras, refletindo desafios enfrentados por comunidades em todo o mundo. Esta análise detalhada não apenas evidenciará as peculiaridades locais, mas pode vir a contribuir para uma compreensão mais profunda da complexidade relacionada a esta temática.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Devolver, compartilhar ou restituir? Entre fluxos de colecionamento de imagens e a construção de narrativas etnofotográficas no litoral norte da Paraíba
Yuri Schönardie Rapkiewicz (UFPB)
Resumo: Este estudo etnográfico busca investigar as práticas e fluxos de colecionamento de imagens em Rio Tinto - PB, uma cidade universitária, localizada no litoral norte da Paraíba, marcada por uma ancestralidade fabril e indígena. Partindo da perspectiva do Grupo de Pesquisa Antropologia Visual, Artes, Etnografias e Documentários (AVAEDOC), vinculado ao Laboratório de Antropologia Visual da Universidade Federal da Paraíba (ARANDU), nosso objetivo é compreender as múltiplas racionalidades e subjetividades envolvidas no processo de constituição e divulgação de acervos fotográficos de interesse antropológico, tanto públicos quanto privados. Ao mapear os fluxos de colecionamento de imagens, buscamos realizar uma cartografia colaborativa e identificar as redes de colecionadores de imagens locais, investigando como seus acervos visuais são formados, mantidos e compartilhados ao longo do tempo. Além disso, abordaremos as reverberações sensíveis e políticas dessas práticas colecionistas quando associadas à construção de narrativas visuais emergentes em Rio Tinto - PB, reconhecendo a vivacidade desses acervos fotográficos e a multiplicidade de usos e sentidos atribuídos a essas imagens, por diferentes detentores, tais como memorialistas locais, antigos fotógrafos da região, operários aposentados da Companhia de Tecidos Rio Tinto (CTRT) e seus descendentes, entre outros narradores. Ademais, discutimos como as práticas de devolução, compartilhamento e restituição de imagens, no formato de exposições etnofotográficas, legitimam o ato da curadoria compartilhada como uma estratégia dialógica, criativa, ética e responsável, de produção e divulgação científica em Antropologia Visual. Isso nos permite reconsiderar criticamente as tradicionais lógicas de acervo, salvaguarda e expografia etnográficos, assim como refletir sobre o papel do antropólogo nesse contexto.
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