Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 006: Antropologia audiovisual com fotografias e filmes: da película ao digital
Por entre fotos e Deuses: Uma etnografia visual em terras pagãs
Em uma dimensão epistemológica do imaginário e do sagrado, pensamos a imagem como elemento de pesquisa e transitamos por diferentes representações que se entrelaçam a manifestações artísticas; entre elas pinturas, esculturas, fotografias, e construções de sigilos através de conexões mediúnicas. A imagem aqui, atravessa o sensível e acessa uma dimensão de seres outros. Entendemos assim o lugar da imagem como um lugar de fenômeno e de sujeito de conhecimento.
A presente pesquisa debruça-se em uma investigação sobre cultos neopagãos na região da mata de cocais, tendo a Vila Pagã - santuário politeísta localizado na zona rural do município de José de Freitas - PI, como locus da pesquisa. O grupo de neopagãos que ocupam e vivem a Vila Pagã, constroem o Paganismo Piaga ou Piaganismo, que é compreendido como um movimento cultural, identitário e religioso. O Piaganismo segue três princípios básicos comuns às tradições neopagãs: o politeísmo, a conexão com a natureza e o culto à ancestralidade. Este também é denominado como o culto mágico da terra e dos espíritos do lugar. (NOLÊTO, 2015, p. 13). A terra e o lugar, fazem referência à localização do meio que é sacralizado; a natureza é o lar de diversos animais da região e também a casa de diferentes seres outros; divindades, encantados e elementais.
É importante frisar que os grupos neopagãos precisam reconstruir suas liturgias que foram violentadas pela colonização cristã, que por diversas vezes demonizaram, marginalizaram, e reduziram à categorias de lendas divindades pagãs. Assim, a pesquisa também vai se enlaçando a reflexões sobre os processos colonizadores que ainda afetam e deturpam diferentes práticas, religiões e modos de existir.
Nesta pesquisa busca-se compreender como o paganismo piaga constrói um elo entre a materialidade religiosa, o meio ambiente e a identidade regional, tendo vínculos com práticas e cultos que vão em direção a uma força contra-hegemônica, e um movimento de reavivamento de cultos pagãos. Além disso apostamos na dimensão epistemológica do imaginário, da arte e do sagrado, pensando a imagem (fílmica e fotográfica) como elemento de pesquisa. Através do universo Piaga compreendemos que a dimensão do invisível não se aparta do mundo material, tornando-se assim um campo riquíssimo de aprendizagem para se pensar imagem e cosmologia. Esta pesquisa é uma construção etnográfica com os Piagas. Sua metodologia é composta de produção de imagens, observações e entrevistas, explorando os recursos da subjetividade. A reflexão teórica se baseia em: CAIUBY NOVAES, Sylvia(2021); FREUND,Gisèle(1983); GAMA, Fabienne(2009); KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce.(2015); KOURY, Mauro (2014); KRENAK, Ailton.(2020); OLIVEIRA, João Pacheco(2018); SANTOS, Antônio Bispo(2015), etc.