Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 006: Antropologia audiovisual com fotografias e filmes: da película ao digital
Do Berço ao Túmulo: um olhar etnográfico sobre o “lixo” - Simone Portela de Azambuja, Navisual/UFRGS/RS; Alexsânder Nakaóka Elias, Navisual/UFRGS/RS, NIISA/Unimontes/MG
Resumo: Desde tenra idade sempre fui fascinada por tudo que dizia respeito ao elemento água. Ela representa 70% dos nossos corpos (LOTE, 2012) e 70% da superfície do planeta (PRESS et al., 2006). Deste percentual, aproximadamente 3% são de água doce. Numa caminhada pela orla da cidade, observando o vai e vem das ondas do Guaíba, vejo o que restou de um bebê de plástico se movimentando em suas águas. Há quem diga que o primeiro plástico do mundo ainda existe e que ou ele está poluindo alguma região do planeta ou, no melhor cenário, foi transformado em um brinquedo, um produto ou o que for. A sociedade humana consome cerca de 400 milhões de toneladas de plástico por ano (United Nations Environment Programme, 2021). Ele está em nossas casas, nos solos, nas águas, na forma de grandes ilhas como no Pacífico ou na forma de microplásticos nos líquidos que ingerimos. As imagens trazidas neste estudo foram realizadas durante o curso “(Des)Montagens como Modos de Conhecimento” que realizei no Núcleo de Antropologia Visual na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sob orientação de Alexsânder Nakaóka Elias, o qual ocorreu de 14 de março a 4 de abril de 2023. O processo de produção de meu trabalho, tentava refletir porque não só o plástico, mas o “lixo” em geral, se tornou tão presente em nossas vidas.
Os problemas relacionados à geração, acondicionamento e destinação final do “lixo” têm sido vinculados ao processo de passagem da humanidade à vida em grupo e a sua fixação em determinados lugares, agravando-se com o acelerado desenvolvimento de muitas comunidades humanas. Por outro lado, a emergência da civilização industrial, o acelerado crescimento urbano e rural e a desconsideração em relação à variável socioambiental nos planos de desenvolvimento, são fatores que provocaram expressivo aumento da geração de resíduos sólidos.
O “lixo” é a expressão de uma sociedade. Sua composição e o tratamento recebido por parte das pessoas denuncia o tipo de sistema sob o qual elas estão submetidas e reproduzem, e a relação deste com a natureza.
Neste contexto, este estudo buscará interpretar a complexidade da relação entre a humanidade e a produção de resíduos, com uma abordagem centrada em um caso específico: Porto Alegre (RS, Brasil). Ao observar esta realidade local, do ponto de vista imagético e contextual, esperamos trazer as intricadas teias que conectam as práticas de produção e destinação final de resíduos sólidos à escala global. Um caso tão particular como o de nossa cidade carrega consigo reflexões que transcendem fronteiras, refletindo desafios enfrentados por comunidades em todo o mundo. Esta análise detalhada não apenas evidenciará as peculiaridades locais, mas pode vir a contribuir para uma compreensão mais profunda da complexidade relacionada a esta temática.