Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 006: Antropologia audiovisual com fotografias e filmes: da película ao digital
Fotografar, esquecer e revelar: fotografias e outros registros de ausência e presença em uma monografia.
Em março de 2023 me dirijo à capital portenha com o objetivo de iniciar uma possível pesquisa de graduação. A procura de materiais que demonstrassem a presença do meu objeto que viveu e estreou-se como escritora há dez décadas atrás nessa cidade. Encontro seus arredores, as publicações de seus colegas e amigos, os locais que frequentava e centros culturais nomeados após seus contemporâneos. Mas em Buenos Aires, nessa cidade que se lembra tanto, havia uma presença que parecia só existir para mim, e como se documenta a ausência? Quando a luz encontra a película do filme através do obturador, não há dúvidas da captura, mas só se descobre posteriormente o que foi encontrado. A procura de María Luisa Bombal, é uma tentativa de experimentação através da fotografia, montagem e colagem do primeiro contato com o campo que se tornaria trabalho de conclusão de curso em Ciências Sociais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A busca pelas palavras dessa escritora surrealista chilena mas que se fez em diversos países, especialmente na Argentina, e compôs uma das grandes cenas literárias da América Latina. Publicou na revista Sur e escreveu obras consideradas, atualmente, vanguardistas do realismo mágico latino americano. Uma figura enevoada de escândalos, contradições e categorias estratégicas para sua definição tanto nas áreas acadêmicas quanto artísticas. Este material acabou se distanciando dos conhecidos estudos de trajetórias com fotografias meramente acompanhantes do processo, ou da conversão da arte em artigo de uso (Sontag, 2020). Se tornou uma oportunidade de trabalhar com essas imagens pela beleza da faísca do momento obtido (Breton, 1972), ao encontro com as palavras de Bombal, no contexto da cidade de Buenos Aires. Assim como a própria tentativa de um possível resgate, que também havia ficado apenas na pretensão, os filmes revelados elucidam a possibilidade do viver depois de esquecer. Seja pela demora do processo de transformar o negativo em foto, ou por uma artista assombrada pelo constante fantasma desse esquecimento, em suas obras, seus testemunhos e suas biografias desenvolvidas anos após sua morte. O encontro das fotografias com as palavras de Bombal abriu caminhos de intersecção, para um estudo sobre esta escritora em conjunto da sua obra, entendendo como a separação do artista e de seu trabalho raramente é benéfica, pois é possível encontrar fragmentos de Bombal em suas produções, se levados a sério e compreendermos suas devidas agências. O viver depois de esquecer pode ser entendido pela ressignificação da relação com os fragmentos distribuídos que são mantidos nos mais diversos formatos, no começo eram os romances de Bombal, depois as fotografias de campo, para o material desenvolvido pela montagem e agora esta pesquisa.