ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 006: Antropologia audiovisual com fotografias e filmes: da película ao digital
Patrimônio Mundial na Ilha de Moçambique: os desafios da produção compartilhada de imagens no trabalho de campo
O trabalho de campo é uma etapa fundamental para a pesquisa antropológica, pois em termos de posição epistemológica, a antropologia se caracteriza pelo relativismo, valorizando o discurso do nativo e preterindo quadros de interpretação e análise mais gerais e universalizantes. Conforme José Guilherme Magnani, a etnografia, seu método tradicional, é uma forma especial de operar em que o pesquisador entra em contato com o universo dos pesquisados compartilhando seus horizontes numa relação dialógica de troca, comparando suas próprias representações e teorias com as deles, para então refletir e partir para um modelo novo de entendimento, ou ao menos, partir para uma pista nova. Nesse sentido, em minha pesquisa de doutorado, optei pela produção compartilhada de vídeos e a produção de fotografias durante o trabalho de campo em 2019 na Ilha de Moçambique. A Ilha de Moçambique é um lindo recife de corais com 445 km² a 15° de latitude Sul caprichosamente deitado à frente da baía de Mussuril na Província de Nampula, região norte de Moçambique. Estrategicamente localizada no caminho das rotas marítimas que por séculos atravessam o Oceano Índico, Omuhipiti, como pode ser chamada localmente, é considerada um sítio maningui nice em qualquer lugar em que você perguntar pelo país, mesmo que seu interlocutor nunca tenha pisado lá. Com a área peninsular delimitada como Patrimônio Mundial, toda a cidade da Ilha de Moçambique, que é composta por 08 bairros na ilha e outros 25 bairros no continente, ligados por uma ponte de um pouco mais de três quilômetros inaugurada em 1967, vive cotidianamente atravessada pelo título concedido pela Unesco em 1991, assim como pelos sentidos que são atribuídos aos lugares e as emoções de vivê-los. Tendo em vista o processo de gentrificação e de degradação ambiental provocados pela política de turismo e de restauro dos imóveis patrimonializados, optei pela produção de uma caderneta de campo virtual com imagens, a produção compartilhada de vídeos de cunho etnográfico com interlocutores e a realização de uma oficina sobre o método da Câmera Participante com alunos da Universidade Lúrio na Ilha de Moçambique. Portanto, nesse artigo pretendo apresentar as dificuldades e as potencialidades da metodologia escolhida.