Grupos de Trabalho (GT)
GT 072: Migrações, mobilidades e deslocamentos: problemas sociais, desafios antropológicos
Coordenação
Maria Catarina Chitolina Zanini (UFSM), Gláucia de Oliveira Assis (UNIVALE)
Debatedor(a)
Sidney Antonio da Silva (UFAM), Igor José de Renó Machado (UFSCAR), Maria Cristina Dadalto (UFES)
Resumo:
Este GT, ativo nas Reuniões da ABA desde 2006, tem almejado continuadamente refletir e dialogar acerca de diferentes contextos das dinâmicas de deslocamento/mobilidade, tanto nas dimensões históricas, como contemporâneas, nacionais e internacionais. Observa-se, nos últimos anos, que as questões climáticas e de busca por direitos humanos também tem contribuído para cenários de trânsitos de pessoas, objetos, animais e também de conflitos e restrições para atravessar as fronteiras. Nesses, observam-se famílias, indivíduos isolados e coletivos em mobilidade, em cenários que exigem estudo, reflexão e análise. Estas questões devem ser consideradas em profundidade, inclusive diante do número crescente de crianças entre a população que se desloca. A proposta do GT é agregar propostas (em diferentes níveis acadêmicos) que tenham como perspectiva refletir e analisar acerca de dinâmicas, processos e políticas migratórias, considerando que raça, gênero, classe, geração, etnia, religiosidade e outros marcadores influenciam as vivências cotidianas dos sujeitos em mobilidade, bem como as políticas de acolhida e de interações interculturais. O GT objetiva, partindo de um diálogo interdisciplinar da Antropologia com outras áreas ampliar as trocas metodológicas, teóricas e partilha de estudos já concluídos ou em andamento, promovendo intercâmbio de experiências e de resultados de pesquisa.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Adélia Verônica Silva (IGOT), Gláucia de Oliveira Assis (UNIVALE)
Resumo: Por que os jovens optam por permanecer em suas localizações atuais, apesar das vantagens potenciais da
migração, especialmente em áreas economicamente periféricas? Este estudo investiga as aspirações de
permanência entre os jovens de Governador Valadares e região, um lugar historicamente marcado pela migração
internacional (Assis e Siqueira, 2009). Embora explicações convencionais atribuam a imobilidade a fatores
como recursos limitados ou obstáculos impostos pelas políticas de migração, pesquisas recentes desafiam a
noção de que aqueles que permanecem são meramente "deixados para trás" ou "migrantes falhados" (Hofstede et
al., 2022). Em vez disso, uma gama crescente de estudos sugere que muitos indivíduos escolhem permanecer com
um desejo genuíno e ativo (Gruber, 2021; Mata-Codesal, 2018). Este trabalho enriquece essa linha de pesquisa
ao investigar a imobilidade dos jovens para além de quadros deterministas, adotando uma abordagem holística
em termos de agência e bem-estar.
Ao direcionar a atenção para os processos decisórios dos jovens em relação à permanência, esse trabalho
enfatiza a utilidade do conceito de dotação relativa (Vezzoli, 2023) para entender suas decisões de não
migrar.Da mesma forma, destaca a importância da ideia de agência, que se concentra na capacidade humana como
habilidade do indivíduo para viver uma vida significativa (Sen 1985 apud Eichsteller, 2021).
Metodologicamente, adotamos uma abordagem fenomenológica, centrada nas experiências de dezassete jovens.
Essa perspectiva permite compreender como as pessoas atribuem significado e articulam um estado considerado
negativo socialmente (Mata-Codesal e Mancinelli, 2023).
Os resultados destacam o papel crucial de fatores não econômicos, como relações familiares e sentimentos de
pertencimento, na decisão de migrar (Rodriguez-Pena, 2023). Da mesma forma, mostram como as percepções
individuais do tempo influenciam as escolhas dos jovens, com a decisão de permanecer sendo principalmente
baseada em visões subjetivas do futuro ideal, embora também incorpore visões atuais e passadas das
circunstâncias (Huijsmans e Froerer, 2021). Alem disso, ao evidenciar como a definição de uma vida boa é
moldada pelas oportunidades disponíveis para jovens com diferentes capacidades (Mata -Codesal, 2015), os
resultados enriquecem a compreensão da imobilidade como uma escolha de agência (Ravn, 2022). Assim, este
estudo contribui para uma análise crítica da dinâmica complexa que existe nas categorizações aparentemente
simples de migração e imobilidade, à luz da ideia do Sonho Americano. E ainda, abre caminhos para pesquisas
futuras ao demonstrar que a imobilidade é uma categoria de investigação tão complexa quanto a mobilidade, e
que há espaço para aumentar e melhorar os estudos sobre a mobilidade humana.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Aliziane Bandeira Kersting (UFRGS)
Resumo: Atravessar fronteiras é um fenômeno que pode significar modificar a condição do sujeito em diferentes
aspectos. De nacionais passamos a estrangeiros, o legal pode se tornar ilegal e o legítimo pode ser
suspenso. Atravessar fronteiras pode significar adentrar em outros regimes jurídicos, morais e identitários.
Considero que circular pelas fronteiras pode então promover aprendizados contínuos acerca das normativas e
discursividades estatais postas em prática pelos atores envolvidos nas dinâmicas do ir e vir dos espaços
fronteiriços. Chibeiros, quileiros, passadores são alguns dos personagens mais característicos da zona
fronteiriça no sul do Brasil e discuto como essas categorias circulam no cotidiano e entre os policiais de
fronteira. Esta pesquisa é uma etnografia das fronteiras sul do Brasil para conhecer e analisar as
narrativas e práticas de policiais que incidem sobre as categorizações e tipificações de imigrantes e da
própria mobilidade internacional. Esta pesquisa trata-se de uma etnografia multissituada (MARCUS, 1995)
junto a atores da segurança pública brasileiros, argentinos e uruguaios nos espaços fronteiriços de aduanas,
a fim de analisar as disputas de sentido, valores e práticas em torno do processo de identificação. O foco
deste estudo é examinar os processos subjetivos implicados nas políticas de controle e vigilância. A partir
da noção de tecnologias da governamentalidade, desde Foucault a trabalhos de Didier Fassin (2013) e Josiah
Heyman (1995), diretamente com policiais, indago sobre quais as categorias que manejam em seu trabalho
diário nas regiões de fronteira. Quais as histórias fronteiriças, as tipificações acerca do legal e do
ilegal e quais as técnicas de identificação e controle? Como as experiências diretas se relacionam com os
dispositivos administrativos de identificação? Nesse sentido, essa pesquisa de doutorado faz uma análise
crítica do controle imigratório e fronteiriço a partir dos agentes de segurança pública.
PALAVRAS-CHAVE: Fronteira; imigração, narrativa; etnografia; controle; vigilância; policiais
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Ana Clara Sousa Damásio dos Santos (UNB)
Resumo: Este artigo propõe uma análise aprofundada da trajetória de vida de uma família composta por mulheres
negras, oriundas do Piauí e pertencentes à classe popular, ao longo das últimas cinco décadas, durante os
movimentos migratórios entre as regiões Nordeste e Sudeste do Brasil. O objetivo principal é compreender
como essas mulheres construíram suas vidas, considerando os diversos fluxos e precariedades de vida que
influenciaram suas jornadas. Inicialmente, explora-se a formação histórica do movimento Nordeste/Sudeste,
remontando às origens do tráfico interprovincial, para, em seguida, analisar como essas dinâmicas históricas
reverberam estruturalmente na atualidade. A pesquisa baseia-se em uma abordagem etnográfica focada nos
estudos de organização social e parentesco, incorporando também as dimensões de classe, raça e gênero. A
análise cuidadosa desses fatores permitirá antever não apenas as transformações históricas, mas também
compreender de que forma as experiências individuais se entrelaçam com as estruturas sociais preexistentes.
Ao final, espera-se oferecer uma visão mais abrangente e contextualizada das vivências dessa família
específica, contribuindo para uma compreensão mais ampla das interseções entre história, migração, e as
complexas teias que envolvem classe, raça e gênero no contexto brasileiro.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Antonio Claudio Ribeiro da Costa (UFF)
Resumo: Durante minha pesquisa antropológica e etnográfica entre 2020 e 2021, durante meu mestrado em Justiça e
Segurança, mergulhei no mundo das profissionais do sexo travestis brasileiras em Amsterdã. Concentrei meu
trabalho no trabalho de campo etnográfico e na observação participante, participando ativamente de suas
vidas diárias além das entrevistas.
Minhas duas interlocutoras migraram do Brasil para a Europa com motivações diferentes, mas com um objetivo
comum: entrar no mercado do sexo em busca de uma vida melhor e mais segura. Lola escapou da violência
doméstica, buscando um novo começo em terras estrangeiras. Elly, minha amiga há quase dez anos, motivada
pela precariedade econômica desde a infância, buscou oportunidades no exterior depois de enfrentar a
violência ao tentar entrar no mercado de trabalho e obter um diploma universitário no Brasil.
Meu papel não era apenas observar e entrevistar nas horas marcadas; eu também era motorista, levando-as a
clientes em vários locais, o que envolvia longas horas de espera e noites inteiras no carro. Essa
participação não só enriqueceu minha pesquisa, como também proporcionou uma compreensão profunda de suas
vidas e desafios.
Vivi momentos cotidianos com elas, compartilhando refeições e experiências em casa, o que me permitiu
entender melhor suas lutas diárias. A reciprocidade foi fundamenta, ao ajudá-las, ganhei sua confiança para
entrevistas formais.
Essa experiência proporcionou uma perspectiva única sobre a complexidade de seu trabalho e da dinâmica
social. De negociações com clientes a situações de risco nas ruas, testemunhei em primeira mão as realidades
que eles enfrentam. Estar presente durante suas interações com os clientes revelou as complexidades
emocionais e físicas de seu trabalho, bem como as estratégias para garantir sua segurança. Isso enriqueceu
meu trabalho acadêmico e me permitiu estabelecer conexões humanas genuínas baseadas em confiança, amizade e
respeito mútuo.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Bruno Henrique Simões Dantas (UFOPA), Luciana Gonçalves de Carvalho (UFOPA)
Resumo: A presente pesquisa busca compreender as condições de vida entre trabalhadores maranhenses migrantes nos
garimpos de ouro do Tapajós, tendo em vista, suas trajetórias e os motivos para a migração. O objetivo é
compreender as condições de trabalho que estes sujeitos estão submetidos, assim como, em que medida estes
trabalhadores tem acesso à direitos fundamentais. Nos objetivos específicos, busca-se compreender as
motivações que levaram estes sujeitos aos garimpos da região, bem como suas sociabilidades e formas de
parentesco. Além disso, objetiva-se ainda compreender em que medida a ideia de masculinidade traz aos
garimpeiros trajetórias marcadas pelo sofrimento e invisibilidade tornando o garimpeiro em uma figura mítica
para além de sua humanidade. O estudo é etnográfico, com aplicação de entrevistas e formulários. Como
resultado, visualiza-se que estes sujeitos são levados à migrar impulsionados pela desigualdade social
encontrando nas cadeias auríferas uma oportunidade de melhorar sua condição socioeconômica, no entanto, em
meio as trajetórias encontram-se em condições de trabalho degradantes tendo seus direitos básicos violados.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Lara Noronha Xavier (UNB)
Resumo: O presente trabalho almeja compreender como e por quem é feita a recepção e o acolhimento de migrantes
na fronteira do território brasileiro, a partir do caso de três cidades situadas no estado do Acre: Rio
Branco, Brasiléia e Assis Brasil. Dessa forma, tendo minha primeira experiência de campo nessas localidades
como base, viso entender como as políticas públicas (ou a falta delas) estão presentes nessa admissão de
migrantes no Brasil e quais são as condições materiais que eles possuem para que fiquem no território.
Penso aqui a partir da multiplicidade de agentes que estão envolvidos nesse acolhimento, sendo eles
estatais, funcionários de ONGs e instituições vinculadas às Nações Unidas (ONU). Uma vez que essas entidades
vêm construindo uma indústria de acolhimento no estado do Acre para a recepção de migrantes, por ser um
estado que possui um número elevado de sujeitos em fluxo. Instituições como a Organização Internacional para
as Migrações (OIM) e a Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) começam a se instalar
em Rio Branco, para somar a instituições religiosas, como a Cáritas, que já atuavam na região, visando
resolver a situação grave do Acre.
Para tentar abarcar essas três facetas: os agentes estatais, os de órgãos internacionais e os de
organizações não governamentais, no presente trabalho irei apresentar três personagens, Camila, uma das
coordenadoras da Secretaria de Direitos Humanos e Assistência Social do estado do Acre, Joyce, a
representante da OIM situada em Rio Branco e Karla, coordenadora da Cáritas Migração do estado do Acre.
Nesse momento pretendo analisar como a questão humanitária está presente no discurso das minhas três
interlocutoras e como elas o utilizam em cada uma das instituições e em suas articulações. Dessa forma,
entendendo que elas não falam apenas de receber pessoas, mas também de salvá-las.
Por fim, para melhor compreender os fluxos no Acre, é necessário entender que, por ser um local de múltiplas
fronteiras, os deslocamentos sempre foram intensos na região. Ultimamente, eles têm se adensado por causa de
políticas de expulsão de migrantes tanto no Chile quanto no Peru, o que tem feito com que essas pessoas, em
sua grande maioria venezuelanas, entrem no Brasil pela fronteira acreana. Dessa forma, desde que as atitudes
expulsórias desses dois países se intensificaram, o estado se tornou uma possibilidade de escapatória para
fugir da violência, podendo ocasionar um boom migratório na região, o que preocupa do governo do estado. Uma
vez que não se tem estrutura para receber essas pessoas, pelo fato de ser uma localidade carente, na qual
grande parte da população depende da assistência social e que não possui nem recursos financeiros nem
capacidade de gestão para acolher esses migrantes.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Leila Adriana Baptaglin (UFRR), Carolina Barbosa Lindquist (Harvard University), Gabrielle Oliveira
(Harvard University)
Resumo: Nesta investigação buscamos o entendimento de como a SMEC e as escolas públicas de Boa Vista/RR estão
respondendo ao processo de alfabetização considerando os influxos de crianças venezuelanas. Adentramos numa
investigação etnográfica em 2 escolas municipais de Boa Vista/RR. Com isso, realizamos entrevistas com a
SMEC, com a equipe gestora e os professores das escolas e elaboramos categorias de análise: Formação;
Atuação; Relações e Desafios. No que tange à formação profissional, todos os sujeitos apresentam formação
condizente com a área de atuação e destacam as ações que a SMEC vem oferecendo. Na Atuação profissional
percebemos que os profissionais têm se empenhado nas distintas ações deliberadas pela SMEC, contudo, há a
necessidade da família estar presente neste processo, indiferente da nacionalidade, o que implica nas
Relações que são estabelecidas entre os diferentes sujeitos (gestão, pais e crianças). A (i)migração
intensificou alguns pontos, contudo, fica claro que o agravamento e o surgimento de alguns problemas se
deram não somente pela (i)migração. A pandemia da Covid-19 e a questão econômica das famílias aparecem como
elementos importantes no processo de alfabetização e na relação que se estabelece entre a escola com as
famílias e as crianças. Assim, os desafios encontrados nos processos de alfabetização viabilizam e dão vazão
para o entendimento de problemas estruturais decorrentes de vários fatores sociais que passam a ser
analisados e buscadas alternativas para sanar as problemáticas junto à SMEC.
Palavras-chave: Migração; Alfabetização; Crianças.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Leonardo Francisco de Azevedo (UFRJ)
Resumo: Acadêmicos e pesquisadores em circulação internacional podem ser considerados migrantes? Quais os
limites e potencialidades de se pensar em tais práticas de mobilidade pela lente das políticas migratórias?
Provoco tais questões para se pensar em como estes sujeitos, metaforicamente chamados de cérebros, que
fogem, voltam e circulam, carregam consigo outras dimensões e expectativas que por vezes ficam relegadas ao
segundo plano ou fortemente desconsideradas pelas políticas estatais de incentivo a tal prática. A partir de
pesquisa realizada com pesquisadores brasileiros que realizaram doutorado completo no exterior, com bolsa de
agências nacionais, pretendo explorar tais questões, pensando sobretudo na relação estabelecida entre esses
sujeitos - seus projetos individuais e suas expectativas em relação às suas carreiras e vidas -, com as
expectativas estatais com a concessão de tais bolsas. Se nas políticas migratórias podemos pensar nas
diferentes formas com que os Estados nacionais buscam atender ou restringir os direitos e expectativas de
pessoas com nacionalidades estrangeiras, considerando outras dimensões de sua vida, como família e situação
profissional, nas políticas de mobilidade acadêmica me parece que os sujeitos por elas contemplados são
categorizados de outra forma. Apesar de serem estrangeiros em um país estranho, contam com vistos e
autorizações específicas para poderem vivenciar tal período, tendo o retorno como elemento central para seus
países de origem, e ao mesmo tempo o interesse em suas expertises pelos países que os recebem. Se essa é a
percepção que mediam as relações e os acordos de cooperação entre diferentes Estados nacionais e suas
instituições, para que seus cidadãos altamente qualificados possam circular, produzindo uma determinada
geopolítica internacional do conhecimento científico, há uma outra dimensão que merece ser melhor observada
- as expectativas e projetos individuais destes cientistas e pesquisadores que circulam. Pretendo explorar,
portanto, a relação estabelecida entre estes pesquisadores e os Estados nacionais, considerando que estes
pesquisadores, ao buscarem financiamento para realizar parte de sua formação em renomadas instituições
internacionais, não necessariamente se alinham às expectativas estatais que garantem tais recursos. Há,
contudo, pelo menos no caso brasileiro, a obrigatoriedade do retorno físico ao país, acreditando que isso
também signifique o pagamento do investimento recebido. A partir dos discursos estatais sobre o retorno,
produzido em documentos oficiais, legislações e decretos, e das experiências e relatos dos ex-bolsistas que
vivenciaram, ou não, a experiência do retorno, pretendo explorar tal relação, compreendendo as diferentes
dimensões morais envolvidas em tais processos.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Lilian Cordeiro Bernardes Sagnori (UFMG)
Resumo: Resumo: A discussão que trago aqui refere-se a resultados parciais de uma pesquisa em andamento sobre
famílias refugiadas e migrantes venezuelanas no Brasil, em que realizo uma etnografia dos percursos que
estes sujeitos fazem em busca de um recomeço no Brasil, desde a chegada pela fronteira no norte do país, até
a interiorização em busca de reinserção socioeconômica, integração e independência. A presença de imigrantes
e refugiados no Brasil cresceu de forma exponencial durante o período 2011-2021, marcada pela chegada dos
novos fluxos migratórios no Brasil nos últimos anos, com a consolidação dos imigrantes latino-americanos,
principalmente por haitianos e venezuelanos. O acolhimento de refugiados no Brasil passa pela integração
local, que implica o reconhecimento de particularidades relacionadas a gênero, raça e etnia, sexualidades e
a questão geracional (PAIVA, DIAS, MOULIN, 2018). A metodologia conta com uma abordagem qualitativa, de
caráter etnográfico e autoetnográfico, pesquisa bibliográfica e documental, entrevistas qualitativas
semiestruturadas e a observação participante. Como resultados parciais observo a heterogeneidade das
trajetórias vividas pelas famílias e a importância e os dilemas do acolhimento na facilitação dos processos
de interação, reinserção socioeconômica e permanência dos refugiados no destino da interiorização.
Palavras-chave: Etnografia; Refúgio; Integração; Trajetória; Acolhimento; Reinserção Socioeconômica.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Luciana Hartmann (UNB)
Resumo: Esta comunicação pretende compartilhar os primeiros resultados do projeto em rede, sediado na
Universidade de Brasília, intitulado Infâncias protagonistas: uma proposta colaborativa de criação de
políticas públicas para a integração de crianças imigrantes e refugiadas em escolas brasileiras. O projeto
foi iniciado em 2022 e conta com fomento do edital Pró-Humanidades do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico/CNPq Brasil. Desenvolvido sob uma abordagem colaborativa e multidisciplinar entre
crianças imigrantes e refugiadas, pesquisadoras brasileiras e estrangeiras, professoras da educação básica,
gestores de instituições de acolhimento e membros da sociedade civil, o projeto dá continuidade a pesquisas
que a equipe já vem realizando desde 2013 em escolas públicas, universidades e ONGs no Brasil, Uruguai,
França, Portugal, Espanha e Moçambique. Embora a Resolução nº 1, de 13 de novembro de 2020, emitida pela
Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, garanta o direito à matrícula em escolas
públicas por crianças imigrantes no Brasil, sua concretização ainda encontra uma série de entraves,
sobretudo por imputar a responsabilização às escolas, sem que tenha havido um debate sobre estratégias de
integração e a devida formação e apoio às professoras. Visando contribuir de forma concreta com essa
questão, a equipe do projeto atua metodologicamente em três frentes: 1. Levantamento de dados bibliográficos
e estatísticos que visam a elaboração de um panorama da inserção atual das crianças imigrantes e refugiadas
em escolas brasileiras; 2. Processos de escuta e cocriação com as crianças por meio de práticas artísticas e
etnográficas, enfatizando seu protagonismo; 3. Formação continuada de professoras, com a elaboração e
realização de oficinas de sensibilização à diversidade cultural em diferentes regiões do país. Embora três
frentes do projeto estejam sendo desenvolvidas paralelamente, neste momento pretendemos enfatizar a segunda
(processos de escuta e cocriação com as crianças). Por este motivo escolhemos a frase que dá título a essa
comunicação, que foi pronunciada por uma de nossas interlocutoras, uma menina venezuelana moradora do
Distrito Federal/Brasil. Assim como ela, diversas crianças imigrantes e refugiadas têm compartilhado suas
histórias não apenas de imigração - conosco. Essas histórias estão dando origem a um podcast e jogos (de
cartas e de tabuleiro) que pretendemos apresentar e colocar em debate com as participantes da Mesa.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Maiara Diana Amaral Pereira (UFMG)
Resumo: Os indígenas Waraos são originários do Nordeste da Venezuela, do Delta do Orinoco e região adjacentes.
Era um povo sedentário e não possuíam característica nômade, aderiram características migratórias por causa
de intervenções diversas em seu território de origem. Outra particularidade desse povo indígena é a variação
cultural interna que refletem tanto nas relações sociais dentro do próprio grupo quanto nas sociedades
envolventes que mantêm relações (ROSA, 2020). A migração Warao para o Brasil é um fenômeno recente foi em
2014 que atravessaram pela primeira vez a fronteira Venezuela Brasil e nesse momento foram deportados pela
Polícia Federal de Boa Vista (Roraima) voltando a imigrar em 2016 e dessa vez sendo acolhidos com políticas
públicas brasileiras.
Os fatores que determinam a imigração são interdependentes e se faz necessário compreender os fatores
repulsivos\ atrativos e as condições sócio-culturais tanto do país de origem como dos locais de destino,
sem, no entanto, deixar de considerar os desejos, motivações dos imigrantes\refugiados. Entre os motivos que
fizeram os indígenas migrarem é preciso entender o que estimulou a vinda deles para o Brasil; o que aparece
nos seus relatos é que vieram para o país a procura da melhoria na condição de vida, emprego, acesso à saúde
e entre os motivos que fizeram deixar o país está o governo de Nicolás Maduro (ROSA 2020).Minha pesquisa tem
como uma das finalidades compreender fatores políticos e sociais que fizeram com que indígenas decidissem
migrar para o Brasil e os motivos da escolha por Belo Horizonte, Minas Gerais, para viverem assim como estão
se organizando nessa cidade e quais suas lutas para manter seu modo de viver em uma capital brasileira.
De acordo com Vanessa Perin (2014) o Brasil não possui campos de refugiados e de imigrantes como um espaço
para a pesquisa, pois o país se caracteriza pelo controle estatal sob esses migrantes e o olhar do Estado.
Dessa maneira, o Estado cria ações para manter o controle e cuidado sobre esses sujeitos que precisam ser
governados, posto eu ao definir ações políticas e normatizar o refúgio como uma problemática social o Estado
passa a assumir ações dessa natureza. Como estagiária de pós-graduação do Ministério Público do Estado de
Minas Gerais tenho acompanhado o caso dos Waraos nessa instituição de justiça com o intuito de narrar como o
judiciário está acionando as leis garantidoras tanto o direito dos refugiados como dos povos indígenas no
caso dos Waraos. A apreensão de como os indígenas refugiados waros são acolhidos através do direito
brasileiro e suas instituições é importante para uma inteligibilidade de como os promotores, juízes,
advogados, defensores aplicam a lei e os direitos de refúgio a uma população originária.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Maria Clara Souza Sanches (UNIMONTES)
Resumo: O tema do projeto aqui trabalhado, será a relação entre mineração e migração na formação da identidade
em Canaã dos Carajás PA. A proposta será discutir os fluxos migratórios na cidade do sudeste paraense e como
esse fluxo se relaciona com os empreendimentos minerarios presentes na região, a exemplo da Vale S.A
presente na cidade que acentua a extração de minério na área; e como estes afetam a formação cultural da
cidade, que por sua vez é formada majoritariamente por migrantes; e se estes sentem-se participantes dela.
Justifica-se essa análise em Martins (2018), que salienta que os migrantes não habitam as cidades em que
moram, não havendo a chave do pertencer onde vivem. Podemos indagar então: os imigrantes se identificam com
Canaã dos Carajás? Assim, os objetivos são: apreender a relação entre os moradores imigrantes com a cidade,
bem como, compreender os processos migratórios vigentes e por fim analisar a formação da identidade canaense
com enfoque na vivência da migração. Foi realizado uma pesquisa qualitativa, contemplando revisão
bibliográfica, autoetnografia, observação e entrevistas semiestruturadas, mas também, análises de dados
secundários, como os fornecidos pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Pensando a
categoria identidade, foi utilizado Silva (2000) e sua conceitualização a partir da ideia de diferença, para
entender aspectos da identidade na cidade. Em Hall (2000) foi usado a percepção de identidade como um
processo mutável, desnaturalizando o conceito, onde ela pode ser ao mesmo nível construída, modificada e
desconstruída, dependendo das suas relações. Em Craice e Souza (2018) busquei entender a relação entre os
imigrantes e a cidade, como nas disputas simbólicas no espaço. Ressalto que a pesquisa está em estágio
avançado, já tendo sido realizado a revisão e análise bibliográfica, e o trabalho em campo que vem
demonstrando que Canaã dos Carajás, apesar de sofrer forte influencias dos migrantes, aparenta não possuir
estruturas públicas que possibilitem a sociabilidade, criando uma relação apática entre os moradores com os
espaços da cidade, que se existentes, poderiam fomentar uma relação afetiva destes com o local em que
habitam, e que essa apatia está profundamente ligada a privatização dos espaços na cidade, promovidos pela
empresa Vale S.A. Existindo sumariamente espaços de sociabilização movidos pelo consumo, como bares,
reservados aos moradores de classe média da cidade, pois os demais se veem excluídos pela própria cidade que
moram.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Maria Libertad Pinto Rodriguez (Taki Unquy, Centro Indígena de Investigación)
Resumo: Bolivia, después de Guatemala, es uno de los países con mayor porcentaje de población indígena con
relación a su población total (41,5%) (CEPAL y FILAC, 2020, p. 154). Dicha población indígena pertenece
principalmente al pueblo Quechua que está presente con mayor énfasis en los departamentos de Cochabamba,
Potosí y Chuquisaca, sin embargo, por motivos de migración, hoy, es posible encontrarlos diseminados
prácticamente por todo el país, ya sea en áreas urbanas y rurales, así como en otros países.
Existieron varias oleadas migratorias de población indígena en Bolivia, particularmente Quechua y Aymara.
Una de las últimas oleadas migratorias, de carácter transnacional, se dio en la última década del siglo XX y
primera del XXI con preponderancia, hacia España (Cruz, 2014). Dentro la región de América Latina, se
produjo una migración fuerte a países como Argentina, Brasil y Chile principalmente.
En estos países, se ha notado que las comunidades Quechuas, así como bolivianas en general, se reagrupan en
torno a aspectos como el idioma, el lugar de pertenencia, la comida, situación migratoria, familia, fiestas
entre otros, muchos de los trabajos que realizan en los nuevos espacios son referidos a textilería,
agricultura, construcción, gastronomía entre otros, principalmente como mano de obra de obra barata.
Particularmente, para el caso de Brasil, en reiteradas oportunidades se ha visibilizado a través de medios
de comunicación nacionales e internacionales, la situación de bolivianos en situación de esclavitud o en
condiciones de trabajo demasiado precarias en talleres de costura clandestinas en zonas periféricas de São
Paulo. Estas personas tienen extenuantes horas de trabajo que muchas veces sobrepasan las 14 horas por día,
viven entre varias personas en pequeñas habitaciones en los mismos ambientes donde trabajan y su salario no
alcanza a ser el mínimo establecido por ley.
A partir de los operativos realizados por la Secretaría de Inspección del Trabajo, vinculada al Ministerio
del Trabajo de Brasil, se establece que, en los últimos 12 años, al menos 1.065 personas fueron rescatadas
de condiciones semejantes a la esclavitud, la mayoría de los cuales son, principalmente, bolivianas
(Metrópoles, 2023). Coincidentemente, la población que llega a esas situaciones tiene un nivel bajo de
instrucción en instituciones educativas y pertenece además a población indígena.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Marina Prado Santiago (UFPB), Patrícia Alves Ramiro (UFPB)
Resumo: A comunidade remanescente de quilombo Caiana dos Crioulos, situada na zona rural de Alagoa Grande-PB,
protagoniza a luta pelos direitos quilombolas em seu estado. Em 1998, deu entrada na Fundação Cultural dos
Palmares, ao primeiro processo de reconhecimento da Paraíba e em 2005, tornou-se o 13º quilombo reconhecido
no Brasil. Na carta enviada a Fundação, destaca-se no texto a preocupação da comunidade com a evasão dos
homens do quilombo, jovens e adultos em idade economicamente ativa, que migravam para trabalhar no Rio de
Janeiro.
Ao longo desses anos, o fluxo migratório entre Caiana e Rio de Janeiro continuou, revelando-se como uma das
complexas estratégias entre quem parte e quem fica, para a manutenção do quilombo e viver quilombola. Por
conseguinte, uma comunidade étnica migrante consolidou-se em Pedra de Guaratiba, localizada no subúrbio do
município do Rio de Janeiro, na Zona Oeste. Com uma abordagem etnográfica respaldada no trabalho de campo
desenvolvido em Caiana dos Crioulos desde 2021 e em Pedra de Guaratiba no final de 2023, além das
escrevivências compartilhadas pelas mulheres e homens, migrantes e não-migrantes, durante a pesquisa de
mestrado sobre o fortalecimento e valorização étnico racial empreendido pelas mulheres de Caiana, escutei
repetidas vezes que Pedra é Caiana no Rio de Janeiro", complementada pela observação de que hoje em dia, se
bobear, tem mais gente no Rio que na Caiana, marcando as zonas de diálogos e influências, as
transfluências, das fronteiras de ambos territórios no dia a dia do quilombo.
Desse modo, proponho apresentar as reflexões iniciais que orientam a minha proposta de pesquisa no
doutorado, onde busco compreender os caminhos, as dinâmicas e as estratégias de migrações entre essas
comunidades na Paraíba e Rio de Janeiro, no intuito de ampliar as percepções das noções de ser-quilombo e
viver-quilombola. Destaco a relevância do tema não apenas no campo da Antropologia, mas também para tais
comunidades tradicionais que se reúnem em corpos-territórios em diferentes espaços e, apesar de terem seus
direitos reconhecidos, ainda enfrentam dificuldades para acessá-los. A migração revela-se, nesse contexto,
como um grande paradoxo na relação entre o/a quilombola e seu território, desafiando as percepções das
noções jurídicas, políticas e sociais preestabelecidas sobre identidade e pertencimento.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Mayanne Kelly Silva Sousa (UFPE)
Resumo: Com o objetivo de explorar o ativismo digital feminino no contexto da diáspora brasileira em Portugal,
esta comunicação se debruça sobre as iniciativas do grupo Brasileiras Não se Calam. Utilizando como corpus
as postagens do Instagram, examina-se como estas mulheres denunciam e confrontam preconceitos e
discriminações associados ao estereótipo da "Mulher Brasileira". Em um cenário amplamente impactado pelas
transformações espaço-temporais do século XXI, essas mulheres não só buscam romper com o imaginário social
discriminatório, mas também reconfigurar suas subjetividades em território português. O compartilhamento de
experiências contribui para a criação de identificação entre aquelas que vivenciam as dinâmicas específicas
do que é ser mulher brasileira em Portugal e a partir disso tentam levantar o debate sobre como as mulheres
brasileiras são tratadas em Portugal. As narrativas apresentadas, saturadas de emoções, sensações e
percepções, evocam reflexões críticas sobre o tratamento dispensado às brasileiras no país, colocando em
evidência as facetas do racismo, sexismo e colonialidade. Esta pesquisa reflete sobre a ação do grupo como
uma forma de resistência das mulheres imigrantes brasileiras às visões estereotipadas e o papel ativo
desempenhado por elas em iniciativas ativistas na sociedade portuguesa. Adotando um caminho
teórico-metodológico que entrelaça a abordagem decolonial feminista ao estudo das emoções, esta pesquisa
amplia o debate sobre as experiências do ativismo digital das mulheres imigrantes brasileiras. Assim, o
trabalho se alinha com os propósitos deste GT 072: Migrações, mobilidades e deslocamentos: problemas
sociais, desafios antropológicos, sublinhando como as vivências cotidianas dos sujeitos em mobilidade, podem
impulsionar transformações no tecido social, especialmente quando confrontadas com a colonialidade, o
sexismo e o racismo em sociedades como a portuguesa.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Morgana de Melo Machado (UFSM), Maria Catarina Chitolina Zanini (UFSM)
Resumo: Esta proposta se configura partindo de uma pesquisa em nível de pós-doutorado que vem sendo realizada em
torno do crescimento do padel enquanto fenômeno desportivo em voga em Santa Maria RS. Assim, por meio de
entrevistas semi-estruturadas e dialogadas com professores argentinos de padel na cidade, pensando sobre
suas movimentações e uma relação social e cultural com seus corpos, nossa proposta visa analisar estes
fluxos e fronteiras migratórias, sobretudo no que envolve a chegada destes migrantes na cidade e sua
permanência envolvendo o mundo do padel. Sua vinda está baseada, sobretudo, pela tradição deste esporte na
Argentina seu país de origem, e, inclusive na Espanha, com a finalidade de fomentar o aprendizado local do
padel. Nesses trânsitos, entendemos a importância do corpo como um artifício simbólico de expressão (LE
BRETON, 2011), especialmente no contexto e no mundo do Padel, que possui normas, regras e performances
específicas. Por meio do olhar para conexões antropológicas entre corporeidades e migrações e seus efeitos
em torno das subjetividades, suas motivações, valores e outros impactos destas interações (ZANINI, 2010) que
envolvem suas mobilidades e dinâmicas em torno dessas. Tendo em vista os contextos citadinos inerentes às
sociedades e suas sociabilidades (SIMMEL, 2006), que contemplam novos modos de lazer complementares à
própria esfera do trabalho, instituídos enquanto mercados por meio de uma necessidade individualista que,
significativamente, cresce com a urbanização e a industrialização (DUMAZEDIER, 2001, p.25), buscamos
compreender estes processos migratórios como um fato social total (SAYAD, 1998), que tem como ponto de
partida o próprio fenômeno do padel e suas dinâmicas nos contextos em que se instala.
Palavras-chave: padel, migração, práticas urbanas, corporeidade.
Referências:
DUMAZEDIER, J. Lazer e cultura popular. São Paulo: Editora Perspectiva, 2001.
LE BRETON, D. Antropologia do corpo e modernidade. Petrópolis: Editora Vozes, 2011
SAYAD, A. A imigração ou os paradoxos da alteridade. São Paulo: EdUSP, 1998.
Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/361921/mod_resource/content/1/Sayad.%20A%20imigra%C3%A7%C3%A3o%20ou%20osparadoxo%20da%20alteridade.pdf
Acesso em: 23 jun. 2023.
SIMMEL, Georg. Questões fundamentais de sociologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
ZANINI, M.C. Migrantes ao Sul do Brasil. Santa Maria: Editora UFSM, 2010.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Sandra Nicoli (UNIVALE), Maria Cristina Dadalto (UFES), Adélia Verônica Silva (IGOT)
Resumo: A presente proposta é refletir sobre a manutenção imaginada da diáspora italiana no Espírito Santo
através do grupo de WhatsApp Avanti Comunità. Essa manutenção se dá mesmo passados 150 anos da chegada e
instalação do primeiro grupo de imigrantes vindo da península itálica para o Espírito Santo. Composto
atualmente por 237 membros, residentes no estado e também em outros estados brasileiros, além de alguns
residentes no exterior, o grupo, criado em 2017, se descreve como tendo principal objetivo de reunir
lideranças representativas da comunidade ítalo-capixaba e demais interessados na cultura italiana e na
comunidade italiana. Neste sentido, se classifica como uma diáspora virtual por se caracterizar pela
memória coletiva e cultural, autoidentificação e associação a uma comunidade imaginada que permanece
presente entre seus membros após mais de cinco gerações. O contato diário online, as práticas de
participação em atividades culturais e as trocas de informações entre os membros do Avanti Comunità
sinalizam uma identidade de grupo. Isto sugere um tipo de consciência constituída numa percepção de vínculos
descentralizados, mantido por uma recriação da diáspora e que reflete uma imaginação compartilhada da
italianidade e de ser italiano.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Silvia Katherine Pacheco Teixeira (UFAM)
Resumo: Este artigo pretende fazer uma discussão sobre as questões geracionais na diáspora haitiana em Manaus
Amazonas. Acerca de mais de uma década, centenas de haitianos se instalaram em Manaus e escolheram essa
cidade para viver. Essas famílias foram trazendo outros membros, gerando e parindo novos filhos. Buscamos
entender como ocorreram os processos de reunificação familiar e como viviam as famílias migrantes com
membros haitianos e brasileiros. Procuramos entender como viviam essas famílias, com foco nos filhos, que
caracterizavam a primeira e a segunda geração haitiana em Manaus. Para compreender como os haitianos
chegaram a Manaus fizemos uma revisão pela literatura existente sobre a migração haitiana no Brasil, bem
como procuramos explicitar a história do Haiti e seus movimentos migratórios. Dialogamos também com as
principais discussões acerca das gerações nas migrações e através da história oral, das entrevistas e das
etnografias tentamos desvendar um pouco desse universo geracional entre as famílias.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Tayná Almeida de Paula (UNICAMP)
Resumo: O que as memórias de famílias negras têm a contar sobre os movimentos migratórios internos no Brasil ao
longo do século XX? Quais imagens e narrativas são reveladas sobre o processo de deslocamento, que não
aquelas contadas pela história oficial? O presente ensaio, oriundo da pesquisa intitulada Conheça sua
família!, trata de uma jornada inicial em busca das minhas próprias origens. Sendo parte de uma família
afrodescendente, meus parentes imigraram gradativamente de diferentes regiões rurais e periféricas
brasileiras para o que chamam de construção dos grandes centros urbanos, como do interior de Minas Gerais
para São Paulo. Se por um lado, a busca por melhores condições de vida parece ter configurado as principais
motivações em torno do projeto familiar de migrar, questões relacionadas à seca, à fome e à disputa por
terras parecem tê-la constrangido ao deslocamento. Assim, tendo em vista que a migração está situada entre o
que alguns parentes chamam de bloqueios para narrar, busco entendê-la em meio aos esquecimentos,
silenciamentos e não-ditos, mas também compreendê-la em meio as memórias afetivas. Considerando que esse
processo ocorreu aproximadamente até 1990, e sendo eu da geração nascida já no local de destino e sem
contato com narrativas profundas acerca das origens, isto se coloca como interesse de adentrar a memória
familiar. Estendendo esse desafio antropológico, busco abarcar três dimensões da memória: minhas lembranças
individuais, as lembranças de minha família, e como isso se articula com a memória e a ausência nas
representações oficiais de famílias brasileiras. Se tratando de famílias negras deslocadas de suas origens,
mobilizo ainda relações entre o tráfico negreiro no período escravocrata e a migração no contexto
capitalista brasileiro, sobretudo pela impossibilidade de nos mantermos na e com a sociedade de origem. O
objetivo é contribuir para a racialização do movimento migratório brasileiro por meio de elicitações
familiares, perpassando dinâmicas de trabalho, violências de estado, redes de apoio mútuo, relações de
família, parentesco e vizinhança, entre outras, produzidas pelo deslocamento, a reagregação e as
sobrevivências da escravidão. Esse movimento trata de encontrar o caminho de casa, conhecendo família.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Thais Fonseca Cruz (UNB)
Resumo: As dificuldades de ingresso para cursos de medicina no Brasil, seja pela alta concorrência do vestibular
e altos custos de mensalidade do ensino privado fez com que muitos brasileiros começassem a migrar para
países da América do Sul para seguir a formação médica. Através de uma perspectiva etnográfica em uma
primeira incursão de campo, esse estudo examina esse contexto de migração para a cidade de Rosário, na
Argentina. Estes brasileiros são mobilizados pelo sonho de fazer medicina e o objetivo do trabalho é
apresentar os motivos e as suas experiências considerando uma diversidade de perfis entre os estudantes.
Ainda que seja um país próximo ao Brasil, enfrentam desafios relacionados ao aprendizado de um novo idioma e
a adaptação em um novo sistema universitário. Na Universidad Nacional de Rosario, a universidade federal
pública que mais recebe brasileiros na cidade, o método de ensino para o curso de medicina é o método
baseado em problemas (PBL) em que os alunos são incentivados a discutir problemas e situações em turmas de
tutoria. Dessa maneira, a fluência no espanhol é fundamental considerando que além das aulas, as avaliações
são compostas por provas orais, com a avaliação de algum professor sobre todo o conteúdo da disciplina, que
é conhecido por mesas. Os estrangeiros que não são falantes nativos do espanhol precisam fazer uma prova de
proficiência para o nível intermediário avançado e a fluência do espanhol é uma das dificuldades para muitos
dos alunos ingressantes. Mesmo que o ingresso seja facilitado, a permanência a longo prazo é desafiadora.
Por fim, é preciso considerar que o contexto político e econômico argentino também tem afetado estes
brasileiros. A partir do inicio do novo governo no inicio deste ano, estudantes estrangeiros, incluindo
brasileiros, passaram a ser barrados no processo migratório sob a alegação de serem falsos turistas.
Geralmente, o trâmite efetuado por estes estudantes era o de entrar no país e depois aplicar para um
documento de residência argentina e realizam a matrícula na universidade. Por causa do acordo de livre
circulação do Mercosul, brasileiros não precisam de visto para visitarem o país, entretanto o visto para
estudos na Argentina tem sido exigido na chegada.
Além disso, as altas taxas de inflação e a instabilidade das taxas de câmbio provoca inseguranças
financeiras para muitos dos brasileiros que estudam medicina. Por esse motivo, muitos começam uma dupla
jornada em que precisam trabalhar para se manter em um novo país. Dessa maneira, também surge um mercado
brasileiro em torno da faculdade com lojas de conveniência, salões de beleza, bares e restaurantes de comida
brasileira que altera o cenário da cidade.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Thays dos Santos Pinto (estudante)
Resumo: Este Ensaio pretende descrever parte das vivências de uma mulher, advogada, branca, idosa com 64 anos
que vive na Estado do Rio de Janeiro, no bairro de Botafogo na condição de Refugiada política da Venezuela
há 5 anos. O relato de inicia a partir do atendimento jurídico realizado em uma instituição de atendimento a
pessoas migrantes, em diversas condições sociais e principalmente em condições de vulnerabilidade, que
procuram o local para esclarecer dúvidas jurídicas, pedir socorro em demandas sociais como alimentação,
vestuário, além de solicitações burocráticas como benefícios sociais, requerimento de processo de refúgio e
naturalização, entre outras demandas que permeiam o cotidiano da população migrante. A intenção do ensaio é
destacar as dificuldades da aposentada Venezuela na manutenção de sua aposentadoria e os dilemas que
enfrenta, uma vez que a Venezuela não possui acordos internacionais com o Brasil, no que se refere ao
direito previdenciário, sendo pré-requisito que o aposentado esteja no país para a manutenção de sua
aposentadoria, condição impossível para a interlocutora que se encontra refugiada no Brasil. A partir desse
ensaio busca-se refletir os processos burocráticos que cercam as pessoas migrantes que vivem no Brasil e
como esses obstáculos podem atrapalhar as suas vivências. A metodologia utilizada na construção desse ensaio
foi a observação participante, com a realização do trabalho de campo na instituição de acolhimento a
refugiados, além da observação foi realizada uma breve entrevista com a interlocutora focada na perda da sua
aposentadoria e nas consequências imediatas na sua vida, que resultou na descrição que será produzida neste
trabalho.