ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 072: Migrações, mobilidades e deslocamentos: problemas sociais, desafios antropológicos
Encontrando o caminho de casa: memória e migração interna de famílias negras no Brasil
O que as memórias de famílias negras têm a contar sobre os movimentos migratórios internos no Brasil ao longo do século XX? Quais imagens e narrativas são reveladas sobre o processo de deslocamento, que não aquelas contadas pela história oficial? O presente ensaio, oriundo da pesquisa intitulada Conheça sua família!, trata de uma jornada inicial em busca das minhas próprias origens. Sendo parte de uma família afrodescendente, meus parentes imigraram gradativamente de diferentes regiões rurais e periféricas brasileiras para o que chamam de construção dos grandes centros urbanos, como do interior de Minas Gerais para São Paulo. Se por um lado, a busca por melhores condições de vida parece ter configurado as principais motivações em torno do projeto familiar de migrar, questões relacionadas à seca, à fome e à disputa por terras parecem tê-la constrangido ao deslocamento. Assim, tendo em vista que a migração está situada entre o que alguns parentes chamam de bloqueios para narrar, busco entendê-la em meio aos esquecimentos, silenciamentos e não-ditos, mas também compreendê-la em meio as memórias afetivas. Considerando que esse processo ocorreu aproximadamente até 1990, e sendo eu da geração nascida já no local de destino e sem contato com narrativas profundas acerca das origens, isto se coloca como interesse de adentrar a memória familiar. Estendendo esse desafio antropológico, busco abarcar três dimensões da memória: minhas lembranças individuais, as lembranças de minha família, e como isso se articula com a memória e a ausência nas representações oficiais de famílias brasileiras. Se tratando de famílias negras deslocadas de suas origens, mobilizo ainda relações entre o tráfico negreiro no período escravocrata e a migração no contexto capitalista brasileiro, sobretudo pela impossibilidade de nos mantermos na e com a sociedade de origem”. O objetivo é contribuir para a racialização do movimento migratório brasileiro por meio de elicitações familiares, perpassando dinâmicas de trabalho, violências de estado, redes de apoio mútuo, relações de família, parentesco e vizinhança, entre outras, produzidas pelo deslocamento, a reagregação e as sobrevivências da escravidão. Esse movimento trata de encontrar o caminho de casa, conhecendo família.