Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 072: Migrações, mobilidades e deslocamentos: problemas sociais, desafios antropológicos
"PEDRA É CAIANA NO RIO DE JANEIRO": breves reflexões sobre as transfluências do ser-quilombo e viver-quilombola, a partir da migração entre Caiana dos Crioulos-PB e Pedra de Guaratiba-RJ.
A comunidade remanescente de quilombo Caiana dos Crioulos, situada na zona rural de Alagoa Grande-PB,
protagoniza a luta pelos direitos quilombolas em seu estado. Em 1998, deu entrada na Fundação Cultural dos
Palmares, ao primeiro processo de reconhecimento da Paraíba e em 2005, tornou-se o 13º quilombo reconhecido
no Brasil. Na carta enviada a Fundação, destaca-se no texto a preocupação da comunidade com a evasão dos
homens do quilombo, jovens e adultos em idade economicamente ativa, que migravam para trabalhar no Rio de
Janeiro.
Ao longo desses anos, o fluxo migratório entre Caiana e Rio de Janeiro continuou, revelando-se como uma das
complexas estratégias entre quem parte e quem fica, para a manutenção do quilombo e viver quilombola. Por
conseguinte, uma comunidade étnica migrante consolidou-se em Pedra de Guaratiba, localizada no subúrbio do
município do Rio de Janeiro, na Zona Oeste. Com uma abordagem etnográfica respaldada no trabalho de campo
desenvolvido em Caiana dos Crioulos desde 2021 e em Pedra de Guaratiba no final de 2023, além das
escrevivências compartilhadas pelas mulheres e homens, migrantes e não-migrantes, durante a pesquisa de
mestrado sobre o fortalecimento e valorização étnico racial empreendido pelas mulheres de Caiana, escutei
repetidas vezes que Pedra é Caiana no Rio de Janeiro", complementada pela observação de que hoje em dia, se
bobear, tem mais gente no Rio que na Caiana, marcando as zonas de diálogos e influências, as
transfluências, das fronteiras de ambos territórios no dia a dia do quilombo.
Desse modo, proponho apresentar as reflexões iniciais que orientam a minha proposta de pesquisa no
doutorado, onde busco compreender os caminhos, as dinâmicas e as estratégias de migrações entre essas
comunidades na Paraíba e Rio de Janeiro, no intuito de ampliar as percepções das noções de ser-quilombo e
viver-quilombola. Destaco a relevância do tema não apenas no campo da Antropologia, mas também para tais
comunidades tradicionais que se reúnem em corpos-territórios em diferentes espaços e, apesar de terem seus
direitos reconhecidos, ainda enfrentam dificuldades para acessá-los. A migração revela-se, nesse contexto,
como um grande paradoxo na relação entre o/a quilombola e seu território, desafiando as percepções das
noções jurídicas, políticas e sociais preestabelecidas sobre identidade e pertencimento.