Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 072: Migrações, mobilidades e deslocamentos: problemas sociais, desafios antropológicos
"Eu luto por pessoas que estão nesse momento tentando atravessar a fronteira": O discurso humanitário e as práticas de poder imbricadas no acolhimento de migrantes no estado do Acre
O presente trabalho almeja compreender como e por quem é feita a recepção e o acolhimento de migrantes
na fronteira do território brasileiro, a partir do caso de três cidades situadas no estado do Acre: Rio
Branco, Brasiléia e Assis Brasil. Dessa forma, tendo minha primeira experiência de campo nessas localidades
como base, viso entender como as políticas públicas (ou a falta delas) estão presentes nessa admissão de
migrantes no Brasil e quais são as condições materiais que eles possuem para que fiquem no território.
Penso aqui a partir da multiplicidade de agentes que estão envolvidos nesse acolhimento, sendo eles
estatais, funcionários de ONGs e instituições vinculadas às Nações Unidas (ONU). Uma vez que essas entidades
vêm construindo uma indústria de acolhimento no estado do Acre para a recepção de migrantes, por ser um
estado que possui um número elevado de sujeitos em fluxo. Instituições como a Organização Internacional para
as Migrações (OIM) e a Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) começam a se instalar
em Rio Branco, para somar a instituições religiosas, como a Cáritas, que já atuavam na região, visando
resolver a situação grave do Acre.
Para tentar abarcar essas três facetas: os agentes estatais, os de órgãos internacionais e os de
organizações não governamentais, no presente trabalho irei apresentar três personagens, Camila, uma das
coordenadoras da Secretaria de Direitos Humanos e Assistência Social do estado do Acre, Joyce, a
representante da OIM situada em Rio Branco e Karla, coordenadora da Cáritas Migração do estado do Acre.
Nesse momento pretendo analisar como a questão humanitária está presente no discurso das minhas três
interlocutoras e como elas o utilizam em cada uma das instituições e em suas articulações. Dessa forma,
entendendo que elas não falam apenas de receber pessoas, mas também de salvá-las.
Por fim, para melhor compreender os fluxos no Acre, é necessário entender que, por ser um local de múltiplas
fronteiras, os deslocamentos sempre foram intensos na região. Ultimamente, eles têm se adensado por causa de
políticas de expulsão de migrantes tanto no Chile quanto no Peru, o que tem feito com que essas pessoas, em
sua grande maioria venezuelanas, entrem no Brasil pela fronteira acreana. Dessa forma, desde que as atitudes
expulsórias desses dois países se intensificaram, o estado se tornou uma possibilidade de escapatória para
fugir da violência, podendo ocasionar um boom migratório na região, o que preocupa do governo do estado. Uma
vez que não se tem estrutura para receber essas pessoas, pelo fato de ser uma localidade carente, na qual
grande parte da população depende da assistência social e que não possui nem recursos financeiros nem
capacidade de gestão para acolher esses migrantes.