ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 072: Migrações, mobilidades e deslocamentos: problemas sociais, desafios antropológicos
"Eu luto por pessoas que estão nesse momento tentando atravessar a fronteira": O discurso humanitário e as práticas de poder imbricadas no acolhimento de migrantes no estado do Acre
O presente trabalho almeja compreender como e por quem é feita a recepção e o acolhimento de migrantes na fronteira do território brasileiro, a partir do caso de três cidades situadas no estado do Acre: Rio Branco, Brasiléia e Assis Brasil. Dessa forma, tendo minha primeira experiência de campo nessas localidades como base, viso entender como as políticas públicas (ou a falta delas) estão presentes nessa admissão de migrantes no Brasil e quais são as condições materiais que eles possuem para que fiquem no território. Penso aqui a partir da multiplicidade de agentes que estão envolvidos nesse acolhimento, sendo eles estatais, funcionários de ONGs e instituições vinculadas às Nações Unidas (ONU). Uma vez que essas entidades vêm construindo uma indústria de acolhimento no estado do Acre para a recepção de migrantes, por ser um estado que possui um número elevado de sujeitos em fluxo. Instituições como a Organização Internacional para as Migrações (OIM) e a Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) começam a se instalar em Rio Branco, para somar a instituições religiosas, como a Cáritas, que já atuavam na região, visando resolver a situação grave do Acre. Para tentar abarcar essas três facetas: os agentes estatais, os de órgãos internacionais e os de organizações não governamentais, no presente trabalho irei apresentar três personagens, Camila, uma das coordenadoras da Secretaria de Direitos Humanos e Assistência Social do estado do Acre, Joyce, a representante da OIM situada em Rio Branco e Karla, coordenadora da Cáritas Migração do estado do Acre. Nesse momento pretendo analisar como a questão humanitária está presente no discurso das minhas três interlocutoras e como elas o utilizam em cada uma das instituições e em suas articulações. Dessa forma, entendendo que elas não falam apenas de receber pessoas, mas também de salvá-las. Por fim, para melhor compreender os fluxos no Acre, é necessário entender que, por ser um local de múltiplas fronteiras, os deslocamentos sempre foram intensos na região. Ultimamente, eles têm se adensado por causa de políticas de expulsão de migrantes tanto no Chile quanto no Peru, o que tem feito com que essas pessoas, em sua grande maioria venezuelanas, entrem no Brasil pela fronteira acreana. Dessa forma, desde que as atitudes expulsórias desses dois países se intensificaram, o estado se tornou uma possibilidade de escapatória para fugir da violência, podendo ocasionar um boom migratório na região, o que preocupa do governo do estado. Uma vez que não se tem estrutura para receber essas pessoas, pelo fato de ser uma localidade carente, na qual grande parte da população depende da assistência social e que não possui nem recursos financeiros nem capacidade de gestão para acolher esses migrantes.