ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 072: Migrações, mobilidades e deslocamentos: problemas sociais, desafios antropológicos
Mobilidade acadêmica internacional como experiência e política migratória? Pesquisadores, Estado e seus projetos
Acadêmicos e pesquisadores em circulação internacional podem ser considerados migrantes? Quais os limites e potencialidades de se pensar em tais práticas de mobilidade pela lente das políticas migratórias? Provoco tais questões para se pensar em como estes sujeitos, metaforicamente chamados de cérebros, que fogem, voltam e circulam, carregam consigo outras dimensões e expectativas que por vezes ficam relegadas ao segundo plano ou fortemente desconsideradas pelas políticas estatais de incentivo a tal prática. A partir de pesquisa realizada com pesquisadores brasileiros que realizaram doutorado completo no exterior, com bolsa de agências nacionais, pretendo explorar tais questões, pensando sobretudo na relação estabelecida entre esses sujeitos - seus projetos individuais e suas expectativas em relação às suas carreiras e vidas -, com as expectativas estatais com a concessão de tais bolsas. Se nas políticas migratórias podemos pensar nas diferentes formas com que os Estados nacionais buscam atender ou restringir os direitos e expectativas de pessoas com nacionalidades estrangeiras, considerando outras dimensões de sua vida, como família e situação profissional, nas políticas de mobilidade acadêmica me parece que os sujeitos por elas contemplados são categorizados de outra forma. Apesar de serem estrangeiros em um país estranho, contam com vistos e autorizações específicas para poderem vivenciar tal período, tendo o retorno como elemento central para seus países de origem, e ao mesmo tempo o interesse em suas expertises pelos países que os recebem. Se essa é a percepção que mediam as relações e os acordos de cooperação entre diferentes Estados nacionais e suas instituições, para que seus cidadãos altamente qualificados possam circular, produzindo uma determinada geopolítica internacional do conhecimento científico, há uma outra dimensão que merece ser melhor observada - as expectativas e projetos individuais destes cientistas e pesquisadores que circulam. Pretendo explorar, portanto, a relação estabelecida entre estes pesquisadores e os Estados nacionais, considerando que estes pesquisadores, ao buscarem financiamento para realizar parte de sua formação em renomadas instituições internacionais, não necessariamente se alinham às expectativas estatais que garantem tais recursos. Há, contudo, pelo menos no caso brasileiro, a obrigatoriedade do retorno físico ao país, acreditando que isso também signifique o pagamento do investimento recebido. A partir dos discursos estatais sobre o retorno, produzido em documentos oficiais, legislações e decretos, e das experiências e relatos dos ex-bolsistas que vivenciaram, ou não, a experiência do retorno, pretendo explorar tal relação, compreendendo as diferentes dimensões morais envolvidas em tais processos.