Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 072: Migrações, mobilidades e deslocamentos: problemas sociais, desafios antropológicos
Mobilidade acadêmica internacional como experiência e política migratória? Pesquisadores, Estado e seus
projetos
Acadêmicos e pesquisadores em circulação internacional podem ser considerados migrantes? Quais os
limites e potencialidades de se pensar em tais práticas de mobilidade pela lente das políticas migratórias?
Provoco tais questões para se pensar em como estes sujeitos, metaforicamente chamados de cérebros, que
fogem, voltam e circulam, carregam consigo outras dimensões e expectativas que por vezes ficam relegadas ao
segundo plano ou fortemente desconsideradas pelas políticas estatais de incentivo a tal prática. A partir de
pesquisa realizada com pesquisadores brasileiros que realizaram doutorado completo no exterior, com bolsa de
agências nacionais, pretendo explorar tais questões, pensando sobretudo na relação estabelecida entre esses
sujeitos - seus projetos individuais e suas expectativas em relação às suas carreiras e vidas -, com as
expectativas estatais com a concessão de tais bolsas. Se nas políticas migratórias podemos pensar nas
diferentes formas com que os Estados nacionais buscam atender ou restringir os direitos e expectativas de
pessoas com nacionalidades estrangeiras, considerando outras dimensões de sua vida, como família e situação
profissional, nas políticas de mobilidade acadêmica me parece que os sujeitos por elas contemplados são
categorizados de outra forma. Apesar de serem estrangeiros em um país estranho, contam com vistos e
autorizações específicas para poderem vivenciar tal período, tendo o retorno como elemento central para seus
países de origem, e ao mesmo tempo o interesse em suas expertises pelos países que os recebem. Se essa é a
percepção que mediam as relações e os acordos de cooperação entre diferentes Estados nacionais e suas
instituições, para que seus cidadãos altamente qualificados possam circular, produzindo uma determinada
geopolítica internacional do conhecimento científico, há uma outra dimensão que merece ser melhor observada
- as expectativas e projetos individuais destes cientistas e pesquisadores que circulam. Pretendo explorar,
portanto, a relação estabelecida entre estes pesquisadores e os Estados nacionais, considerando que estes
pesquisadores, ao buscarem financiamento para realizar parte de sua formação em renomadas instituições
internacionais, não necessariamente se alinham às expectativas estatais que garantem tais recursos. Há,
contudo, pelo menos no caso brasileiro, a obrigatoriedade do retorno físico ao país, acreditando que isso
também signifique o pagamento do investimento recebido. A partir dos discursos estatais sobre o retorno,
produzido em documentos oficiais, legislações e decretos, e das experiências e relatos dos ex-bolsistas que
vivenciaram, ou não, a experiência do retorno, pretendo explorar tal relação, compreendendo as diferentes
dimensões morais envolvidas em tais processos.