Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 072: Migrações, mobilidades e deslocamentos: problemas sociais, desafios antropológicos
O sonho de ser médico: a mobilidade de estudantes brasileiros para Rosário Argentina
As dificuldades de ingresso para cursos de medicina no Brasil, seja pela alta concorrência do vestibular
e altos custos de mensalidade do ensino privado fez com que muitos brasileiros começassem a migrar para
países da América do Sul para seguir a formação médica. Através de uma perspectiva etnográfica em uma
primeira incursão de campo, esse estudo examina esse contexto de migração para a cidade de Rosário, na
Argentina. Estes brasileiros são mobilizados pelo sonho de fazer medicina e o objetivo do trabalho é
apresentar os motivos e as suas experiências considerando uma diversidade de perfis entre os estudantes.
Ainda que seja um país próximo ao Brasil, enfrentam desafios relacionados ao aprendizado de um novo idioma e
a adaptação em um novo sistema universitário. Na Universidad Nacional de Rosario, a universidade federal
pública que mais recebe brasileiros na cidade, o método de ensino para o curso de medicina é o método
baseado em problemas (PBL) em que os alunos são incentivados a discutir problemas e situações em turmas de
tutoria. Dessa maneira, a fluência no espanhol é fundamental considerando que além das aulas, as avaliações
são compostas por provas orais, com a avaliação de algum professor sobre todo o conteúdo da disciplina, que
é conhecido por mesas. Os estrangeiros que não são falantes nativos do espanhol precisam fazer uma prova de
proficiência para o nível intermediário avançado e a fluência do espanhol é uma das dificuldades para muitos
dos alunos ingressantes. Mesmo que o ingresso seja facilitado, a permanência a longo prazo é desafiadora.
Por fim, é preciso considerar que o contexto político e econômico argentino também tem afetado estes
brasileiros. A partir do inicio do novo governo no inicio deste ano, estudantes estrangeiros, incluindo
brasileiros, passaram a ser barrados no processo migratório sob a alegação de serem falsos turistas.
Geralmente, o trâmite efetuado por estes estudantes era o de entrar no país e depois aplicar para um
documento de residência argentina e realizam a matrícula na universidade. Por causa do acordo de livre
circulação do Mercosul, brasileiros não precisam de visto para visitarem o país, entretanto o visto para
estudos na Argentina tem sido exigido na chegada.
Além disso, as altas taxas de inflação e a instabilidade das taxas de câmbio provoca inseguranças
financeiras para muitos dos brasileiros que estudam medicina. Por esse motivo, muitos começam uma dupla
jornada em que precisam trabalhar para se manter em um novo país. Dessa maneira, também surge um mercado
brasileiro em torno da faculdade com lojas de conveniência, salões de beleza, bares e restaurantes de comida
brasileira que altera o cenário da cidade.
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