Grupos de Trabalho (GT)
GT 042: Desafios dos estudos ciganos no campo da Antropologia: questões de método e novas demandas políticas
Coordenação
Mercia Rejane Rangel Batista (UFCG), Felipe Berocan Veiga (UFF)
Debatedor(a)
Maria Patrícia Lopes Goldfarb (UFPB), Mario Igor Shimura (UNICESUMAR)
Resumo:
Os encontros bienais realizados pela ABA contaram com a presença de pesquisadores vinculados à temática cigana reunidos em diversas atividades desde 2006, gerando a construção de espaço de trocas de conhecimento, articulado ao estudo e reconhecimento de pautas que atravessam demandas políticas das comunidades ciganas, marcadas por convergências e disputas conforme situações específicas. Propomos para a 34ª RBA a manutenção deste espaço, convidando pesquisador@s à apresentação de trabalhos que compartilhem estudos etnográficos e histórico documentais com foco em diferentes grupos Ciganos/ Romani no Brasil ou abordando sua dimensão transnacional. Buscamos a apresentação de trabalhos que permitam compreender as situações sociais vividas por esses grupos, com enfoque nas pautas recentes apresentadas que reforcem suas reivindicações, mobilizações e lutas pelo reconhecimento de direitos, incrementando o debate, criação, manutenção, crítica e expansão de novas políticas públicas. As questões de gênero e geracionais, os processos de produção e manutenção de estigmas e as relações complexas entre ciganos e não ciganos (gadjé), em diferentes contextos, continuam na ordem do dia e merecem reflexões antropológicas. Este GT pretende se constituir em espaço de troca entre pesquisadores de diferentes regiões e formações, permitindo um campo de diálogos, gerando possibilidades comparativas e aprofundando discussões teórico metodológicas em torno das pesquisas realizadas e em andamento.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Edluza Maria Soares de Oliveira (Seduc/AL)
Resumo: Trata-se de um recorte da dissertação de mestrado , apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social PPGAS, da Universidade Federal de Alagoas em julho de 2023. Cujo os sujeitos da pesquisa foram os ciganos de etnia Calon residentes na parte alta da cidade de Penedo localizada no extremo sul das Alagoas, na região do Baixo São Francisco. Nosso objetivo é desenvolver reflexões sobre o contexto em que se deu a elaboração da Lei Municipal nº 1.650/2019 que instituiu o Dia Municipal da Etnia Cigana de Penedo-AL, analisando tensões e desafios imbricados na referida elaboração. Além de, problematizar as implicações da referida legislação no cotidiano da comunidade. A metodologia que atravessou toda a pesquisa foi a prática etnográfica, e entre as técnicas utilizadas, destaco a análise documental, que possibilitou versar sobre a lei supracitada e os meandros a qual foi instituída. No que se refere aos resultados, a legislação enquanto um aparato legal, se constitui como um instrumento de luta para a visibilização e protagonismo dos Calon. Ainda que, haja um equívoco quanto a denominação da referida lei, esta se apresenta como um marco na construção de um novo regime de memória na cidade de Penedo-AL, no sentido de ser um documento legal que poderá impulsionar a elaboração e/ou ampliação e ajustes de políticas públicas para a população cigana local.
Palavras-chave: Calon. Lei municipal. Penedo-AL.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Felipe Berocan Veiga (UFF)
Resumo: Nesta comunicação, busco refletir sobre as relações de proximidade construídas, ao longo de muitos anos, com pioneiros do ativismo cigano no Brasil, analisando uma série de demandas a mim dirigidas como antropólogo e considerando o modo como tais interações se desenrolam nos bastidores do ativismo político e das mobilizações ao poder público, produzindo intensa interlocução e múltiplos efeitos. A partir de distintas experiências deflagradas por novas políticas de reconhecimento dos ciganos no Brasil, iniciadas com a primeira celebração oficial do Dia Nacional do Cigano em 24 de maio de 2007, até a tramitação em curso no Congresso Nacional do projeto que cria o Estatuto dos Ciganos (PL n. 1387/2022), levando em ambos os casos a concepções e valores bastantes divergentes entre os próprios ativistas, pretende-se aqui discutir o caráter estratégico das diversas demandas dirigidas ao antropólogo e as reiteradas expectativas de seus interlocutores integrantes do movimento nacional cigano. Assim, pretende-se considerar o quadro de relações de amizade e proximidade construídas e seus desdobramentos entre gerações, diante dos renovados interesses de pesquisa e também do papel acadêmico e profissional desempenhado pelo antropólogo na cena pública.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Fernando Henrique Pires Mamédio (UFPB), Yanca Caroline Farias de Souza (UFPB), José Aclécio Dantas (SEDEC PMJP)
Resumo: Este artigo resulta das primeiras ações do projeto de extensão Ciganos e Podcasts: a antropologia como instrumento de democratização do saber, que em parceria com o GEC - Grupo de Estudos Culturais da Universidade Federal da Paraíba, realiza oficinas voltadas aos jovens da comunidade cigana na cidade de Sousa-PB. O projeto tem o objetivo, a partir da parceria entre a universidade e a comunidade étnica, relacionar os estudos ciganos aos saberes locais, bem como a prática da mídia auditiva digital - podcast - com as demandas internas da comunidade. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, com leituras e discussões de temas relevantes para a construção das identidades étnicas ciganas. O projeto promove oficinas e estudos sobre tecnologias digitais e produção e veiculação de podcasts, sendo dividido em quatro fases: o levantamento bibliográfico sobre o tema e seus conceitos básicos, a escuta e os debates com os jovens da comunidade, a articulação e o estabelecimento de parcerias com as instituições locais, e o planejamento e produção dos primeiros podcasts. Os dados parciais apontam o interesse e o engajamento crescente dos jovens ciganos na produção e veiculação de mídias que promovem o conhecimento e a inserção positiva de sua cultura na sociedade, contribuindo para a fluidez e a mobilidade das fronteiras identitárias interétnicas entre ciganos e não ciganos.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Izabelle Aline Donato Braz (TRT- 13)
Resumo: Após séculos de presença cigana em nossa sociedade, os ciganos continuam sendo invisibilizados, marginalizados, vistos ora como contadores de mentidas, e ora como gente perigosa. Mesmo em interação constante com o outro, a visão estereotipada acerca do que é ser cigano, ainda reforça o imaginário que o constrói. Nesse sentido, o objetivo desse trabalho é pensar a identidade cigana no cenário de Campina Grande, tendo como eixo articulador as matérias dos Jornais da Paraíba e Diário da Borborema ao longo das décadas de 1980 e 1990, em torno dos eventos intitulados Saga Cigana / Guerra Cigana. O material jornalístico, acabou por reforçar um imaginário que historicamente atribui aos ciganos uma condição de marginalidade, por conseguinte, percebemos que no senso comum a criminalidade é um elemento que corrobora o ser cigano. Diante disso, foi percebido que entre as décadas 1960/1970 os ciganos foram invisibilizados nas páginas jornalísticas, com raríssimas aparições. Por outro lado, na década de 80 são fortemente evidenciados nas páginas policiais dos jornais, como protagonistas de crimes entre membros de uma mesma família, a qual os jornais nominaram como: Saga cigana, ou Chacina cigana. Em contraposição a esse fato, a sua presença mostra-se desconhecida para a população local, o que permite muitos moradores imaginar que não existiam/existe pessoas desta etnia residindo na cidade. Diante disso, a fonte jornalística e se tornou primordial no processo de visibilização e representação dos ciganos nas décadas de 70 e 80 na cidade Campina Grande/PB e região.
Palavras- chave: invisibilizados, identidade cigana; marginalidade; fonte jornalística; imaginário social.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Jamilly Rodrigues da Cunha (TRT-13)
Resumo: Cigano/a, Rom/Romi, Romani, Calon/Calin ou Sinti, entre outras designações, são
as formas de autorreconhecimento e como são identificados este grupo étnico que vive
em solo brasileiro desde o século XVI. Historicamente colocados à margem, vítimas
de perseguição, preconceito e discriminação, atualmente, tais agentes têm desafiado o
Estado no processo de negociação e construção de programas e projetos a partir de demandas específicas e que estão relacionadas às suas vivências, formas de resistência e processos interacionais.
Destarte, o presente artigo visa discutir o cenário de mobilização identitária a partir da atuação de algumas mulheres Ciganas ou, respeitando suas formas de autorreconhecimento, mulheres Romani. Para tal, além de mapear a bibliografia que existe acerca de mulheres desta etnia, pretende-se discutir a participação das agentes em um campo tradicionalmente ocupado por homens, o universo da política. Afinal, as mulheres romani, dificilmente ocuparam espaços discursivos que permitissem formas de resistências públicas, contudo, a pesquisa revelou um novo momento caracterizado pela ampla atuação das ativistas, rompendo barreiras por meio de uma participação ativa no processo de construção de políticas, buscando, inclusive, desconstruir o imaginário que, para além de carregar muitas violências, pouco diz sobre quem são e o que querem ser. Importa dizer que os dados que embasam tais reflexões foram extraídos por meio do método de observação participante, recurso metodológico essencial por permitir ao pesquisador um acesso mais denso às práticas e dinâmicas vivenciadas.
Palavras-chave: Ativismo político; Mulheres Romani; Identidade.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Jéssica Nunes da Silva (UFRGS)
Resumo: Os povos ciganos estão presentes no Brasil desde o período da colonização. No âmbito de uma história oficial, entretanto, tal presença não encontrou contrapartida imediata: até a primeira década do século XXI a história dos ciganos no Brasil carecia de registros precisos, constituindo-se, de um lado, pela escassez de dados historiográficos, e de outro, pela alusão a um imaginário romantizado, sendo envolta a figura dos ciganos em "mistérios e temores" (Karpowicz, 2018; Goldfarb et al., 2019; Nascimento et al., 2023). Os impactos deste duplo movimento são inúmeros, e têm sido objeto de atenção das Ciências Sociais brasileiras nas últimas duas décadas. No presente trabalho, objetiva-se refletir sobre as dinâmicas de representação dos Povos Ciganos, internamente, frente e para além do Estado, enfatizando analiticamente tanto seu reconhecimento como Povos e Comunidades Tradicionais (PCT), quanto as diferentes situações sociais (Gluckman, 1995) nas quais se exprimem tais dinâmicas de reconhecimento. Com base em uma abordagem etnográfica exploratória, amparada pelo referencial antropológico advindo dos Estudos Ciganos/Romani, busca-se compreender como desvelam-se as relações entre cultura e tradição, performance e reconhecimento étnico entre ciganos do e no Rio Grande do Sul. Ao final, emergem questões relativas à pertencimento e identidade, expressão cultural e representação política, expressas também na relação entre romas (ciganos) e gadjes (não-ciganos) ao sul, esta que é permeada por alianças, conflitos e idealizações: elementos cujo abarcamento necessário justifica-se, dentre outras razões, diante da lacuna de produções dedicadas ao tema em se tratando desta região do país.
Palavras-chave: Ciganos; Identidade; Cultura; Representação; Rio Grande do Sul.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Joilson Fiuza dos Santos (UFRB)
Resumo: As reflexões apresentadas neste trabalho, compõem parte da discussão da pesquisa de mestrado ainda em andamento junto ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS), da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. A respectiva investigação tem como objetivo recuperar e compreender as trajetórias de vida de mulheres ciganas calons em Governador Mangabeira, no Recôncavo baiano. Logo, essa pesquisa não tem a intenção de fazer considerações eternas e definitivas, nem tão pouco de construir uma narrativa universal que se aplica a todas as mulheres ciganas, mas propõe aqui uma reflexão provisória, a partir dos fragmentos dessas trajetórias construídas e reconstruídas pelas próprias interlocutoras. Recupero e aciono o pensamento da teórica Gayatri Spivak, na obra "Pode o subalterno falar?" (2010), para demarcar meu lugar enquanto pesquisador, que não tem a intenção de falar por essas mulheres, mas de escrever em companhia delas. Recorro a uma abordagem metodológica qualitativa, conformada por um conjunto de procedimentos e métodos que ajudou na construção da evidência empírica, a partir do que propõe Cardoso (1986); Jovchelovitch e Bauer (2003). Utilizei o método da participação observante para compreender essas experiências tanto no acampamento quanto fora dele. Dito isso, também empreguei as entrevistas narrativas como uma importante técnica de geração de dados com essas mulheres. Logo, a narrativa não é aqui entendida como uma listagem de acontecimentos cronológicos, mas uma tentativa de ligá-los, tanto no tempo, como no sentido. Os resultados provisórios da pesquisa refutam a ideia da existência de uma mulher cigana arquetípica e essencializada. As narrativas dessas mulheres reconstroem e posicionam suas experiências a partir contextos outros: a vida em comunidade no acampamento, as cerimônias de casamento e festividades; superando assim, narrativas outras que as colocaram historicamente no lugar de vítimas e/ou vilãs.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Jorge Nascimento Trindade (UFPB), Maria Patrícia Lopes Goldfarb (UFPB)
Resumo: A partir da obra pioneira sobre a temática do cigano no Brasil de Sant'ana, in: Os ciganos aspectos da organização social de um grupo cigano em Campinas (1983), discute a importância da obra para a produção científica acerca do tema no Brasil.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
José Aclécio Dantas (SEDEC PMJP), Maria Patrícia Lopes Goldfarb (UFPB)
Resumo: Este artigo apresenta resultados de uma pesquisa antropológica de nível doutoral em andamento na Universidade Federal da Paraíba, sobre como os grupos ciganos resgatam sentimentos identitários, e reafirmam posições culturais e sentimentos de pertença ao exercerem suas atividades econômicas e formas de trabalho mais tradicionais, em contraposição aos ritos e exigências do mercado de trabalho formal e institucionalizado. A partir da ausência de estudos que retratam tanto a inserção de ciganos no mercado de trabalho, quanto os sentidos atribuídos à categoria semântica do trabalho nas relações de poder estabelecidas nas fronteiras interétnicas entre ciganos, especialmente os da etnia Calon e os não ciganos - gadhes, buscamos identificar, através dos discursos proferidos por ciganos, ou a respeito deles, como se compreende o trabalho formal e como as categorias nativas são acionadas, gerando uma distinção entre trabalho/negócio. Constituiu-se numa pesquisa bibliográfica no qual o recorte metodológico é de caráter descritivo e exploratório e o levantamento dos dados empíricos foram feitos em várias dissertações e teses, com ênfase nas pesquisas etnográficas.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Júlia Cristine Santos (UNIFAL-MG)
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo traçar uma comparação entre a definição de gênero como performance estabelecida por Judith Butler (2018) e a relação das mulheres ciganas Calon brasileiras com seu próprio gênero e etnia descritas pela antropóloga Florencia Ferrari (2010). Segundo a pesquisadora, os ciganos Calon só se enxergam como indivíduos pertencentes da etnia Calon à medida que performam calonidade, mas esta performance não é igual para todos, homens e mulheres encenam seus gêneros de formas muito distintas. Essa caracterização é incentivada desde a infância, em que meninas calin são parabenizadas por se comportar de determinadas formas (normalmente associadas a serviços domésticos). Este incentivo, portanto, expressa o que Butler (2018) define como performance de gênero, em que as mulheres não são mulheres por um fator natural, mas sim cultural, em que expressam o que é esperado e ensinado para seu gênero. Atualmente, existem mulheres ciganas Calon que buscam quebrar essas expectativas de gênero que lhe foram postas, subvertendo suas performances. Assim, a partir deste trabalho, serão analisadas tanto as expressões de gênero que determinadas mulheres Calon exercem, como também uma suposta ruptura destas com suas performances.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Leonardo Rugero Peres (UNIRIO)
Resumo: Neste artigo, será apresentado o processo de profissionalização da música cigana praticada na cidade do Rio de Janeiro. Esta narrativa é construída inicialmente sobre o Brasil Império, através de relatos sobre os festeiros do rei e o bródio. Em seguida, apresento a consolidação das festas ciganas, tendo como marco histórico, a atividade de Mio Vacite à frente do Centro de Estudos Ciganos. Este trabalho se desenvolve através de pesquisa participante do autor, músico atuante neste contexto profissional, apresentando uma reflexão crítica sobre esta atividade.
Palavras-Chave: Música; Cigano; Calon;
INTRODUÇÃO
Apesar do apagamento histórico, a música cigana no Rio de Janeiro remonta ao Brasil colonial, com a deportação de ciganos ibéricos da etnia calon. Entre os séculos XVI e XVIII, numerosas Ordenações do Reino, condenam ciganos ao degredo, através de leis expressamente promulgadas para puni-los (Filho, 1886, p.22). Em decreto de 11 de abril de 1718, ordenava-se ao governador que ponha cobro e cuidado na proibição do uso de sua língua e gíria, não permitindo que se ensine a seus filhos, afim de obter-se a sua extinção (1886, p.24) . De acordo com narrativas da história oral, em torno das ordenações do reino, algumas famílias extraditadas desembarcaram no Rio de Janeiro e alojaram-se em barracas no Campo dos Ciganos, enorme e inculta praça que se estende da Rua do Cano até a barreira do Senado (1886, p.25). Em 1760, Dom José, rei de Portugal, determinou que a Rua dos Ciganos seria o único local em que poderiam residir. Entretanto, os núcleos dessa mesma comunidade já se encontravam no Valongo e na Cidade Nova (Araújo; Guerreiro, 1999, p.234).
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Luan Gomes dos Santos de Oliveira (UFCG)
Resumo: Este texto etnográfico objetivo apresentar um estudo antropológico das reivindicações por reconhecimento e redistribuição na Comunidade Cigana de etnia Calon no município de Sousa, localizada no Alto Sertão Paraibano desde os anos de 2019 a 2023. A chave de leitura antropológica e sociológica que este projeto assume parte da relação entre justiça ambiental, saúde e ecologia política (ACSERALD, PORTO, 2013). Parte-se da matriz epistemológica e política de estudos antropológicos com ciganos e ciganas (BATISTA, 2017, 2018; GOLDFARB, 2004, 2010, 2018; CUNHA, 2018; SIQUEIRA, 2012) e numa perspectiva sociológica de reivindicações por reconhecimento e redistribuição (FRASER, 2007). A pesquisa possui o método de abordagem qualitativo, documental, fundamentada em roteiros de entrevista e na Antropologia do Arquivo, bem como mediada pela etnografia enquanto um diálogo que tem por intuito dar visibilidade às vozes subalternas e silenciadas deste povo que, infelizmente, ainda sofrem com as mazelas presentes na sociedade capitalista, sofrem com a ausência de políticas públicas; convivem com a escassez de recursos, do acesso à segurança, saúde, saneamento básico, etc.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Luana Antonino de Medeiros (UFPB)
Resumo: Este trabalho foi fruto de uma pesquisa realizada entre os anos de 2018 e 2020, como parte do processo para obtenção do título de mestre em Serviço Social pelo Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal da Paraíba. Através de uma análise qualitativa, delineou-se como objetivo geral investigar as condições de vida e saúde dos povos ciganos da cidade de Sousa. Os objetivos específicos foram delimitados em: I- identificar os principais fatores que afetam a saúde desses povos e; II- Investigar como os estigmas afetam o acesso à saúde pelos ciganos. Para isso, foi realizada inicialmente uma pesquisa bibliográfica e documental com o objetivo de fundamentar a pesquisa. Em seguida, foram realizadas entrevistas com ciganos e profissionais da Estratégia de Saúde da Família, que atuam na área territorial onde estão localizados os Ranchos ciganos. Foram realizadas entrevistas semi-estruturas com doze ciganos e quatro profissionais da saúde. A pesquisa concluiu que os ciganos vivem em condições precárias, sem acesso regular a água potável, desempregados, alguns vivendo em casas de taipa sem revestimento, sem banheiro e que, por possuírem uma história de exclusão das políticas públicas de saúde, não têm uma cultura de promoção e prevenção em saúde. Além disso, os ranchos ciganos convivem com uma equipe de saúde sem preparo para lidar com as particularidades em saúde desses povos, que em seus discursos reproduzem, freqüentemente, estigmas sobre os ciganos
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Maria Cristina Marques (Pesquisadora Independente)
Resumo: O estudo apresentado, que faz parte de uma tese, analisa a importância do Brincar na cultura das crianças Calon do acampamento Mathias de Quissamã, município do Estado do Rio de Janeiro. Os escritos enfatizam que o Brincar está além da ludicidade, se coloca num pilar essencial para preservação de identidade cultural cigana.
Tradicionalmente, muitos grupos ciganos, assim como Sinti, Romà e Calon são conhecidos por seu estilo de vida. No caso dos Calon em Quissamã, embora possam ter um caráter mais sedentário atualmente, poucos ainda se locomovem de modo a sobreviverem através do comércio, tais como venda de pássaros, de carros, além de outros tipos de negócios.
A comunidade cigana Calon de Quissamã ainda mantém uma identidade cultural, inclusive marcada pela língua própria, o Chibi e tentam preservar algumas expressões culturais, como se vestirem de acordo com suas expressões culturais. O respeito aos mais velhos, assim como em algumas comunidades, e a manutenção de laços familiares são valores centrais.
A infância cigana, particularmente no contexto das crianças Calon, é profundamente enraizada em uma cultura rica e diversificada que influencia fortemente sua formação e experiências diárias. Elas aprendem continuamente por meio da observação e participação em atividades diárias da comunidade, incluindo práticas comerciais, manutenção de sua cultura, muitas vezes observadas nas brincadeiras.
A metodologia adotada na pesquisa predominou na fotoetnografia combinada com o trabalho de campo etnográfico para explorar o universo do Brincar. Ela permitiu uma imersão visual e interpretativa, capturando detalhes e nuances da interação das crianças com seu ambiente e entre si, por meio de fotografias e vídeos que documentaram suas brincadeiras. Além do recorte visual, a pesquisa envolveu a observação participante e interações diretas com a comunidade, incluindo entrevistas com crianças, pais e outros membros da comunidade Calon.
A análise dos dados coletados seguiu uma abordagem qualitativa, interpretando as atividades lúdicas observadas em relação à literatura existente sobre o Brincar e a cultura cigana. Como participantes principais, as crianças do acampamento, cujas interações e expressões lúdicas forneceram insights valiosos sobre como o Brincar.
A ética na pesquisa foi fundamental e pais e pesquisados mirins assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido" (TCLE). É crucial a proteção dessas minorias étnicas, garantindo que não sejam submetidos a nenhum risco posterior.
A pesquisa revelou que o Brincar é central na vida das crianças Calon de Quissamã, atuando como um veículo para a socialização, aprendizado e manutenção de tradições culturais.
Palavras-chave: O Brincar Calon, Educação Infantil Cigana, Etnografia.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Mario Igor Shimura (UNICESUMAR)
Resumo: A linguagem metafórica utilizada por Zygmund Bauman (1999), tomando a propriedade “liquida” como categoria analítica das relações sociais, econômicas e de produção a partir do fim da Segunda Guerra Mundial – momento até o qual prevaleceu, segundo diz, uma “modernidade sólida”, nos serve como perspectiva para analisarmos as relações dos Calon itinerantes com a sociedade ampla no contexto brasileiro. O conceito desenvolvido por Bauman apresenta a ideia de que a “liquidez” das relações não se dá “para acabar de um vez por todas com os sólidos”, mas para “limpar a área para novos e aperfeiçoados sólidos”. A binaridade “sólido-líquido”. aplicada na análise aqui proposta, não se detém ao elemento temporal – ainda que esteja implicado, mas abrange o processo transcultural, nos moldes do que nos apresenta Fernando Ortiz (1944), teórico da transculturación. A imagem dinâmica da “liquidez” que “derrete sólidos” para gerar “novos e aperfeiçoados sólidos” nos remete a um ciclo contínuo de transformações dos modos de vida tradicionais (“sólidos”), que são constantemente reformatados, reorganizados e “enriquecidos” pelos Calon diante da influência das aceleradas transformações (“líquido”) da chamada “modernidade” (GIDDENS, 1990; HALL, 2011). Dito isso, a dinâmica de coexistência entre o “tradicional-sólido” (nas comunidades étnicas) e o “moderno-líquido” (das grandes cidades e ambientes não ciganos) impõe à comunidade tradicional a necessidade de maleabilidade relacional em termos interculturais, e que invariavelmente se reflete no seu ethos, constituindo novas perspectivas étnico-identitárias. Os efeitos dessa dinâmica se traduz na ideia de uma “calonidade estrategicamente líquida” que constantemente “derrete sólidos” (tradições estáveis) e os recria com elementos externos embutidos e contextualizados (“calonizados”) aos seus modos de vida, aperfeiçoando suas relações e estabilidade com/perante a sociedade não cigana. É um processo que implica em somas e subtrações de elementos socioculturais, externos e internos respectivamente, que resultam em novos modelos, códigos e sinais diacríticos. O presente trabalho problematiza o “ser Calon”, ou a “calonidade”, presente no mosaico pluriétnico brasileiro, demonstrando sua adaptabilidade e habilidade intercambial diante/para com a sociedade ampla. Em termos práticos, esses fenômenos podem ser observados e analisados a partir do campo etnográfico, na presença dos Calon nas redes sociais, no seu uso de aplicativos e de outras tecnologias digitais, no consumo de produtos de estética, mídia e vestimenta, na utilização de bancos online etc., modelos e ambientes estes que lhes impõem modelos relacionais, comunicacionais e culturais que resultam no que chamo aqui de “calonidade liquida”.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Mercia Rejane Rangel Batista (UFCG), José Gabriel Silveira Corrêa (UFCG)
Resumo: O presente trabalho busca apresentar e discutir os efeitos gerados pela tramitação do Projeto de Lei n. 1387/2022 no Congresso Nacional (número anterior: PLS 248/2015) que se propõe instituir o Estatuto do Cigano no Brasil. A iniciativa legislativa teve autoria do senador Paulo Paim (PT/RS) e busca regulamentar, através de um marco legal, a garantia de direitos integrais para a população cigana em diversas áreas, como cultura, esporte, lazer, educação, saúde, acesso à terra e trabalho. Constituindo-se em uma resposta ao processo histórico de exclusão e preconceitos direcionados aos mesmos. A tramitação do Estatuto vem gerando reflexões por parte de pesquisadores (ANDRÉA, 2020; SILVA & FIGUEIRA, 2022), como também manifestações de representantes ciganos, tantos em termos individuais, como também na forma de associações. Porém, ao nos debruçamos sobre o cenário, temos identificado uma ausência de tematização por parte tanto dos meios de comunicação não especializados, como também da população não-cigana. Buscamos então refletir sobre os desafios que estão configurados, no sentido proposto por Pacheco de Oliveira (1999) no Atlas das Terras Indígenas no Nordeste, quando nos apresenta a situação na qual ao se indagar se existem índios no nordeste, há sempre uma dificuldade em fazer convergir o sentido atribuído pelos especialistas e a percepção compartilhada pelos não especialistas e os desafios colocados nestes processos complexos de assegurar a garantia de direitos coletivos no âmbito dos Estado-Nação.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Silvia Gomes Pêgo (PUC MINAS)
Resumo: A pesquisa, de inspiração etnográfica, se propôs a examinar as práticas educacionais da comunidade Calon que se encontra no bairro São Gabriel em Belo Horizonte. O estudo tem por objetivo identificar as práticas educacionais, manifestas nos hábitos e costumes da comunidade cigana supracitada, e compreender como são instituídas e suas relações, ou não, com as práticas educacionais da escola formal. Para tal, fez-se necessário contextualizar historicamente a etnia cigana em termos gerais, examinar, dentro do possível, as informações sobre sua origem, a complexa diversidade cultural e a intrínseca conexão entre identidade e educação observada entre eles, provenientes de artigos, dissertações e teses acadêmicas, uma vez que essas são escassas e em alguns casos imprecisas. A história dos ciganos, segundo os materiais aferidos, é marcada na luta pela sobrevivência e preservação de seus costumes, embora muitos tenham sido alterados por diversas influências culturais não-ciganas ou adaptados a elas, como mostram os dados acerca da comunidade Calon, objeto deste estudo. Os ciganos, onde quer que passem e onde quer que acampem são hostilizados, discriminados e estereotipados. O preconceito veio com eles da Europa para o Brasil e infelizmente os acompanha atualmente.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Vitória Raíssa Ferreira Mangueira (UFPB)
Resumo: Na reflexão sobre os materiais necessários para se entender a história de um lugar, surge o debate sobre a confiabilidade das fontes, geralmente limitadas aos textos escritos. Somente no século XX as definições de documento começaram a se ampliar, tratando alguns elementos circundantes da realidade do ser humano, a exemplo da paisagem e da forma, como partes que também dizem muito sobre a história (LE GOFF, 1994). Nesse ínterim, a cidade e seus fenômenos ganharam expressão, e seus mais variados objetos vão se constituindo como documentos válidos para registrar uma narrativa.
Sendo assim, este trabalho irá abordar a imagem da cidade de Sousa/Paraíba, frente a produção do espaço do Rancho dos Ciganos, comunidade tradicional localizada no município, através dos conceitos de memória individual e coletiva como documento. O local abriga quase duas mil pessoas da etnia Calon, cujo processo de sedentarização começou nos anos de 1980. A escolha dessa comunidade não foi arbitrária, mas motivada devido a temática da memória para estes ciganos estar intimamente ligada com a identidade coletiva e a coesão grupal (GOLDFARB, 2013).
Diante disto e sabendo que a cidade está presente em cada memória (SILVA, 2016), à luz da Arquitetura e Urbanismo e da Antropologia, este trabalho se propõe a fazer uma análise dos discursos dos ciganos de Sousa/PB, presentes em diversos estudos e bibliografias, e encontrar neles vestígios de uma cidade outrora. A função primeira é entender a estrutura do espaço edificado - e até a falta dos elementos construídos - no discurso dos ciganos, talvez enxergando nessa ausência a expressão de uma negligência. Nos fragmentos da imagem da casa, da rua, e de tudo o que a memória conseguir conter, recontar uma história. Isto porque a narrativa dos ciganos pode oferecer indícios de como o espaço da comunidade foi produzido e adaptado, ainda no início da ocupação, em um momento do qual não se possui outros tantos registros além da oralidade.
A metodologia adotada foi subsidiada pela revisão sistemática de documentos e bibliografias sobre cidades, memória e os Calon de Sousa/PB, constituindo-se como uma pesquisa do tipo exploratória com abordagem qualitativa. Isto posto, essas falas podem apresentar os desejos, as dificuldades e os diversos símbolos que se formaram na organização de um espaço, e tentar responder, ou provocar, inquietações sobre qual cidade que os ciganos desejavam quando chegaram em Sousa/PB e qual lhes foi proposta.