Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 042: Desafios dos estudos ciganos no campo da Antropologia: questões de método e novas demandas políticas
De Festeiros do Rei a Saltimbancos das Praças: a música cigana no Rio de Janeiro
Neste artigo, será apresentado o processo de profissionalização da música cigana praticada na cidade do Rio de Janeiro. Esta narrativa é construída inicialmente sobre o Brasil Império, através de relatos sobre os festeiros do rei e o bródio. Em seguida, apresento a consolidação das festas ciganas, tendo como marco histórico, a atividade de Mio Vacite à frente do Centro de Estudos Ciganos. Este trabalho se desenvolve através de pesquisa participante do autor, músico atuante neste contexto profissional, apresentando uma reflexão crítica sobre esta atividade.
Palavras-Chave: Música; Cigano; Calon;
INTRODUÇÃO
Apesar do apagamento histórico, a música cigana no Rio de Janeiro remonta ao Brasil colonial, com a deportação de ciganos ibéricos da etnia calon. Entre os séculos XVI e XVIII, numerosas Ordenações do Reino, condenam ciganos ao degredo, através de leis expressamente promulgadas para puni-los (Filho, 1886, p.22). Em decreto de 11 de abril de 1718, ordenava-se ao governador que ponha cobro e cuidado na proibição do uso de sua língua e gíria, não permitindo que se ensine a seus filhos, afim de obter-se a sua extinção (1886, p.24) . De acordo com narrativas da história oral, em torno das ordenações do reino, algumas famílias extraditadas desembarcaram no Rio de Janeiro e alojaram-se em barracas no Campo dos Ciganos, enorme e inculta praça que se estende da Rua do Cano até a barreira do Senado (1886, p.25). Em 1760, Dom José, rei de Portugal, determinou que a Rua dos Ciganos seria o único local em que poderiam residir. Entretanto, os núcleos dessa mesma comunidade já se encontravam no Valongo e na Cidade Nova (Araújo; Guerreiro, 1999, p.234).