ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Grupos de Trabalho (GT)
GT 064: Gêneros, sexualidades e corpos plurais: abordagens antropológicas de práticas esportivas
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Coordenação
Wagner Xavier de Camargo (UNICAMP), Mariane da Silva Pisani (UFPI)

Resumo:
Este Grupo de Trabalho (GT) visa ampliar os espaços para diálogo sobre a antropologia das práticas esportivas e de lazer, que vem sendo produzida nos últimos anos, em diferentes contextos brasileiros e latino-americanos. Neste GT, de maneira mais específica, receberemos pesquisas, em andamento ou concluídas, que sejam voltadas às discussões de gênero, sexualidade e diversidade de corpos, em distintas circunstâncias socioculturais de práticas esportivas e de lazer. Ainda neste sentido, priorizaremos abordagens que tragam e discutam essas questões a partir de uma perspectiva etnográfica. Nosso objetivo, portanto, é fomentar o debate sobre como as dimensões de gênero, sexualidade e corpo, independentemente de sua interseccionalidade com outros marcadores sociais da diferença (raça, etnia, deficiência, dentre outros), afetam a experiência de diversos grupos sociais e moldam, por sua vez, diferentes subjetividades. Interessa-nos acolher pesquisas que discutam a temática a partir de experiências de atletas, jogadoras(es), treinadoras(es), árbitras(os), torcedoras(es), jornalistas, dirigentes e/ou outros indivíduos que compõem estes universos. Assim, convidamos a submeterem seus trabalhos pesquisadoras(es), estudantes de pós-graduação, graduandas(os), atletas, treinadoras(es), ativistas e todas as pessoas interessadas em explorar as interações entre gênero, sexualidade e diversidade corporal no contexto esportivo e de lazer.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
O torcer organizado por mulheres: a importância da ala feminina em uma torcida carioca
Ana Caroline Lessa de Oliveira (UNICAMP)
Resumo: O presente trabalho pretende-se tornar capítulo de uma dissertação de mestrado em Antropologia Social, tendo como objeto de pesquisa o Grêmio Recreativo Sociocultural Torcida Fogoró, ou ainda, Fogoró. Uma torcida organizada (TO) do Botafogo de Futebol e Regatas, clube da cidade do Rio de Janeiro. Debruçando-me sobre a Fogoró, uma TO do tipo chopp (termo êmico, como de briga, que aparecerá mais abaixo), busco embrenhar e ao mesmo tempo impulsionar uma visão do outro lado das organizadas que tenta fugir de estereótipos e estigmas sustentados e disseminados pelo senso comum e pela mídia, relacionando-as à marginalidade e criminalidade, como associações criadas visando a prática de atos de violência (Teixeira, 2004). Ainda que trabalhos acadêmicos reforcem que essa porção problemática das torcidas (não necessariamente organizadas) compõe a menor parte delas, são menos os estudos interessados em investigar essa parcela, comumente contentando-se em mencionar que as torcidas não são só isso”: o lado não-violento, pacífico também existe. Mas por onde anda? Assim sendo, concentro-me nesse outro lado com um trabalho etnográfico cujo objetivo geral é compreender o que os integrantes da Fogoró acreditam, defendem, tem como filosofia dentro de uma torcida que não é de briga, como seus componentes descrevem. Em uma primeira incursão a campo, fui apresentada à vice-presidenta e a uma diretora da atual gestão da torcida. Antes disso, o atual presidente já havia reforçado - e é perceptível - a importância das mulheres na torcida em questão e do núcleo composto por elas, denominado Alambique Feminino. No geral, torcidas organizadas se reúnem por famílias, pelotões, esquadrões ou outra nomenclatura dialogando com sua identidade. Geralmente as divisões são feitas por bairros ou zonas de uma cidade (ex: Alambique Zona Norte), regiões de um estado (ex: 16º Alambique - Juiz de Fora) ou ainda por um estado (ex: Fogoró Cuiabá-MT), em caso de regiões mais afastadas da cidade do clube do coração. Mas há também a divisão da ala feminina de uma torcida, com suas próprias demandas e interesses, por vezes mais crítica e politizada, buscando mais visibilidade, autonomia e participação ativa dentro e fora da TO. É o caso do Alambique Feminino da Fogoró. Sendo uma torcida de porte menor, mais familiar, com participação notável da ala feminina, pretendo dedicar um capítulo da dissertação (e essa apresentação) a discutir aspectos como: motivação para ingressar em uma torcida organizada e como se deu a chegada na Fogoró; trajetória das torcedoras na arquibancada; atividades específicas do Alambique Feminino; questionamentos, comparações e críticas quanto à modelos de gestão e atuação de outras torcidas sobre limitações na atuação das mulheres etc.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
A ANTROPOLOGIA DO DESENHO DO CORPO NÃO BINÁRIO: Contribuições da hipertrofia no fisiculturismo sobre transgeneridade.
Aoi Berriel Pereira (UFRJ)
Resumo: O projeto se baseia na análise da produção corporal de pessoas não binárias atletas de fisiculturismo em disputa no Primeiro e Único Campeonato de Fisiculturismo para Homens e Mulheres Trans e Não-Bináries do Brasil (transmusclebr, no instagram). Questões de conforto são desenvolvidas na pesquisa em relação com o campo de antropologia das emoções e do desenho para isto. Investiga-se a estabilização de conforto do gênero não binário corporificado no desenvolvimento do alinhamento da transgeneridade com hipertrofia (o movimento de desenvolver músculos maiores). Como guia das noções de conforto não binário, parte-se da relação de documentos e retificação de nome e gênero de pessoas transgêneras não binárias alinhadas com o desenvolvimento da pesquisa e com o protagonismo em experiência da pessoa autora da dissertação em produção. A legislação sobre a transgeneridade apresenta o campo em análise que se esgota na medida em que a produção corporal não é legislada. Desta forma, a interrogação da pesquisa em investigar a produção dos corpos não binários transgêneros avança sobre o conforto de um corpo desenvolvido, este representado pelas pessoas atletas de fisiculturismo que pleteiam o sucesso corporal associado as definições possíveis no esporte de seu gênero, sobre o corpo transgênero. Neste processo, também são localizadas reflexões sobre: o fazer antropológico, corpo trans em análise, noções de transgeneridade e metodologia bola de neve (ALBUQUERQUE, 2009).

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Mulheres Lésbicas e as Práticas Esportivas no Lazer: Uma Etnografia em uma Equipe LGBTQIA+ de Porto Alegre
Bruna Tassiane dos Santos Pontes (UFRGS), Raquel da Silveira (UFRGS)
Resumo: Resumo: A reflexão de lazer para quem?, provoca uma análise que revela uma dinâmica de privilégio de quem dispõe de momentos de lazer, colocando em evidência as desigualdades existentes na nossa sociedade que tem valores capitalistas alinhado ao neoliberalismo, e lesbofóbicos. Sendo assim, as vivências das mulheres lésbicas têm sido frequentemente invisibilizadas e marginalizadas. No contexto histórico, os esportes vêm sendo constituídos de normas, que se estabelecem através de diretrizes, que afastam as mulheres da prática esportiva, seja por questões biológicas, sexistas e machistas, como o questionamento da sua sexualidade. Nessa conjuntura o esporte parece não ser um lugar receptivo às diferenças. No entanto, uma nova possibilidade de vivenciar as práticas esportivas vem sendo produzida, que são as equipes identificadas como LGBTQIA+, neste contexto as mulheres lésbicas passam a se inserir. Ao que parece a prática dos esportes vem sendo produzida de forma a ser um espaço de possibilidades, seja de vivenciar o esporte, de identificação, de segurança e de resistência. Portanto é fundamental propor debates a partir do reconhecimento das experiências esportivas das mulheres lésbicas no contexto do lazer, que é um direito constitucional. Fomentando essas discussões em busca de uma sociedade mais equitativa. Sendo assim, este trabalho traz aspectos de uma pesquisa de mestrado acadêmico em andamento, que vem sendo realizada no âmbito do curso de pós-graduação em Ciências do Movimento Humano, na UFRGS, do qual discute a inserção das mulheres lésbicas em uma equipe LGBTQIA+ no contexto do lazer. Consequentemente, este trabalho tem como objetivo trazer as primeiras aproximações do campo, com o objetivo de discutir as negociações e agências de mulheres lésbicas em uma equipe LGBTQIA+ de Porto Alegre, na constituição de um espaço inclusivo de lazer. A partir do exposto, as aproximações estão ocorrendo em uma equipe LGBTQIA+ de Porto Alegre, que pratica handebol. Os encontros ocorrem duas vezes por semana, com média de 1h30. Os treinos são divididos em dois momentos, o primeiro dá conta de atividades de aquecimento e de aperfeiçoamento de técnicas inerentes ao esporte e o segundo momento é a prática do esporte, através do jogo propriamente dito. Para além dos momentos de desenvolvimento técnico e tático do handebol, esta equipe parece proporcionar um espaço de acolhimento, coletivo, político e um espaço de segurança. Este espaço que se constitui de segurança não é restrito à prática esportiva, mas também de trocas de experiências lesboafetivas, onde as mulheres se sentem seguras ao falar sobre seus relacionamentos. A partir dessas aproximações iniciais é possível vislumbrar novas possibilidades de lazer, que vão além da fruição e sociabilidade.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Estou grávida! Posso fazer exercício, doutor? A gestão do risco na prescrição de exercício físico na gravidez
Camila Miranda Ventura de Oliveira (IMS/UERJ), Jaqueline Teresinha Ferreira (UFRJ)
Resumo: A medicalização do corpo feminino, sobretudo, no momento da gestação e do parto, transformou a gravidez em uma fase da vida repleta de vigilância biomédica. A gestação é interpretada pela biomedicina como um período de risco e a gestante, por sua vez, é transformada em uma paciente de risco”. Há uma produção de discurso que afirma que a prática regular de atividades físicas durante a gravidez pode proporcionar inúmeros benefícios, no entanto, é preciso estar atenta aos riscos. A ideia de promoção da saúde através da prática de atividades físicas visa a popularizar e tornar a prática mais aceitável na rotina das gestantes, com garantia de gestação e parto saudáveis. Contudo, existem exercícios descritos para serem evitados por oferecerem riscos à gestante e ao feto, e condições clínicas que impedem ou, por outro lado, flexibilizam a autorização médica da prática de exercícios durante a gravidez. Deste modo, apresentarei uma comparação entre discursos e protocolos médicos, com base no campo de pesquisa utilizado para este estudo, que foram livros-textos do ensino de Obstetrícia. Um dos documentos utilizados foi uma coletânea de estudos de pesquisadores brasileiros no campo da Obstetrícia, cuja influência vem dos protocolos do Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia (ACOG). Este estudo é parte da dissertação de mestrado defendida no ano de 2020, no Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), dentro da linha de pesquisa em Ciências Sociais e Humanas na Saúde, orientado pela Profª Drª Jaqueline Ferreira, cujo título é: Tome cuidado com os exercícios”: análise documental sobre recomendações médicas de atividades físicas às gestantes. O estudo se propôs a realizar uma análise documental, de perspectiva socioantropológica, em manuais de obstetrícia e protocolos médicos a fim de identificar o discurso produzido pela ciência biomédica, em seus consensos e dissensos, sobre a prescrição e orientação de atividades físicas para gestantes. Para a análise do material, foram utilizadas inspirações teóricas da sociologia do pensamento científico, proposta por Fleck (2010) e outros teóricos das ciências sociais.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
“Esse Box só tem viado!”: (Re)configurando as performances de masculinidades no Crossfit sob a ótica da homossexualidade
David Gonzaga (unicef)
Resumo: O crossfit é uma modalidade esportiva que vem ganhando cada vez mais praticantes e se destacando pela especificidade de treinos de altas intensidade, vestimentas e acessórios próprios da prática, expressões idiomáticas derivadas do inglês e uma dinâmica de pertencimento que só seus praticantes, crossfiteiros, entendem. O esporte nasceu nos EUA na década de 80, levando seus praticantes ao extremo durante a execução do wod, principal momento de uma aula de crossfit, na qual os atletas correm contra o tempo para finalizar o treino. Os treinos de crossfit visam trabalhar de forma integrada vários grupos musculares, se utilizando de bolas, barras, cordas, tapetes, anilhas, elásticos, kettlebell e dumbells, tudo para contribuir no desenvolvimento dos eixos principais do crossfit: resistência, força, flexibilidade e equilíbrio. Os locais em que acontecem os treinos de crossfit são chamados de Box, grandes galpões preenchidos por barras de ferro fixas no chão, cordas penduradas e os demais materiais organizados em nichos. O Crossfit foi tido como um esporte majoritariamente masculino e performado de uma masculinidade hegemônica, heteronormativa e pautada numa agressividade que justificaria a força e intensidade nos treinos. Com o crescimento e popularização do esporte, foi percebido uma diversidade cada vez maior de praticantes. O número de pessoas LGBTs praticando aumentou significativamente. Os box’s de crossfit passaram a celebrar anualmente o mês do orgulho LGBT com camisas personalizadas, treinos especiais regados de músicas das grandes artistas pop admiradas pela comunidade, bandeira LGBT hasteadas nas entradas dos box’s e discurso cada vez mais de que o crossfit é um esporte inclusivo, mas no dia a dia pessoas LGBTs ainda se sentem reprimidas a se expressarem, condicionando especificamente homens gays a reprodução de determinadas performances da masculinidade heteronormativa. Em contraponto, o aumento de homens gays praticando também tem fomentado a construção de micro comunidades dentro dos Box’s, onde homens gays preferem treinar no mesmo horário como forma de garantir um espaço mais livre e socialmente receptivo as formas de socialização LGBT. A partir dessas breves reflexões, esse trabalho tem por objetivo analisar e refletir sobre as formas de socialização, tipificação e intersubjetivação das performances de masculinidades encontradas no crossfit, e como estão embrincadas com a presença cada vez maior de homens gays como praticantes. Esta pesquisa está em fase inicial, mas se dará a partir da ferramenta da observação participante em quatro box’s da cidade do Recife, localizadas em diferentes bairros da cidade e que concentram, de acordo com meus interlocutores iniciais, um grande número de viados crossfiteiros.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Entre treinadoras e atletas, sexualidade e geração em times de formação no futebol praticado por mulheres.
Débora Cajé Yamamoto (USP)
Resumo: O presente trabalho busca discutir acerca da formação de atletas para o futebol de mulheres. Dessa forma, através de uma etnografia realizada com duas treinadoras das categorias sub 15 e sub 17, pretendo demonstrar como tem se constituído o ser jogadora”. O esporte de alto rendimento, no país, é marcado por uma rotina rigorosa de treinos em que o corpo se torna sua ferramenta e produto (VAZ e SILVEIRA, 2014). O Em Busca do Impossível (EBI) surgiu em 2016 com a proposta de desenvolver o futebol feminino. No CT do EBI acompanho o trabalho das duas treinadoras, Marília e Bruna, ex-jogadoras de futebol, com as categorias sub 15 e sub 17, respectivamente. Nesse tempo, notei como a formação de atletas para o futebol de mulheres está pautada em uma produção que vai além de um corpo capaz de executar de forma precisa uma determinada ação, mas, também, em uma mentalidade de atleta. É nos embates do que é ser jogadora futebol nos dias de hoje que isso vai ganhando contornos e significados. Bruna e Marília jogaram em épocas muito parecidas em que o futebol feminino era fortemente atravessado pelo estigma da homossexualidade. Tanto Marília quanto Bruna vivem suas relações afetivas de forma discreta, privada, evitando falar sobre e buscando manter em sigilo, sem que as atletas saibam, ao menos oficialmente. Em contrapartida, as atletas, de 13 a 17 anos, vivenciam a sexualidade de forma mais aberta, falam sobre, andam de mãos dadas com as companheiras o que, em determinados momentos, causa atrito com as treinadoras que defendem que aquele espaço (CT) não é ambiente para esse tipo de comportamento. As diferenças geracionais entre as treinadoras e atletas atravessam a forma com que elas compreendem o que é ser jogadora de futebol. Nesse trabalho, compreendo geração enquanto o compartilhamento de condições subjetivas que permitam a participação do indivíduo na produção dos mesmos códigos de entendimento (MORAES ALVES, 2009: 7). Assim, pretendo, articular essas duas gerações, a primeira, das treinadoras (faixa etária entre 30 a 50 anos), em que o estigma da homossexualidade fazia com que muitas atletas de futebol escondessem suas relações, tentassem se portar e vestir de forma mais feminina ou mesmo se afastassem da prática (PISANI, 2018). Já as atletas (de 12 a 17 anos), vivenciam um futebol feminino mais estruturado e com referências de jogadoras profissionais abertamente homossexuais. Logo, busco argumentar como as mudanças no entendimento da sexualidade (CARRARA, 2011) impactaram também as formas com que se entende o ser jogadora de futebol nos dias de hoje, permitindo que esses corpos transitem entre normas de feminilidades e masculinidades aceitas nesse contexto.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Mulheres futebolistas: trajetórias plurais, desafios compartilhados, singularidades a serem visibilizadas
Franciane Maria Araldi (UDESC), Caroline Soares de Almeida (UFPE), Thaís Rodrigues de Almeida (Centro Universitário Estácio de Santa Catarina), Mariane da Silva Pisani (UFPI)
Resumo: Esta comunicação oral é resultado de uma pesquisa maior que vem sendo desenvolvida pelas quatro autoras. Nossa pesquisa investiga as relações, aproximações e distanciamentos, entre vida pessoal e carreira profissional de jogadoras brasileiras de futebol que atuaram em diferentes momentos, posteriores à liberação da prática do esporte para mulheres no Brasil, sobretudo nas décadas de 1980 e 1990. Esta pesquisa faz parte de um projeto de pesquisa intitulado Vida e carreira de mulheres futebolistas histórias a serem visibilizadas que está vinculado aos INCT Estudos do Futebol Brasileiro. As mulheres entrevistadas durante a pesquisa engajam-se em mais de uma modalidade de futebol, seja campo, futebol de salão, futebol 7, beach soccer ou futebol de areia. Nesse sentido, essa investigação tem como objetivo apresentar as histórias de vida de duas jogadoras, enfocando os processos inerentes à dualidade de ser mulher e futebolista nos cenários em que estiveram inseridas. Como questionamento inicial destacamos quais desafios, perspectivas e possibilidades de ser mulher e futebolista nos contextos em que circularam? As duas atletas são pessoas diferentes entre si, mas estão unidas pelo desafio de atuar em um esporte historicamente dominado por homens. Ao enfatizarmos as histórias de vida e narrativas dessas mulheres pretendemos destacar que, por mais que o futebol seja um fenômeno cultural permeado por pluralidades, ainda é preciso ampliar os estudos sobre suas diferentes manifestações, e visibilizar a diversidade de personagens integrantes deste universo, em especial as jogadoras de futebol como protagonistas das suas trajetórias.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
A Quem Cabe Controlar o Jogo? Uma Reflexão Antropológica sobre Arbitragem e a Participação de Pessoas Negras
João Cauê Benedeti Morales (UFRGS)
Resumo: A presente comunicação retoma o percurso de pesquisa no qual a preparação e a atuação de árbitros/as de futebol foram objetos de reflexão. Para dar conta desse empreendimento, a investigação até aqui transitou por dois contextos distintos de participação neste ofício - o circuito da arbitragem de competições amadoras que opera na cidade de Porto Alegre-RS e o curso de formação de árbitros/as que atuam em competições profissionais, ministrado no âmbito da Federação Catarinense de Futebol, na cidade de Balneário Camboriú-SC. A partir da inserção etnográfica nesses espaços, tendo como base a condição do autor como aprendiz em ambas circunstâncias, objetivou-se compreender de que maneira a constituição do modelo laboral genérico neste trabalho engloba, nem sempre de forma conciliatória, as diferenças que as pessoas que se interessam pela arbitragem, como ocupação e forma de sustento, trazem consigo - com especial atenção ao marcador de raça/etnia. Para isso, a comunicação aprofunda-se em uma ideia que é pervasiva ao contexto da arbitragem de futebol: "controlar o jogo". Não só os debates sobre esse tema são constantes entre as pessoas em formação/atuação, bem como essa categoria configura a expertise por meio de um processo de padronização de habilidades restituídas pelo treinamento. Ao fazer convergir a reflexão sobre o controle do jogo com a produção de diferenças embasadas por distintos marcadores sociais, questiona-se como seria possível pensar lugar das pessoas negras na arbitragem de futebol.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Dinâmicas e conflitos de gênero em Torcida Organizada: Uma análise das relações entre homens e mulheres na Torcida Mancha Azul de Maceió.
João Victor Mendes (UFPB)
Resumo: O presente trabalho surge a partir de questões abordadas durante a minha pesquisa de dissertação de mestrado em Sociologia, intitulada Juventude, gênero e torcida”: Uma análise das relações entre homens e mulheres jovens na Torcida Organizada Mancha Azul-CSA (Mendes, 2022). Durante os anos de 2020 até 2022 acompanhei de perto as atividades da Mancha Azul, principal torcida organizada do CSA (Centro Sportivo Alagoano), e uma das maiores torcidas de Maceió. Perceber as dinâmicas e os conflitos de gênero foi o fio condutor da pesquisa, e que abordarei neste trabalho de maneira mais aprofundada. Ainda nos dias atuais discursos são ecoados reivindicando o espaço das torcidas a uma masculinidade exacerbada, como se aquele espaço fosse somente deles. Ao analisarmos de perto, não só percebemos a participação feminina de maneira efetiva, como sua posição entorno do fazer torcida e da reinvindicação desse espaço. Munido de materiais oriundos de observações etnográficas e entrevistas semiestruturadas com homens e mulheres da torcida Mancha Azul-CSA, pude observar as diferentes dinâmicas que se apresentam e de como através dessas dinâmicas os conflitos se dispunham no interior da instituição (Simmel, 2002). Homens e mulheres disputam simbolicamente seu espaço dentro da torcida, e com isso podemos notar as dicotomias de gênero vistas na sociedade se materializando nos ambientes da torcida. Um dos pontos que chamou atenção, foi perceber que em algumas dinâmicas as mulheres eram proibidas de participar, a elas era reservado outro lugar, o lugar do cuidado, do zelo que foi culturalmente construído (Ortner, 1979). É importante salientar que as mulheres que fazem parte da Mancha Azul não aceitam essas condições de maneira pacífica, elas estão reivindicando e conquistando seu espaço, e quando não são contempladas, buscam traçar táticas e estratégias (Certau, 1998), para se fazerem presentes nas atividades que lhes são negadas. Com isso, o trabalho busca fazer uma reflexão dos resultados da pesquisa de dissertação, apontando novos caminhos que não foram contemplados no período da pesquisa, e aprofundando as discussões socioantropológicas acerca das questões de gênero e do universo das torcidas organizadas, colocando as particularidades alagoanas no circuito de discussões acadêmicas sobre o tema.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Esporte e Diversidade: A experiência da gaymada em Boa Vista - Roraima
Lucas Alexandre da Silva Nascimento (UFRR)
Resumo: O esporte se destaca como um fenômeno sociocultural contemporâneo e multifacetado, sendo a queimada uma modalidade muito peculiar por suas regras e diferentes formas de jogar. A pesquisa em questão analisa a prática da queimada pela comunidade LGBTQIAPN+ no município de Boa Vista/Roraima, e tem como interlocutoras a Gaymada do Centro e a Gaymada do Pintolândia”. O enfoque é dado aos participantes/jogadores e suas expressões de gênero, sexualidade e as relações de corpo e performance dos indivíduos enquanto membros da comunidade LGBTQIAPN+ e os praticantes desse esporte. A presente pesquisa tem por base o trabalho etnográfico construído pela participação observante realizada antes, durante e após as partidas, com ambos os grupos e separadamente com aqueles indivíduos que se sentiram confortáveis para tanto. Algumas questões tentaram ser respondidas, por exemplo: como ocorre a ocupação dos espaços públicos por esses indivíduos? Quais os esforços para ocupá-los? Quais os efeitos da socialização na vida dessas pessoas? Uma caraterística comum dos grupos consiste na busca por meios próprios para a realização das partidas de queimada, evidenciando a busca por um espaço, não no sentido físico, mas sim identitário para que a comunidade LGBTQIAPN+ pudesse praticar um desporto/lazer e promover a interação entre todos que se identificam com o grupo, promovendo a diversidade e o bem-estar físico e psicológico dos participantes. A importância de mobilizações de entidades civis LGBTQIAPN+ como a Gaymada para a promoção de eventos esportivos e diversidade aparenta ser essencial para a celebração da identidade desses corpos sobreviventes às diversas macro e microagressões, além de evidenciar a discussão sobre a ocupação dos espaços públicos nas cidades com princípios inclusivos e participativos da população. Palavras-chave: LGBTQIAPN+; Gaymada; Identidades; Socialização.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Fazer-se homem: esportes, carnaval e sexualidade na periferia de Salvador
Lucas Maroto Moreira (UFBA)
Resumo: A proposta de comunicação apresenta um estudo etnográfico realizado junto a homens, moradores de bairros populares de Salvador, Bahia, que dedicam-se a duas diferentes práticas esportivas, ambas realizadas em espaços públicos. Tratam-se da Malhação de Rua e do Baba de Saia”. A malhação de rua é um treino de hipertrofia realizado com o auxílio de halteres artesanais e do uso de barras ginásticas, combinando carregamento e levantamento de peso com ginástica calistênica. O Baba de Saia, por sua vez, define um tipo de jogo de futebol, tradicionalmente realizado em feriados e datas festivas, no qual os praticantes vestem-se de mulher”. A proposta, aqui submetida, busca pensar estas duas práticas enquanto formas de fazer”/”produzir o jeito de corpo masculino e uma performance viril, tarefa que os homens empreendem entre diferentes gerações. As duas práticas são mobilizadas pelos interlocutores em temporalidades diferentes: a malhação ao longo de todo o ano e o baba de saia apenas nos festejos e ocasiões especiais. Diferem também na intensidade e motivação: A malhação de rua é concebida enquanto rotina disciplinada que atua na transformação não apenas da musculatura corporal, mas na mudança de status geracional e na elaboração da performance de gênero e sexualidade. Já o baba de saia é visto como uma festa futebolística realizada entre parceiros, festa de intima relação com o carnaval, na qual se consome grande quantidade cerveja ou vinho e se dança ao som do pagode baiano”. Diante disso, pode-se perguntar pelo papel que estas formas de sociabilidade assumem na produção das masculinidade na periferia de Salvador. O trabalho é fruto de uma etnografia realizada entre os anos de 2017 e 2023 em dois diferentes bairros da cidade de Salvador, Nordeste de Amaralina e Cajazeiras XXI, e está baseada no engajamento prático do pesquisador nas atividades pesquisadas, trabalho de campo, entrevistas semiestruturadas e uso do registro fotográfico. Por meio de diferentes técnicas corporais, exercícios práticos e rituais de sociabilidade, tanto a malhação de rua quanto o baba de saia produzem espaços urbanos generificados, atravessados por marcadores de geração, de classe social e de raça, nos quais determinadas noções de masculinidade podem ser vividas e aprendidas entre pares.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Quanto custa ser bailarino negro
Mariana Alves Prazeres dos Santos (secretaria de estado de educação do Rio de Janeiro)
Resumo: Este trabalho é fruto da pesquisa realizada durante o mestrado que fiz em Ciências Sociais, culminando na dissertação intitulada: Discriminação e Preconceito no balé clássico. Neste artigo, tenho objetivo de discutir sobre as questões em torno da categoria raça; como democracia racial, contínuo de cor e discriminação, bem como seus efeitos sobra a trajetória de bailarinas e bailarinos negras/os em no Brasil. Nesse sentido reflito sobre as limitações e possibilidades de ação desses indivíduos nesse universo. Essa pesquisa foi realizada com base na metodologia qualitativa, através da realização de entrevistas semiestruturadas a bailarinas e bailarinos que tenham cursado a profissionalização em dança no Rio de Janeiro, bem como bailarinos profissionais que tenham iniciado ou desenvolvido suas carreiras neste estado. O balé clássico é uma arte que tem seu início no século XVI, na corte francesa, foi aprimorado, codificado, sofreu modificações, atingindo um virtuosismo técnico especialmente na Rússia no século XIX e chega ao Brasil a partir do início do século XX, devido às Guerras que ocorriam na Europa, fazendo com que bailarinos viessem para o país e aqui fizessem escola e desenvolvessem o ensino e disseminação dessa prática artística. Defendo que essa prática reflete a realidade das relações raciais encontradas aqui, bem como as reflete em uma divisão racial do trabalho, afetando de maneira incisiva as carreiras e trajetórias de aprendizes e profissionais.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Construyendo cuerpos e identidades de género: aproximaciones y comparaciones entre mujeres futbolistas en Argentina y Brasil
Mariane da Silva Pisani (UFPI)
Resumo: Este estudio busca comprender, a través de un enfoque etnográfico comparativo, la construcción y representación de los cuerpos y las identidades de género entre jugadoras de Argentina y Brasil durante la práctica deportiva del fútbol. Exploraremos cómo las dinámicas sociales y culturales influyen en la percepción y expresión de los cuerpos, además de examinar las narrativas e interacciones que dan forma a las identidades de género en el contexto del fútbol de mujeres. El análisis comparativo de las experiencias de las jugadoras en ambos países busca identificar similitudes y contrastes significativos, con el fin de ofrecer perspectivas sobre las complejidades de la relación entre la práctica deportiva, la corporalidad y la construcción de la identidad de género.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
O gênero no torcer: notas etnográficas sobre as questões de gênero nas torcidas organizadas de futebol
Marianna Castellano Barcelos de Andrade (Pesquisador)
Resumo: Neste trabalho buscarei apresentar algumas questões etnográficas decorrentes da minha pesquisa de doutorado em andamento, a respeito dos debates de gênero e suas interseccionalidades dentro de três torcidas organizadas da cidade de São Paulo, a saber, Gaviões da Fiel, Camisa 12, ambas vinculadas ao Corinthians, e a Mancha Alviverde, vinculada ao Palmeiras. Visando analisar as disputas, negociações e estratégias políticas presentes neste ambiente marcadamente masculinizado, olhando principalmente para a generificação da sociabilidade torcedora. Afinal, como é possível romper com a ideia de que existe uma categoria específica de gênero para o torcer e que ela pertence somente aos homens? Quais as diferenciações e aproximações das demandas internas de gênero em cada uma das torcidas estudadas? Estes são alguns questionamentos provocativos que balizam minha pesquisa etnográfica e que agora, neste GT podem ser discutidas de maneira proveitosa em diálogo com os demais trabalhos.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Tornar-se psicólogo no esporte: considerações sobre um campo intensivo na iniciação esportiva
Marina de Mattos Dantas (UEMG)
Resumo: O espetáculo esportivo é considerado um dos aspectos socioculturais contemporâneos, exigindo uma análise que vá além do desempenho competitivo, transcendendo a ênfase na performance de alto nível. No Brasil, a Psicologia do Esporte (PE) destaca-se devido à crescente compreensão da importância de componentes psicossociais no desempenho e bem-estar de atletas e outros envolvidos na prática esportiva. Este campo passou por transformações, ao longo do tempo, oferecendo contribuições significativas ao cenário esportivo nacional, capacitando atletas, treinadores e equipes para desenvolver seus potenciais, seja em situações de alta performance ou de lazer. Neste contexto, a demanda pela PE em cursos de graduação e pós-graduação é crescente naquele país, ainda que a oferta de disciplinas para trabalhar a temática não a acompanhe. Engendrada nesse cenário, apresento como proposta de comunicação reflexões sobre o acompanhamento de estudantes de psicologia em seu campo de estágio, supervisionados por mim em uma disciplina de estágio curricular na graduação em psicologia em uma universidade brasileira. O estágio em PE foi conduzido em uma escolinha de futebol em Divinópolis, Minas Gerais, vinculada a um clube tradicional do estado. A escola, inaugurada em outubro de 2022, conta com cerca de 200 alunos de diversas categorias, incluindo meninos e meninas, com idades que variam desde o Baby Fut, aos 3 anos, até a categoria SUB-17, com jovens de 16 e 17 anos. A estrutura organizacional envolve diretores, treinadores, uma treinadora, um auxiliar de serviços gerais e parcerias com um instituto de fisioterapia que oferece serviços de fisioterapia, indicação nutricional e psicologia. Partindo de vivências como supervisora de estágio, apresento questões que emergem nesse campo, no qual o psicólogo desempenha um papel crucial nas relações sociais, destacando o papel central da tríade formada por professor, família e criança. A atuação do psicólogo pode ser desafiadora, dependendo de como ele se posiciona nas relações institucionais. A tendência pode ser mais voltada para a adaptação dos corpos às demandas de uma especialização precoce do atleta do que para o desenvolvimento de potencialidades. Isso traz implicações relacionadas à prática esportiva como fruição, socialização e uma prática de saúde. Desse modo, as questões enfrentadas por psicólogos em formação incluem os atravessamentos de gênero e raça na formação de crianças, que recebem mensagens conflitantes sobre o direito ao esporte e lazer, enquanto são exigidas a desempenhar como profissionais desde cedo. Essa realidade apresenta desafios e oportunidades a psicólogos do esporte em formação ao lidarem com as multiplicidades do ambiente esportivo.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Pole Dance, um espaço de sociabilidade e descoberta
Míriam Soares Dias (UFF)
Resumo: Este trabalho pretende através de uma análise baseada no universo etnográfico de diálogos entre praticantes e na experiência da prática, propor um exercício reflexivo do material que vem sendo desenvolvido em um estúdio de Pole Dance em Niterói (RJ). Tem como objetivo abordar as dimensões do espaço de sociabilidade e convivência moralmente avaliado como incomum para mulheres e investigar as categorias de gêneros de Pole Dance como Pole Art, Pole Sport, Pole Fitness entre outras categorias consolidadas pela perspectiva do grupo de praticantes em questão e tencionar a observação para a possibilidade de uma categoria de Pole Dance na qualidade de recurso terapêutico.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Mulheres torcedoras: gênero, corpos e identidades torcedoras plurais
Thaís Rodrigues de Almeida (Centro Universitário Estácio de Santa Catarina), Franciane Maria Araldi (UDESC), Mariane da Silva Pisani (UFPI)
Resumo: Nesta pesquisa, partimos da compreensão do futebol enquanto espaço plural onde ocorrem disputas, negociações e relações de poder, permeado por representações de corpo, gênero e identidades. Dentro deste contexto, elegemos tematizar as mulheres torcedoras e a diversidade de representações de suas identidades. A partir da perspectiva dos estudos de gênero, analisamos imagens e narrativas do projeto fotográfico documental Cuerpas Reales, Hinchas Reales. A proposta deste coletivo é promover o debate sobre corpos, experiências e identidades de mulheres torcedoras, e visibiliza suas produções na rede social instagram. O objetivo do trabalho foi, compreender as representações de identidades torcedoras assim como observar os discursos envolvendo gênero e corpos dissidentes em relação à diversidade de experiências torcedoras visibilizadas e os desdobramentos discursivos possibilitados a partir do projeto. Foram utilizados como recursos metodológicos a etongrafia de tela e a analise de discurso, no período de 2021 à 2023. Concluímos que, o projeto soma em tensionamentos e formas de resistências para ampliarmos as reflexões acerca das identidades torcedoras, em especial, em contextos de países Latinoamericanos.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
O futebol feminino e as atividades lúdicas infantis como mecanismos de classificação/divisão de gêneros.
Valdonilson Barbosa dos Santos (UFCG), Amanda da Silva Leite (UFCG)
Resumo: Muitas modalidades de práticas esportivas e até brincadeiras lúdicas infantis são marcadas por classificação/divisão de gênero. No Brasil, por exemplo, em termos de percepção cultural o futebol, é visto como um esporte masculino e historicamente foi dominado pelos homens. Isso leva a um preconceito de gênero, arraigado numa mentalidade sexista do mundo. Atualmente, o futebol profissional feminino vem recebendo uma atenção maior por parte das instituições e entidades organizativas de práticas futebolísticas, no entanto, o futebol feminino ainda recebe menos investimento do que o masculino, isso pode causar a impressão de que é de menor qualidade ou menos importante. Então, cada vez que houver maior participação das mulheres em esportes visto socialmente como masculinos, essa situação será normalizado com o passar do tempo. Assim, uma dimensão da pesquisa visa refletir sobre as práticas esportivas futebolísticas de mulheres na cidade de Sumé-PB. Para isso, está sendo feito uma pesquisa de cunho etnográfico para vivenciar o dia-a-dia de treinos e investigar as formas de classificações de mulheres e homens nessa modalidade esportiva. Outra dimensão da pesquisa está relacionada a uma pesquisa realizada sobre a construção social das masculinidades através de atividades lúdicas infantis na cidade do Recife-PE. Para interpretar e mergulhar numa da dada realidade sociocultural partimos do seguinte questionamento: por que não procurar a complexidade das relações de gênero dentro de espaços de sociabilidades que, de certa forma, sedimenta a nossa forma de pensar, agir, compartilhar, subjetivar os significados do que é cotidianamente vivido? Entendemos que a formação dos gêneros está intimamente relacionado à tentativa de compreender as relações entre o masculino e o feminino, caracterizadas pela diferença dos gostos, preferências, comportamentos e atitudes de cada sexo, por isso, é necessário entender os diferentes sentidos que são dados às ações de homens e mulheres. Em termos de referencial, utilizamos autoras(es) tais como: Vale de Almeida (1995), Connell (1997), Nascimento (1999), Medrado & Lyra (2002) entre outros. A interação direta com as pessoas que praticam ou praticaram práticas esportivas, tanto em Recife-PE como em Sumé-PB foram importantes para capturamos os sistemas de significação, fazem dos(as) participantes formadores de conhecimento e portadores de uma visão de mundo que inclui categorias de classificação utilizadas cotidianamente para distinguir, diferenciar, e (des) igualar coisas e pessoas. Trata-se de espaços de demarcação de fronteiras entre atividades consideradas masculinas e femininas, ou seja, instrumentos de (re) significação das formas de conceber as diferenciações entre os gêneros. Palavras-chave: Gênero; Corporeidade; Linguagem.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Futebol LGBTQIAPN+ brasileiro: rupturas e continuidades na dicotomia de gênero no esporte
Vanrochris Helbert Vieira (INCT)
Resumo: No Brasil, o primeiro time de futebol amador composto apenas por pessoas LGBTQIAPN+ surgiu em 1990. No entanto, nessa época, esse movimento era composto apenas por homens gays e bissexuais, tendo sido chamado de futebol gay”. Em 2017, houve um boom na criação de times pelo país. Nesse mesmo ano, foi criada a liga nacional (LiGay) e o campeonato nacional (Champions LiGay) desses times. Em 2022, a LiGay passou a adotar oficialmente o termo futebol LGBTQIA+ e abriu-se para a participação de quaisquer pessoas LGBTQIAPN+. Apesar disso, percebe-se que ainda persiste a presença quase exclusiva de homens gays nesses times, com uma participação praticamente inexistente de mulheres nos campeonatos. Para entender esse contexto, é preciso observar que a dicotomia de gênero no esporte é tradicionalmente defendida para garantir uma suposta igualdade de condições para jogadoras e jogadores. Além disso, no contexto de inserção no futebol, homens e mulheres não heterossexuais têm tido trajetórias muito distintas no Brasil. Enquanto o acesso ao esporte tem sido sistematicamente negado aos homens não heterossexuais, as mulheres não heterossexuais têm sido parte importante da construção desse esporte desde que a proibição da sua prática por mulheres foi suspensa, na década de 1970. Assim, é preciso entender se a ideia de um futebol LGBTQIAPN+ faz sentido para jogadoras mulheres assim como faz para homens. Tendo em vista esse cenário, é possível concluir que o futebol LGBTQIAPN+ carrega potencialidades para a diminuição da dicotomia de gênero no esporte. No entanto, apesar de fazer movimentos tímidos nesse sentido, percebe-se que essa dicotomia persiste mesmo dentro do futebol LGBTQIAPN+.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
‘O futebol virou questão social’: etnografando coletivos LGBTQI+ de futebol durante a pandemia
Wagner Xavier de Camargo (UNICAMP)
Resumo: A etnografia com coletivos de pessoas LGBTQIA+ que praticam futebol society se converteu em uma etnografia digital a partir da declaração da OMS sobre a pandemia do coronavírus, no início de 2020. A pesquisa antropológica então em curso, que ocorria em competições esportivas in loco, acabou se tornando uma peregrinação pelo meio digital, que acompanhava perfis individuais e de clubes esportivos no intuito de entender como tais agentes lidavam com o futebol em tempos pandêmicos. A proposta deste texto é dialogar com os lugares possíveis de produção e aparecimento destes futebóis (as redes sociais), no período de quase dois anos, e discutir como se redimensionaram nestes não-lugares (Marc Augé). Além disso, este texto dialoga criticamente com a ideia de futebol como questão social, inaugurada no contexto brasileiro neste período pandêmico por eles como algo novidadeiro e inédito.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Torcedoras-símbolo, relações étnico-raciais e de gênero no futebol: o caso da Nega Brechó
Yordanna Lara Rêgo (UFG)
Resumo: Este ensaio propõe uma reflexão antropológica sobre os limites e possibilidades de aplicação da categoria de representatividade’ para a compreensão das identidades étnico-raciais e de gênero em Goiânia/GO, capital do Estado de Goiás. Tendo como pano de fundo a História e a Antropologia do Esporte no Brasil (com destaque para o Futebol) e a História das Mulheres em Goiás, e por meio do aparato teórico/metodológico da interseccionalidade, proposto pela teoria feminista negra, este ensaio propõe um diálogo direto com a produção dos antropólogos do esporte Simoni Lahud Guedes e Édison Gastaldo e do sociólogo Adilson José Moreira. Em termos empíricos, este trabalho estuda a representação da figura da torcedora símbolo do Vila Nova Futebol Clube, Nega Brechó, no documentário A cor da liberdade é vermelho e branco - Vila Nova Futebol Clube, de 2018. O trabalho destaca dois elementos considerados fundamentais na compreensão da complexidade do que a figura da Nega Brechó representa no imaginário goianiense, em termos de relações étnico-raciais e de gênero: seu apelido e a aura de respeitabilidade construída ao seu redor.