Grupos de Trabalho (GT)
GT 064: Gêneros, sexualidades e corpos plurais: abordagens antropológicas de práticas esportivas
Coordenação
Wagner Xavier de Camargo (UNICAMP), Mariane da Silva Pisani (UFPI)
Resumo:
Este Grupo de Trabalho (GT) visa ampliar os espaços para diálogo sobre a antropologia das práticas esportivas e de lazer, que vem sendo produzida nos últimos anos, em diferentes contextos brasileiros e latino-americanos. Neste GT, de maneira mais específica, receberemos pesquisas, em andamento ou concluídas, que sejam voltadas às discussões de gênero, sexualidade e diversidade de corpos, em distintas circunstâncias socioculturais de práticas esportivas e de lazer. Ainda neste sentido, priorizaremos abordagens que tragam e discutam essas questões a partir de uma perspectiva etnográfica. Nosso objetivo, portanto, é fomentar o debate sobre como as dimensões de gênero, sexualidade e corpo, independentemente de sua interseccionalidade com outros marcadores sociais da diferença (raça, etnia, deficiência, dentre outros), afetam a experiência de diversos grupos sociais e moldam, por sua vez, diferentes subjetividades. Interessa-nos acolher pesquisas que discutam a temática a partir de experiências de atletas, jogadoras(es), treinadoras(es), árbitras(os), torcedoras(es), jornalistas, dirigentes e/ou outros indivíduos que compõem estes universos. Assim, convidamos a submeterem seus trabalhos pesquisadoras(es), estudantes de pós-graduação, graduandas(os), atletas, treinadoras(es), ativistas e todas as pessoas interessadas em explorar as interações entre gênero, sexualidade e diversidade corporal no contexto esportivo e de lazer.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Ana Caroline Lessa de Oliveira (UNICAMP)
Resumo: O presente trabalho pretende-se tornar capítulo de uma dissertação de mestrado em Antropologia Social,
tendo como objeto de pesquisa o Grêmio Recreativo Sociocultural Torcida Fogoró, ou ainda, Fogoró. Uma
torcida organizada (TO) do Botafogo de Futebol e Regatas, clube da cidade do Rio de Janeiro.
Debruçando-me sobre a Fogoró, uma TO do tipo chopp (termo êmico, como de briga, que aparecerá mais abaixo),
busco embrenhar e ao mesmo tempo impulsionar uma visão do outro lado das organizadas que tenta fugir de
estereótipos e estigmas sustentados e disseminados pelo senso comum e pela mídia, relacionando-as à
marginalidade e criminalidade, como associações criadas visando a prática de atos de violência (Teixeira,
2004).
Ainda que trabalhos acadêmicos reforcem que essa porção problemática das torcidas (não necessariamente
organizadas) compõe a menor parte delas, são menos os estudos interessados em investigar essa parcela,
comumente contentando-se em mencionar que as torcidas não são só isso: o lado não-violento, pacífico
também existe. Mas por onde anda?
Assim sendo, concentro-me nesse outro lado com um trabalho etnográfico cujo objetivo geral é compreender o
que os integrantes da Fogoró acreditam, defendem, tem como filosofia dentro de uma torcida que não é de
briga, como seus componentes descrevem.
Em uma primeira incursão a campo, fui apresentada à vice-presidenta e a uma diretora da atual gestão da
torcida. Antes disso, o atual presidente já havia reforçado - e é perceptível - a importância das mulheres
na torcida em questão e do núcleo composto por elas, denominado Alambique Feminino. No geral, torcidas
organizadas se reúnem por famílias, pelotões, esquadrões ou outra nomenclatura dialogando com sua
identidade. Geralmente as divisões são feitas por bairros ou zonas de uma cidade (ex: Alambique Zona Norte),
regiões de um estado (ex: 16º Alambique - Juiz de Fora) ou ainda por um estado (ex: Fogoró Cuiabá-MT), em
caso de regiões mais afastadas da cidade do clube do coração. Mas há também a divisão da ala feminina de uma
torcida, com suas próprias demandas e interesses, por vezes mais crítica e politizada, buscando mais
visibilidade, autonomia e participação ativa dentro e fora da TO. É o caso do Alambique Feminino da Fogoró.
Sendo uma torcida de porte menor, mais familiar, com participação notável da ala feminina, pretendo dedicar
um capítulo da dissertação (e essa apresentação) a discutir aspectos como: motivação para ingressar em uma
torcida organizada e como se deu a chegada na Fogoró; trajetória das torcedoras na arquibancada; atividades
específicas do Alambique Feminino; questionamentos, comparações e críticas quanto à modelos de gestão e
atuação de outras torcidas sobre limitações na atuação das mulheres etc.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Aoi Berriel Pereira (UFRJ)
Resumo: O projeto se baseia na análise da produção corporal de pessoas não binárias atletas de fisiculturismo em
disputa no Primeiro e Único Campeonato de Fisiculturismo para Homens e Mulheres Trans e Não-Bináries do
Brasil (transmusclebr, no instagram). Questões de conforto são desenvolvidas na pesquisa em relação com o
campo de antropologia das emoções e do desenho para isto. Investiga-se a estabilização de conforto do gênero
não binário corporificado no desenvolvimento do alinhamento da transgeneridade com hipertrofia (o movimento
de desenvolver músculos maiores). Como guia das noções de conforto não binário, parte-se da relação de
documentos e retificação de nome e gênero de pessoas transgêneras não binárias alinhadas com o
desenvolvimento da pesquisa e com o protagonismo em experiência da pessoa autora da dissertação em produção.
A legislação sobre a transgeneridade apresenta o campo em análise que se esgota na medida em que a produção
corporal não é legislada. Desta forma, a interrogação da pesquisa em investigar a produção dos corpos não
binários transgêneros avança sobre o conforto de um corpo desenvolvido, este representado pelas pessoas
atletas de fisiculturismo que pleteiam o sucesso corporal associado as definições possíveis no esporte de
seu gênero, sobre o corpo transgênero. Neste processo, também são localizadas reflexões sobre: o fazer
antropológico, corpo trans em análise, noções de transgeneridade e metodologia bola de neve (ALBUQUERQUE,
2009).
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Bruna Tassiane dos Santos Pontes (UFRGS), Raquel da Silveira (UFRGS)
Resumo: Resumo: A reflexão de lazer para quem?, provoca uma análise que revela uma dinâmica de privilégio de
quem dispõe de momentos de lazer, colocando em evidência as desigualdades existentes na nossa sociedade que
tem valores capitalistas alinhado ao neoliberalismo, e lesbofóbicos. Sendo assim, as vivências das mulheres
lésbicas têm sido frequentemente invisibilizadas e marginalizadas. No contexto histórico, os esportes vêm
sendo constituídos de normas, que se estabelecem através de diretrizes, que afastam as mulheres da prática
esportiva, seja por questões biológicas, sexistas e machistas, como o questionamento da sua sexualidade.
Nessa conjuntura o esporte parece não ser um lugar receptivo às diferenças. No entanto, uma nova
possibilidade de vivenciar as práticas esportivas vem sendo produzida, que são as equipes identificadas como
LGBTQIA+, neste contexto as mulheres lésbicas passam a se inserir. Ao que parece a prática dos esportes vem
sendo produzida de forma a ser um espaço de possibilidades, seja de vivenciar o esporte, de identificação,
de segurança e de resistência. Portanto é fundamental propor debates a partir do reconhecimento das
experiências esportivas das mulheres lésbicas no contexto do lazer, que é um direito constitucional.
Fomentando essas discussões em busca de uma sociedade mais equitativa. Sendo assim, este trabalho traz
aspectos de uma pesquisa de mestrado acadêmico em andamento, que vem sendo realizada no âmbito do curso de
pós-graduação em Ciências do Movimento Humano, na UFRGS, do qual discute a inserção das mulheres lésbicas em
uma equipe LGBTQIA+ no contexto do lazer. Consequentemente, este trabalho tem como objetivo trazer as
primeiras aproximações do campo, com o objetivo de discutir as negociações e agências de mulheres lésbicas
em uma equipe LGBTQIA+ de Porto Alegre, na constituição de um espaço inclusivo de lazer. A partir do
exposto, as aproximações estão ocorrendo em uma equipe LGBTQIA+ de Porto Alegre, que pratica handebol. Os
encontros ocorrem duas vezes por semana, com média de 1h30. Os treinos são divididos em dois momentos, o
primeiro dá conta de atividades de aquecimento e de aperfeiçoamento de técnicas inerentes ao esporte e o
segundo momento é a prática do esporte, através do jogo propriamente dito. Para além dos momentos de
desenvolvimento técnico e tático do handebol, esta equipe parece proporcionar um espaço de acolhimento,
coletivo, político e um espaço de segurança. Este espaço que se constitui de segurança não é restrito à
prática esportiva, mas também de trocas de experiências lesboafetivas, onde as mulheres se sentem seguras ao
falar sobre seus relacionamentos. A partir dessas aproximações iniciais é possível vislumbrar novas
possibilidades de lazer, que vão além da fruição e sociabilidade.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Camila Miranda Ventura de Oliveira (IMS/UERJ), Jaqueline Teresinha Ferreira (UFRJ)
Resumo: A medicalização do corpo feminino, sobretudo, no momento da gestação e do parto, transformou a gravidez
em uma fase da vida repleta de vigilância biomédica. A gestação é interpretada pela biomedicina como um
período de risco e a gestante, por sua vez, é transformada em uma paciente de risco. Há uma produção de
discurso que afirma que a prática regular de atividades físicas durante a gravidez pode proporcionar
inúmeros benefícios, no entanto, é preciso estar atenta aos riscos. A ideia de promoção da saúde através da
prática de atividades físicas visa a popularizar e tornar a prática mais aceitável na rotina das gestantes,
com garantia de gestação e parto saudáveis. Contudo, existem exercícios descritos para serem evitados por
oferecerem riscos à gestante e ao feto, e condições clínicas que impedem ou, por outro lado, flexibilizam a
autorização médica da prática de exercícios durante a gravidez. Deste modo, apresentarei uma comparação
entre discursos e protocolos médicos, com base no campo de pesquisa utilizado para este estudo, que foram
livros-textos do ensino de Obstetrícia. Um dos documentos utilizados foi uma coletânea de estudos de
pesquisadores brasileiros no campo da Obstetrícia, cuja influência vem dos protocolos do Colégio Americano
de Obstetrícia e Ginecologia (ACOG).
Este estudo é parte da dissertação de mestrado defendida no ano de 2020, no Programa de Pós-Graduação em
Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), dentro da linha de pesquisa em Ciências
Sociais e Humanas na Saúde, orientado pela Profª Drª Jaqueline Ferreira, cujo título é: Tome cuidado com os
exercícios: análise documental sobre recomendações médicas de atividades físicas às gestantes. O estudo se
propôs a realizar uma análise documental, de perspectiva socioantropológica, em manuais de obstetrícia e
protocolos médicos a fim de identificar o discurso produzido pela ciência biomédica, em seus consensos e
dissensos, sobre a prescrição e orientação de atividades físicas para gestantes.
Para a análise do material, foram utilizadas inspirações teóricas da sociologia do pensamento científico,
proposta por Fleck (2010) e outros teóricos das ciências sociais.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
David Gonzaga (unicef)
Resumo: O crossfit é uma modalidade esportiva que vem ganhando cada vez mais praticantes e se destacando pela
especificidade de treinos de altas intensidade, vestimentas e acessórios próprios da prática, expressões
idiomáticas derivadas do inglês e uma dinâmica de pertencimento que só seus praticantes, crossfiteiros,
entendem. O esporte nasceu nos EUA na década de 80, levando seus praticantes ao extremo durante a execução
do wod, principal momento de uma aula de crossfit, na qual os atletas correm contra o tempo para finalizar o
treino. Os treinos de crossfit visam trabalhar de forma integrada vários grupos musculares, se utilizando de
bolas, barras, cordas, tapetes, anilhas, elásticos, kettlebell e dumbells, tudo para contribuir no
desenvolvimento dos eixos principais do crossfit: resistência, força, flexibilidade e equilíbrio. Os locais
em que acontecem os treinos de crossfit são chamados de Box, grandes galpões preenchidos por barras de ferro
fixas no chão, cordas penduradas e os demais materiais organizados em nichos. O Crossfit foi tido como um
esporte majoritariamente masculino e performado de uma masculinidade hegemônica, heteronormativa e pautada
numa agressividade que justificaria a força e intensidade nos treinos. Com o crescimento e popularização do
esporte, foi percebido uma diversidade cada vez maior de praticantes. O número de pessoas LGBTs praticando
aumentou significativamente. Os boxs de crossfit passaram a celebrar anualmente o mês do orgulho LGBT com
camisas personalizadas, treinos especiais regados de músicas das grandes artistas pop admiradas pela
comunidade, bandeira LGBT hasteadas nas entradas dos boxs e discurso cada vez mais de que o crossfit é um
esporte inclusivo, mas no dia a dia pessoas LGBTs ainda se sentem reprimidas a se expressarem, condicionando
especificamente homens gays a reprodução de determinadas performances da masculinidade heteronormativa. Em
contraponto, o aumento de homens gays praticando também tem fomentado a construção de micro comunidades
dentro dos Boxs, onde homens gays preferem treinar no mesmo horário como forma de garantir um espaço mais
livre e socialmente receptivo as formas de socialização LGBT. A partir dessas breves reflexões, esse
trabalho tem por objetivo analisar e refletir sobre as formas de socialização, tipificação e
intersubjetivação das performances de masculinidades encontradas no crossfit, e como estão embrincadas com a
presença cada vez maior de homens gays como praticantes. Esta pesquisa está em fase inicial, mas se dará a
partir da ferramenta da observação participante em quatro boxs da cidade do Recife, localizadas em
diferentes bairros da cidade e que concentram, de acordo com meus interlocutores iniciais, um grande número
de viados crossfiteiros.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Débora Cajé Yamamoto (USP)
Resumo: O presente trabalho busca discutir acerca da formação de atletas para o futebol de mulheres. Dessa
forma, através de uma etnografia realizada com duas treinadoras das categorias sub 15 e sub 17, pretendo
demonstrar como tem se constituído o ser jogadora. O esporte de alto rendimento, no país, é marcado por uma
rotina rigorosa de treinos em que o corpo se torna sua ferramenta e produto (VAZ e SILVEIRA, 2014). O Em
Busca do Impossível (EBI) surgiu em 2016 com a proposta de desenvolver o futebol feminino. No CT do EBI
acompanho o trabalho das duas treinadoras, Marília e Bruna, ex-jogadoras de futebol, com as categorias sub
15 e sub 17, respectivamente. Nesse tempo, notei como a formação de atletas para o futebol de mulheres está
pautada em uma produção que vai além de um corpo capaz de executar de forma precisa uma determinada ação,
mas, também, em uma mentalidade de atleta. É nos embates do que é ser jogadora futebol nos dias de hoje que
isso vai ganhando contornos e significados. Bruna e Marília jogaram em épocas muito parecidas em que o
futebol feminino era fortemente atravessado pelo estigma da homossexualidade. Tanto Marília quanto Bruna
vivem suas relações afetivas de forma discreta, privada, evitando falar sobre e buscando manter em sigilo,
sem que as atletas saibam, ao menos oficialmente. Em contrapartida, as atletas, de 13 a 17 anos, vivenciam a
sexualidade de forma mais aberta, falam sobre, andam de mãos dadas com as companheiras o que, em
determinados momentos, causa atrito com as treinadoras que defendem que aquele espaço (CT) não é ambiente
para esse tipo de comportamento. As diferenças geracionais entre as treinadoras e atletas atravessam a forma
com que elas compreendem o que é ser jogadora de futebol. Nesse trabalho, compreendo geração enquanto o
compartilhamento de condições subjetivas que permitam a participação do indivíduo na produção dos mesmos
códigos de entendimento (MORAES ALVES, 2009: 7).
Assim, pretendo, articular essas duas gerações, a primeira, das treinadoras (faixa etária entre 30 a 50
anos), em que o estigma da homossexualidade fazia com que muitas atletas de futebol escondessem suas
relações, tentassem se portar e vestir de forma mais feminina ou mesmo se afastassem da prática (PISANI,
2018). Já as atletas (de 12 a 17 anos), vivenciam um futebol feminino mais estruturado e com referências de
jogadoras profissionais abertamente homossexuais. Logo, busco argumentar como as mudanças no entendimento da
sexualidade (CARRARA, 2011) impactaram também as formas com que se entende o ser jogadora de futebol nos
dias de hoje, permitindo que esses corpos transitem entre normas de feminilidades e masculinidades aceitas
nesse contexto.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Franciane Maria Araldi (UDESC), Caroline Soares de Almeida (UFPE), Thaís Rodrigues de Almeida (Centro
Universitário Estácio de Santa Catarina), Mariane da Silva Pisani (UFPI)
Resumo: Esta comunicação oral é resultado de uma pesquisa maior que vem sendo desenvolvida pelas quatro autoras.
Nossa pesquisa investiga as relações, aproximações e distanciamentos, entre vida pessoal e carreira
profissional de jogadoras brasileiras de futebol que atuaram em diferentes momentos, posteriores à liberação
da prática do esporte para mulheres no Brasil, sobretudo nas décadas de 1980 e 1990. Esta pesquisa faz parte
de um projeto de pesquisa intitulado Vida e carreira de mulheres futebolistas histórias a serem
visibilizadas que está vinculado aos INCT Estudos do Futebol Brasileiro. As mulheres entrevistadas durante a
pesquisa engajam-se em mais de uma modalidade de futebol, seja campo, futebol de salão, futebol 7, beach
soccer ou futebol de areia. Nesse sentido, essa investigação tem como objetivo apresentar as histórias de
vida de duas jogadoras, enfocando os processos inerentes à dualidade de ser mulher e futebolista nos
cenários em que estiveram inseridas. Como questionamento inicial destacamos quais desafios, perspectivas e
possibilidades de ser mulher e futebolista nos contextos em que circularam? As duas atletas são pessoas
diferentes entre si, mas estão unidas pelo desafio de atuar em um esporte historicamente dominado por
homens. Ao enfatizarmos as histórias de vida e narrativas dessas mulheres pretendemos destacar que, por mais
que o futebol seja um fenômeno cultural permeado por pluralidades, ainda é preciso ampliar os estudos sobre
suas diferentes manifestações, e visibilizar a diversidade de personagens integrantes deste universo, em
especial as jogadoras de futebol como protagonistas das suas trajetórias.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
João Cauê Benedeti Morales (UFRGS)
Resumo: A presente comunicação retoma o percurso de pesquisa no qual a preparação e a atuação de árbitros/as de
futebol foram objetos de reflexão. Para dar conta desse empreendimento, a investigação até aqui transitou
por dois contextos distintos de participação neste ofício - o circuito da arbitragem de competições amadoras
que opera na cidade de Porto Alegre-RS e o curso de formação de árbitros/as que atuam em competições
profissionais, ministrado no âmbito da Federação Catarinense de Futebol, na cidade de Balneário Camboriú-SC.
A partir da inserção etnográfica nesses espaços, tendo como base a condição do autor como aprendiz em ambas
circunstâncias, objetivou-se compreender de que maneira a constituição do modelo laboral genérico neste
trabalho engloba, nem sempre de forma conciliatória, as diferenças que as pessoas que se interessam pela
arbitragem, como ocupação e forma de sustento, trazem consigo - com especial atenção ao marcador de
raça/etnia. Para isso, a comunicação aprofunda-se em uma ideia que é pervasiva ao contexto da arbitragem de
futebol: "controlar o jogo". Não só os debates sobre esse tema são constantes entre as pessoas em
formação/atuação, bem como essa categoria configura a expertise por meio de um processo de padronização de
habilidades restituídas pelo treinamento. Ao fazer convergir a reflexão sobre o controle do jogo com a
produção de diferenças embasadas por distintos marcadores sociais, questiona-se como seria possível pensar
lugar das pessoas negras na arbitragem de futebol.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
João Victor Mendes (UFPB)
Resumo: O presente trabalho surge a partir de questões abordadas durante a minha pesquisa de dissertação de
mestrado em Sociologia, intitulada Juventude, gênero e torcida: Uma análise das relações entre homens e
mulheres jovens na Torcida Organizada Mancha Azul-CSA (Mendes, 2022). Durante os anos de 2020 até 2022
acompanhei de perto as atividades da Mancha Azul, principal torcida organizada do CSA (Centro Sportivo
Alagoano), e uma das maiores torcidas de Maceió. Perceber as dinâmicas e os conflitos de gênero foi o fio
condutor da pesquisa, e que abordarei neste trabalho de maneira mais aprofundada. Ainda nos dias atuais
discursos são ecoados reivindicando o espaço das torcidas a uma masculinidade exacerbada, como se aquele
espaço fosse somente deles. Ao analisarmos de perto, não só percebemos a participação feminina de maneira
efetiva, como sua posição entorno do fazer torcida e da reinvindicação desse espaço. Munido de materiais
oriundos de observações etnográficas e entrevistas semiestruturadas com homens e mulheres da torcida Mancha
Azul-CSA, pude observar as diferentes dinâmicas que se apresentam e de como através dessas dinâmicas os
conflitos se dispunham no interior da instituição (Simmel, 2002). Homens e mulheres disputam simbolicamente
seu espaço dentro da torcida, e com isso podemos notar as dicotomias de gênero vistas na sociedade se
materializando nos ambientes da torcida. Um dos pontos que chamou atenção, foi perceber que em algumas
dinâmicas as mulheres eram proibidas de participar, a elas era reservado outro lugar, o lugar do cuidado, do
zelo que foi culturalmente construído (Ortner, 1979). É importante salientar que as mulheres que fazem parte
da Mancha Azul não aceitam essas condições de maneira pacífica, elas estão reivindicando e conquistando seu
espaço, e quando não são contempladas, buscam traçar táticas e estratégias (Certau, 1998), para se fazerem
presentes nas atividades que lhes são negadas. Com isso, o trabalho busca fazer uma reflexão dos resultados
da pesquisa de dissertação, apontando novos caminhos que não foram contemplados no período da pesquisa, e
aprofundando as discussões socioantropológicas acerca das questões de gênero e do universo das torcidas
organizadas, colocando as particularidades alagoanas no circuito de discussões acadêmicas sobre o tema.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Lucas Alexandre da Silva Nascimento (UFRR)
Resumo: O esporte se destaca como um fenômeno sociocultural contemporâneo e multifacetado, sendo a queimada uma
modalidade muito peculiar por suas regras e diferentes formas de jogar. A pesquisa em questão analisa a
prática da queimada pela comunidade LGBTQIAPN+ no município de Boa Vista/Roraima, e tem como interlocutoras
a Gaymada do Centro e a Gaymada do Pintolândia. O enfoque é dado aos participantes/jogadores e suas
expressões de gênero, sexualidade e as relações de corpo e performance dos indivíduos enquanto membros da
comunidade LGBTQIAPN+ e os praticantes desse esporte. A presente pesquisa tem por base o trabalho
etnográfico construído pela participação observante realizada antes, durante e após as partidas, com ambos
os grupos e separadamente com aqueles indivíduos que se sentiram confortáveis para tanto. Algumas questões
tentaram ser respondidas, por exemplo: como ocorre a ocupação dos espaços públicos por esses indivíduos?
Quais os esforços para ocupá-los? Quais os efeitos da socialização na vida dessas pessoas? Uma caraterística
comum dos grupos consiste na busca por meios próprios para a realização das partidas de queimada,
evidenciando a busca por um espaço, não no sentido físico, mas sim identitário para que a comunidade
LGBTQIAPN+ pudesse praticar um desporto/lazer e promover a interação entre todos que se identificam com o
grupo, promovendo a diversidade e o bem-estar físico e psicológico dos participantes. A importância de
mobilizações de entidades civis LGBTQIAPN+ como a Gaymada para a promoção de eventos esportivos e
diversidade aparenta ser essencial para a celebração da identidade desses corpos sobreviventes às diversas
macro e microagressões, além de evidenciar a discussão sobre a ocupação dos espaços públicos nas cidades com
princípios inclusivos e participativos da população.
Palavras-chave: LGBTQIAPN+; Gaymada; Identidades; Socialização.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Lucas Maroto Moreira (UFBA)
Resumo: A proposta de comunicação apresenta um estudo etnográfico realizado junto a homens, moradores de bairros
populares de Salvador, Bahia, que dedicam-se a duas diferentes práticas esportivas, ambas realizadas em
espaços públicos. Tratam-se da Malhação de Rua e do Baba de Saia. A malhação de rua é um treino de
hipertrofia realizado com o auxílio de halteres artesanais e do uso de barras ginásticas, combinando
carregamento e levantamento de peso com ginástica calistênica. O Baba de Saia, por sua vez, define um tipo
de jogo de futebol, tradicionalmente realizado em feriados e datas festivas, no qual os praticantes
vestem-se de mulher. A proposta, aqui submetida, busca pensar estas duas práticas enquanto formas de
fazer/produzir o jeito de corpo masculino e uma performance viril, tarefa que os homens empreendem entre
diferentes gerações. As duas práticas são mobilizadas pelos interlocutores em temporalidades diferentes: a
malhação ao longo de todo o ano e o baba de saia apenas nos festejos e ocasiões especiais. Diferem também na
intensidade e motivação: A malhação de rua é concebida enquanto rotina disciplinada que atua na
transformação não apenas da musculatura corporal, mas na mudança de status geracional e na elaboração da
performance de gênero e sexualidade. Já o baba de saia é visto como uma festa futebolística realizada entre
parceiros, festa de intima relação com o carnaval, na qual se consome grande quantidade cerveja ou vinho e
se dança ao som do pagode baiano. Diante disso, pode-se perguntar pelo papel que estas formas de
sociabilidade assumem na produção das masculinidade na periferia de Salvador. O trabalho é fruto de uma
etnografia realizada entre os anos de 2017 e 2023 em dois diferentes bairros da cidade de Salvador, Nordeste
de Amaralina e Cajazeiras XXI, e está baseada no engajamento prático do pesquisador nas atividades
pesquisadas, trabalho de campo, entrevistas semiestruturadas e uso do registro fotográfico. Por meio de
diferentes técnicas corporais, exercícios práticos e rituais de sociabilidade, tanto a malhação de rua
quanto o baba de saia produzem espaços urbanos generificados, atravessados por marcadores de geração, de
classe social e de raça, nos quais determinadas noções de masculinidade podem ser vividas e aprendidas entre
pares.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Mariana Alves Prazeres dos Santos (secretaria de estado de educação do Rio de Janeiro)
Resumo: Este trabalho é fruto da pesquisa realizada durante o mestrado que fiz em Ciências Sociais, culminando
na dissertação intitulada: Discriminação e Preconceito no balé clássico. Neste artigo, tenho objetivo de
discutir sobre as questões em torno da categoria raça; como democracia racial, contínuo de cor e
discriminação, bem como seus efeitos sobra a trajetória de bailarinas e bailarinos negras/os em no Brasil.
Nesse sentido reflito sobre as limitações e possibilidades de ação desses indivíduos nesse universo.
Essa pesquisa foi realizada com base na metodologia qualitativa, através da realização de entrevistas
semiestruturadas a bailarinas e bailarinos que tenham cursado a profissionalização em dança no Rio de
Janeiro, bem como bailarinos profissionais que tenham iniciado ou desenvolvido suas carreiras neste estado.
O balé clássico é uma arte que tem seu início no século XVI, na corte francesa, foi aprimorado, codificado,
sofreu modificações, atingindo um virtuosismo técnico especialmente na Rússia no século XIX e chega ao
Brasil a partir do início do século XX, devido às Guerras que ocorriam na Europa, fazendo com que bailarinos
viessem para o país e aqui fizessem escola e desenvolvessem o ensino
e disseminação dessa prática artística. Defendo que essa prática reflete a realidade das relações raciais
encontradas aqui, bem como as reflete em uma divisão racial do trabalho, afetando de maneira incisiva as
carreiras e trajetórias de aprendizes e profissionais.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Mariane da Silva Pisani (UFPI)
Resumo: Este estudio busca comprender, a través de un enfoque etnográfico comparativo, la construcción y
representación de los cuerpos y las identidades de género entre jugadoras de Argentina y Brasil durante la
práctica deportiva del fútbol. Exploraremos cómo las dinámicas sociales y culturales influyen en la
percepción y expresión de los cuerpos, además de examinar las narrativas e interacciones que dan forma a las
identidades de género en el contexto del fútbol de mujeres. El análisis comparativo de las experiencias de
las jugadoras en ambos países busca identificar similitudes y contrastes significativos, con el fin de
ofrecer perspectivas sobre las complejidades de la relación entre la práctica deportiva, la corporalidad y
la construcción de la identidad de género.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Marianna Castellano Barcelos de Andrade (Pesquisador)
Resumo: Neste trabalho buscarei apresentar algumas questões etnográficas decorrentes da minha pesquisa de
doutorado em andamento, a respeito dos debates de gênero e suas interseccionalidades dentro de três torcidas
organizadas da cidade de São Paulo, a saber, Gaviões da Fiel, Camisa 12, ambas vinculadas ao Corinthians, e
a Mancha Alviverde, vinculada ao Palmeiras. Visando analisar as disputas, negociações e estratégias
políticas presentes neste ambiente marcadamente masculinizado, olhando principalmente para a generificação
da sociabilidade torcedora. Afinal, como é possível romper com a ideia de que existe uma categoria
específica de gênero para o torcer e que ela pertence somente aos homens? Quais as
diferenciações e aproximações das demandas internas de
gênero em cada uma das torcidas estudadas? Estes são alguns questionamentos provocativos que
balizam minha pesquisa etnográfica e que agora, neste GT podem ser discutidas de maneira proveitosa em
diálogo com os demais trabalhos.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Marina de Mattos Dantas (UEMG)
Resumo: O espetáculo esportivo é considerado um dos aspectos socioculturais contemporâneos, exigindo uma análise
que vá além do desempenho competitivo, transcendendo a ênfase na performance de alto nível. No Brasil, a
Psicologia do Esporte (PE) destaca-se devido à crescente compreensão da importância de componentes
psicossociais no desempenho e bem-estar de atletas e outros envolvidos na prática esportiva. Este campo
passou por transformações, ao longo do tempo, oferecendo contribuições significativas ao cenário esportivo
nacional, capacitando atletas, treinadores e equipes para desenvolver seus potenciais, seja em situações de
alta performance ou de lazer. Neste contexto, a demanda pela PE em cursos de graduação e pós-graduação é
crescente naquele país, ainda que a oferta de disciplinas para trabalhar a temática não a acompanhe.
Engendrada nesse cenário, apresento como proposta de comunicação reflexões sobre o acompanhamento de
estudantes de psicologia em seu campo de estágio, supervisionados por mim em uma disciplina de estágio
curricular na graduação em psicologia em uma universidade brasileira. O estágio em PE foi conduzido em uma
escolinha de futebol em Divinópolis, Minas Gerais, vinculada a um clube tradicional do estado. A escola,
inaugurada em outubro de 2022, conta com cerca de 200 alunos de diversas categorias, incluindo meninos e
meninas, com idades que variam desde o Baby Fut, aos 3 anos, até a categoria SUB-17, com jovens de 16 e 17
anos. A estrutura organizacional envolve diretores, treinadores, uma treinadora, um auxiliar de serviços
gerais e parcerias com um instituto de fisioterapia que oferece serviços de fisioterapia, indicação
nutricional e psicologia. Partindo de vivências como supervisora de estágio, apresento questões que emergem
nesse campo, no qual o psicólogo desempenha um papel crucial nas relações sociais, destacando o papel
central da tríade formada por professor, família e criança. A atuação do psicólogo pode ser desafiadora,
dependendo de como ele se posiciona nas relações institucionais. A tendência pode ser mais voltada para a
adaptação dos corpos às demandas de uma especialização precoce do atleta do que para o desenvolvimento de
potencialidades. Isso traz implicações relacionadas à prática esportiva como fruição, socialização e uma
prática de saúde. Desse modo, as questões enfrentadas por psicólogos em formação incluem os atravessamentos
de gênero e raça na formação de crianças, que recebem mensagens conflitantes sobre o direito ao esporte e
lazer, enquanto são exigidas a desempenhar como profissionais desde cedo. Essa realidade apresenta desafios
e oportunidades a psicólogos do esporte em formação ao lidarem com as multiplicidades do ambiente esportivo.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Míriam Soares Dias (UFF)
Resumo: Este trabalho pretende através de uma análise baseada no universo etnográfico de diálogos entre
praticantes e na experiência da prática, propor um exercício reflexivo do material que vem sendo
desenvolvido em um estúdio de Pole Dance em Niterói (RJ). Tem como objetivo abordar as dimensões do espaço
de sociabilidade e convivência moralmente avaliado como incomum para mulheres e investigar as categorias de
gêneros de Pole Dance como Pole Art, Pole Sport, Pole Fitness entre outras categorias consolidadas pela
perspectiva do grupo de praticantes em questão e tencionar a observação para a possibilidade de uma
categoria de Pole Dance na qualidade de recurso terapêutico.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Thaís Rodrigues de Almeida (Centro Universitário Estácio de Santa Catarina), Franciane Maria Araldi
(UDESC), Mariane da Silva Pisani (UFPI)
Resumo: Nesta pesquisa, partimos da compreensão do futebol enquanto espaço plural onde ocorrem disputas,
negociações e relações de poder, permeado por representações de corpo, gênero e identidades. Dentro deste
contexto, elegemos tematizar as mulheres torcedoras e a diversidade de representações de suas identidades. A
partir da perspectiva dos estudos de gênero, analisamos imagens e narrativas do projeto fotográfico
documental Cuerpas Reales, Hinchas Reales. A proposta deste coletivo é promover o debate sobre corpos,
experiências e identidades de mulheres torcedoras, e visibiliza suas produções na rede social instagram. O
objetivo do trabalho foi, compreender as representações de identidades torcedoras assim como observar os
discursos envolvendo gênero e corpos dissidentes em relação à diversidade de experiências torcedoras
visibilizadas e os desdobramentos discursivos possibilitados a partir do projeto. Foram utilizados como
recursos metodológicos a etongrafia de tela e a analise de discurso, no período de 2021 à 2023. Concluímos
que, o projeto soma em tensionamentos e formas de resistências para ampliarmos as reflexões acerca das
identidades torcedoras, em especial, em contextos de países Latinoamericanos.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Valdonilson Barbosa dos Santos (UFCG), Amanda da Silva Leite (UFCG)
Resumo: Muitas modalidades de práticas esportivas e até brincadeiras lúdicas infantis são marcadas por
classificação/divisão de gênero. No Brasil, por exemplo, em termos de percepção cultural o futebol, é visto
como um esporte masculino e historicamente foi dominado pelos homens. Isso leva a um preconceito de gênero,
arraigado numa mentalidade sexista do mundo. Atualmente, o futebol profissional feminino vem recebendo uma
atenção maior por parte das instituições e entidades organizativas de práticas futebolísticas, no entanto, o
futebol feminino ainda recebe menos investimento do que o masculino, isso pode causar a impressão de que é
de menor qualidade ou menos importante. Então, cada vez que houver maior participação das mulheres em
esportes visto socialmente como masculinos, essa situação será normalizado com o passar do tempo. Assim, uma
dimensão da pesquisa visa refletir sobre as práticas esportivas futebolísticas de mulheres na cidade de
Sumé-PB. Para isso, está sendo feito uma pesquisa de cunho etnográfico para vivenciar o dia-a-dia de treinos
e investigar as formas de classificações de mulheres e homens nessa modalidade esportiva. Outra dimensão da
pesquisa está relacionada a uma pesquisa realizada sobre a construção social das masculinidades através de
atividades lúdicas infantis na cidade do Recife-PE. Para interpretar e mergulhar numa da dada realidade
sociocultural partimos do seguinte questionamento: por que não procurar a complexidade das relações de
gênero dentro de espaços de sociabilidades que, de certa forma, sedimenta a nossa forma de pensar, agir,
compartilhar, subjetivar os significados do que é cotidianamente vivido? Entendemos que a formação dos
gêneros está intimamente relacionado à tentativa de compreender as relações entre o masculino e o feminino,
caracterizadas pela diferença dos gostos, preferências, comportamentos e atitudes de cada sexo, por isso, é
necessário entender os diferentes sentidos que são dados às ações de homens e mulheres. Em termos de
referencial, utilizamos autoras(es) tais como: Vale de Almeida (1995), Connell (1997), Nascimento (1999),
Medrado & Lyra (2002) entre outros. A interação direta com as pessoas que praticam ou praticaram
práticas esportivas, tanto em Recife-PE como em Sumé-PB foram importantes para capturamos os sistemas de
significação, fazem dos(as) participantes formadores de conhecimento e portadores de uma visão de mundo que
inclui categorias de classificação utilizadas cotidianamente para distinguir, diferenciar, e (des) igualar
coisas e pessoas. Trata-se de espaços de demarcação de fronteiras entre atividades consideradas masculinas e
femininas, ou seja, instrumentos de (re) significação das formas de conceber as diferenciações entre os
gêneros. Palavras-chave: Gênero; Corporeidade; Linguagem.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Vanrochris Helbert Vieira (INCT)
Resumo: No Brasil, o primeiro time de futebol amador composto apenas por pessoas LGBTQIAPN+ surgiu em 1990. No
entanto, nessa época, esse movimento era composto apenas por homens gays e bissexuais, tendo sido chamado de
futebol gay. Em 2017, houve um boom na criação de times pelo país. Nesse mesmo ano, foi criada a liga
nacional (LiGay) e o campeonato nacional (Champions LiGay) desses times. Em 2022, a LiGay passou a adotar
oficialmente o termo futebol LGBTQIA+ e abriu-se para a participação de quaisquer pessoas LGBTQIAPN+. Apesar
disso, percebe-se que ainda persiste a presença quase exclusiva de homens gays nesses times, com uma
participação praticamente inexistente de mulheres nos campeonatos. Para entender esse contexto, é preciso
observar que a dicotomia de gênero no esporte é tradicionalmente defendida para garantir uma suposta
igualdade de condições para jogadoras e jogadores. Além disso, no contexto de inserção no futebol, homens e
mulheres não heterossexuais têm tido trajetórias muito distintas no Brasil. Enquanto o acesso ao esporte tem
sido sistematicamente negado aos homens não heterossexuais, as mulheres não heterossexuais têm sido parte
importante da construção desse esporte desde que a proibição da sua prática por mulheres foi suspensa, na
década de 1970. Assim, é preciso entender se a ideia de um futebol LGBTQIAPN+ faz sentido para jogadoras
mulheres assim como faz para homens. Tendo em vista esse cenário, é possível concluir que o futebol
LGBTQIAPN+ carrega potencialidades para a diminuição da dicotomia de gênero no esporte. No entanto, apesar
de fazer movimentos tímidos nesse sentido, percebe-se que essa dicotomia persiste mesmo dentro do futebol
LGBTQIAPN+.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Wagner Xavier de Camargo (UNICAMP)
Resumo: A etnografia com coletivos de pessoas LGBTQIA+ que praticam futebol society se converteu em uma
etnografia digital a partir da declaração da OMS sobre a pandemia do coronavírus, no início de 2020. A
pesquisa antropológica então em curso, que ocorria em competições esportivas in loco, acabou se tornando uma
peregrinação pelo meio digital, que acompanhava perfis individuais e de clubes esportivos no intuito de
entender como tais agentes lidavam com o futebol em tempos pandêmicos. A proposta deste texto é dialogar com
os lugares possíveis de produção e aparecimento destes futebóis (as redes sociais), no período de quase dois
anos, e discutir como se redimensionaram nestes não-lugares (Marc Augé). Além disso, este texto dialoga
criticamente com a ideia de futebol como questão social, inaugurada no contexto brasileiro neste período
pandêmico por eles como algo novidadeiro e inédito.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Yordanna Lara Rêgo (UFG)
Resumo: Este ensaio propõe uma reflexão antropológica sobre os limites e possibilidades de aplicação da
categoria de representatividade para a compreensão das identidades étnico-raciais e de gênero em
Goiânia/GO, capital do Estado de Goiás.
Tendo como pano de fundo a História e a Antropologia do Esporte no Brasil (com destaque para o Futebol) e a
História das Mulheres em Goiás, e por meio do aparato teórico/metodológico da interseccionalidade, proposto
pela teoria feminista negra, este ensaio propõe um diálogo direto com a produção dos antropólogos do esporte
Simoni Lahud Guedes e Édison Gastaldo e do sociólogo Adilson José Moreira. Em termos empíricos, este
trabalho estuda a representação da figura da torcedora símbolo do Vila Nova Futebol Clube, Nega Brechó, no
documentário A cor da liberdade é vermelho e branco - Vila Nova Futebol Clube, de 2018. O trabalho destaca
dois elementos considerados fundamentais na compreensão da complexidade do que a figura da Nega Brechó
representa no imaginário goianiense, em termos de relações étnico-raciais e de gênero: seu apelido e a aura
de respeitabilidade construída ao seu redor.