Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 064: Gêneros, sexualidades e corpos plurais: abordagens antropológicas de práticas esportivas
Entre treinadoras e atletas, sexualidade e geração em times de formação no futebol praticado por
mulheres.
O presente trabalho busca discutir acerca da formação de atletas para o futebol de mulheres. Dessa
forma, através de uma etnografia realizada com duas treinadoras das categorias sub 15 e sub 17, pretendo
demonstrar como tem se constituído o ser jogadora. O esporte de alto rendimento, no país, é marcado por uma
rotina rigorosa de treinos em que o corpo se torna sua ferramenta e produto (VAZ e SILVEIRA, 2014). O Em
Busca do Impossível (EBI) surgiu em 2016 com a proposta de desenvolver o futebol feminino. No CT do EBI
acompanho o trabalho das duas treinadoras, Marília e Bruna, ex-jogadoras de futebol, com as categorias sub
15 e sub 17, respectivamente. Nesse tempo, notei como a formação de atletas para o futebol de mulheres está
pautada em uma produção que vai além de um corpo capaz de executar de forma precisa uma determinada ação,
mas, também, em uma mentalidade de atleta. É nos embates do que é ser jogadora futebol nos dias de hoje que
isso vai ganhando contornos e significados. Bruna e Marília jogaram em épocas muito parecidas em que o
futebol feminino era fortemente atravessado pelo estigma da homossexualidade. Tanto Marília quanto Bruna
vivem suas relações afetivas de forma discreta, privada, evitando falar sobre e buscando manter em sigilo,
sem que as atletas saibam, ao menos oficialmente. Em contrapartida, as atletas, de 13 a 17 anos, vivenciam a
sexualidade de forma mais aberta, falam sobre, andam de mãos dadas com as companheiras o que, em
determinados momentos, causa atrito com as treinadoras que defendem que aquele espaço (CT) não é ambiente
para esse tipo de comportamento. As diferenças geracionais entre as treinadoras e atletas atravessam a forma
com que elas compreendem o que é ser jogadora de futebol. Nesse trabalho, compreendo geração enquanto o
compartilhamento de condições subjetivas que permitam a participação do indivíduo na produção dos mesmos
códigos de entendimento (MORAES ALVES, 2009: 7).
Assim, pretendo, articular essas duas gerações, a primeira, das treinadoras (faixa etária entre 30 a 50
anos), em que o estigma da homossexualidade fazia com que muitas atletas de futebol escondessem suas
relações, tentassem se portar e vestir de forma mais feminina ou mesmo se afastassem da prática (PISANI,
2018). Já as atletas (de 12 a 17 anos), vivenciam um futebol feminino mais estruturado e com referências de
jogadoras profissionais abertamente homossexuais. Logo, busco argumentar como as mudanças no entendimento da
sexualidade (CARRARA, 2011) impactaram também as formas com que se entende o ser jogadora de futebol nos
dias de hoje, permitindo que esses corpos transitem entre normas de feminilidades e masculinidades aceitas
nesse contexto.