Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 064: Gêneros, sexualidades e corpos plurais: abordagens antropológicas de práticas esportivas
O torcer organizado por mulheres: a importância da ala feminina em uma torcida carioca
O presente trabalho pretende-se tornar capítulo de uma dissertação de mestrado em Antropologia Social,
tendo como objeto de pesquisa o Grêmio Recreativo Sociocultural Torcida Fogoró, ou ainda, Fogoró. Uma
torcida organizada (TO) do Botafogo de Futebol e Regatas, clube da cidade do Rio de Janeiro.
Debruçando-me sobre a Fogoró, uma TO do tipo chopp (termo êmico, como de briga, que aparecerá mais abaixo),
busco embrenhar e ao mesmo tempo impulsionar uma visão do outro lado das organizadas que tenta fugir de
estereótipos e estigmas sustentados e disseminados pelo senso comum e pela mídia, relacionando-as à
marginalidade e criminalidade, como associações criadas visando a prática de atos de violência (Teixeira,
2004).
Ainda que trabalhos acadêmicos reforcem que essa porção problemática das torcidas (não necessariamente
organizadas) compõe a menor parte delas, são menos os estudos interessados em investigar essa parcela,
comumente contentando-se em mencionar que as torcidas não são só isso: o lado não-violento, pacífico
também existe. Mas por onde anda?
Assim sendo, concentro-me nesse outro lado com um trabalho etnográfico cujo objetivo geral é compreender o
que os integrantes da Fogoró acreditam, defendem, tem como filosofia dentro de uma torcida que não é de
briga, como seus componentes descrevem.
Em uma primeira incursão a campo, fui apresentada à vice-presidenta e a uma diretora da atual gestão da
torcida. Antes disso, o atual presidente já havia reforçado - e é perceptível - a importância das mulheres
na torcida em questão e do núcleo composto por elas, denominado Alambique Feminino. No geral, torcidas
organizadas se reúnem por famílias, pelotões, esquadrões ou outra nomenclatura dialogando com sua
identidade. Geralmente as divisões são feitas por bairros ou zonas de uma cidade (ex: Alambique Zona Norte),
regiões de um estado (ex: 16º Alambique - Juiz de Fora) ou ainda por um estado (ex: Fogoró Cuiabá-MT), em
caso de regiões mais afastadas da cidade do clube do coração. Mas há também a divisão da ala feminina de uma
torcida, com suas próprias demandas e interesses, por vezes mais crítica e politizada, buscando mais
visibilidade, autonomia e participação ativa dentro e fora da TO. É o caso do Alambique Feminino da Fogoró.
Sendo uma torcida de porte menor, mais familiar, com participação notável da ala feminina, pretendo dedicar
um capítulo da dissertação (e essa apresentação) a discutir aspectos como: motivação para ingressar em uma
torcida organizada e como se deu a chegada na Fogoró; trajetória das torcedoras na arquibancada; atividades
específicas do Alambique Feminino; questionamentos, comparações e críticas quanto à modelos de gestão e
atuação de outras torcidas sobre limitações na atuação das mulheres etc.