Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 064: Gêneros, sexualidades e corpos plurais: abordagens antropológicas de práticas esportivas
Fazer-se homem: esportes, carnaval e sexualidade na periferia de Salvador
A proposta de comunicação apresenta um estudo etnográfico realizado junto a homens, moradores de bairros
populares de Salvador, Bahia, que dedicam-se a duas diferentes práticas esportivas, ambas realizadas em
espaços públicos. Tratam-se da Malhação de Rua e do Baba de Saia. A malhação de rua é um treino de
hipertrofia realizado com o auxílio de halteres artesanais e do uso de barras ginásticas, combinando
carregamento e levantamento de peso com ginástica calistênica. O Baba de Saia, por sua vez, define um tipo
de jogo de futebol, tradicionalmente realizado em feriados e datas festivas, no qual os praticantes
vestem-se de mulher. A proposta, aqui submetida, busca pensar estas duas práticas enquanto formas de
fazer/produzir o jeito de corpo masculino e uma performance viril, tarefa que os homens empreendem entre
diferentes gerações. As duas práticas são mobilizadas pelos interlocutores em temporalidades diferentes: a
malhação ao longo de todo o ano e o baba de saia apenas nos festejos e ocasiões especiais. Diferem também na
intensidade e motivação: A malhação de rua é concebida enquanto rotina disciplinada que atua na
transformação não apenas da musculatura corporal, mas na mudança de status geracional e na elaboração da
performance de gênero e sexualidade. Já o baba de saia é visto como uma festa futebolística realizada entre
parceiros, festa de intima relação com o carnaval, na qual se consome grande quantidade cerveja ou vinho e
se dança ao som do pagode baiano. Diante disso, pode-se perguntar pelo papel que estas formas de
sociabilidade assumem na produção das masculinidade na periferia de Salvador. O trabalho é fruto de uma
etnografia realizada entre os anos de 2017 e 2023 em dois diferentes bairros da cidade de Salvador, Nordeste
de Amaralina e Cajazeiras XXI, e está baseada no engajamento prático do pesquisador nas atividades
pesquisadas, trabalho de campo, entrevistas semiestruturadas e uso do registro fotográfico. Por meio de
diferentes técnicas corporais, exercícios práticos e rituais de sociabilidade, tanto a malhação de rua
quanto o baba de saia produzem espaços urbanos generificados, atravessados por marcadores de geração, de
classe social e de raça, nos quais determinadas noções de masculinidade podem ser vividas e aprendidas entre
pares.