ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 064: Gêneros, sexualidades e corpos plurais: abordagens antropológicas de práticas esportivas
“Esse Box só tem viado!”: (Re)configurando as performances de masculinidades no Crossfit sob a ótica da homossexualidade
O crossfit é uma modalidade esportiva que vem ganhando cada vez mais praticantes e se destacando pela especificidade de treinos de altas intensidade, vestimentas e acessórios próprios da prática, expressões idiomáticas derivadas do inglês e uma dinâmica de pertencimento que só seus praticantes, crossfiteiros, entendem. O esporte nasceu nos EUA na década de 80, levando seus praticantes ao extremo durante a execução do wod, principal momento de uma aula de crossfit, na qual os atletas correm contra o tempo para finalizar o treino. Os treinos de crossfit visam trabalhar de forma integrada vários grupos musculares, se utilizando de bolas, barras, cordas, tapetes, anilhas, elásticos, kettlebell e dumbells, tudo para contribuir no desenvolvimento dos eixos principais do crossfit: resistência, força, flexibilidade e equilíbrio. Os locais em que acontecem os treinos de crossfit são chamados de Box, grandes galpões preenchidos por barras de ferro fixas no chão, cordas penduradas e os demais materiais organizados em nichos. O Crossfit foi tido como um esporte majoritariamente masculino e performado de uma masculinidade hegemônica, heteronormativa e pautada numa agressividade que justificaria a força e intensidade nos treinos. Com o crescimento e popularização do esporte, foi percebido uma diversidade cada vez maior de praticantes. O número de pessoas LGBTs praticando aumentou significativamente. Os box’s de crossfit passaram a celebrar anualmente o mês do orgulho LGBT com camisas personalizadas, treinos especiais regados de músicas das grandes artistas pop admiradas pela comunidade, bandeira LGBT hasteadas nas entradas dos box’s e discurso cada vez mais de que o crossfit é um esporte inclusivo, mas no dia a dia pessoas LGBTs ainda se sentem reprimidas a se expressarem, condicionando especificamente homens gays a reprodução de determinadas performances da masculinidade heteronormativa. Em contraponto, o aumento de homens gays praticando também tem fomentado a construção de micro comunidades dentro dos Box’s, onde homens gays preferem treinar no mesmo horário como forma de garantir um espaço mais livre e socialmente receptivo as formas de socialização LGBT. A partir dessas breves reflexões, esse trabalho tem por objetivo analisar e refletir sobre as formas de socialização, tipificação e intersubjetivação das performances de masculinidades encontradas no crossfit, e como estão embrincadas com a presença cada vez maior de homens gays como praticantes. Esta pesquisa está em fase inicial, mas se dará a partir da ferramenta da observação participante em quatro box’s da cidade do Recife, localizadas em diferentes bairros da cidade e que concentram, de acordo com meus interlocutores iniciais, um grande número de viados crossfiteiros.