Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 064: Gêneros, sexualidades e corpos plurais: abordagens antropológicas de práticas esportivas
Esse Box só tem viado!: (Re)configurando as performances de masculinidades no Crossfit sob a ótica da
homossexualidade
O crossfit é uma modalidade esportiva que vem ganhando cada vez mais praticantes e se destacando pela
especificidade de treinos de altas intensidade, vestimentas e acessórios próprios da prática, expressões
idiomáticas derivadas do inglês e uma dinâmica de pertencimento que só seus praticantes, crossfiteiros,
entendem. O esporte nasceu nos EUA na década de 80, levando seus praticantes ao extremo durante a execução
do wod, principal momento de uma aula de crossfit, na qual os atletas correm contra o tempo para finalizar o
treino. Os treinos de crossfit visam trabalhar de forma integrada vários grupos musculares, se utilizando de
bolas, barras, cordas, tapetes, anilhas, elásticos, kettlebell e dumbells, tudo para contribuir no
desenvolvimento dos eixos principais do crossfit: resistência, força, flexibilidade e equilíbrio. Os locais
em que acontecem os treinos de crossfit são chamados de Box, grandes galpões preenchidos por barras de ferro
fixas no chão, cordas penduradas e os demais materiais organizados em nichos. O Crossfit foi tido como um
esporte majoritariamente masculino e performado de uma masculinidade hegemônica, heteronormativa e pautada
numa agressividade que justificaria a força e intensidade nos treinos. Com o crescimento e popularização do
esporte, foi percebido uma diversidade cada vez maior de praticantes. O número de pessoas LGBTs praticando
aumentou significativamente. Os boxs de crossfit passaram a celebrar anualmente o mês do orgulho LGBT com
camisas personalizadas, treinos especiais regados de músicas das grandes artistas pop admiradas pela
comunidade, bandeira LGBT hasteadas nas entradas dos boxs e discurso cada vez mais de que o crossfit é um
esporte inclusivo, mas no dia a dia pessoas LGBTs ainda se sentem reprimidas a se expressarem, condicionando
especificamente homens gays a reprodução de determinadas performances da masculinidade heteronormativa. Em
contraponto, o aumento de homens gays praticando também tem fomentado a construção de micro comunidades
dentro dos Boxs, onde homens gays preferem treinar no mesmo horário como forma de garantir um espaço mais
livre e socialmente receptivo as formas de socialização LGBT. A partir dessas breves reflexões, esse
trabalho tem por objetivo analisar e refletir sobre as formas de socialização, tipificação e
intersubjetivação das performances de masculinidades encontradas no crossfit, e como estão embrincadas com a
presença cada vez maior de homens gays como praticantes. Esta pesquisa está em fase inicial, mas se dará a
partir da ferramenta da observação participante em quatro boxs da cidade do Recife, localizadas em
diferentes bairros da cidade e que concentram, de acordo com meus interlocutores iniciais, um grande número
de viados crossfiteiros.