ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Grupos de Trabalho (GT)
GT 093: Ritmos negros e periféricos: Hip-hop, Música e Identidades
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Coordenação
Omar Ribeiro Thomaz (UNICAMP), Carlos Benedito Rodrigues da Silva (UFMA)

Resumo:
Este grupo busca possibilitar a socialização e o debate de pesquisas concluídas ou em andamento, enfocando a música, ritmos e movimentos socioculturais como elementos de mobilização coletiva, definição de linguagens e códigos de comunicação, com ênfase na construção de performances entre grupos de juventudes nas diversas regiões brasileiras, ou mesmo em outros países, a partir das tendências rítmicas veiculadas pelos sistemas midiáticos. Cada vez mais, expressões artísticas que eram assumidas como simplesmente formas de lazer, são acionadas e compreendidas como formas de se expor posições políticas e afirmação de identidades. Dentre essas expressões, a cultura Hip-hop conquistou espaço relevante nas produções acadêmicas. A proliferação da cultura Hip-hop pelo mundo propiciou uma série de estudos sobre a temática, consolidando o que tem sido chamado de Hip-hop Studies (NEAL, 2011). Destacam-se, nessa área, pesquisas locais e comparativas sobre Estados Unidos, Caribe, Américas, Europa, Ásia, Oceania e África. Nestes diferentes contextos, a cultura Hip-hop tem integrado pesquisadores das mais diversas áreas do conhecimento, especialmente ciências sociais e com significativa produção em antropologia, os quais buscam compreender as dinâmicas sociais dos contextos urbanos. O Hip-hop studies busca elucidar não apenas o que é o Hip-hop e as suas idiossincrasias, mas, sim, flagrar o que ele revela sobre as experiências de vida em contextos de precariedade.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Uma batalha feita por nós, que fosse pra nós, onde as rimas não fossem afetar a gente, quem a gente é": Battle Girl Power, ferramenta de enfrentamento ao racismo e sexismo em Belém/PA
Arielly Nazaré Jorge Cordeiro (UEPA)
Resumo: O presente estudo concentra-se em discutir as dinâmicas estabelecidas por mulheres e pessoas LGBTQIA+ na batalha de rima Battle Girl Power em Belém/PA, buscando apresentar se engajamento na produção deste espaço incentiva o debate sobre marcadores sociais de gênero, raça, classe e sexualidade, possibilitando que artistas demarquem através da rima e poesia seus posicionamentos políticos em uma sociedade que as quer silenciadas. Pretende-se investigar se o rap, seguimento do movimento hip hop, encontra nestes sujeitos um mecanismo de resistência e mitigação das disparidades sociais. Além disso, busca-se contribuir para o fortalecimento do cenário hip hop na Região Metropolitana de Belém (RMB), e consequentemente, para o estado do Pará. Para tanto, a pesquisa utiliza uma abordagem crítica combinada à entrevistas semi-estruturadas e observação participante na batalha de rima organizada pela Battle Girl Power na 26º Feira Pan-Amazônica do Livro. Enquanto referencial teórico este trabalho utiliza conceitos apresentados por José Guilherme Magnani (1992), Leila Leite (2019), Patricia Hill Collins (2016) e Lélia Gonzalez (1984).

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
"Chamar o povo e tomar a cidade": a estética revolucionária de Don L
Clayton da Silva Guerreiro (UNIFESP)
Resumo: Esse trabalho propõe um sobrevoo analítico sobre o álbum Roteiro para Aïnouz, vol. 2, do rapper Don L. Ao longo do paper, irei argumentar que a obra evidencia uma estética (Rancière, 2009) revolucionária singular na cena contemporânea do Rap, conforme a posição abertamente comunista de seu autor, que se autodeclara mais guerrilheiro que MC. A singularidade da obra se expressa, em primeiro lugar, pela sobreposição irregular de múltiplas temporalidades, desde a colonização portuguesa no Brasil (com o massacre das populações indígenas e de africanos escravizados), passando pela proposta de uma luta armada contra o capital, até chegar ao seu ápice, quando a revolução socialista poderia ser, enfim, consolidada. As vozes sobrepostas do eu-lírico de Don L e de outras/os rappers que participam da obra (como Tasha & Tracie, Alt Niss, Djonga, Mcs Junior e Leonardo, Rael, Terra Preta, entre outros) destacam que as desigualdades atualmente observadas no Brasil resultam da consolidação de práticas historicamente gestadas no seio de instituições responsáveis por sua perpetuação. Diante disso, a obra apresenta fartas alusões ao papel do cristianismo e da violência policial no genocídio dos povos indígenas, na exploração do povo negro, na violência de gênero e na consolidação do capital acumulado por bilionários ao longo dos séculos. Diante de um cenário de inúmeras desigualdades consolidadas pela violência do capital, o rapper parece não ver outra opção para além da violência revolucionária. Enquanto a primeira aparece tem termos como sangue, massacre, estupro, torturaram, escravizaram e mataram, o léxico revolucionário conta com categorias como chumbo no peito, vai morrer e guerrilheiro. Além disso, são inúmeras as alusões às revolucionárias e aos revolucionários de esquerda que optaram pela superação das desigualdades por meio da luta armada, entre as/os quais o autor se inclui. Referências MARX, Karl. O Capital. São Paulo: Boitempo, 2011. RANCIÈRE, Jacques. A partilha do Sensível: estética e política. Tradução: Mônica Costa Netto. 2a Ed, São Paulo; Editora 34, 2009.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Das ruas ao Museu da Cultura Hip Hop RS: Jornadas coletivas e os desafios contemporâneos
Diogo Raul Zanini (UFRGS)
Resumo: O presente texto visa analisar o processo de construção do primeiro museu voltado para o Hip Hop da América Latina, o Museu da Cultura Hip Hop RS (MUCHRS). Neste artigo serão apresentados dados analisados na Pesquisa Histórica do MUCHRS (realizada entre 2021 a 2022) e os desafios históricos e contemporâneos da cultura Hip Hop, a mais de 40 anos socializando as juventudes negras e periféricas no Estado do Rio Grande do Sul.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Reverberações Contemporâneas do Movimento de Negritude: A ação do rap na expressão de identidades negras
Edson Linhares da Silva (UFSCAR)
Resumo: Neste trabalho, pretendo demonstrar como o rap nacional, por meio de seus/suas artistas contemporâneos/as, pode ser considerado um dos desdobramentos do Movimento de Negritude, enriquecendo as discussões sobre identidade e cultura negra de maneira intensa e radical. Em outras palavras, meu objetivo para esse GT é abordar a relação entre o Movimento de Negritude, que surgiu na década de 1930 entre estudantes africanos e afro-diaspóricos de língua francesa, e o rap nacional contemporâneo como uma de suas possíveis reverberações. Partirei dos dados produzidos em um dos capítulos de minha dissertação recentemente finalizada. Durante a pesquisa, conduzi dois experimentos por meio de dinâmicas de Grupos Focais e entrevistas individuais com os/as participantes, analisando suas percepções e experiências em relação à narrativa do rap. Ao examinar os depoimentos, identifiquei como as características presentes nas letras e ações dos/as rappers brasileiros guardam relação com as propostas do Movimento de Negritude. Essas manifestações artísticas se destacam por sua abordagem radical no enfrentamento ao racismo na contemporaneidade, promovendo a valorização e a afirmação da identidade negra. O retorno obtido dos/as participantes da pesquisa em relação à narrativa do rap desempenha um papel fundamental em suas vivências, identidades e subjetividades. Além disso, os dados produzidos sugerem que a identidade contemporânea é fluida, variando conforme o contexto e a perspectiva de cada indivíduo. A dinâmica de construção da identidade por meio do rap é um processo complexo, influenciado por fatores sociais, culturais e históricos. Sendo assim, busquei examinar como a noção de negritude se torna fundamental para as pessoas negras, possibilitando o desenvolvimento de novas estratégias no enfrentamento das posições subalternas historicamente atribuídas a elas. A análise das letras e dos discursos revelam o rap não apenas como uma forma de expressão artística, mas também como um instrumento de produção de conhecimento, intelectual, resistência e empoderamento para as comunidades negras. Portanto, este trabalho visa contribuir para uma compreensão das possíveis influências entre o Movimento de Negritude no rap nacional contemporâneo e suas narrativas, destacando a importância dessa expressão cultural na luta por identidade e justiça social. Ao examinar a conexão entre rap, produção de conhecimento, identidade negra e movimento de resistência, espero oferecer insights significativos para o debate acadêmico e contribuir para os hip-hop studies.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Rima e circulação: A batalha pelo espaço marabaense
Estevão de Figueiredo Ribeiro (IFPA), Hiran de Moura Possas (UNIFESSPA)
Resumo: O RAP (do inglês, Rhythm And Poetry) é um dos elementos da ''cultura Hip-Hop'', acontecimento histórico que surge no Bronx (EUA) na década de 70 e se espalha pelo mundo em meados dos anos 80. Chegando nas diferentes periferias do Brasil e do mundo, tem a característica potente de se tornar uma referência para jovens desse território, em sua maioria negros, que se encontram em espaços públicos da cidade. As batalhas de rima, uma disputa entre MCs (Mestres de Cerimônia) com rimas improvisadas, faz com que jovens periféricos ocupem o espaço urbano, originalmente não previsto para os mesmos. Esse é o objetivo desse trabalho: entender como isso acontece, quais são as forças reativas que buscam impedi-la de acontecer e como se dá a dinâmica chamada ''underground'', que acontece nas ruas de Marabá e região. Para tal, estamos no processo de realização de uma etnografia e coleta de dados. O trabalho de campo na cidade, no contexto das batalhas de rima, tem se revelado necessário no sentido de observar a realidade a partir de ''um ponto de vista descentrado'' (GOLDMAN, 2003, p. 468), de forma que a percepção metodológica do pesquisador deixa de ser um conjunto de técnicas, mas também uma apreensão teórica da realidade dos sujeitos com quem dialogamos. Dialogando com essa proposta metodológica, estamos utilizando autores que versam sobre as noções de espaço e território, entendendo-o sempre como um campo de forças que impedem que seja visto como algo dado, mas dentro de um intenso conflito, envolto num processo de construção. O espaço também é esse lugar permeado por inter-relações e, por assim ser, deve ser percebido como múltiplo, heterogêneo e em que há coexistência (MASSEY, 2017). A noção de ''underground'' elaborada pelos MCs é o elo que conecta as noções teóricas e o que acontece na rua. Essa noção está diretamente relacionada com o espaço público ocupado, mas também com a forma de se relacionar, de se portar, de ser crítico e independente. ''Underground'' é está longe da visibilidade, ao mesmo tempo em que é visto e vê os que estão ali naquele lugar. Quanto mais se frequenta o espaço, quanto mais se circula nas batalhas da cidade, mais a cultura lhe vê de volta. Essa noção é o agrupamento de diversas formas de se fazer presente e de circular nas batalhas de rima pela cidade de Marabá e região.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
"Galo, a ciência do tambor": reinvenções e memória da música popular soteropolitana no Hip Hop de João Merín
Gabriela Costa Lima (UNICAMP)
Resumo: Quando viemos do oriente para o ocidente trouxemos a magia do couro ancestral e aqui no ocidente os caboclos e os tambores se fundiram. Seja na capoeira e no samba duro aqui na América do Sul, ou no jazz e no break dance na América do Norte. Tudo unido por um elemento matemático nessa equação divina: o Galo. Este trabalho é um resumo da minha dissertação de mestrado, na qual me debruço sobre a trajetória do rapper soteropolitano João Merín. Desde o final do século XX Salvador é um dos principais destinos de carnaval, período histórico que os blocos afro ganharam força e visibilidade internacional por meio da circulação de artistas e produtores de ethnic music e também devido ao boom do axé (Guerreiro, 2000). Neste mesmo período, o Hip Hop baiano se consolidou de forma tão expressiva quanto São Paulo e Rio Grande do Sul, especialmente na capital e no recôncavo baiano. Pode-se afirmar que o rap é uma das músicas populares da cidade, tanto pela força do movimento, quanto porque é institucionalmente reconhecido em museus como o Cidade da Música, que tem como objetivo narrar as histórias das musicalidades soteropolitanas. O trabalho de Merín chama a atenção, pois floresce nas encruzilhadas transatlânticas da música popular soteropolitana, entregando o mais alto nível de qualidade estética do Hip Hop soteropolitano e o molho do groove do pagode baiano, as levadas de samba-reggae e a memória da percussão de Salvador. Com tal contextualização do cenário musical do território de Salvador, vale indicar o objetivo foi fazer uma pesquisa de trajetória de João Merín para também refletir sobre: 1) os conflitos raciais que borbulham sob o véu da baianidade; 2) analisar o pagode, samba-reggae e groove baiano na chave da memória para refletir sobre a influência desses gêneros particulares do território para a consolidação da música de Merín; 3) analisar as dinâmicas e paisagens urbanas e 4) refletir sobre a pluralidade das figuras afro-religiosas que perpassam os caminhos do rapper, que professa a fé da gnose. A metodologia utilizada foi a revisão bibliográfica, estando atenta tanto aos clássicos do Hip-Hop studies, como do Hip Hop baiano e trabalhos que se voltem sobre a música afro, afro-pop e percussiva de Salvador. A etnografia foi absolutamente central e teve duração de 3 meses na capital baiana acompanhando João Merín, circulando por espaços históricos para a música soteropolitana, fazendo entrevistas com Hip Hoppers da região, circulando por museus que narram a história do carnaval, da música afro-percussiva e da arregimentação urbana da cidade.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Música, negritude e ancestralidade sonora. Uma etnografia sobre a construção musical da identidade de um funkeiro amador de Porto Alegre
Guilherme Vieira Bertollo (UFRGS)
Resumo: Esta apresentação aborda a produção musical de um funkeiro em início de carreira, com ênfase nas reverberações entre as práticas musicais e a construção da identidade de um jovem cantor e compositor negro. A partir do enfoque nos processos criativos por meio dos quais a música é feita, portanto, sob a perspectiva dos bastidores da produção musical, a minha pesquisa tem como um dos seus principais objetivos compreender qual a agência (Gell, 2018) da música na produção de identidades. A investigação foi construída a partir do meu engajamento direto nos processos de criação musical do artista amador, incluindo a participação em uma sessão de gravação com um DJ produtor de funk com ampla habilidade em arte de estúdio (Turino, 2008). As categorias funkeiro e músico”, que são bastante mobilizadas na minha dissertação de mestrado, funcionam como indicadores de pertencimento social e constroem laços específicos, se articulando com os marcadores sociais da diferença, como classe, raça, gênero, etnia, nacionalidade e território. Além de aprofundar-me nas redes (Latour, 2006) de relações que constituem o plano de fundo da construção musical da identidade do interlocutor da pesquisa, reflito sobre as mudanças impulsionadas pelas novas tecnologias digitais nas formas de engajamento com a música, tendo como fio condutor o musicar (Small, 1998) de um funkeiro da capital gaúcha.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Um arquivo que faz barulho, barulho de negro: Arquivo King Nino Brown
Luca Amaral Machado (UNICAMP), Victor Hugo Cossa da Silva (CEMI)
Resumo: No início do ano de 2022, nós tivemos um primeiro contato com King Nino Brown e seu arquivo (AKNB). Foi o momento em que esses documentos foram incorporados no acervo do Arquivo Edgard Leuenroth (AEL). Lá, ele faz parte de um conjunto documental maior que está sendo produzido no AEL denominado Arquivo Brasileiro de Hip-Hop. Ao nos aprofundar na história de Nino e de seu arquivo começávamos a compreender a magnitude política e reflexiva destes dois personagens indissociáveis. Uma história de grande circulação de ideias, inclusive internacional, e de exercício político educacional. Assim, começamos uma pesquisa de iniciação científica com o AKNB, tendo como orientação transitar por ele, a fim de tentar compreender suas lógicas e ter um primeiro contato com os documentos nele contidos. A partir desta experiência de trabalho com um arquivo de Hip-Hop, surgiram algumas reflexões.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
As Batalhas de Breaking e a Esportivização da Prática: uma análise situacional do evento Chega Que É Certo - Edição 7”, em João Pessoa/PB
Luiz Carlos de Lima do Nascimento (UFPB)
Resumo: O artigo submetido à 34ª RBA, um recorte que faço da minha pesquisa para a tese em antropologia, partirá de uma análise situacional de uma competição de breaking (dança urbana praticada por b-boys e b-girls - dançarinos e dançarinas de breaking, respectivamente) e tem como finalidade levantar uma discussão quanto as possíveis mudanças nas regras da dança e avaliações/pontuações dos competidores ou mesmo nos comportamentos dos praticantes com a oficialização do breaking como modalidade olímpica. Como uma expressão urbana, há de se considerar a importância dos processos de socialização que tem a rua a sua referência. Saliento aqui a importância dos encontros, sejam eles através dos treinos, das apresentações públicas, e, principalmente, das batalhas/competições/dos rachas, que consolidam o sentimento de pertencimento entre integrantes de diferentes crews/grupos, gera trocas de conhecimentos sobre a dança, conscientizam sobre a discussão de diversos temas de interesses dos praticantes (inclusão social, cidadania etc.) que ocupam e dão sentido aos espaços públicos. Após o sucesso que teve nos Jogos Olímpicos da Juventude, em Buenos Aires, em 2018, o breaking estreia nas Olimpíadas de Paris 2024 como uma nova modalidade esportiva. Assim como alguns esportes urbanos como o ciclismo BMX, skate e basquete 3x3, além da escalada e do surf, a inclusão do breaking como categoria olímpica faz parte das mudanças que vem ocorrendo desde a edição de Tóquio (2020), com a intenção de atrair a audiência do público mais jovem. A competição de breaking nos Jogos Olímpicos Paris 2024 consiste em dois eventos dividido por gênero (feminino e masculino), 16 b-boys e 16 b-girls que se enfrentarão (através de movimentos improvisados e ritmados a partir das músicas postas pelo DJ) em batalhas (1x1) solo. Com exceção do país sede, cada Comitê Olímpico Nacional (CON) poderá contar, no máximo, com 4 competidores, sendo dois por gênero. As vagas serão distribuídas tendo como base um ranking que observará o desempenho dos atletas no Mundial ocorrido em 2023 na Bélgica, os campeonatos continentais (como o Pan-Americano 2023), além de uma série de classificatórias que ocorrerão em 2024. Acompanharei durante um final de semana (19, 20 e 21 de abril) os competidores no evento Chega Que É Certo - Edição 7”, que acontecerá em João Pessoa/PB, e buscarei compreender como o breaking, uma prática que surge nas ruas, é (ou não) afetada pela esportivização”, pela individualização da prática, visto a importância das crews/dos grupos, pela divisão da modalidade por gênero, entre outros pontos.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Que Rap é esse? Histórias E Narrativas Do Movimento Hip Hop Em Mato Grosso Do Sul
Matheus Firmino Leite (UFMS)
Resumo: Este trabalho visa contribuir com os estudos que têm sido reconhecidos como parte do empreendimento dos Hip-hop Studies e apresenta o conjunto de reflexões parciais realizadas com o objetivo de estabelecer reflexões historiográficas consistentes sobre a História e historiografia do Hip Hop na diáspora afro-atlântica (Butler, 2020). Partindo dos estudos de Anna Raquel Motta de Souza (2005) e Volnei José Righi (2012) apontamos certa limitação metodológica quanto à escrita e teoria da história do Hip Hop. Os textos são tomados como fontes históricas que informam as narrativas autorreferentes do movimento e cultura Hip Hop. Além disso, articulamos fontes digitais publicadas nos sites Rap Dab (rapdab.com.br) e Campo Grande News (campograndenews.com.br) que centralizam a polifonia narrativa do Hip Hop como desafio específico a historiografia. Desse modo nos propomos a refletir os desafios éticos e políticos levantados pela investigação de um movimento cultural protagonizado por juventudes subalternizadas (índigenas, negros, periféricos, etc.,) que colocam suas demandas e reivindicações nas suas expressões artísticas. Neste sentido concluímos que o Hip Hop desorganiza os supostos estabelecidos dentro da historiografia ao construírem sentidos dialógicos para categorias como "tradição" e "memória".

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Conexões do Rap: Pensando sobre Identidades
Maysa Lannah da Silva (UNB), Marina Ribeiro Souza Santos Reis (UNB), Larissa Santos Rabelo (UNB)
Resumo: O presente trabalho tem em vista estabelecer compreensão sobre as temáticas relacionadas à identidade, enquadramento e cultura hip-hop como interlocutores na produção de saberes e construção do documentário Conexões do Rap”. Terá como enfoque principal a relação entre identidades, enquadramentos e suas representações dentro do movimento hip-hop, bem como seus desdobramentos no Rap, movimento artístico da cultura hip-hop.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Roda Cultural do Alcântara: hip hop e cultura gonçalense em movimento.
Nathan Anderson Menezes Pacheco (UFF)
Resumo: A Roda Cultural do Alcântara (RCA) é uma das rodas culturais que acontecem no espaço público do município de São Gonçalo, o segundo mais populoso do Rio de Janeiro, com caráter independente e realização quinzenal. Fundada em 2013, a RCA articula os quatro elementos do hip hop simultaneamente - MC, DJ, breakdance e grafite - atraindo um público jovem que se reúne para veicular essas modalidades de cultura na cidade. Por meio do registro fotográfico e de entrevistas com os atuais articuladores, somados à observação sistemática dos encontros na Praça Chico Mendes e também das reuniões que antecedem sua realização, a pesquisa tem como objetivo revelar a RCA como uma precursora da cultura e da arte urbana no município. Assim, busca-se evidenciar como os frequentadores constroem o conceito de cultura na prática a partir de suas vivências cotidianas.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Uma etnografia do MCing recifense a luz das tradições do improviso na cultura popular local e dos modelos globais do hip-hop.
Neilton Felix da Silva (UFPE)
Resumo: O trabalho visou uma etnografia analítica, descrevendo os duelos verbais praticados por jovens MC’s de idade entre 14 e 30 anos, se autoidentificando negros e oriundos das periferias do Recife e RMR, que ocorrem nas sextas-feiras à noite na escadaria da Rua do Hospício, um evento que batizaram Batalha da Escadaria”. Inscrevendo-se em uma das 4 (quatro) práticas da cultura hip hop (MCing; Djing; Breakdance e Grafiti), os MC’s (Mestres de Cerimonia) da Escadaria, escolheram o lugar como provocação em relação a sua pouca acessibilidade aos locais, simbolizando o consumo cultural e mercantil, para elaborar uma prática que assimila influências simbólicas e semióticas do rap e do slam (ambas práticas de improviso, respectivamente musical e poético, associadas ao hip-hop) sem reduzir-se a elas, com a particularidade de brincar com trocas de insultos e fortes gírias. Estes rituais de insultos já foram amplamente examinados na literatura antropológica nos EUA, mas pouco na antropologia do hip-hop no Brasil, perspectiva na qual o Pernambuco é pouco representado. Metodologicamente, associei a pesquisa a três perspectivas pertinentes a proposta: 1) a antropologia da performance, analítica e metodologicamente, para dar conta dos aspectos ritualísticos, simbólicos, linguísticos e da relação estética e política tais como significam para os MC’s, seu público e a sociedade civil abrangente; 2) teorias pós-coloniais, focando os conceitos de contra-cultura e dupla consciência”, para examinar a tensão entre particularismo racial/universais modernos, e a tensão gobal/local no processo de apropriação e transformação do modelo global pelos MC’s recifenses; 3) a perspectiva interseccional do espaço (raça, gênero e classe), para entender o processo de territorialização urbana do fenômeno. Outro aspecto inovador do projeto é o exame da contribuição das tradições populares dos duelos de improviso locais, para contribuir a uma antropologia do hip-hop pernambucano.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Nossos Livros Foram discos: potencialidades pedagógicas do rap para a educação das relações étnico-raciais
Paulo Henrique Ferreira Borges dos Santos (Prefeitura Municipal de Nova Europa)
Resumo: Esta comunicação tem por objetivo apresentar dados do estudo de mestrado intitulado Nossos Livros Foram discos: potencialidades pedagógicas do rap para a educação das relações étnico-raciais”, onde objetivamos identificar e analisar dimensões epistemológicas do rap que podem contribuir com práticas pedagógicas escolares, transversalmente ancoradas na noção de Educação para as Relações Étnico-Raciais. Metodologicamente, as análises foram realizadas por meio de levantamento bibliográfico, análise de quatro entrevistas e investigação sobre as obras de rap: O Glorioso Retorno de quem Nunca Esteve Aqui (Emicida, 2013) e Univerguetto - relatos da zona oeste (Ptcho Packer, 2023). O trabalho se desenvolveu a partir da noção de que, por estarmos inseridos em um sociedade onde a escrita e a razão são hegemônicas, um mundo logocêntrico (Hall, 2003) e eurocêntrico, grande parte das/os docentes têm sua formação fixada em certa concepção que considera e elege os conhecimentos científicos como única forma de saber legítima, levando a limitação de compreensão sobre saberes outros (Gomes, 2008). No decorrer das análises, primeiramente, observamos que se tratando do mundo Atlântico negro (Gilroy, 2001), a música é proeminente na construção e transmissão de conhecimentos. Sob essa ótica, entendemos que o rap permite o encontro de docentes e discentes com uma prática vinculada à tradição de pensamento e expressão das populações negras. Concomitantemente, através dos princípios colocados pelo Parecer CNE/CP 003/04 e que devem conduzir a Educação das Relações Étnico-Raciais e o Ensino de História e Cultura Africana e Afro-Brasileira: consciência política e histórica da diversidade, fortalecimento de identidades e de direito, ações educativas de combate ao racismo e a discriminações. Concluímos que o rap pode contribuir com práticas pedagógicas transversalmente alicerçadas na: valorização das identidades ligadas à ancestralidade africana; rompimento com imagens negativas forjadas contra as populações negras; desconstrução do mito da democracia racial brasileira; compreensão de que a sociedade é formada por grupos étnico-raciais distintos; valorização da oralidade, da corporeidade e da arte, marcas da cultura de raiz africana, ao lado da escrita.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Epistemologia feminista negra do barulho: A musicalidade negra e genderizada no hip-hop brasileiro
Steffane Santos (UFMG)
Resumo: No Brasil amplia-se um expoente do movimento hip-hop a partir da música negra periférica. O movimento, a batida, as letras envoltas em um misto de expressões de pensamento, as muitas batidas por muito apresentam um barulho - a construção de uma sonoridade que dá vazão ao narrar a si próprio, a tornar-se sujeito de seu próprio discurso, como traz Lélia Gonzalez. Mulheres negras cis, transexuais e transvestis são agentes epistemológicas dentro de diversos espaços, inclusive no cerne da musicalidade. Neste sentido, o presente trabalho objetiva explorar como esses corpos brasileiros, genderizados e racializados têm produzido saberes a partir da música oriunda do hip-hop em transformações. Na mesma medida em que aciono, o meu corpo enquanto uma mulher negra, cis, bisseuxal, periférica e inserida na cultura hip-hop, ouvinte e vivente da vida envolta à epistemologia feminista negra do barulho. A episteme produzida no fazer e narrar a si próprio, em primeira pessoa, é uma faceta constitutiva da composição da epistemologia feminista negra do barulho, demarcando lugar de sujeitas de nossos corpos marcados por opressões mas também por faces de resistência, saber, ancestralidade e vivência cotidiana. Explorando as contribuições de Patricia Hill Collins acerca da epistemologia feminista negra para vislumbrar uma epistemologia feminista negra do barulho que rompe com o silêncio, desafia horizontes de existências, questiona a epistemologia dominante e corrobora com o tornar-se corpo-sujeito do conhecimento e da própria existência. Entendido sob luz dos ritmos do atlântico negro de Paul Gilroy. Discutindo horizontes antropológicos e possibilidades para a visualização deste fazer que se reinventa e intersecta com marcadores sociais. A presença preponderante da experiência, à luz de elementos da diáspora negra como tambores, atabaques, tantans e berimbaus, o uso da linguagem disruptiva que é criada e nomeada como forma são facetas deste saber que se alimenta e é criado por estes corpos a partir de ritmos inventivos.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Desafios de representação: estudos brasileiros sobre rap e a metapragmática dos duelos de rimas
Thiago Cazarim da Silva (CEFET/MG)
Resumo: Nenhuma categoria parece tão onipresente no universo musical e das pesquisas acadêmicas sobre cultura hip-hop quanto a de representação. Camargos (2016, p. 16 – 17) resume bem o sentido sociopolítico desta categoria para os rappers brasileiros ao pontuar que a categoria representar articula a dualidade representante/representado como relação de co-pertencimento legítimo entre quem empresta sua voz aos que não a possuem. Tendo identificado uma tendência predominante no campo brasileiro de estudos de rap de enfatizar o sentido sociopolítico do rap em detrimento de uma descrição sistemática de seus desenvolvimentos poéticos. Enquanto o poder de representação política do rap é amplamente representado nos estudos acadêmicos, seus procedimentos e técnicas de representação (sua poética) não têm tido a devida a representação acadêmica. De toda forma, metarrepresentações são onipresentes em textos e performances de rap. Um exemplo bastante emblemático de autorreferencialidade literomusical é o título e os primeiros versos da mais famosa canção do rapper Sabotage (2001): O rap é compromisso/ não é viagem/ se pá fica esquisito”, em que as categorias compromisso e viagem apontam ao mesmo tempo para aspectos sociopolíticos e poéticos. O rap, para ser rap (voz comunitária e gênero musical), precisa ser assim (“compromisso”) e não assado (“viagem”). No entanto, nem sempre há equivalência entre metarrepresentações sociopolíticas e poéticas, o que coloca a necessidade de olhar para as especificidades de ambas as formas de reflexividade a fim de compreender suas possíveis articulações, desalinhamentos e tensões. O objetivo deste trabalho é discutir a dimensão metapragmática do rap, mostrando articulações e tensionamentos entre sueus aspectos performáticos, culturais, territoriais e políticos. Para tal, desdobro aqui resultados de trabalhos realizados sozinho e com outros pesquisadores, tomando como referenciais teóricos os estudos de pragmática e da Análise de Conversa Etnometodológica em conjunto com dados gerados em minha pesquisa de doutorado. Como resultado das análises apresentadas, pode-se inferir que a metapragmática poética é elemento fundamental para estabelecer o reconhecimento político do rap, o que muda a percepção sobre a importância dos aspectos poéticos do rap para sua validação sociopolítica coletiva. A partir dessa percepção, retorno ao problema dos desafios de representação tal como lançados pelos próprios rappers para repensar a posição dos pesquisadores do tema.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Música, Teoria social e o Brasil sob a ótica dos Racionais MC’s: o rap como uma afro intelectualidade periférica insurgente
Waldemir Rosa (UNILA)
Resumo: Durante minha pesquisa de campo para o doutorado, meus interlocutores, em diversas ocasiões, ao descobriam que eu era da universidade e estava fazendo uma pesquisa sobre o Hip Hop em Goiânia, me colocaram a seguinte questão como o hip hop entrou na sua vida?”. A história, enquanto narrativa, é um elemento importante para se entender a dinâmica do Hip Hop no Brasil, e seus integrantes apresentam uma fala sócio-historicizada onde os elementos de uma sociologia da interação entre brancos e negros, assim como uma perspectiva histórica do presente, é utilizada para referirem-se a si próprios, pela afirmação de suas identidades, e sobre a sociedade. Assim, a pergunta como tinha chegado ao campo? não era apenas uma curiosidade, fazia parte de um processo investigativo que, ao mesmo tempo, possibilitava me localizar diante dos meus interlocutores ao mesmo tempo que buscava corroborar uma tese difusa sobre autoridade deles em construir a narrativa sobre o Hip Hop/Rap. Buscamos compreender a fala sócio-historicizada como uma intelectualidade insurgente, racializada e periférica para operar um giro epistêmico da forma como o Rap, como a manifestação musical do Hip Hop, vem sendo abordado nos estudos acadêmicos. A tese apresentada aqui é bem simples, apesar de pouco explorada na atualidade. Ao observarmos os raps dos Racionais MC’s os encaramos como uma teoria intelectualidade insurgente, racializada e periférica que interpreta o Brasil a partir da perspectiva daqueles que não ambicionam estar na posição de impor aos outros sua concepção de mundo e nem os aprisionar nas projeções políticas de sua subjetividade. Não se trata de dar a voz aos que perderam a guerra colonial, mas ampliar a audição acadêmica das vozes que existem para além da oposição dialética entre colonizador/colonizado ou senhor/escravizado. O caminho percorrido aqui é da margem da auto-etnografia para o interior de uma teoria insurgente, racializada e periférica. Tal movimento não busca transformar meus questionamentos identitários – como antropólogo negro que tem como objeto de análise outras intelectualidades negras – como o centro na narrativa, mas utilizá-los como a localização estratégica para explicitar a aproximação da obra dos Racionais MC’s. A análise das letras dos Racionais MC’s em três décadas é realizada como uma trajetória intelectual que se articula a partir de uma identidade racializada e periférica e desafia a teoria social brasileira sobre o Brasil como uma democracia racial e de processo de mestiçagem harmoniosa e pacífica. Aqui indicamos que o movimento crítico realizado pelos Racionais MC’s é fundado na reconstrução identitária do ser colonizado/escravizado como sujeitos autônomos na construção de suas narrativas sobre a sociedade brasileira.