Grupos de Trabalho (GT)
GT 093: Ritmos negros e periféricos: Hip-hop, Música e Identidades
Coordenação
Omar Ribeiro Thomaz (UNICAMP), Carlos Benedito Rodrigues da Silva (UFMA)
Resumo:
Este grupo busca possibilitar a socialização e o debate de pesquisas concluídas ou em andamento, enfocando a música, ritmos e movimentos socioculturais como elementos de mobilização coletiva, definição de linguagens e códigos de comunicação, com ênfase na construção de performances entre grupos de juventudes nas diversas regiões brasileiras, ou mesmo em outros países, a partir das tendências rítmicas veiculadas pelos sistemas midiáticos. Cada vez mais, expressões artísticas que eram assumidas como simplesmente formas de lazer, são acionadas e compreendidas como formas de se expor posições políticas e afirmação de identidades.
Dentre essas expressões, a cultura Hip-hop conquistou espaço relevante nas produções acadêmicas. A proliferação da cultura Hip-hop pelo mundo propiciou uma série de estudos sobre a temática, consolidando o que tem sido chamado de Hip-hop Studies (NEAL, 2011). Destacam-se, nessa área, pesquisas locais e comparativas sobre Estados Unidos, Caribe, Américas, Europa, Ásia, Oceania e África. Nestes diferentes contextos, a cultura Hip-hop tem integrado pesquisadores das mais diversas áreas do conhecimento, especialmente ciências sociais e com significativa produção em antropologia, os quais buscam compreender as dinâmicas sociais dos contextos urbanos. O Hip-hop studies busca elucidar não apenas o que é o Hip-hop e as suas idiossincrasias, mas, sim, flagrar o que ele revela sobre as experiências de vida em contextos de precariedade.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Arielly Nazaré Jorge Cordeiro (UEPA)
Resumo: O presente estudo concentra-se em discutir as dinâmicas estabelecidas por mulheres e pessoas LGBTQIA+ na
batalha de rima Battle Girl Power em Belém/PA, buscando apresentar se engajamento na produção deste espaço
incentiva o debate sobre marcadores sociais de gênero, raça, classe e sexualidade, possibilitando que
artistas demarquem através da rima e poesia seus posicionamentos políticos em uma sociedade que as quer
silenciadas. Pretende-se investigar se o rap, seguimento do movimento hip hop, encontra nestes sujeitos um
mecanismo de resistência e mitigação das disparidades sociais. Além disso, busca-se contribuir para o
fortalecimento do cenário hip hop na Região Metropolitana de Belém (RMB), e consequentemente, para o estado
do Pará. Para tanto, a pesquisa utiliza uma abordagem crítica combinada à entrevistas semi-estruturadas e
observação participante na batalha de rima organizada pela Battle Girl Power na 26º Feira Pan-Amazônica do
Livro. Enquanto referencial teórico este trabalho utiliza conceitos apresentados por José Guilherme Magnani
(1992), Leila Leite (2019), Patricia Hill Collins (2016) e Lélia Gonzalez (1984).
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Clayton da Silva Guerreiro (UNIFESP)
Resumo: Esse trabalho propõe um sobrevoo analítico sobre o álbum Roteiro para Aïnouz, vol. 2, do rapper Don L.
Ao longo do paper, irei argumentar que a obra evidencia uma estética (Rancière, 2009) revolucionária
singular na cena contemporânea do Rap, conforme a posição abertamente comunista de seu autor, que se
autodeclara mais guerrilheiro que MC.
A singularidade da obra se expressa, em primeiro lugar, pela sobreposição irregular de múltiplas
temporalidades, desde a colonização portuguesa no Brasil (com o massacre das populações indígenas e de
africanos escravizados), passando pela proposta de uma luta armada contra o capital, até chegar ao seu
ápice, quando a revolução socialista poderia ser, enfim, consolidada.
As vozes sobrepostas do eu-lírico de Don L e de outras/os rappers que participam da obra (como Tasha &
Tracie, Alt Niss, Djonga, Mcs Junior e Leonardo, Rael, Terra Preta, entre outros) destacam que as
desigualdades atualmente observadas no Brasil resultam da consolidação de práticas historicamente gestadas
no seio de instituições responsáveis por sua perpetuação. Diante disso, a obra apresenta fartas alusões ao
papel do cristianismo e da violência policial no genocídio dos povos indígenas, na exploração do povo negro,
na violência de gênero e na consolidação do capital acumulado por bilionários ao longo dos séculos.
Diante de um cenário de inúmeras desigualdades consolidadas pela violência do capital, o rapper parece não
ver outra opção para além da violência revolucionária. Enquanto a primeira aparece tem termos como sangue,
massacre, estupro, torturaram, escravizaram e mataram, o léxico revolucionário conta com categorias como
chumbo no peito, vai morrer e guerrilheiro. Além disso, são inúmeras as alusões às revolucionárias e aos
revolucionários de esquerda que optaram pela superação das desigualdades por meio da luta armada, entre
as/os quais o autor se inclui.
Referências
MARX, Karl. O Capital. São Paulo: Boitempo, 2011.
RANCIÈRE, Jacques. A partilha do Sensível: estética e política. Tradução: Mônica Costa Netto. 2a Ed, São
Paulo; Editora 34, 2009.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Diogo Raul Zanini (UFRGS)
Resumo: O presente texto visa analisar o processo de construção do primeiro museu voltado para o Hip Hop da
América Latina, o Museu da Cultura Hip Hop RS (MUCHRS). Neste artigo serão apresentados dados analisados na
Pesquisa Histórica do MUCHRS (realizada entre 2021 a 2022) e os desafios históricos e contemporâneos da
cultura Hip Hop, a mais de 40 anos socializando as juventudes negras e periféricas no Estado do Rio Grande
do Sul.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Edson Linhares da Silva (UFSCAR)
Resumo: Neste trabalho, pretendo demonstrar como o rap nacional, por meio de seus/suas artistas
contemporâneos/as, pode ser considerado um dos desdobramentos do Movimento de Negritude, enriquecendo as
discussões sobre identidade e cultura negra de maneira intensa e radical. Em outras palavras, meu objetivo
para esse GT é abordar a relação entre o Movimento de Negritude, que surgiu na década de 1930 entre
estudantes africanos e afro-diaspóricos de língua francesa, e o rap nacional contemporâneo como uma de suas
possíveis reverberações.
Partirei dos dados produzidos em um dos capítulos de minha dissertação recentemente finalizada. Durante a
pesquisa, conduzi dois experimentos por meio de dinâmicas de Grupos Focais e entrevistas individuais com
os/as participantes, analisando suas percepções e experiências em relação à narrativa do rap. Ao examinar os
depoimentos, identifiquei como as características presentes nas letras e ações dos/as rappers brasileiros
guardam relação com as propostas do Movimento de Negritude. Essas manifestações artísticas se destacam por
sua abordagem radical no enfrentamento ao racismo na contemporaneidade, promovendo a valorização e a
afirmação da identidade negra.
O retorno obtido dos/as participantes da pesquisa em relação à narrativa do rap desempenha um papel
fundamental em suas vivências, identidades e subjetividades. Além disso, os dados produzidos sugerem que a
identidade contemporânea é fluida, variando conforme o contexto e a perspectiva de cada indivíduo. A
dinâmica de construção da identidade por meio do rap é um processo complexo, influenciado por fatores
sociais, culturais e históricos.
Sendo assim, busquei examinar como a noção de negritude se torna fundamental para as pessoas negras,
possibilitando o desenvolvimento de novas estratégias no enfrentamento das posições subalternas
historicamente atribuídas a elas. A análise das letras e dos discursos revelam o rap não apenas como uma
forma de expressão artística, mas também como um instrumento de produção de conhecimento, intelectual,
resistência e empoderamento para as comunidades negras.
Portanto, este trabalho visa contribuir para uma compreensão das possíveis influências entre o Movimento de
Negritude no rap nacional contemporâneo e suas narrativas, destacando a importância dessa expressão cultural
na luta por identidade e justiça social. Ao examinar a conexão entre rap, produção de conhecimento,
identidade negra e movimento de resistência, espero oferecer insights significativos para o debate acadêmico
e contribuir para os hip-hop studies.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Estevão de Figueiredo Ribeiro (IFPA), Hiran de Moura Possas (UNIFESSPA)
Resumo: O RAP (do inglês, Rhythm And Poetry) é um dos elementos da ''cultura Hip-Hop'', acontecimento histórico
que surge no Bronx (EUA) na década de 70 e se espalha pelo mundo em meados dos anos 80. Chegando nas
diferentes periferias do Brasil e do mundo, tem a característica potente de se tornar uma referência para
jovens desse território, em sua maioria negros, que se encontram em espaços públicos da cidade. As batalhas
de rima, uma disputa entre MCs (Mestres de Cerimônia) com rimas improvisadas, faz com que jovens periféricos
ocupem o espaço urbano, originalmente não previsto para os mesmos. Esse é o objetivo desse trabalho:
entender como isso acontece, quais são as forças reativas que buscam impedi-la de acontecer e como se dá a
dinâmica chamada ''underground'', que acontece nas ruas de Marabá e região.
Para tal, estamos no processo de realização de uma etnografia e coleta de dados. O trabalho de campo na
cidade, no contexto das batalhas de rima, tem se revelado necessário no sentido de observar a realidade a
partir de ''um ponto de vista descentrado'' (GOLDMAN, 2003, p. 468), de forma que a percepção metodológica
do pesquisador deixa de ser um conjunto de técnicas, mas também uma apreensão teórica da realidade dos
sujeitos com quem dialogamos.
Dialogando com essa proposta metodológica, estamos utilizando autores que versam sobre as noções de espaço e
território, entendendo-o sempre como um campo de forças que impedem que seja visto como algo dado, mas
dentro de um intenso conflito, envolto num processo de construção. O espaço também é esse lugar permeado por
inter-relações e, por assim ser, deve ser percebido como múltiplo, heterogêneo e em que há coexistência
(MASSEY, 2017).
A noção de ''underground'' elaborada pelos MCs é o elo que conecta as noções teóricas e o que acontece na
rua. Essa noção está diretamente relacionada com o espaço público ocupado, mas também com a forma de se
relacionar, de se portar, de ser crítico e independente. ''Underground'' é está longe da visibilidade, ao
mesmo tempo em que é visto e vê os que estão ali naquele lugar. Quanto mais se frequenta o espaço, quanto
mais se circula nas batalhas da cidade, mais a cultura lhe vê de volta. Essa noção é o agrupamento de
diversas formas de se fazer presente e de circular nas batalhas de rima pela cidade de Marabá e região.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Gabriela Costa Lima (UNICAMP)
Resumo: Quando viemos do oriente para o ocidente trouxemos a magia do couro ancestral e aqui no ocidente os
caboclos e os tambores se fundiram. Seja na capoeira e no samba duro aqui na América do Sul, ou no jazz e no
break dance na América do Norte. Tudo unido por um elemento matemático nessa equação divina: o Galo. Este trabalho é um resumo da minha dissertação de mestrado, na qual me debruço sobre a trajetória do rapper
soteropolitano João Merín. Desde o final do século XX Salvador é um dos principais destinos de carnaval,
período histórico que os blocos afro ganharam força e visibilidade internacional por meio da circulação de
artistas e produtores de ethnic music e também devido ao boom do axé (Guerreiro, 2000). Neste mesmo período,
o Hip Hop baiano se consolidou de forma tão expressiva quanto São Paulo e Rio Grande do Sul, especialmente
na capital e no recôncavo baiano.
Pode-se afirmar que o rap é uma das músicas populares da cidade, tanto pela força do movimento, quanto
porque é institucionalmente reconhecido em museus como o Cidade da Música, que tem como objetivo narrar as
histórias das musicalidades soteropolitanas. O trabalho de Merín chama a atenção, pois floresce nas
encruzilhadas transatlânticas da música popular soteropolitana, entregando o mais alto nível de qualidade
estética do Hip Hop soteropolitano e o molho do groove do pagode baiano, as levadas de samba-reggae e a
memória da percussão de Salvador.
Com tal contextualização do cenário musical do território de Salvador, vale indicar o objetivo foi fazer uma
pesquisa de trajetória de João Merín para também refletir sobre: 1) os conflitos raciais que borbulham sob o
véu da baianidade; 2) analisar o pagode, samba-reggae e groove baiano na chave da memória para refletir
sobre a influência desses gêneros particulares do território para a consolidação da música de Merín; 3)
analisar as dinâmicas e paisagens urbanas e 4) refletir sobre a pluralidade das figuras afro-religiosas que
perpassam os caminhos do rapper, que professa a fé da gnose.
A metodologia utilizada foi a revisão bibliográfica, estando atenta tanto aos clássicos do Hip-Hop studies,
como do Hip Hop baiano e trabalhos que se voltem sobre a música afro, afro-pop e percussiva de Salvador. A
etnografia foi absolutamente central e teve duração de 3 meses na capital baiana acompanhando João Merín,
circulando por espaços históricos para a música soteropolitana, fazendo entrevistas com Hip Hoppers da
região, circulando por museus que narram a história do carnaval, da música afro-percussiva e da
arregimentação urbana da cidade.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Guilherme Vieira Bertollo (UFRGS)
Resumo: Esta apresentação aborda a produção musical de um funkeiro em início de carreira, com ênfase nas
reverberações entre as práticas musicais e a construção da identidade de um jovem cantor e compositor negro.
A partir do enfoque nos processos criativos por meio dos quais a música é feita, portanto, sob a perspectiva
dos bastidores da produção musical, a minha pesquisa tem como um dos seus principais objetivos compreender
qual a agência (Gell, 2018) da música na produção de identidades. A investigação foi construída a partir do
meu engajamento direto nos processos de criação musical do artista amador, incluindo a participação em uma
sessão de gravação com um DJ produtor de funk com ampla habilidade em arte de estúdio (Turino, 2008). As
categorias funkeiro e músico, que são bastante mobilizadas na minha dissertação de mestrado, funcionam como
indicadores de pertencimento social e constroem laços específicos, se articulando com os marcadores sociais
da diferença, como classe, raça, gênero, etnia, nacionalidade e território. Além de aprofundar-me nas redes
(Latour, 2006) de relações que constituem o plano de fundo da construção musical da identidade do
interlocutor da pesquisa, reflito sobre as mudanças impulsionadas pelas novas tecnologias digitais nas
formas de engajamento com a música, tendo como fio condutor o musicar (Small, 1998) de um funkeiro da
capital gaúcha.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Luca Amaral Machado (UNICAMP), Victor Hugo Cossa da Silva (CEMI)
Resumo: No início do ano de 2022, nós tivemos um primeiro contato com King Nino Brown e seu arquivo (AKNB). Foi
o momento em que esses documentos foram incorporados no acervo do Arquivo Edgard Leuenroth (AEL). Lá, ele
faz parte de um conjunto documental maior que está sendo produzido no AEL denominado Arquivo Brasileiro de
Hip-Hop. Ao nos aprofundar na história de Nino e de seu arquivo começávamos a compreender a magnitude
política e reflexiva destes dois personagens indissociáveis. Uma história de grande circulação de ideias,
inclusive internacional, e de exercício político educacional.
Assim, começamos uma pesquisa de iniciação científica com o AKNB, tendo como orientação transitar por ele, a
fim de tentar compreender suas lógicas e ter um primeiro contato com os documentos nele contidos. A partir
desta experiência de trabalho com um arquivo de Hip-Hop, surgiram algumas reflexões.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Luiz Carlos de Lima do Nascimento (UFPB)
Resumo: O artigo submetido à 34ª RBA, um recorte que faço da minha pesquisa para a tese em antropologia, partirá
de uma análise situacional de uma competição de breaking (dança urbana praticada por b-boys e b-girls -
dançarinos e dançarinas de breaking, respectivamente) e tem como finalidade levantar uma discussão quanto as
possíveis mudanças nas regras da dança e avaliações/pontuações dos competidores ou mesmo nos comportamentos
dos praticantes com a oficialização do breaking como modalidade olímpica.
Como uma expressão urbana, há de se considerar a importância dos processos de socialização que tem a rua a
sua referência. Saliento aqui a importância dos encontros, sejam eles através dos treinos, das apresentações
públicas, e, principalmente, das batalhas/competições/dos rachas, que consolidam o sentimento de
pertencimento entre integrantes de diferentes crews/grupos, gera trocas de conhecimentos sobre a dança,
conscientizam sobre a discussão de diversos temas de interesses dos praticantes (inclusão social, cidadania
etc.) que ocupam e dão sentido aos espaços públicos.
Após o sucesso que teve nos Jogos Olímpicos da Juventude, em Buenos Aires, em 2018, o breaking estreia nas
Olimpíadas de Paris 2024 como uma nova modalidade esportiva. Assim como alguns esportes urbanos como o
ciclismo BMX, skate e basquete 3x3, além da escalada e do surf, a inclusão do breaking como categoria
olímpica faz parte das mudanças que vem ocorrendo desde a edição de Tóquio (2020), com a intenção de atrair
a audiência do público mais jovem.
A competição de breaking nos Jogos Olímpicos Paris 2024 consiste em dois eventos dividido por gênero
(feminino e masculino), 16 b-boys e 16 b-girls que se enfrentarão (através de movimentos improvisados e
ritmados a partir das músicas postas pelo DJ) em batalhas (1x1) solo. Com exceção do país sede, cada Comitê
Olímpico Nacional (CON) poderá contar, no máximo, com 4 competidores, sendo dois por gênero. As vagas serão
distribuídas tendo como base um ranking que observará o desempenho dos atletas no Mundial ocorrido em 2023
na Bélgica, os campeonatos continentais (como o Pan-Americano 2023), além de uma série de classificatórias
que ocorrerão em 2024.
Acompanharei durante um final de semana (19, 20 e 21 de abril) os competidores no evento Chega Que É Certo -
Edição 7, que acontecerá em João Pessoa/PB, e buscarei compreender como o breaking, uma prática que surge
nas ruas, é (ou não) afetada pela esportivização, pela individualização da prática, visto a importância das
crews/dos grupos, pela divisão da modalidade por gênero, entre outros pontos.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Matheus Firmino Leite (UFMS)
Resumo: Este trabalho visa contribuir com os estudos que têm sido reconhecidos como parte do empreendimento dos
Hip-hop Studies e apresenta o conjunto de reflexões parciais realizadas com o objetivo de estabelecer
reflexões historiográficas consistentes sobre a História e historiografia do Hip Hop na diáspora
afro-atlântica (Butler, 2020). Partindo dos estudos de Anna Raquel Motta de Souza (2005) e Volnei José Righi
(2012) apontamos certa limitação metodológica quanto à escrita e teoria da história do Hip Hop. Os textos
são tomados como fontes históricas que informam as narrativas autorreferentes do movimento e cultura Hip
Hop. Além disso, articulamos fontes digitais publicadas nos sites Rap Dab (rapdab.com.br) e Campo Grande
News (campograndenews.com.br) que centralizam a polifonia narrativa do Hip Hop como desafio específico a
historiografia. Desse modo nos propomos a refletir os desafios éticos e políticos levantados pela
investigação de um movimento cultural protagonizado por juventudes subalternizadas (índigenas, negros,
periféricos, etc.,) que colocam suas demandas e reivindicações nas suas expressões artísticas. Neste sentido
concluímos que o Hip Hop desorganiza os supostos estabelecidos dentro da historiografia ao construírem
sentidos dialógicos para categorias como "tradição" e "memória".
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Maysa Lannah da Silva (UNB), Marina Ribeiro Souza Santos Reis (UNB), Larissa Santos Rabelo (UNB)
Resumo: O presente trabalho tem em vista estabelecer compreensão sobre as temáticas relacionadas à identidade,
enquadramento e cultura hip-hop como interlocutores na produção de saberes e construção do documentário
Conexões do Rap. Terá como enfoque principal a relação entre identidades, enquadramentos e suas
representações dentro do movimento hip-hop, bem como seus desdobramentos no Rap, movimento artístico da
cultura hip-hop.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Nathan Anderson Menezes Pacheco (UFF)
Resumo: A Roda Cultural do Alcântara (RCA) é uma das rodas culturais que acontecem no espaço público do
município de São Gonçalo, o segundo mais populoso do Rio de Janeiro, com caráter independente e realização
quinzenal. Fundada em 2013, a RCA articula os quatro elementos do hip hop simultaneamente - MC, DJ,
breakdance e grafite - atraindo um público jovem que se reúne para veicular essas modalidades de cultura na
cidade. Por meio do registro fotográfico e de entrevistas com os atuais articuladores, somados à observação
sistemática dos encontros na Praça Chico Mendes e também das reuniões que antecedem sua realização, a
pesquisa tem como objetivo revelar a RCA como uma precursora da cultura e da arte urbana no município.
Assim, busca-se evidenciar como os frequentadores constroem o conceito de cultura na prática a partir de
suas vivências cotidianas.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Neilton Felix da Silva (UFPE)
Resumo: O trabalho visou uma etnografia analítica, descrevendo os duelos verbais praticados por jovens MCs de
idade entre 14 e 30 anos, se autoidentificando negros e oriundos das periferias do Recife e RMR, que ocorrem
nas sextas-feiras à noite na escadaria da Rua do Hospício, um evento que batizaram Batalha da Escadaria.
Inscrevendo-se em uma das 4 (quatro) práticas da cultura hip hop (MCing; Djing; Breakdance e Grafiti), os
MCs (Mestres de Cerimonia) da Escadaria, escolheram o lugar como provocação em relação a sua pouca
acessibilidade aos locais, simbolizando o consumo cultural e mercantil, para elaborar uma prática que
assimila influências simbólicas e semióticas do rap e do slam (ambas práticas de improviso, respectivamente
musical e poético, associadas ao hip-hop) sem reduzir-se a elas, com a particularidade de brincar com trocas
de insultos e fortes gírias. Estes rituais de insultos já foram amplamente examinados na literatura
antropológica nos EUA, mas pouco na antropologia do hip-hop no Brasil, perspectiva na qual o Pernambuco é
pouco representado. Metodologicamente, associei a pesquisa a três perspectivas pertinentes a proposta: 1) a
antropologia da performance, analítica e metodologicamente, para dar conta dos aspectos ritualísticos,
simbólicos, linguísticos e da relação estética e política tais como significam para os MCs, seu público e a
sociedade civil abrangente; 2) teorias pós-coloniais, focando os conceitos de contra-cultura e dupla
consciência, para examinar a tensão entre particularismo racial/universais modernos, e a tensão gobal/local
no processo de apropriação e transformação do modelo global pelos MCs recifenses; 3) a perspectiva
interseccional do espaço (raça, gênero e classe), para entender o processo de territorialização urbana do
fenômeno. Outro aspecto inovador do projeto é o exame da contribuição das tradições populares dos duelos de
improviso locais, para contribuir a uma antropologia do hip-hop pernambucano.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Paulo Henrique Ferreira Borges dos Santos (Prefeitura Municipal de Nova Europa)
Resumo: Esta comunicação tem por objetivo apresentar dados do estudo de mestrado intitulado Nossos Livros Foram
discos: potencialidades pedagógicas do rap para a educação das relações étnico-raciais, onde objetivamos
identificar e analisar dimensões epistemológicas do rap que podem contribuir com práticas pedagógicas
escolares, transversalmente ancoradas na noção de Educação para as Relações Étnico-Raciais.
Metodologicamente, as análises foram realizadas por meio de levantamento bibliográfico, análise de quatro
entrevistas e investigação sobre as obras de rap: O Glorioso Retorno de quem Nunca Esteve Aqui (Emicida,
2013) e Univerguetto - relatos da zona oeste (Ptcho Packer, 2023).
O trabalho se desenvolveu a partir da noção de que, por estarmos inseridos em um sociedade onde a escrita e
a razão são hegemônicas, um mundo logocêntrico (Hall, 2003) e eurocêntrico, grande parte das/os docentes têm
sua formação fixada em certa concepção que considera e elege os conhecimentos científicos como única forma
de saber legítima, levando a limitação de compreensão sobre saberes outros (Gomes, 2008).
No decorrer das análises, primeiramente, observamos que se tratando do mundo Atlântico negro (Gilroy, 2001),
a música é proeminente na construção e transmissão de conhecimentos. Sob essa ótica, entendemos que o rap
permite o encontro de docentes e discentes com uma prática vinculada à tradição de pensamento e expressão
das populações negras.
Concomitantemente, através dos princípios colocados pelo Parecer CNE/CP 003/04 e que devem conduzir a
Educação das Relações Étnico-Raciais e o Ensino de História e Cultura Africana e Afro-Brasileira:
consciência política e histórica da diversidade, fortalecimento de identidades e de direito, ações
educativas de combate ao racismo e a discriminações. Concluímos que o rap pode contribuir com práticas
pedagógicas transversalmente alicerçadas na: valorização das identidades ligadas à ancestralidade africana;
rompimento com imagens negativas forjadas contra as populações negras; desconstrução do mito da democracia
racial brasileira; compreensão de que a sociedade é formada por grupos étnico-raciais distintos; valorização
da oralidade, da corporeidade e da arte, marcas da cultura de raiz africana, ao lado da escrita.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Steffane Santos (UFMG)
Resumo: No Brasil amplia-se um expoente do movimento hip-hop a partir da música negra periférica. O movimento, a
batida, as letras envoltas em um misto de expressões de pensamento, as muitas batidas por muito apresentam
um barulho - a construção de uma sonoridade que dá vazão ao narrar a si próprio, a tornar-se sujeito de seu
próprio discurso, como traz Lélia Gonzalez. Mulheres negras cis, transexuais e transvestis são agentes
epistemológicas dentro de diversos espaços, inclusive no cerne da musicalidade. Neste sentido, o presente
trabalho objetiva explorar como esses corpos brasileiros, genderizados e racializados têm produzido saberes
a partir da música oriunda do hip-hop em transformações. Na mesma medida em que aciono, o meu corpo enquanto
uma mulher negra, cis, bisseuxal, periférica e inserida na cultura hip-hop, ouvinte e vivente da vida
envolta à epistemologia feminista negra do barulho. A episteme produzida no fazer e narrar a si próprio, em
primeira pessoa, é uma faceta constitutiva da composição da epistemologia feminista negra do barulho,
demarcando lugar de sujeitas de nossos corpos marcados por opressões mas também por faces de resistência,
saber, ancestralidade e vivência cotidiana. Explorando as contribuições de Patricia Hill Collins acerca da
epistemologia feminista negra para vislumbrar uma epistemologia feminista negra do barulho que rompe com o
silêncio, desafia horizontes de existências, questiona a epistemologia dominante e corrobora com o tornar-se
corpo-sujeito do conhecimento e da própria existência. Entendido sob luz dos ritmos do atlântico negro de
Paul Gilroy. Discutindo horizontes antropológicos e possibilidades para a visualização deste fazer que se
reinventa e intersecta com marcadores sociais. A presença preponderante da experiência, à luz de elementos
da diáspora negra como tambores, atabaques, tantans e berimbaus, o uso da linguagem disruptiva que é criada
e nomeada como forma são facetas deste saber que se alimenta e é criado por estes corpos a partir de ritmos
inventivos.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Thiago Cazarim da Silva (CEFET/MG)
Resumo: Nenhuma categoria parece tão onipresente no universo musical e das pesquisas acadêmicas sobre cultura
hip-hop quanto a de representação. Camargos (2016, p. 16 17) resume bem o sentido sociopolítico desta
categoria para os rappers brasileiros ao pontuar que a categoria representar articula a dualidade
representante/representado como relação de co-pertencimento legítimo entre quem empresta sua voz aos que não
a possuem.
Tendo identificado uma tendência predominante no campo brasileiro de estudos de rap de enfatizar o sentido
sociopolítico do rap em detrimento de uma descrição sistemática de seus desenvolvimentos poéticos. Enquanto
o poder de representação política do rap é amplamente representado nos estudos acadêmicos, seus
procedimentos e técnicas de representação (sua poética) não têm tido a devida a representação acadêmica.
De toda forma, metarrepresentações são onipresentes em textos e performances de rap. Um exemplo bastante
emblemático de autorreferencialidade literomusical é o título e os primeiros versos da mais famosa canção do
rapper Sabotage (2001): O rap é compromisso/ não é viagem/ se pá fica esquisito, em que as categorias
compromisso e viagem apontam ao mesmo tempo para aspectos sociopolíticos e poéticos. O rap, para ser rap
(voz comunitária e gênero musical), precisa ser assim (compromisso) e não assado (viagem). No entanto,
nem sempre há equivalência entre metarrepresentações sociopolíticas e poéticas, o que coloca a necessidade
de olhar para as especificidades de ambas as formas de reflexividade a fim de compreender suas possíveis
articulações, desalinhamentos e tensões.
O objetivo deste trabalho é discutir a dimensão metapragmática do rap, mostrando articulações e
tensionamentos entre sueus aspectos performáticos, culturais, territoriais e políticos. Para tal, desdobro
aqui resultados de trabalhos realizados sozinho e com outros pesquisadores, tomando como referenciais
teóricos os estudos de pragmática e da Análise de Conversa Etnometodológica em conjunto com dados gerados em
minha pesquisa de doutorado. Como resultado das análises apresentadas, pode-se inferir que a metapragmática
poética é elemento fundamental para estabelecer o reconhecimento político do rap, o que muda a percepção
sobre a importância dos aspectos poéticos do rap para sua validação sociopolítica coletiva. A partir dessa
percepção, retorno ao problema dos desafios de representação tal como lançados pelos próprios rappers para
repensar a posição dos pesquisadores do tema.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Waldemir Rosa (UNILA)
Resumo: Durante minha pesquisa de campo para o doutorado, meus interlocutores, em diversas ocasiões, ao
descobriam que eu era da universidade e estava fazendo uma pesquisa sobre o Hip Hop em Goiânia, me colocaram
a seguinte questão como o hip hop entrou na sua vida?. A história, enquanto narrativa, é um elemento
importante para se entender a dinâmica do Hip Hop no Brasil, e seus integrantes apresentam uma fala
sócio-historicizada onde os elementos de uma sociologia da interação entre brancos e negros, assim como uma
perspectiva histórica do presente, é utilizada para referirem-se a si próprios, pela afirmação de suas
identidades, e sobre a sociedade. Assim, a pergunta como tinha chegado ao campo? não era apenas uma
curiosidade, fazia parte de um processo investigativo que, ao mesmo tempo, possibilitava me localizar diante
dos meus interlocutores ao mesmo tempo que buscava corroborar uma tese difusa sobre autoridade deles em
construir a narrativa sobre o Hip Hop/Rap. Buscamos compreender a fala sócio-historicizada como uma
intelectualidade insurgente, racializada e periférica para operar um giro epistêmico da forma como o Rap,
como a manifestação musical do Hip Hop, vem sendo abordado nos estudos acadêmicos. A tese apresentada aqui é
bem simples, apesar de pouco explorada na atualidade. Ao observarmos os raps dos Racionais MCs os encaramos
como uma teoria intelectualidade insurgente, racializada e periférica que interpreta o Brasil a partir da
perspectiva daqueles que não ambicionam estar na posição de impor aos outros sua concepção de mundo e nem os
aprisionar nas projeções políticas de sua subjetividade. Não se trata de dar a voz aos que perderam a guerra
colonial, mas ampliar a audição acadêmica das vozes que existem para além da oposição dialética entre
colonizador/colonizado ou senhor/escravizado. O caminho percorrido aqui é da margem da auto-etnografia para
o interior de uma teoria insurgente, racializada e periférica. Tal movimento não busca transformar meus
questionamentos identitários como antropólogo negro que tem como objeto de análise outras
intelectualidades negras como o centro na narrativa, mas utilizá-los como a localização estratégica para
explicitar a aproximação da obra dos Racionais MCs. A análise das letras dos Racionais MCs em três décadas
é realizada como uma trajetória intelectual que se articula a partir de uma identidade racializada e
periférica e desafia a teoria social brasileira sobre o Brasil como uma democracia racial e de processo de
mestiçagem harmoniosa e pacífica. Aqui indicamos que o movimento crítico realizado pelos Racionais MCs é
fundado na reconstrução identitária do ser colonizado/escravizado como sujeitos autônomos na construção de
suas narrativas sobre a sociedade brasileira.