Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 093: Ritmos negros e periféricos: Hip-hop, Música e Identidades
"Chamar o povo e tomar a cidade": a estética revolucionária de Don L
Esse trabalho propõe um sobrevoo analítico sobre o álbum Roteiro para Aïnouz, vol. 2, do rapper Don L.
Ao longo do paper, irei argumentar que a obra evidencia uma estética (Rancière, 2009) revolucionária
singular na cena contemporânea do Rap, conforme a posição abertamente comunista de seu autor, que se
autodeclara mais guerrilheiro que MC.
A singularidade da obra se expressa, em primeiro lugar, pela sobreposição irregular de múltiplas
temporalidades, desde a colonização portuguesa no Brasil (com o massacre das populações indígenas e de
africanos escravizados), passando pela proposta de uma luta armada contra o capital, até chegar ao seu
ápice, quando a revolução socialista poderia ser, enfim, consolidada.
As vozes sobrepostas do eu-lírico de Don L e de outras/os rappers que participam da obra (como Tasha &
Tracie, Alt Niss, Djonga, Mcs Junior e Leonardo, Rael, Terra Preta, entre outros) destacam que as
desigualdades atualmente observadas no Brasil resultam da consolidação de práticas historicamente gestadas
no seio de instituições responsáveis por sua perpetuação. Diante disso, a obra apresenta fartas alusões ao
papel do cristianismo e da violência policial no genocídio dos povos indígenas, na exploração do povo negro,
na violência de gênero e na consolidação do capital acumulado por bilionários ao longo dos séculos.
Diante de um cenário de inúmeras desigualdades consolidadas pela violência do capital, o rapper parece não
ver outra opção para além da violência revolucionária. Enquanto a primeira aparece tem termos como sangue,
massacre, estupro, torturaram, escravizaram e mataram, o léxico revolucionário conta com categorias como
chumbo no peito, vai morrer e guerrilheiro. Além disso, são inúmeras as alusões às revolucionárias e aos
revolucionários de esquerda que optaram pela superação das desigualdades por meio da luta armada, entre
as/os quais o autor se inclui.
Referências
MARX, Karl. O Capital. São Paulo: Boitempo, 2011.
RANCIÈRE, Jacques. A partilha do Sensível: estética e política. Tradução: Mônica Costa Netto. 2a Ed, São
Paulo; Editora 34, 2009.