Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 093: Ritmos negros e periféricos: Hip-hop, Música e Identidades
Música, Teoria social e o Brasil sob a ótica dos Racionais MCs: o rap como uma afro intelectualidade
periférica insurgente
Durante minha pesquisa de campo para o doutorado, meus interlocutores, em diversas ocasiões, ao
descobriam que eu era da universidade e estava fazendo uma pesquisa sobre o Hip Hop em Goiânia, me colocaram
a seguinte questão como o hip hop entrou na sua vida?. A história, enquanto narrativa, é um elemento
importante para se entender a dinâmica do Hip Hop no Brasil, e seus integrantes apresentam uma fala
sócio-historicizada onde os elementos de uma sociologia da interação entre brancos e negros, assim como uma
perspectiva histórica do presente, é utilizada para referirem-se a si próprios, pela afirmação de suas
identidades, e sobre a sociedade. Assim, a pergunta como tinha chegado ao campo? não era apenas uma
curiosidade, fazia parte de um processo investigativo que, ao mesmo tempo, possibilitava me localizar diante
dos meus interlocutores ao mesmo tempo que buscava corroborar uma tese difusa sobre autoridade deles em
construir a narrativa sobre o Hip Hop/Rap. Buscamos compreender a fala sócio-historicizada como uma
intelectualidade insurgente, racializada e periférica para operar um giro epistêmico da forma como o Rap,
como a manifestação musical do Hip Hop, vem sendo abordado nos estudos acadêmicos. A tese apresentada aqui é
bem simples, apesar de pouco explorada na atualidade. Ao observarmos os raps dos Racionais MCs os encaramos
como uma teoria intelectualidade insurgente, racializada e periférica que interpreta o Brasil a partir da
perspectiva daqueles que não ambicionam estar na posição de impor aos outros sua concepção de mundo e nem os
aprisionar nas projeções políticas de sua subjetividade. Não se trata de dar a voz aos que perderam a guerra
colonial, mas ampliar a audição acadêmica das vozes que existem para além da oposição dialética entre
colonizador/colonizado ou senhor/escravizado. O caminho percorrido aqui é da margem da auto-etnografia para
o interior de uma teoria insurgente, racializada e periférica. Tal movimento não busca transformar meus
questionamentos identitários como antropólogo negro que tem como objeto de análise outras
intelectualidades negras como o centro na narrativa, mas utilizá-los como a localização estratégica para
explicitar a aproximação da obra dos Racionais MCs. A análise das letras dos Racionais MCs em três décadas
é realizada como uma trajetória intelectual que se articula a partir de uma identidade racializada e
periférica e desafia a teoria social brasileira sobre o Brasil como uma democracia racial e de processo de
mestiçagem harmoniosa e pacífica. Aqui indicamos que o movimento crítico realizado pelos Racionais MCs é
fundado na reconstrução identitária do ser colonizado/escravizado como sujeitos autônomos na construção de
suas narrativas sobre a sociedade brasileira.
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