ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 093: Ritmos negros e periféricos: Hip-hop, Música e Identidades
Música, Teoria social e o Brasil sob a ótica dos Racionais MC’s: o rap como uma afro intelectualidade periférica insurgente
Durante minha pesquisa de campo para o doutorado, meus interlocutores, em diversas ocasiões, ao descobriam que eu era da universidade e estava fazendo uma pesquisa sobre o Hip Hop em Goiânia, me colocaram a seguinte questão como o hip hop entrou na sua vida?”. A história, enquanto narrativa, é um elemento importante para se entender a dinâmica do Hip Hop no Brasil, e seus integrantes apresentam uma fala sócio-historicizada onde os elementos de uma sociologia da interação entre brancos e negros, assim como uma perspectiva histórica do presente, é utilizada para referirem-se a si próprios, pela afirmação de suas identidades, e sobre a sociedade. Assim, a pergunta como tinha chegado ao campo? não era apenas uma curiosidade, fazia parte de um processo investigativo que, ao mesmo tempo, possibilitava me localizar diante dos meus interlocutores ao mesmo tempo que buscava corroborar uma tese difusa sobre autoridade deles em construir a narrativa sobre o Hip Hop/Rap. Buscamos compreender a fala sócio-historicizada como uma intelectualidade insurgente, racializada e periférica para operar um giro epistêmico da forma como o Rap, como a manifestação musical do Hip Hop, vem sendo abordado nos estudos acadêmicos. A tese apresentada aqui é bem simples, apesar de pouco explorada na atualidade. Ao observarmos os raps dos Racionais MC’s os encaramos como uma teoria intelectualidade insurgente, racializada e periférica que interpreta o Brasil a partir da perspectiva daqueles que não ambicionam estar na posição de impor aos outros sua concepção de mundo e nem os aprisionar nas projeções políticas de sua subjetividade. Não se trata de dar a voz aos que perderam a guerra colonial, mas ampliar a audição acadêmica das vozes que existem para além da oposição dialética entre colonizador/colonizado ou senhor/escravizado. O caminho percorrido aqui é da margem da auto-etnografia para o interior de uma teoria insurgente, racializada e periférica. Tal movimento não busca transformar meus questionamentos identitários – como antropólogo negro que tem como objeto de análise outras intelectualidades negras – como o centro na narrativa, mas utilizá-los como a localização estratégica para explicitar a aproximação da obra dos Racionais MC’s. A análise das letras dos Racionais MC’s em três décadas é realizada como uma trajetória intelectual que se articula a partir de uma identidade racializada e periférica e desafia a teoria social brasileira sobre o Brasil como uma democracia racial e de processo de mestiçagem harmoniosa e pacífica. Aqui indicamos que o movimento crítico realizado pelos Racionais MC’s é fundado na reconstrução identitária do ser colonizado/escravizado como sujeitos autônomos na construção de suas narrativas sobre a sociedade brasileira.