Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 093: Ritmos negros e periféricos: Hip-hop, Música e Identidades
Desafios de representação: estudos brasileiros sobre rap e a metapragmática dos duelos de rimas
Nenhuma categoria parece tão onipresente no universo musical e das pesquisas acadêmicas sobre cultura
hip-hop quanto a de representação. Camargos (2016, p. 16 17) resume bem o sentido sociopolítico desta
categoria para os rappers brasileiros ao pontuar que a categoria representar articula a dualidade
representante/representado como relação de co-pertencimento legítimo entre quem empresta sua voz aos que não
a possuem.
Tendo identificado uma tendência predominante no campo brasileiro de estudos de rap de enfatizar o sentido
sociopolítico do rap em detrimento de uma descrição sistemática de seus desenvolvimentos poéticos. Enquanto
o poder de representação política do rap é amplamente representado nos estudos acadêmicos, seus
procedimentos e técnicas de representação (sua poética) não têm tido a devida a representação acadêmica.
De toda forma, metarrepresentações são onipresentes em textos e performances de rap. Um exemplo bastante
emblemático de autorreferencialidade literomusical é o título e os primeiros versos da mais famosa canção do
rapper Sabotage (2001): O rap é compromisso/ não é viagem/ se pá fica esquisito, em que as categorias
compromisso e viagem apontam ao mesmo tempo para aspectos sociopolíticos e poéticos. O rap, para ser rap
(voz comunitária e gênero musical), precisa ser assim (compromisso) e não assado (viagem). No entanto,
nem sempre há equivalência entre metarrepresentações sociopolíticas e poéticas, o que coloca a necessidade
de olhar para as especificidades de ambas as formas de reflexividade a fim de compreender suas possíveis
articulações, desalinhamentos e tensões.
O objetivo deste trabalho é discutir a dimensão metapragmática do rap, mostrando articulações e
tensionamentos entre sueus aspectos performáticos, culturais, territoriais e políticos. Para tal, desdobro
aqui resultados de trabalhos realizados sozinho e com outros pesquisadores, tomando como referenciais
teóricos os estudos de pragmática e da Análise de Conversa Etnometodológica em conjunto com dados gerados em
minha pesquisa de doutorado. Como resultado das análises apresentadas, pode-se inferir que a metapragmática
poética é elemento fundamental para estabelecer o reconhecimento político do rap, o que muda a percepção
sobre a importância dos aspectos poéticos do rap para sua validação sociopolítica coletiva. A partir dessa
percepção, retorno ao problema dos desafios de representação tal como lançados pelos próprios rappers para
repensar a posição dos pesquisadores do tema.
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
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