Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 093: Ritmos negros e periféricos: Hip-hop, Música e Identidades
"Galo, a ciência do tambor": reinvenções e memória da música popular soteropolitana no Hip Hop de João Merín
Quando viemos do oriente para o ocidente trouxemos a magia do couro ancestral e aqui no ocidente os
caboclos e os tambores se fundiram. Seja na capoeira e no samba duro aqui na América do Sul, ou no jazz e no
break dance na América do Norte. Tudo unido por um elemento matemático nessa equação divina: o Galo. Este trabalho é um resumo da minha dissertação de mestrado, na qual me debruço sobre a trajetória do rapper
soteropolitano João Merín. Desde o final do século XX Salvador é um dos principais destinos de carnaval,
período histórico que os blocos afro ganharam força e visibilidade internacional por meio da circulação de
artistas e produtores de ethnic music e também devido ao boom do axé (Guerreiro, 2000). Neste mesmo período,
o Hip Hop baiano se consolidou de forma tão expressiva quanto São Paulo e Rio Grande do Sul, especialmente
na capital e no recôncavo baiano.
Pode-se afirmar que o rap é uma das músicas populares da cidade, tanto pela força do movimento, quanto
porque é institucionalmente reconhecido em museus como o Cidade da Música, que tem como objetivo narrar as
histórias das musicalidades soteropolitanas. O trabalho de Merín chama a atenção, pois floresce nas
encruzilhadas transatlânticas da música popular soteropolitana, entregando o mais alto nível de qualidade
estética do Hip Hop soteropolitano e o molho do groove do pagode baiano, as levadas de samba-reggae e a
memória da percussão de Salvador.
Com tal contextualização do cenário musical do território de Salvador, vale indicar o objetivo foi fazer uma
pesquisa de trajetória de João Merín para também refletir sobre: 1) os conflitos raciais que borbulham sob o
véu da baianidade; 2) analisar o pagode, samba-reggae e groove baiano na chave da memória para refletir
sobre a influência desses gêneros particulares do território para a consolidação da música de Merín; 3)
analisar as dinâmicas e paisagens urbanas e 4) refletir sobre a pluralidade das figuras afro-religiosas que
perpassam os caminhos do rapper, que professa a fé da gnose.
A metodologia utilizada foi a revisão bibliográfica, estando atenta tanto aos clássicos do Hip-Hop studies,
como do Hip Hop baiano e trabalhos que se voltem sobre a música afro, afro-pop e percussiva de Salvador. A
etnografia foi absolutamente central e teve duração de 3 meses na capital baiana acompanhando João Merín,
circulando por espaços históricos para a música soteropolitana, fazendo entrevistas com Hip Hoppers da
região, circulando por museus que narram a história do carnaval, da música afro-percussiva e da
arregimentação urbana da cidade.
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