Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 093: Ritmos negros e periféricos: Hip-hop, Música e Identidades
Uma etnografia do MCing recifense a luz das tradições do improviso na cultura popular local e dos
modelos globais do hip-hop.
O trabalho visou uma etnografia analítica, descrevendo os duelos verbais praticados por jovens MCs de
idade entre 14 e 30 anos, se autoidentificando negros e oriundos das periferias do Recife e RMR, que ocorrem
nas sextas-feiras à noite na escadaria da Rua do Hospício, um evento que batizaram Batalha da Escadaria.
Inscrevendo-se em uma das 4 (quatro) práticas da cultura hip hop (MCing; Djing; Breakdance e Grafiti), os
MCs (Mestres de Cerimonia) da Escadaria, escolheram o lugar como provocação em relação a sua pouca
acessibilidade aos locais, simbolizando o consumo cultural e mercantil, para elaborar uma prática que
assimila influências simbólicas e semióticas do rap e do slam (ambas práticas de improviso, respectivamente
musical e poético, associadas ao hip-hop) sem reduzir-se a elas, com a particularidade de brincar com trocas
de insultos e fortes gírias. Estes rituais de insultos já foram amplamente examinados na literatura
antropológica nos EUA, mas pouco na antropologia do hip-hop no Brasil, perspectiva na qual o Pernambuco é
pouco representado. Metodologicamente, associei a pesquisa a três perspectivas pertinentes a proposta: 1) a
antropologia da performance, analítica e metodologicamente, para dar conta dos aspectos ritualísticos,
simbólicos, linguísticos e da relação estética e política tais como significam para os MCs, seu público e a
sociedade civil abrangente; 2) teorias pós-coloniais, focando os conceitos de contra-cultura e dupla
consciência, para examinar a tensão entre particularismo racial/universais modernos, e a tensão gobal/local
no processo de apropriação e transformação do modelo global pelos MCs recifenses; 3) a perspectiva
interseccional do espaço (raça, gênero e classe), para entender o processo de territorialização urbana do
fenômeno. Outro aspecto inovador do projeto é o exame da contribuição das tradições populares dos duelos de
improviso locais, para contribuir a uma antropologia do hip-hop pernambucano.