ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Grupos de Trabalho (GT)
GT 075: Mundos em performance: interfaces entre antropologia e arte
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Coordenação
John Cowart Dawsey (USP), Rita de Cássia de Almeida Castro (UNB)
Debatedor(a)
Francirosy Campos Barbosa (USP), Robson Corrêa de Camargo (UFG), Rubens Alves da Silva (UFMG)

Resumo:
Entre as artes e as ciências, o conceito de performance adquire formas variadas, cambiantes e híbridas. Há algo de não resolvido nesse conceito que resiste às formulações definitivas e delimitações disciplinares. Desde o século XX, despontam, no universo da antropologia, múltiplos centros gravitacionais de um campo emergente e surgem diversos pontos luminosos que servem de referência para as constelações de estudos de performance em universos em expansão e descentrados. Configura-se a chamada “virada performativa” na antropologia. Horizontes ampliam-se, subvertendo noções de campo e espaço e implodindo concepções de tempo. As atenções se voltam à ação dos corpos. Dos sentidos dos corpos, criam-se e se friccionam os sentidos de mundos. Em performance, mundos formam-se e desaparecem. Em ruídos, resíduos e elementos estruturalmente arredios, são detectados os movimentos sísmicos de sua criação. Nos remoinhos, encontram-se os que ainda não vieram a ser. Nesta proposta de GT, abrem-se perspectivas para explorar alguns dos remoinhos de mundos em performance.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Sentidos de mundo e sentidos de si no Quilombo Alto Santana - Cidade de Goiás
Ádria Borges Figueira Cerqueira (IFG), Luciene de Oliveira Dias (UFG), Fernanda Farias dos Santos (AQAS)
Resumo: Este artigo apresenta as primeiras incursões na investigação sobre as práticas performáticas no Quilombo Alto Santana, da Cidade de Goiás. O Bairro Alto Santana foi certificado pela Fundação Cultural Palmares, em 30 de outubro de 2017, como quilombo. Historicamente marginalizada, a comunidade, situada na região que recebe a nomeação pejorativa de chupa osso, já esteve em situação de extrema vulnerabilidade social. A escrita desse artigo se dá entre tantas reflexões sobre o processo de fortalecimento da identidade quilombola desta comunidade e suas singularidades. Para tanto, problematizamos a forma como esse grupo tem elaborado elementos identitários que compõem o arcabouço das práticas performativas e ritualizadas que contribuem para o seu processo de autorreconhecimento. Nesse primeiro momento da pesquisa, lançamos mão de trabalho de campo realizado por uma das pesquisadoras e reforçamos o diálogo entre Antropologia e Performances Culturais como estratégia eficaz para o debate sobre reconhecimento e autorreconhecimento quilombola.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
"A Marcha passou por aqui": observações sobre a Marcha das Vadias nas ruas do centro do Recife.
Anna Odara de Araujo Tavares (UFPE)
Resumo: Este trabalho parte de uma pesquisa etnográfica realizada na Marcha das Vadias Recife (MVR) entre os anos de 2017 a 2019, entendendo como essencial a relação da manifestação com as ruas do centro da cidade, convertendo-se num espaço singular para determinadas formas de reinvindicação política. Iniciada no Canadá, em 2011, com o nome Slutwalk, a Marcha das Vadias se caracterizou como uma manifestação de mulheres que foram às ruas com roupas consideradas provocantes, em corpos seminus, se autodeclarando vadias, como forma de protesto a cultura do estupro. As roupas curtas, os corpos desnudados, adornos e outros elementos estéticos foram transformados em críticas às moralidades e aos padrões sociais que impactam à vida das mulheres. Com grande repercussão online, a Marcha chegou em Recife com características próprias, e aconteceu de 2011 à 2019, se consolidando como uma das mais representativas manifestações feministas ocorridas na cidade, ocupando ruas do centro. Entendemos aqui as vestimentas e a nudez no espaço público em lugar central no conceito e realização da Marcha, como formas singulares de protesto, por seu poder subversivo, de ressignificação, força estética e discursiva. Portanto, parte grande dos esforços analíticos passa pela apropriação dos corpos como elemento político reivindicatório (BUTLER, 2019). O empreendimento etnográfico focou na ocupação do centro da cidade por mulheres em um ato político, onde, nos três referidos anos, tiveram a concentração inicial em praças do centro da cidade, marcadas historicamente por abrigar as mais importantes manifestações políticas do Recife, como campo de resistência e luta. O espaço público, majoritariamente ocupado por homens, como campo de disputa, era ocupado e marcado pelas mulheres em marcha. São vozes, instrumentos, palavras de ordem, lambes, pixo que falam sobre as lutas, dores e reivindicações das sujeitas. Alguns destes elementos conseguiam romper o momento da Marcha e permaneciam ocupando os muros, pontos de ônibus, lixeiras, postes de iluminação, compondo e se apropriando do cenário urbano. Além de ocuparem espaço, os elementos visuais que a Marcha das Vadias deixava, se conectava e se incorporava ao tecido urbano, deixando no centro da cidade a materialização dessa performance política. O patrimônio público e privado era marcado e se convertia em registros, individuais e coletivos, materiais ou não, visuais e auditivos, que, até hoje, documentam não só a cultura, como também registram na memória e na história do feminismo - um movimento político de mulheres em uma grande cidade do país. Hoje a Marcha não existe enquanto manifestação de rua, mas é preciso entender que esta possibilitou outros debates e se mantém na memória de uma geração que conheceu o feminismo através dela.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Coletivo de colagens Antropo(i)lógicas: experiências em práticas performativas
Christine de Alencar Chaves (UNB), Lelia Lofego Rodrigues (UNB), Rita de Cássia de Almeida Castro (UNB), Lara Santos de Amorim (UFPB), Adriana Dantas de Mariz (SF)
Resumo: Somos um coletivo de oito mulheres que estudaram antropologia na UnB nos anos 1980/1990, e nos reencontramos, trinta anos depois, para fazermos colagens. O primeiro encontro do coletivo Iló, Colagens Antropo(i)lógicas, aconteceu em setembro de 2022, no Vilarejo 21, espaço independente de arte, em Brasília. Exercitamos livremente a colagem, considerando técnicas variadas e estudos em colagens dadaístas e surrealistas, movimentos artísticos das vanguardas europeias que surgiram no mesmo contexto em que surgiu a pesquisa etnográfica. Seguimos nos reunindo para experimentos com colagem como forma de imaginação e pensamento sobre o mundo, sobre identidades e alteridades. As colagens do coletivo são, no contemporâneo, atravessadas e antropofagizadas por nossas experiências etnográficas, por nossos encontros e desencontros em campo e pelo estranhamento à nossa própria cultura. A reflexão sobre as interfaces possíveis entre antropologia e arte não é mais uma novidade no ensino e na prática antropológica. Já há quase cinquenta anos, a antropologia visual e os estudos da performance abriram novas fronteiras na pesquisa etnográfica, inserindo, para além do texto escrito, a imagem como artefato cultural e ferramenta de pesquisa, explorando novas formas e sentidos no encontro etnográfico. Tornou-se possível fazer uma etnografia desenhada, construir uma narrativa fílmica ou uma autoetnografia para expressar a alteridade. Nos perguntamos, no âmbito dessas possibilidades metodológicas, se a colagem (como artefato), ou o ato de colar (como gesto), não se constituiria em uma possibilidade etnográfica capaz de revelar imaginários coletivos e individuais, envolvendo memórias, subjetividades e sentidos. Esse campo emergente se constitui em ato, numa confluência espaço-temporal própria, como um jogo que se faz sempre novo a cada encontro-performance. Constituindo-se como campo aberto à experimentação, ele permite no gesto de cortar e colar a desestruturação das imagens-mundo prontas, assim como com seus resíduos formar novas imagens-mundo carregadas de alteridade. O encontro é assim ato performativo pleno, à medida que gera efeitos concretos, como impressões palpáveis do seu acontecimento. O gesto da colagem é um fazer subversivo, pois desnaturaliza ao fragmentar o conhecido, desestruturando a sacralidade do dado, e reúne o disjunto de modo a revelar suas infinitas potencialidades latentes. Intervém com liberdade na criação de mundos, personas, totens e seres híbridos que transitam em multi realidades polissêmicas. Transcria corpos-imagens em novas configurações e dá vida a inusitadas cartografias de sentidos, tecendo, entre frestas e dobras, diálogos entre antropologia e arte.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Entre Piadas, Poesias, Ritmos: Relações De Poder Entre Surdos E Ouvintes Por Meio De Performances Diferenciadas
Dalcides dos Santos Aniceto Júnior (UFRR), Madiana Valéria de Almeida Rodrigues (UFRR)
Resumo: Este trabalho tem como objetivo compreender as relações de poder de linguagem e educação no contexto de pessoas surdas vivendo em sociedade majoritariamente de pessoas ouvintes a partir de análises de performances artísticas de surdos(as) em Língua Brasileira de Sinais (Libras). A questão problematizadora que conduziu este trabalho foi como a experiência de Ser surdo em uma sociedade envolvente de maioria ouvinte é colocada em relevo em momentos específicos de comunicação, como a poesia e contação de piadas. O tema é de relevância para refletir sobre as experiências de Ser uma pessoa surda com uma alteridade de linguagem e de corporeidade e de como essas diferenças são tensionadas nas relações e práticas educacionais estabelecidas para esses sujeitos. Além disso, é importante esse debate para compreender as experiências dos sujeitos educativos surdos(as) em relação às práticas escolares em que foram/estão inseridos, a partir de suas performances. A pesquisa teve por base a pesquisa bibliográfica de cunho qualitativa por meio de levantamento de referências para o embasamento teórico acerca do tema e análise e interpretação dos dados. Os dados do corpus da pesquisa foram coletados em pesquisas de campo realizadas no ano de 2018 com sujeitos surdos(as) na cidade de Boa Vista/RR, através de observação e registro em vídeo de performances artísticas em evento denominado Sarau Bilíngue. Como resultados encontrados observamos que a celebração do Ser surdo(a) e a valorização e exibição da Lingua Brasileira de Sinais se dá por meio das performances artísticas. Em momentos específicos de comunicação como esses, os surdos(as) colocam em relevo suas experiências nas diferenciadas formas de relações de poder em que estão permeados nas articulações com a sociedade envolvente ouvinte. As performances analisadas se caracterizam por uma configuração estrutural diferente na maneira cotidiana de comunicação, revelando o surdo(a) como protagonista principal num mundo onde a diferença representada pela surdez o marginaliza e exclui. Além disso, concernente às experiências dos surdos(as) na educação, as produções bibliográficas científicas que embasaram o referencial teórico evidenciam que, historicamente, esse grupo foi pensado a partir da visão dos não-surdos, o que produziu práticas escolares e sociais em que os surdos são uma minoria social e linguística que precisa ser incluída nos projetos e currículos escolares.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
A performance Intercultural, ritual e a japonicidade na obra Yurusanai
Elise Hirako Dias (PPGCEN/UnB)
Resumo: Este estudo pretende apresentar e desenvolver a relação entre as relações sociais nipo-brasileiras, o conceito de performance intercultural e a japonicidade aplicada na produção da obra cênica Yurusanai, 2023. Contextualiza-se que nesta investigação foi apresentada a trajetória de vida da performer com reflexões a partir dos conceitos de: performance intercultural, ritual, japonicidades. Tal cruzamento, deu contorno a uma história e ancestralidade enquanto mulher nikkei, que são os japoneses fora do Japão e os descendentes japoneses. Para construir performaticamente a obra Yurusanai, a performer refletiu sobre aspectos das práticas japonesas Kumiodori, Dança Butoh e Teatro Noh. Acerca dos conceitos acima apresentados, serão abordados por meio do entendimento de Elisa Massae Sasaki, Doutora em Ciências Sociais pela Unicamp, que pesquisou sobre a migração internacional contemporânea entre o Brasil e o Japão; Ismar Borges Lima (2012), autor do artigo Reflexões sobre a Contemporaneidade Cultural do Japão e seu Legado Histórico: Clusters Etnoculturais, Aculturação e Japonicidade, 2012.; Célia Sakurai (2007), Doutora em Ciências Sociais pela Unicamp (2009), pesquisadora de história da imigração japonesa no Brasil e autora do livro Os Japoneses, 2007, e Richard Schechner (1990, 2013), pesquisador dos estudos da performance que discutiu amplamente este conceito, seja no ponto de vista de vida cotidiana e ritual, seja do ponto de vista da performance art, em seus livros: By means of performance: intercultural studies of theatre and ritual, 1990 e Performance Studies: Introduction, 2013. Acerca da obra Yurusanai, serão apresentados os enlaces interculturais, através do ponto de vista de uma nipo-brasileira, em que serão apresentadas as escolhas estéticas para concepção da dramaturgia, cenografia e composição de movimento para a cena. Espera-se que este estudo possa contribuir para os estudos da interface entre a performance e a antropologia sendo observados em práticas performáticas nipo-brasileiras que buscam na ancestralidade inspiração para a composição de cena.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Mulheres em ginga: performance e corpo na roda de capoeira
Fernanda Castro de Queiroz (UERJ)
Resumo: A capoeira é um fazer que gera múltiplos deslocamentos por meio dos corpos em ginga, feito de quebras, malícia, desequilíbrio, e engloba diversas artes como dança, canto, música, etc., além de ser uma prática que carrega o lúdico e a luta, sendo reelaborada a cada momento. Tendo em vista esta concepção, esta comunicação trata da performance das mulheres na capoeira Angola e Abadá, já que é no diálogo entre os corpos e tudo que os cercam que se elaboram sentidos, sentimentos e experiências por meio de uma performance, tendo como espaço fundamental a roda de capoeira. Nesse sentido, em vista das diversas criações do corpo na capoeira, esta comunicação tem como objetivo analisar a performance das mulheres, o que elas fazem emergir nessa prática e como essa performance articula os seus lugares enquanto sujeitos que realizam a capoeira. Além disso, observar quais experiências são elaboradas e como essas experiências estão envoltas no cotidiano e são capazes de gerar um conhecimento sobre e com esse fazer, que extrapola e reconstrói as concepções vigentes em relação ao lugar das mulheres na capoeira e que altera os saberes e poderes dessa prática, pois o que foi reconhecido como ser capoeira esteve assentado em uma tradição que carregou e ainda apresenta a capoeira como uma fazer hegemonicamente masculino. Ao destacar esses corpos, dialogo também com uma concepção de performance de gênero não-binária, que se constitui por meio de deslocamentos e nas possibilidades das transformações e rupturas da tradição nas rodas de capoeira. Neste trabalho etnográfico ainda em curso, me dedico às mulheres com graduações de professoras, mestrandas e mestras no Abadá Capoeira; e mulheres trenelas, contramestras e mestras na Capoeira Angola. Uso da observação participante para vivenciar com essas mulheres a prática da capoeira em rodas, jogos, encontros, aulas, além de entrevistas semi-estruturadas ou não. Por conseguinte, é possível observar que as mulheres, por meio de seus corpos, elaboram performances criativas que fazem aflorar novas gingas e estratégias diversas para suas recolocações nos variados espaços da capoeira. Palavras-chave: Performance, corpo, mulheres, capoeira

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Tragédia como forma teatral e experiência na peça Antígona na Amazônia (Milo Rau/ NTGent & MST, 2023): um diálogo a partir da antropologia da performance
Fernanda Marcon (UFFS)
Resumo: A presente comunicação tem o intuito de apresentar os primeiros movimentos da reflexão desenvolvida no âmbito do estágio pós-doutoral que realizo junto ao departamento de antropologia da USP em 2024. O projeto de pesquisa se propôs a analisar a dramaturgia e encenação da peça Antigone in the Amazon (Antígona na Amazônia) e refletir sobre a tragédia enquanto forma teatral e experiência, tendo em vista a participação de atores ativistas em cena. Na articulação entre o diretor belga Milo Rau conhecido por seu teatro antropológico ou investigativo -, o MST e ativistas indígenas e quilombolas, a peça apresenta uma série de questões para pensar as performances contemporâneas e conceitos fundamentais para os estudos da performance, a exemplo da noção de experiência. Concordando com Schechner (2011) de que há muito o teatro vem se antropologizando e a antropologia está sendo teatralizada, considero que pode ser bastante produtivo tomar Antígona na Amazônia como uma forma de explorar esse diálogo. Embora o campo de estudos de performance tenha um caminho consolidado e muitos balanços teóricos a respeito da relação entre antropologia e teatro tenham sido feitos, de ambos os lados, entendo que a peça também reflete sobre os lugares do conhecimento antropológico, teatral e do ativismo político diante da emergência climática e de um mundo que corre rapidamente ao encontro do fim. Considerando o drama social da luta pela terra como tragédia da experiência humana, a peça remete sua dramaturgia e encenação à forma do drama grego e ao processo ritual do trágico. Enquanto experiência da tragédia, o drama social de ativistas Sem Terra, indígenas e quilombolas torna-se local, específico, cotidiano, uma experiência que parece ser completada pela performance, como apontou Dawsey (2005) com relação à noção de experiência para Turner. Esta comunicação pretende, portanto, explorar as primeiras análises da dramaturgia e encenação de Antígona na Amazônia, buscando evidenciar a interlocução da antropologia da performance com a obra.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Surrealismo Temporal: Uma Abordagem Artística Antropológica à Obra de Hilda Hilst
Giovanna do Nascimento Schneider (santa casa)
Resumo: Esta pesquisa busca explorar a intersecção entre a obra A Obscena Senhora D da escritora brasileira Hilda Hilst, sua escrita surrealista, a prática do desenho da própria autora e a concepção de temporalidade e memória coletiva, partindo da intersecção entre a Antropologia e a História. Reconhecida por sua escrita inovadora e provocativa, Hilst frequentemente explorava temas existenciais e transcendentais em suas obras, muitas vezes utilizando uma abordagem surrealista. Este estudo propõe analisar como tais elementos presentes na obra da autora, dialogam com suas concepções de tempo proporcionando outras abordagens ao estudo artístico antropológico. Além disso, será investigado o papel dos desenhos da autora como meio de expressão artística e a relação com sua escrita, bem como sua representação do tempo através de palavras e traços. A pesquisa se dá a partir da análise documental com um viés antropológico, referenciando autores como Tim Ingold, James Clifford e Donna Haraway, cada um por suas diferentes, porém convergentes, contribuições para o pensamento antropológico, examinando como esses elementos conversam e são reinterpretados. Ao destacar essas interconexões, este estudo visa contribuir para uma compreensão mais profunda da obra de Hilda Hilst, assim como para uma reflexão sobre e as formas de representá-la artisticamente.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
"Mexendo o doce": uma aproximação etnográfica do skate de rua DIY
Giovanni Cirino (UEL)
Resumo: Práticas sociais realizadas pelos coletivos urbanos ligados ao mundo da chamada cultura de rua são especialmente interessantes para pensar intersecções entre formas criativas de criar e de ocupar a cidade. Com formas propositivas de usos que vão além das convenções dadas no cotidiano urbano, Pixadores, grafiteiros, skatistas, parkours, bikers, rappers são exemplos de coletivos que realizam tais práticas. Em diversas cidades do mundo encontram-se intervenções realizadas em espaços públicos, às vezes lugares abandonados, ou lugares de passagem como calçadas e vielas, mas principalmente quadras e praças que passam a ganhar novas práticas através de novos usos e construções. Na região de Londrina não é diferente, essas intervenções, conhecidas como DIY (Do It Yourself), criam condições para diversas performances com características estéticas, artísticas e esportivas. O interesse da pesquisa que aqui apresentamos orbita entre essas práticas. Mais especificamente estamos interessados em entender as intervenções e modificações no espaço público realizados por praticantes de skate. Tais modificações permitem não apenas a realização de performances as manobras mas também impulsiona diversos outros desdobramentos como, por exemplo, a realização de vídeos ou a produção de conteúdo para o impulsionamento em redes sociais. Chama atenção, portanto, não apenas a performance das manobras, mas também a motivação para construir as intervenções nos espaços públicos e também os múltiplos desdobramentos e usos. De um lado a performance da construção/reforma, ou seja, aquele realizado pelos praticantes que dispendem para transformar/revitalizar um espaço para possibilitar a realização de certas manobras; de outro, aquelas produzidas pelos praticantes uma vez tendo construído e/ou reformado espaços.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Entre deitar e levantar: danças do boi de mamão.
Guilherme Borges Laus (UFSC)
Resumo: Dentre tantos folguedos e brincadeiras populares com o boi no Brasil, destaca-se no litoral sulista, sobretudo em Florianópolis, o boi de mamão. Neste contexto, um boi passa mal e falece de causas variadas, ressuscitando tempos depois através de processos específicos e distintos de cura. Após esta ressurreição, o animal levanta e abre a roda para uma série de personagens, em sua maioria animais, entrarem e brincarem no espaço deixado. Esse movimento - o levantar -, pode ser visto como uma virada de ato na brincadeira: o antes e o depois do boi reviver, ser laçado e retirado da roda. Neste trabalho, apresentam-se descrições etnográficas a partir de experiências em campo com bois de mamão florianopolitanos, buscando construir uma perspectiva do que pode ser a dança do boi de mamão. Dizer isso, de certa forma, é pressupor que ele dança; por sua vez, reconfigura-se, talvez, o próprio entendimento do que é dançar. Independente disso, temos que seu deitar-morrer e seu reviver-levantar abrem caminhos dentro da brincadeira, como também podem abrir caminhos sobre o que é performar e dançar - talvez não enquanto substantivos, mas como verbos. Reforça-se, dessa forma, o caráter parcial da proposta: muito ocorre nessas brincadeiras além do enredo do boi. Ainda assim, deixar de lado, por um momento, os giros das Maricotas, o perigo das bernunças e a diversão das cabrinhas, ao focarmos nos movimentos do boi de mamão, pode ter o efeito de colocar em diálogo esse boi com outros de outros estados e regiões brasileiras. Nesse caminho, o primeiro passo para essa ponte ser edificada, ao menos dentro da antropologia, pode ser a descrição etnográfica. Em outras palavras, a busca ela mesma, nessas textualidades literárias e experimentais, do que esses corpos e presenças brincantes realizam em cena.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Quando arte e crime se encontram: golpistas trapaceiros, seus personagens e performances.
Jania Perla Diógenes de Aquino (UFC)
Resumo: O trabalho aborda componentes dramatúrgicos e performáticos na atuação de três golpistas que se tornaram famosos nas últimas décadas e que, sem recorrer à violência física, enganaram grande quantidade de pessoas e obtiveram elevadas quantias, demonstrando habilidades em produzir narrativas, cenários e personagens verossímeis, apesar de falsos. Anna Sorokin, é a jovem russa que, nos anos 2010, apresentou-se nos EUA como Ana Delvey, suposta herdeira alemã de uma fortuna de 60 milhões de euros. Ela morava em hotéis cinco estrelas, frequentava festas exclusivas, vestia roupas de grife e viajava em jatos privados.conseguiu enganar a elite e o sistema financeiro novaiorquino. Sua trajetória foi enredo do livro "Inventando Ana", da jornalista Rachel Williamns, que também se tornou uma série de sucesso na Netflix. Outro golpista que ganhou notoriedade mundial recentemente foi o jovem israelense Simon Leviev. Passando-se por um milionário russo, dono de minas de diamantes, Simon usava o Tinder para seduzir mulheres na Europa. levando-as a transferir altas somas para sua conta. Algumas das mulheres engodadas por Simon falam do enlace com o jovem no documentário "O golpista do Tinder", lançado pela Netflix em2022. O terceiro impostor analisado é o brasileiro Marcelo Rocha que ficou conhecido no pais, nas anos de 1990 e 2000, por variados golpes de estelionato. Em 2001, ele foi preso em uma atuação ousada, em que se passava pelo empresário Henrique Constantino, cofundador da companhia aérea GOL, durante um carnaval fora de época em Recife. Na ocasião, enganou celebridades, namorou modelo e concedeu entrevista ao programa do Amaury Junhior, da emissora Record. Ele também se passava por guitarrista da banda Engenheiros do Hawaii para entrar em boates e beber sem pagar a conta. Em uma delegacia do interior do Paraná, apresentou-se como policial e lá trabalhou por semanas, tendo chegado mesmo a prender bandidos. Embora não tenha auferido altas somas com suas encenações, obteve consideráveis dividendos com as vendas do Livro VIPS, baseado em sua biografia, que veio se tornar um filme nacional, de mesmo nome. Atualmente Marcelo se apresenta como empresário, consultor e palestrante. Partindo da exposição de suas fraudes e truques, este paper argumenta que tais trapaceiros são sujeitos que desenvolvem uma sofisticada compreensão da estrutura social e seu funcionamento, mobilizando tal conhecimento para ludibriar e obter vantagens nas intenções sociais da vida cotidiana. O mundo de glamour que engendram com suas mentiras figuraria como espelho mágico ou antiestrutura. As "plateias" se deixariam seduzir pelas performances "cínicas" dos golpistas porque também se identificam om os personagens que eles criam e gostariam de vivenciar as "estórias" que eles contam.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Assombrações: boias frias, mulher loba e bonecos em performance
John C. Dawsey (USP)
Resumo: “O que seria uma assombração senão uma re-aparição, a ação restaurada que Schechner define como performance?, pergunta Diana Taylor. Mundos em performance se formam quando vivos e mortos se friccionam. De acordo com Avery Gordon, assombrações podem dar acesso a elementos marginalizados, suprimidos, trivializados e negados. Uma imagem assombrosa, que se manifesta como uma ausência, ou presença de uma ausência, esquecida e, no entanto, vital, pode interromper o curso das coisas. Produz um desvio, possivelmente iluminando a nossa condição atual, e fazendo com que possamos ver coisas que antes não conseguíamos ver. Neste artigo, pretendo discutir três pesquisas de campo envolvendo boias frias, mulher-loba e bonecos ribeirinhos em performance. Em cada uma delas, lampejam imagens que me assombram e, quem sabe, num registro benjaminiano, uma oportunidade revolucionária de lutar por um passado oprimido”. PALAVRAS-CHAVE: assombrações; performance; boias frias; mulher-loba; bonecos ribeirinhos.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Performances de corpos em improviso no Tap Dance/Sapateado "Americano"
Lívia Fontanella Claumann (UFSC)
Resumo: O Tap Dance/Sapateado "Americano" é uma dança de origem afro-diaspórica desenvolvida nos Estados Unidos, caracterizada pelo uso de sapatos com chapinhas de metal na sola. Apesar do desenvolvimento ligado à cultura negra, a dança sofreu uma apropriação pela indústria do entretenimento, e com estes moldes ela foi importada ao Brasil. Atualmente, há esforços significativos dentro da comunidade brasileira de sapateadores para reconstruir suas bases, com um foco particular no improviso, que reflete a maneira como a arte se estabeleceu. Neste contexto, o corpo em improvisação no Tap Dance tensiona e reconfigura tanto noções de improviso quanto de performance. Surgem questões sobre quais performances são possíveis em um corpo em improvisação e quais conceitos de improviso são desafiados e redefinidos em performance. Ao buscar entender a potencialidade da relação entre os dançarinos e a prática do improviso, possibilita-se discutir como os corpos em improvisação fazem emergir outras formas de pensar o Tap Dance por meio das rupturas provocadas a partir das movimentações corporais e conceituais.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
As performances da família Ganga Zumba: oralidade, saberes e apresentações
Lívia Rabelo (UFRJ)
Resumo: Esta comunicação é parte da minha pesquisa de doutorado que tem foco no Grupo Afro Ganga Zumba (Ganga), localizado no Quilombo Urbano do Bairro de Fátima, no município de Ponte Nova, na Zona da Mata mineira. A centralidade está na família Ganga Zumba, constituída de lideranças que criaram o Grupo Afro Ganga Zumba, em 1988, a partir de um protesto dançante, bem como das pessoas que foram se somando ao grupo por: interesse na luta antirracista; forma de combate à depressão; e convívio na comunidade, sobretudo as crianças que queriam fazer igual aos mais velhos. A centralidade das relações no saber viver gangazumbeiro constrói e atualiza os limites da família a partir do sangue, afinidade e parentesco por consideração. Inspirada em Schechner (1985; 1988; 2003), compreendo esses saberes como performances cotidianas: nas memórias e narrativas da oralidade repletas de sensorialidade que produzem comunidade, família, liderança e Ganga; nas práticas cotidianas dessa família que possibilitaram a criação, manutenção e consolidação do grupo. A oralidade sobre a ocupação do território e as práticas cotidianas, sobretudo, o cuidar dos filhos/as de mulheres que precisam sair de casa para trabalhar, cria um espaço que propicia a consolidação e atualização das tradições entre diferentes gerações. Esses saberes performáticos são reapropriados na organização das atividades e apresentações do grupo. Especificamente, o núcleo de cantoria e percussão Irmandade Bantu atual carro chefe do Ganga, composto majoritariamente por mulheres da terceira idade, é um espaço de produção da autoestima, pertencimento e subjetividades negras empoderadas. Durante as performances artísticas, educacionais e/ou religiosas preparação, apresentação, e pós apresentação essas mulheres são transportadas do papel cotidiano de gestoras da casa e família, para o de mulheres negras, artistas, valorizadas e aplaudidas pela arte de tocar e cantar que contribui na luta antirracista. Esse deslocamento frequente, decorrente dos muitos eventos e viagens para os quais a Irmandade são convidadas para se apresentar, vai produzindo gradualmente novas visões sobre si e os seus. Nesse processo, destaca-se a liderança Rosangela, especialista em arrumar a si e aos outros, que através de saberes estéticos proporciona uma narrativa visual da beleza negra e a sensação de se sentir bonita, através da escolha dos figurinos utilizados. A materialidade contribui para um modo de subjetivação ético-política pautada pela beleza negra e para a produção de afetos alegres no cotidiano e nas apresentações. As narrativas políticas de Rosangela passam, além da linguagem referencial, pela estética e afeto, que invertem a hierarquização imposta pela segregação racial municipal e compõe a luta alegre do Ganga.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Entre gingas e mulheres: Gênero, raça e performance a partir do Grupo de Estudos de Capoeira Angola Dona Cora-RN
Louise Caroline Gomes Branco (UFRN)
Resumo: O presente trabalho parte do processo em curso de elaboração da Tese de Doutorado intitulada Entre gingas e mulheres: memórias, ancestralidades e performances”. O objetivo é analisar como as memórias e as performances são construídas em um grupo de Capoeira Angola conduzido por mulheres (Dona Cora). Em Natal-RN, o movimento de mulheres na Capoeira Angola é considerado recente, tendo o seu marco inicial sido o 1º Encontro de Mulheres Angoleiras: Iê de Iaiá, realizado em 2016 pelo coletivo Cazulo Amarelo e mulheres afins. Desde então, outros grupos surgiram, cada um com demandas e particularidades que refletem a interseccionalidade entre gênero e raça em suas práticas cotidianas e organização coletiva. No âmbito do grupo de Estudos de Capoeira Angola Dona Cora-RN, exploraremos como os conceitos de gênero e raça são debatidos, bem como o protagonismo das mulheres dentro do espaço da Capoeira e camadas possuem continuidades e descontinuidades com o conceito performance. A metodologia adotada consistiu em trabalho de campo, envolvendo o acompanhamento de treinos, eventos, rodas de conversa e entrevistas semiestruturadas com as principais integrantes do grupo estudado. Os resultados obtidos permitem apresentar concepções inovadoras sobre performance, gênero e o processo de racialização dentro e fora da Capoeira Angola, sob uma perspectiva crítica e antropológica.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
O humor religioso nas redes sociais digitais: uma análise da atuação humorística de influenciadores evangélicos em contextos digitais
Lucas Ribeiro Rocha (UFF)
Resumo: Partindo de um interesse de pesquisa em analisar a atuação de evangélicos em espaços públicos, com foco no espaço digital a partir da observação continuada em redes sociais como Instagram, YouTube, TikTok, etc., é perceptível que há uma significativa presença de influenciadores evangélicos de diferentes denominações nas mídias digitais com uma profícua produção de conteúdos de diversos formatos feitos para serem publicados nas redes sociais digitais. Claro, a relação entre esses grupos religiosos com as mídias como rádios, televisão, jornais e nos meios digitais não é novidade. Dentre os diversos usos midiático-digitais possíveis, um desses formatos de produção de conteúdo é o uso do humor, seja na produção de memes, de esquetes humorísticas, de divulgação de trechos de shows de stand-up comedy, etc. Em uma pesquisa anterior para a monografia, investiguei o uso humorístico do pastor Claudio Duarte para abordar questões religiosas, como por exemplo, questões matrimoniais a partir da valoração de uma moralidade conservadora em torno dos papeis sociais do "marido" e da "esposa" valendo-se de uma percepção cristã. A ideia agora é dar continuidade à pesquisa sobre a relação entre o humor e religião em contextos digitais tendo em visto que o humor é um fenômeno social multifacetado, portanto, pode ser utilizado de diversas formas que vão desde o uso político seja como crítico de estruturas vigentes ou conservador, mas também como uma forma de comunicação cotidiana mais ampla. Em vista disso, o presente trabalho visa debater, a partir de uma perspectiva qualitativa, sobre a atuação humorística de influenciadores evangélicos nessas redes em articulação com a gramática religiosa a partir da noção de que o humor enquanto arte e discurso se mostra como uma potente possibilidade de atuação que é mobilizada por evangélicos para atuar nas redes sociais, desempenhando um papel relevante na veiculação dos mais diversos conteúdos no ambiente digital.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Da canoa que não se rema só: performance, corpo e xamanismo na cena contemporânea
Luiz Davi Vieira Gonvçalves (UEA)
Resumo: Esta proposta de apresentação tem como objetivo compartilhar a experiência dos processos de criação das performances Uhpu e Ukuse realizadas pelo grupo de pesquisa Tabihuni-Am junto com indígenas tendo como base a imersão nos rituais de xamanismo Yanomami e também do povo Yepamashã (Tukano). A experiência de imersão nos rituais ofereceu ao grupo Tabihuni uma qualidade de presença guiada pelas medicinas indígenas: rapé, ēpena, Karpi e sananga e orientada pelos pajés que transmutou a nossão de corpo todos participantes do grupo. No que tanque as metodologias e teorias para o pleito, os autores utilizados são: o indígena João Paulo Lima Barreto com o debate sobre a noção de corpo, a indígena Clainda Sateré Mawé com suas contribuições sobre músicas e danças e Jaime Diakara sobre o uso das medicinas indígenas na contemporaneidade.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
A música em jogo nas rodas de capoeira
Marco Antonio Saretta Poglia (DIER/SJCDH)
Resumo: A ideia de que o jogo não se restringe à atividade humana foi abordada por Joahn Huizinga em seu clássico Homo Ludens, um ponto fundamental para que o autor determinasse a primazia do jogo sobre a cultura. A questão reaparece em Gregory Bateson (1972) a partir de um conhecido insight que exerceu influência significativa nos estudos da antropologia da performance. Observando interações animais, o autor percebeu que eles muitas vezes interagem sob a dinâmica do jogo, envolvendo algum grau de metacomunicação capaz de transmitir a mensagem isto é um jogo”. Partindo para a exploração de várias instâncias do jogo, ele argumenta que alguns jogos não se desenvolvem a partir da premissa de que se está jogando, e sim da pergunta: isto é um jogo?”. Nessa perspectiva, as considerações sobre a atividade de jogar implicam igualmente uma ideia do que não é um jogo. Nas rodas de capoeira, o diálogo estabelecido entre os jogadores também demanda que a todo o momento seja transmitida alguma mensagem corporal comunicando que tipo de interação está sendo proposta. Não exatamente para indicar que se está jogando, mas para de algum modo se estabelecer as regras que vão prevalecer, já que elas são imanentes ao próprio jogo. Porque há sempre a possibilidade de a maré virar e um novo jogo, com novas regras, vir a se estabelecer. Assim, a pergunta fundamental a se fazer pode ser esta: qual o jogo que está em jogo? Atravessados por metáforas animais e das forças da natureza, os versos cantados nas rodas de capoeira interagem a todo momento com os jogadores, descrevendo e propondo novas formas de interação entre eles. Assim, busca-se compreender como os cantadores participam dessa trama complexa de relações que se estabelecem na roda de capoeira e que envolve negociações variadas sobre a ideia de jogo.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
TORNANDO O INVISÍVEL, VISÍVEL: o registro do movimento ritualístico por Maya Deren e um diálogo entre arte e antropologia.
Maria Eugênia Nunes Ferreira (UFRGS)
Resumo: Como representar imageticamente o que não se vê? Como perceber e comunicar o invisível? Com uma curiosidade pelo movimento corporal que se manifesta nos processos rituais, pela suspensão liminar durante o transe, nesta pesquisa, reflito sobre as possibilidades e os limites do registro etnográfico por meio da produção textual-imagética da multiartista e cineasta Maya Deren. Meu objeto de análise é o documentário Divine Horsemen: The Living Gods of Haiti, resultado de seu trabalho etnográfico realizado sobre o vodu haitiano durante um período de cinco anos e um livro de título homônimo publicado por ela (1953). Através de um interesse em articular discussões entre o campo da arte e da antropologia, esta pesquisa emerge do desejo em explorar como a experimentação artística que consiste o trabalho de Deren, teceu uma etnografia experimental, questionando o fazer antropológico. Busco explorar o movimento corporal em diálogo com a câmera a partir de sua etnografia corporificada, que é desenvolvida entre os corpos que dançam e do seu aparato técnico que os registra. Quando os sentidos se sobrepõem, a fala se torna secundária e o corpo que se move nesta performance revela-se a partir de si mesmo, entre passos, sons e repetições espiraladas de movimento. Busco compreender as estratégias articuladas pela artista no registro dos rituais vodu (por exemplo, como tensiona o momento de possessão durante um ritual e a possibilidade de captação do invisível ali manifesto) usando de fundamento reflexões da antropologia da performance (TURNER, 1987; DAWSEY, 2007), em diálogo com os trabalhos sobre rituais de Jean Rouch (1955) a ideia de câmera como extensão do corpo, de David Macdougall e posteriormente Grimshaw, no desenhar com a câmera (2015). Investigo também, seus diários pessoais de estudo fílmico sobre a produção visual antropológica de Margaret Mead e Gregory Bateson, Balinese Character, servindo de estudo para registro do movimento ritualístico. Assim, reflito criticamente sobre a dialética entre a posição de Deren como precursora do cinema experimental em contrapartida à sua diferente recepção na antropologia com sua etnografia experimental.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Desafios de registrar uma performance no campo do patrimônio imaterial
Marina Fares Ferreira (Autonoma)
Resumo: A performance é um fenômeno multifacetado que pode ser abordado por diferentes disciplinas, sendo uma delas, o campo do patrimônio cultural. A transformação de um bem em patrimônio cultural requer sua documentação essencialmente textual. Nesse campo, o patrimônio imaterial engloba práticas culturais que refletem modos de vida por meio de diversas expressões artísticas e culturais que têm o corpo como elemento central. O corpo é fundamental para a existência do patrimônio cultural, pois é através dele que tais práticas são manifestadas e transmitidas ao longo do tempo. Nos estudos patrimoniais, as formas de conhecimento incorporado podem ser negligenciadas onde textos, objetos e representações do corpo são mais valorizados que a ação do corpo em movimento como um texto em si. Nesse contexto, a antropóloga Diana Taylor propõe que a aprendizagem e a transmissão do conhecimento ocorrem por meio de ações incorporadas, que estão presentes nas performances. Assim, é através dessas performances que a memória e a identidade cultural de um grupo ou indivíduo são transmitidas. Para Taylor, a performance opera como uma episteme, um modo de conhecer. Ela argumenta que um bem cultural transcende as discussões entre palavras escritas e faladas. Para a autora, a questão central reside na distinção entre o conceito de arquivo e repertório, indicando que a compreensão de um patrimônio cultural só é possível quando consideramos não apenas seus registros estáticos, mas também suas manifestações dinâmicas e incorporadas na prática performática. Se as ações do corpo são essenciais para a preservação de um patrimônio cultural e essas ações são dinâmicas e estão em constante reinvenção, surge o desafio no campo do patrimônio de como registrar uma manifestação cultural dentro de um sistema que tradicionalmente se baseia na comunicação formalizada por meio de suportes textuais. Partindo desse questionamento e buscando compreender os desafios subjacentes à documentação de uma performance, esta comunicação propõe uma análise qualitativa fundamentada em categorias, características e elementos-chave extraídos de 48 dossiês de registro referentes aos anos de 2002 a 2021, os quais estão disponibilizados no site do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional IPHAN. Além de oferecer um panorama abrangente, esta comunicação também realizará uma análise detalhada dos movimentos corporais presentes em 12 dos 48 dossiês, classificados como pertencentes à categoria de forma de expressão, conforme definido IPHAN. Esta análise tem por objetivo compreender as diretrizes normativas para a elaboração de um dossiê de registro, examinar a descrição dos movimentos corporais e investigar a concepção de performance presente nos referidos documentos.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Johrei em Performance: Um Estudo Etnográfico da Prática de Imposição de Mãos na Igreja Messiânica Mundial do Brasil.
Thiago Guedes (UFSC)
Resumo: Este artigo tem como proposta refletir uma prática religiosa de origem nipônica conhecida como Johrei, centrada na experiência com o corpo e mediada por um amuleto sagrado, o estudo coloca em perspectiva essa prática como performance. A análise visa entender como o fundador da Igreja Messiânica Mundial do Brasil construiu sua relação com este amuleto sagrado que no desenrolar do seu desenvolvimento autorizou esta comunidade religiosa a ministrar o johrei, conferindo-lhe experiências mágicas e examinando o papel dessa construção na prática religiosa em questão.
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