Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 075: Mundos em performance: interfaces entre antropologia e arte
A música em jogo nas rodas de capoeira
A ideia de que o jogo não se restringe à atividade humana foi abordada por Joahn Huizinga em seu
clássico Homo Ludens, um ponto fundamental para que o autor determinasse a primazia do jogo sobre a cultura.
A questão reaparece em Gregory Bateson (1972) a partir de um conhecido insight que exerceu influência
significativa nos estudos da antropologia da performance. Observando interações animais, o autor percebeu
que eles muitas vezes interagem sob a dinâmica do jogo, envolvendo algum grau de metacomunicação capaz de
transmitir a mensagem isto é um jogo. Partindo para a exploração de várias instâncias do jogo, ele
argumenta que alguns jogos não se desenvolvem a partir da premissa de que se está jogando, e sim da
pergunta: isto é um jogo?. Nessa perspectiva, as considerações sobre a atividade de jogar implicam
igualmente uma ideia do que não é um jogo.
Nas rodas de capoeira, o diálogo estabelecido entre os jogadores também demanda que a todo o momento seja
transmitida alguma mensagem corporal comunicando que tipo de interação está sendo proposta. Não exatamente
para indicar que se está jogando, mas para de algum modo se estabelecer as regras que vão prevalecer, já que
elas são imanentes ao próprio jogo. Porque há sempre a possibilidade de a maré virar e um novo jogo, com
novas regras, vir a se estabelecer. Assim, a pergunta fundamental a se fazer pode ser esta: qual o jogo que
está em jogo? Atravessados por metáforas animais e das forças da natureza, os versos cantados nas rodas de
capoeira interagem a todo momento com os jogadores, descrevendo e propondo novas formas de interação entre
eles. Assim, busca-se compreender como os cantadores participam dessa trama complexa de relações que se
estabelecem na roda de capoeira e que envolve negociações variadas sobre a ideia de jogo.
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
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