ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 075: Mundos em performance: interfaces entre antropologia e arte
A música em jogo nas rodas de capoeira
A ideia de que o jogo não se restringe à atividade humana foi abordada por Joahn Huizinga em seu clássico Homo Ludens, um ponto fundamental para que o autor determinasse a primazia do jogo sobre a cultura. A questão reaparece em Gregory Bateson (1972) a partir de um conhecido insight que exerceu influência significativa nos estudos da antropologia da performance. Observando interações animais, o autor percebeu que eles muitas vezes interagem sob a dinâmica do jogo, envolvendo algum grau de metacomunicação capaz de transmitir a mensagem isto é um jogo”. Partindo para a exploração de várias instâncias do jogo, ele argumenta que alguns jogos não se desenvolvem a partir da premissa de que se está jogando, e sim da pergunta: isto é um jogo?”. Nessa perspectiva, as considerações sobre a atividade de jogar implicam igualmente uma ideia do que não é um jogo. Nas rodas de capoeira, o diálogo estabelecido entre os jogadores também demanda que a todo o momento seja transmitida alguma mensagem corporal comunicando que tipo de interação está sendo proposta. Não exatamente para indicar que se está jogando, mas para de algum modo se estabelecer as regras que vão prevalecer, já que elas são imanentes ao próprio jogo. Porque há sempre a possibilidade de a maré virar e um novo jogo, com novas regras, vir a se estabelecer. Assim, a pergunta fundamental a se fazer pode ser esta: qual o jogo que está em jogo? Atravessados por metáforas animais e das forças da natureza, os versos cantados nas rodas de capoeira interagem a todo momento com os jogadores, descrevendo e propondo novas formas de interação entre eles. Assim, busca-se compreender como os cantadores participam dessa trama complexa de relações que se estabelecem na roda de capoeira e que envolve negociações variadas sobre a ideia de jogo.