Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 075: Mundos em performance: interfaces entre antropologia e arte
Entre deitar e levantar: danças do boi de mamão.
Dentre tantos folguedos e brincadeiras populares com o boi no Brasil, destaca-se no litoral sulista,
sobretudo em Florianópolis, o boi de mamão. Neste contexto, um boi passa mal e falece de causas variadas,
ressuscitando tempos depois através de processos específicos e distintos de cura. Após esta ressurreição, o
animal levanta e abre a roda para uma série de personagens, em sua maioria animais, entrarem e brincarem no
espaço deixado. Esse movimento - o levantar -, pode ser visto como uma virada de ato na brincadeira: o antes
e o depois do boi reviver, ser laçado e retirado da roda. Neste trabalho, apresentam-se descrições
etnográficas a partir de experiências em campo com bois de mamão florianopolitanos, buscando construir uma
perspectiva do que pode ser a dança do boi de mamão. Dizer isso, de certa forma, é pressupor que ele dança;
por sua vez, reconfigura-se, talvez, o próprio entendimento do que é dançar. Independente disso, temos que
seu deitar-morrer e seu reviver-levantar abrem caminhos dentro da brincadeira, como também podem abrir
caminhos sobre o que é performar e dançar - talvez não enquanto substantivos, mas como verbos. Reforça-se,
dessa forma, o caráter parcial da proposta: muito ocorre nessas brincadeiras além do enredo do boi. Ainda
assim, deixar de lado, por um momento, os giros das Maricotas, o perigo das bernunças e a diversão das
cabrinhas, ao focarmos nos movimentos do boi de mamão, pode ter o efeito de colocar em diálogo esse boi com
outros de outros estados e regiões brasileiras. Nesse caminho, o primeiro passo para essa ponte ser
edificada, ao menos dentro da antropologia, pode ser a descrição etnográfica. Em outras palavras, a busca
ela mesma, nessas textualidades literárias e experimentais, do que esses corpos e presenças brincantes
realizam em cena.