Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 075: Mundos em performance: interfaces entre antropologia e arte
Quando arte e crime se encontram: golpistas trapaceiros, seus personagens e performances.
Jania Perla Diógenes de Aquino (UFC)
O trabalho aborda componentes dramatúrgicos e performáticos na atuação de três golpistas que se tornaram
famosos nas últimas décadas e que, sem recorrer à violência física, enganaram grande quantidade de pessoas e
obtiveram elevadas quantias, demonstrando habilidades em produzir narrativas, cenários e personagens
verossímeis, apesar de falsos. Anna Sorokin, é a jovem russa que, nos anos 2010, apresentou-se nos EUA como
Ana Delvey, suposta herdeira alemã de uma fortuna de 60 milhões de euros. Ela morava em hotéis cinco
estrelas, frequentava festas exclusivas, vestia roupas de grife e viajava em jatos privados.conseguiu
enganar a elite e o sistema financeiro novaiorquino. Sua trajetória foi enredo do livro "Inventando Ana", da
jornalista Rachel Williamns, que também se tornou uma série de sucesso na Netflix. Outro golpista que ganhou
notoriedade mundial recentemente foi o jovem israelense Simon Leviev. Passando-se por um milionário russo,
dono de minas de diamantes, Simon usava o Tinder para seduzir mulheres na Europa. levando-as a transferir
altas somas para sua conta. Algumas das mulheres engodadas por Simon falam do enlace com o jovem no
documentário "O golpista do Tinder", lançado pela Netflix em2022. O terceiro impostor analisado é o
brasileiro Marcelo Rocha que ficou conhecido no pais, nas anos de 1990 e 2000, por variados golpes de
estelionato. Em 2001, ele foi preso em uma atuação ousada, em que se passava pelo empresário Henrique
Constantino, cofundador da companhia aérea GOL, durante um carnaval fora de época em Recife. Na ocasião,
enganou celebridades, namorou modelo e concedeu entrevista ao programa do Amaury Junhior, da emissora
Record. Ele também se passava por guitarrista da banda Engenheiros do Hawaii para entrar em boates e beber
sem pagar a conta. Em uma delegacia do interior do Paraná, apresentou-se como policial e lá trabalhou por
semanas, tendo chegado mesmo a prender bandidos. Embora não tenha auferido altas somas com suas encenações,
obteve consideráveis dividendos com as vendas do Livro VIPS, baseado em sua biografia, que veio se tornar um
filme nacional, de mesmo nome. Atualmente Marcelo se apresenta como empresário, consultor e palestrante.
Partindo da exposição de suas fraudes e truques, este paper argumenta que tais trapaceiros são sujeitos que
desenvolvem uma sofisticada compreensão da estrutura social e seu funcionamento, mobilizando tal
conhecimento para ludibriar e obter vantagens nas intenções sociais da vida cotidiana. O mundo de glamour
que engendram com suas mentiras figuraria como espelho mágico ou antiestrutura. As "plateias" se deixariam
seduzir pelas performances "cínicas" dos golpistas porque também se identificam om os personagens que eles
criam e gostariam de vivenciar as "estórias" que eles contam.