Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 075: Mundos em performance: interfaces entre antropologia e arte
Coletivo de colagens Antropo(i)lógicas: experiências em práticas performativas
Somos um coletivo de oito mulheres que estudaram antropologia na UnB nos anos 1980/1990, e nos
reencontramos, trinta anos depois, para fazermos colagens. O primeiro encontro do coletivo Iló, Colagens
Antropo(i)lógicas, aconteceu em setembro de 2022, no Vilarejo 21, espaço independente de arte, em Brasília.
Exercitamos livremente a colagem, considerando técnicas variadas e estudos em colagens dadaístas e
surrealistas, movimentos artísticos das vanguardas europeias que surgiram no mesmo contexto em que surgiu a
pesquisa etnográfica. Seguimos nos reunindo para experimentos com colagem como forma de imaginação e
pensamento sobre o mundo, sobre identidades e alteridades. As colagens do coletivo são, no contemporâneo,
atravessadas e antropofagizadas por nossas experiências etnográficas, por nossos encontros e desencontros em
campo e pelo estranhamento à nossa própria cultura. A reflexão sobre as interfaces possíveis entre
antropologia e arte não é mais uma novidade no ensino e na prática antropológica. Já há quase cinquenta
anos, a antropologia visual e os estudos da performance abriram novas fronteiras na pesquisa etnográfica,
inserindo, para além do texto escrito, a imagem como artefato cultural e ferramenta de pesquisa, explorando
novas formas e sentidos no encontro etnográfico. Tornou-se possível fazer uma etnografia desenhada,
construir uma narrativa fílmica ou uma autoetnografia para expressar a alteridade. Nos perguntamos, no
âmbito dessas possibilidades metodológicas, se a colagem (como artefato), ou o ato de colar (como gesto),
não se constituiria em uma possibilidade etnográfica capaz de revelar imaginários coletivos e individuais,
envolvendo memórias, subjetividades e sentidos. Esse campo emergente se constitui em ato, numa confluência
espaço-temporal própria, como um jogo que se faz sempre novo a cada encontro-performance. Constituindo-se
como campo aberto à experimentação, ele permite no gesto de cortar e colar a desestruturação das
imagens-mundo prontas, assim como com seus resíduos formar novas imagens-mundo carregadas de alteridade. O
encontro é assim ato performativo pleno, à medida que gera efeitos concretos, como impressões palpáveis do
seu acontecimento. O gesto da colagem é um fazer subversivo, pois desnaturaliza ao fragmentar o conhecido,
desestruturando a sacralidade do dado, e reúne o disjunto de modo a revelar suas infinitas potencialidades
latentes. Intervém com liberdade na criação de mundos, personas, totens e seres híbridos que transitam em
multi realidades polissêmicas. Transcria corpos-imagens em novas configurações e dá vida a inusitadas
cartografias de sentidos, tecendo, entre frestas e dobras, diálogos entre antropologia e arte.