ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 075: Mundos em performance: interfaces entre antropologia e arte
Coletivo de colagens Antropo(i)lógicas: experiências em práticas performativas
Christine de Alencar Chaves (UNB), Lelia Lofego Rodrigues (UNB), Rita de Cássia de Almeida Castro (UNB), Lara Santos de Amorim (UFPB), Adriana Dantas de Mariz (SF)
Somos um coletivo de oito mulheres que estudaram antropologia na UnB nos anos 1980/1990, e nos reencontramos, trinta anos depois, para fazermos colagens. O primeiro encontro do coletivo Iló, Colagens Antropo(i)lógicas, aconteceu em setembro de 2022, no Vilarejo 21, espaço independente de arte, em Brasília. Exercitamos livremente a colagem, considerando técnicas variadas e estudos em colagens dadaístas e surrealistas, movimentos artísticos das vanguardas europeias que surgiram no mesmo contexto em que surgiu a pesquisa etnográfica. Seguimos nos reunindo para experimentos com colagem como forma de imaginação e pensamento sobre o mundo, sobre identidades e alteridades. As colagens do coletivo são, no contemporâneo, atravessadas e antropofagizadas por nossas experiências etnográficas, por nossos encontros e desencontros em campo e pelo estranhamento à nossa própria cultura. A reflexão sobre as interfaces possíveis entre antropologia e arte não é mais uma novidade no ensino e na prática antropológica. Já há quase cinquenta anos, a antropologia visual e os estudos da performance abriram novas fronteiras na pesquisa etnográfica, inserindo, para além do texto escrito, a imagem como artefato cultural e ferramenta de pesquisa, explorando novas formas e sentidos no encontro etnográfico. Tornou-se possível fazer uma etnografia desenhada, construir uma narrativa fílmica ou uma autoetnografia para expressar a alteridade. Nos perguntamos, no âmbito dessas possibilidades metodológicas, se a colagem (como artefato), ou o ato de colar (como gesto), não se constituiria em uma possibilidade etnográfica capaz de revelar imaginários coletivos e individuais, envolvendo memórias, subjetividades e sentidos. Esse campo emergente se constitui em ato, numa confluência espaço-temporal própria, como um jogo que se faz sempre novo a cada encontro-performance. Constituindo-se como campo aberto à experimentação, ele permite no gesto de cortar e colar a desestruturação das imagens-mundo prontas, assim como com seus resíduos formar novas imagens-mundo carregadas de alteridade. O encontro é assim ato performativo pleno, à medida que gera efeitos concretos, como impressões palpáveis do seu acontecimento. O gesto da colagem é um fazer subversivo, pois desnaturaliza ao fragmentar o conhecido, desestruturando a sacralidade do dado, e reúne o disjunto de modo a revelar suas infinitas potencialidades latentes. Intervém com liberdade na criação de mundos, personas, totens e seres híbridos que transitam em multi realidades polissêmicas. Transcria corpos-imagens em novas configurações e dá vida a inusitadas cartografias de sentidos, tecendo, entre frestas e dobras, diálogos entre antropologia e arte.