ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 075: Mundos em performance: interfaces entre antropologia e arte
Tragédia como forma teatral e experiência na peça Antígona na Amazônia (Milo Rau/ NTGent & MST, 2023): um diálogo a partir da antropologia da performance
A presente comunicação tem o intuito de apresentar os primeiros movimentos da reflexão desenvolvida no âmbito do estágio pós-doutoral que realizo junto ao departamento de antropologia da USP em 2024. O projeto de pesquisa se propôs a analisar a dramaturgia e encenação da peça Antigone in the Amazon (Antígona na Amazônia) e refletir sobre a tragédia enquanto forma teatral e experiência, tendo em vista a participação de atores ativistas em cena. Na articulação entre o diretor belga Milo Rau conhecido por seu teatro antropológico ou investigativo -, o MST e ativistas indígenas e quilombolas, a peça apresenta uma série de questões para pensar as performances contemporâneas e conceitos fundamentais para os estudos da performance, a exemplo da noção de experiência. Concordando com Schechner (2011) de que há muito o teatro vem se antropologizando e a antropologia está sendo teatralizada, considero que pode ser bastante produtivo tomar Antígona na Amazônia como uma forma de explorar esse diálogo. Embora o campo de estudos de performance tenha um caminho consolidado e muitos balanços teóricos a respeito da relação entre antropologia e teatro tenham sido feitos, de ambos os lados, entendo que a peça também reflete sobre os lugares do conhecimento antropológico, teatral e do ativismo político diante da emergência climática e de um mundo que corre rapidamente ao encontro do fim. Considerando o drama social da luta pela terra como tragédia da experiência humana, a peça remete sua dramaturgia e encenação à forma do drama grego e ao processo ritual do trágico. Enquanto experiência da tragédia, o drama social de ativistas Sem Terra, indígenas e quilombolas torna-se local, específico, cotidiano, uma experiência que parece ser completada pela performance, como apontou Dawsey (2005) com relação à noção de experiência para Turner. Esta comunicação pretende, portanto, explorar as primeiras análises da dramaturgia e encenação de Antígona na Amazônia, buscando evidenciar a interlocução da antropologia da performance com a obra.