ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 075: Mundos em performance: interfaces entre antropologia e arte
TORNANDO O INVISÍVEL, VISÍVEL: o registro do movimento ritualístico por Maya Deren e um diálogo entre arte e antropologia.
Maria Eugênia Nunes Ferreira (UFRGS)
Como representar imageticamente o que não se vê? Como perceber e comunicar o invisível? Com uma curiosidade pelo movimento corporal que se manifesta nos processos rituais, pela suspensão liminar durante o transe, nesta pesquisa, reflito sobre as possibilidades e os limites do registro etnográfico por meio da produção textual-imagética da multiartista e cineasta Maya Deren. Meu objeto de análise é o documentário Divine Horsemen: The Living Gods of Haiti, resultado de seu trabalho etnográfico realizado sobre o vodu haitiano durante um período de cinco anos e um livro de título homônimo publicado por ela (1953). Através de um interesse em articular discussões entre o campo da arte e da antropologia, esta pesquisa emerge do desejo em explorar como a experimentação artística que consiste o trabalho de Deren, teceu uma etnografia experimental, questionando o fazer antropológico. Busco explorar o movimento corporal em diálogo com a câmera a partir de sua etnografia corporificada, que é desenvolvida entre os corpos que dançam e do seu aparato técnico que os registra. Quando os sentidos se sobrepõem, a fala se torna secundária e o corpo que se move nesta performance revela-se a partir de si mesmo, entre passos, sons e repetições espiraladas de movimento. Busco compreender as estratégias articuladas pela artista no registro dos rituais vodu (por exemplo, como tensiona o momento de possessão durante um ritual e a possibilidade de captação do invisível ali manifesto) usando de fundamento reflexões da antropologia da performance (TURNER, 1987; DAWSEY, 2007), em diálogo com os trabalhos sobre rituais de Jean Rouch (1955) a ideia de câmera como extensão do corpo, de David Macdougall e posteriormente Grimshaw, no desenhar com a câmera (2015). Investigo também, seus diários pessoais de estudo fílmico sobre a produção visual antropológica de Margaret Mead e Gregory Bateson, Balinese Character, servindo de estudo para registro do movimento ritualístico. Assim, reflito criticamente sobre a dialética entre a posição de Deren como precursora do cinema experimental em contrapartida à sua diferente recepção na antropologia com sua etnografia experimental.