Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 075: Mundos em performance: interfaces entre antropologia e arte
As performances da família Ganga Zumba: oralidade, saberes e apresentações
Esta comunicação é parte da minha pesquisa de doutorado que tem foco no Grupo Afro Ganga Zumba (Ganga),
localizado no Quilombo Urbano do Bairro de Fátima, no município de Ponte Nova, na Zona da Mata mineira. A
centralidade está na família Ganga Zumba, constituída de lideranças que criaram o Grupo Afro Ganga Zumba, em
1988, a partir de um protesto dançante, bem como das pessoas que foram se somando ao grupo por: interesse na
luta antirracista; forma de combate à depressão; e convívio na comunidade, sobretudo as crianças que queriam
fazer igual aos mais velhos. A centralidade das relações no saber viver gangazumbeiro constrói e atualiza os
limites da família a partir do sangue, afinidade e parentesco por consideração. Inspirada em Schechner
(1985; 1988; 2003), compreendo esses saberes como performances cotidianas: nas memórias e narrativas da
oralidade repletas de sensorialidade que produzem comunidade, família, liderança e Ganga; nas práticas
cotidianas dessa família que possibilitaram a criação, manutenção e consolidação do grupo. A oralidade sobre
a ocupação do território e as práticas cotidianas, sobretudo, o cuidar dos filhos/as de mulheres que
precisam sair de casa para trabalhar, cria um espaço que propicia a consolidação e atualização das tradições
entre diferentes gerações. Esses saberes performáticos são reapropriados na organização das atividades e
apresentações do grupo. Especificamente, o núcleo de cantoria e percussão Irmandade Bantu atual carro chefe
do Ganga, composto majoritariamente por mulheres da terceira idade, é um espaço de produção da autoestima,
pertencimento e subjetividades negras empoderadas. Durante as performances artísticas, educacionais e/ou
religiosas preparação, apresentação, e pós apresentação essas mulheres são transportadas do papel cotidiano
de gestoras da casa e família, para o de mulheres negras, artistas, valorizadas e aplaudidas pela arte de
tocar e cantar que contribui na luta antirracista. Esse deslocamento frequente, decorrente dos muitos
eventos e viagens para os quais a Irmandade são convidadas para se apresentar, vai produzindo gradualmente
novas visões sobre si e os seus. Nesse processo, destaca-se a liderança Rosangela, especialista em arrumar a
si e aos outros, que através de saberes estéticos proporciona uma narrativa visual da beleza negra e a
sensação de se sentir bonita, através da escolha dos figurinos utilizados. A materialidade contribui para um
modo de subjetivação ético-política pautada pela beleza negra e para a produção de afetos alegres no
cotidiano e nas apresentações. As narrativas políticas de Rosangela passam, além da linguagem referencial,
pela estética e afeto, que invertem a hierarquização imposta pela segregação racial municipal e compõe a
luta alegre do Ganga.