Grupos de Trabalho (GT)
GT 051: Envelhecimentos, Interseccionalidade e Cuidados
Coordenação
Carlos Eduardo Henning (UFG), Rachel Aisengart Menezes (IESC/UFRJ)
Resumo:
Os envelhecimentos em suas múltiplas facetas figuram como temas relativamente consolidados para a Antropologia. O que significa uma sociedade, um sujeito ou um grupo envelhecer “bem” são temas de disputas acadêmicas, sociais e políticas. O fenômeno ganha centralidade com a recorrente argumentação demográfica de que o Brasil, como outros lugares no mundo, estaria envelhecendo e, por isso, seria necessário criar e defender políticas de cuidado, assistência e atenção, assim como definir e combater expressões de etarismo. Trata-se, ainda, de uma questão complexa devido à heterogeneidade envolvida nos envelhecimentos, o que leva em consideração, por exemplo, pertencimentos de gênero, raça, classe, sexualidade, etnicidade, corporalidades, deficiências, local de moradia, religião, status de saúde, entre outros. Tais questões adicionam diversas camadas de problematização no que diz respeito às disputas sobre o que é envelhecer de modo “bem sucedido”, quem poderia alcançar tais concepções prescritivas, ou, até mesmo, quais grupos estão, de fato, tendo condições de envelhecer no contemporâneo. Neste sentido, convidamos para submeterem a esse GT pesquisas que investiguem velhices e envelhecimentos em suas mais diversas facetas e heterogeneidades, com especial atenção às abordagens teóricas, epistemológicas e metodológicas que priorizem interseccionalidades, assim como marcadores sociais das diferenças, “envelhecimentos bem-sucedidos", cuidado e apoio social.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Alexandre Gaspari Ribeiro (UERJ)
Resumo: Meia idade é o nome comumente dado a uma fase do curso da vida na qual se está num entre lugares,
utilizando a noção de liminaridade de Turner (2005): não se está mais nos primeiros anos da fase adulta,
ainda bastante relacionados à juventude, mas também ainda não se chegou à velhice e suas marcas, sobretudo
físicas. De definição imprecisa quando se trata de marcos cronológicos, tem como principal característica
sua proximidade com a última etapa da vida. Embora qualquer pessoa comece a envelhecer a partir do momento
em que nasce, é a meia idade que costuma nos lembrar da passagem do tempo. Entretanto, essa atenção ao
envelhecer não é uma regra inflexível: a percepção do envelhecimento se dá de variadas maneiras, e parece
mais ser apontada pelo outro do que por nós mesmos. Assim, este trabalho apresenta parte da minha pesquisa
de doutorado que analisou como homens com práticas homoeróticas de meia idade entendem o envelhecimento e
como se preparam se é que se preparam para essa nova fase da vida. Morando na Região Metropolitana do Rio de
Janeiro (RMRJ) e no Extremo Sul da Bahia (ESB) regiões completamente díspares se considerarmos dados
demográficos e socioeconômicos, esses homens são perpassados não apenas pelo curso da vida, mas também por
outras categorias sociais de diferenciação, como gênero, sexualidade, corporalidade, território/local de
origem e/ou moradia, classe social, raça/cor da pele e também geração, apesar de sua proximidade etária.
Assim, mostram similaridades e diferenças que indicam as inúmeras nuances que o envelhecer traz às suas
vidas. A partir de referenciais teóricos sobre homossexualidade, envelhecimento e outros marcadores sociais
da diferença, o estudo foi desenvolvido por meio de entrevistas semi-estruturadas, em profundidade, que
buscaram saber desses sujeitos o seu presente quem são e o que fazem atualmente; o seu passado a descoberta
do desejo homossexual e como tal fato se desdobrou nas relações familiares e de amizade; e o que imaginam
para o seu futuro quando (e se) perceberam que o tempo está passando e se fazem algo para frear as máscaras
do envelhecimento, como aponta Simões (2004). Necessário ressaltar que o desenvolvimento da pesquisa foi
profundamente afetado pela pandemia de Covid-19, que não apenas ampliou o território a ser estudado do Rio
para o Sul da Bahia, como também impediu a proposta inicial de uma frequência efetiva em locais de
sociabilização desses homens, de modo a captar suas relações. Apesar disso, o que se percebe é que a
proximidade da velhice, embora não apontada como um fator que cause medo, é agenciada de variadas formas. E
também modificada de acordo com a situação e as relações vividas por esses homens seja no Rio, seja no sul
baiano.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Amanda Raquel da Silva (Prefeir)
Resumo: Esta pesquisa investiga algumas dimensões da vivência de gêneros e sexualidades de indivíduos nas
fronteiras etárias dos 60 anos que frequentam festas de forró em Natal e municípios vizinhos, no Estado do
Rio Grande do Norte, Nordeste brasileiro, onde eventos de lazer são direcionados a esse público específico.
O objetivo do trabalho foi conduzir uma pesquisa qualitativa através de uma etnografia dos circuitos de
festas e sociabilidades, mais precisamente forrós, cujo público-alvo ou predominante são pessoas
consideradas mais velhas. Aqui, o forró aparece como estratégia de sociabilidade, de pessoas de classe
popular, para as suas sexualidades. Por meio da participação e observações nos eventos, analisarei cenas
observadas e outras dinâmicas, inclusive, as falas de mulheres e homens heterossexuais buscando compreender
suas percepções em relação ao corpo, sexualidade, afeto, envelhecimento, desejo e expectativas de
comportamento nas suas vidas. Ao pesquisar esses espaços encontro um público cuja grande maioria é negra,
mas que ainda assim as categorias de cor e raça aparecem sob mecanismos que proporcionam disposições
hierárquicas que se apresentam de diferentes maneiras. A partir disso, reservo um espaço dedicado para
evidenciar impressões e sensações suscitadas nos ambientes de festas. A presença e participação ativa de
minha mãe, mulher negra, de 59 anos de idade, também recebem uma atenção mais aprofundada, pois sua entrada
trouxe consigo uma dimensão a parte do meu papel de pesquisadora, mas também provocou transformações
dinâmicas na pesquisa. Além disso, reflito sobre como essa participação significou uma mudança impactante em
sua própria vida, integrando-se à rede de forrozeiros que eu estava estudando. Em suma, ao acompanhar de
perto o exemplo de uma parente, revelo como sua participação nesses espaços de sociabilidade, permitem a ela
não apenas dançar e interagir, mas também reconhecer uma nova dimensão de si mesma. Logo, meu intuito com
esse artigo é mostrar como as combinações desses mecanismos como raça, gênero e classe, articulados à
geração, são analisados sob a ótica de espaços sociais voltados para um público mais velho nas festas de
forró. Assim, pretendo mostrar como essas interseções moldam as experiências individuais e coletivas nesses
ambientes específicos, através de situações presenciadas e vivenciadas em campo, ao explorar três cenas onde
mulheres negras serão protagonistas, e que ilustrarão dinâmicas observadas nas festas de forró. A análise
revelará como o desejo se manifesta nos corpos racializados e sexualizados, o que fala também sobre as
complexas interações sociais que estarão presentes nesses espaços.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Ana Paula Marcelino da Silva (UFPB)
Resumo: As Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI) se apresentam de formas diversas, principalmente
no que se refere a seus aspectos socioeconômicos e estruturais. A depender da época e do local em que foram
fundadas, o estilo arquitetônico e a condição socioeconômica das pessoas idosas institucionalizadas, o
cotidiano nessas instituições apresenta particularidades como a presença de rituais e símbolos religiosos
específicos e rotinas perpassadas pela dinâmica religiosa. Por outro lado, o Estado, ao adentrar nessas
instituições que possuem viés caritativo, também traz elementos e ritos específicos e atrelados à práticas
biomédicas de cuidado. Neste trabalho discutiremos as características da rotina de cuidados de idosos
institucionalizados em uma ILPI fundada pela Igreja Católica em meados do século XX. A instituição, situada
no interior do estado de Pernambuco, no nordeste brasileiro, recebe aporte funcional e financeiro da
Prefeitura local, além de doações de materiais diversos por parte de empresas locais. O espaço físico em que
a ILPI funciona faz parte do conjunto arquitetônico de uma igreja construída em 1752 e sofreu poucas
modificações. O corpo funcional da instituição está organizado em duas partes: uma composta por funcionários
da prefeitura pertencentes ao quadro da secretaria de saúde, como enfermeiros, médico (no singular),
fisioterapeutas e nutricionistas e; b) outra composta por cuidadoras de idosos pertencentes ao quadro
funcional da própria ILPI. Sob a forma de doações, a instituição ainda recebe equipamentos, produtos
alimentícios e produtos de higiene pessoal por parte de empresas locais. Nesse sentido, Igreja, Estado e
iniciativa privada formam um tripé por meio do qual a instituição se sustenta e atua na prestação de
cuidados aos idosos institucionalizados, criando uma rotina de cuidados caracterizada pelo viés caritativo,
tensões entre saberes biomédicos e não-biomédicos, perpassada por interesses econômico-financeiros e
sociais. Em meio a disputa pela prestação desse cuidado necessário, homens e mulheres envelhecem sem muita
agência sobre as decisões que são tomadas a seu respeito.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Artur Pereira Quinteiro Costa (Pendente) (UFPB)
Resumo: A longevidade é algo cada vez mais latente na nossa sociedade, as previsões demográficas apontam para um
aumento cada vez maior da pirâmide etária brasileira nas camadas das populações idosas. O envelhecer passar
a ser uma realidade presente no cotidiano brasileiro, estabelecendo o desafio do envelhecimento
bem-sucedido.
O viver em um espaço como uma instituição de Longa Permanência Para Pessoas idosas- ILPI, demanda uma série
de desafios aos seus atores (moradores, funcionários, familiares e o poder público), e trazendo o estigma de
um envelhecer mal-sucedido.
Esses desafios trazem consigo, toda uma gama de repercussões para a vida dos protagonistas do corpo social
dessas instituições, que são os moradores e as suas cuidadoras.
A pandemia de Covid-19, que afetou drasticamente esses estabelecimentos, potencializou significativamente os
desafios já existentes, e gerou outros consideravelmente, fazendo com que o cotidiano em ILPIs se tornasse
ainda mais interessante para uma análise sob o olhar da antropologia. Ao longo da pandemia, podemos perceber
que o vírus SARS-CoV-2 não destruiu essas instituições, bem como o Sistema único de Saúde-SUS, mas que há um
continuo desmantelamento, por práticas neoliberais, do SUS e do Sistema único de Assistência Social-SUAS.
Assim, O trabalho oferecido para a reflexão no Grupo de trabalho-GT irá relatar uma pesquisa etnográfica,
realizada em ILPI pública, durante a pandemia de Covid-19, localizada no sertão pernambucano, que além de
impactada pelo surto do SARS CoV-2, tem em seu cotidiano atravessamentos decorrentes de questões
socioeconômicas, geográficas, raciais, de gênero e de conflitos entre a sociedade civil e governamental.
Detalhando como as dinâmicas do cuidado se moldaram e se renovaram nessas instituições no auge da pandemia.
Problematizando as ações de cuidado, oriundas do poder público no combate ao Corona vírus e não à pandemia
em sí, potencializando situações bem características das ILPIs, como o isolamento social, criando um
fenômeno nomeado na pesquisa como duplo isolamento.
O trabalho de pesquisa também refletiu sobre a necessidade de uma nova produção da vida nessas instituições,
dessa forma estabelecendo enormes desafios e transformações, com enormes potenciais para a construção( e
reconstrução) do fazer antropológico.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Daniel da Silva Stack (UFSC)
Resumo: Inspirado pelas análises que apontam a ascensão de sites e aplicativos de relacionamentos como
propulsores de uma cultura afetiva global cujo capital sexual dominante estruturaria as relações afetivas e
sexuais, nessa comunicação apresentarei resultados parciais da pesquisa em andamento sobre a articulação
entre masculinidades, homossexualidades e envelhecimento para homens que utilizam aplicativos de
relacionamentos em contextos interioranos. A partir de pesquisa anterior, identifiquei a centralidade de
aplicativos de relacionamentos na construção das relações afetivas-sexuais para jovens universitários
nativos digitais em contexto interiorano gaúcho, o que evidenciou, em parte, a maneira como as relações que
se constroem por meio de aplicativos vão ao encontro da perspectiva de uma cultura afetiva global. Em
contraste, expôs que contextos caracterizados como interioranos revelam particularidades locais na
apropriação e uso dos aplicativos de relacionamento, produzindo mecanismos de exclusão e agenciamentos.
Desta forma, lançando mão da categoria analítica alteridades complexas, problematizo o modo como sujeitos
dissidentes sexuais, e em alguns casos de gênero, experienciam a vivência cotidiana da sexualidade nos usos
de aplicativos de relacionamento em contextos urbanos e rurais do interior catarinense. Ao articular a
categoria descritiva idade a estas experiências, é possível observar que a noção de juventude é objetivada
para a conquista de capital sexual em aplicativos de relacionamento em que homens considerados "mais velhos"
são preteridos por outros perfis de usuários em aplicativos. Diante destes processos de distribuição
desigual de prestígios e privilégios nas dinâmicas dos aplicativos, é possível identificar algumas dimensões
analíticas, das quais destaco duas: a aquisição de letramento tecnológico sobre aplicativos, visto que
diferente do público da pesquisa anterior a qual construíram seu desejo e experiências em paralelo a
ascensão de aplicativos de relacionamento, esses sujeitos desenvolveram seu desejo em um momento a qual a
internet estava se delimitando, com isso o uso de tais tecnologias se constroem de modo particular e, de
modo articulado, a abordagem do envelhecimento através dos perfis presentes nos aplicativos de
relacionamentos, que por meio de lentes etaristas, restringem o campo de possibilidades das relações
afetivo-sexuais para determinados sujeitos.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Delson Ferreira (IF Goiano)
Resumo: Tendo por objetivo analisar como as narrativas sobre as experiências universitárias e de vida dos/as
estudantes de graduação com sessenta anos de idade ou mais da Universidade Federal de Goiás contribuem ou
não para produzir, por meio dos seus agenciamentos, potenciais novos significados para as suas velhices e
transformações dos cursos de suas vidas, os estudos iniciais desta pesquisa foram teóricos e se deram por
meio de uma revisão de parte da produção acadêmica sobre as passagens do curso da vida, especificamente da
fase adulta para a velhice, quanto às suas práticas sociais, seus sentidos individuais, coletivos e suas
reconfigurações culturais contemporâneas. O seu objeto parte do trabalho de campo realizado, subdividido em
duas prospecções, uma primeira quantitativa e, em seguida, outra qualitativa, ambas voltadas para a
realização de uma etnografia, concretizada por entrevistas de campo feitas por meio da internet com uso da
plataforma Google Meet. Sendo assim, tratamos aqui de apresentar, analisar e comunicar, de forma breve e
específica, os resultados obtidos na primeira prospecção do campo, a quantitativa, que foi realizada com a
aplicação de um questionário (survey) postado em formulário on-line por meio da plataforma Google Docs.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Érica Renata de Souza (UFMG)
Resumo: Essa comunicação propõe reflexões acerca da noção de prevenção visando a um envelhecimento saudável.
Suposições normativas de envelhecer bem incluem a prevenção da demência. Em pesquisa anterior, mostramos que
a perspectiva hegemônica dos artigos científicos da neurologia norte-americana, que embasa também a
brasileira (Souza et al. 2022), não está necessariamente preocupada com a prevenção e tampouco com a
interseccionalidade, mas sim com o diagnóstico da doença e o tratamento medicamentoso. Contudo, vemos o
discurso biomédico utilizando o próprio fármaco como um recurso de prevenção, como no caso dos
antidepressivos (Coelho e Leal, 2015). Concomitantemente, as políticas públicas no Brasil têm, nas últimas
décadas, enfatizado e incentivado uma vida ativa para as pessoas idosas, com cartilhas e documentos que
materializam essa perspectiva e acentuam a importância da prevenção (Siqueira e Victora, 2015). E se
buscarmos a prevenção em outras ontologias, sabemos que as mulheres tupinambá optam pela prevenção através
de tecnologias de cuidado por não se identificarem com os diagnósticos e práticas da biomedicina (McCallum
et. al., 2015). Portanto, a fim de problematizar a complexa noção de prevenção de doenças (em especial das
demências), lançaremos mão da noção de prevenção situada de Annette Leibing (2018), da discussão de Bell
(2021) sobre prevenção e estilo de vida e da análise de Schweda e Pfaller (2015) sobre a economia moral da
prevenção.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Hildeana Nogueira Dias Souza (UFPA)
Resumo: A Marujada é um dos rituais formado por um conjunto de danças, apresentadas durante as festas de São
Benedito ou São Sebastião na Amazônia paraense. A marujada mais antiga é a que acontece em Bragança, no
nordeste paraense, e teve início em 1798, completando neste ano 226 anos de existência. Iniciou-se quando os
senhores brancos, atendendo ao pedido de seus escravizados, permitiram a organização de uma Irmandade e a
primeira festa em louvor a São Benedito.
As Marujadas são constituídas em sua maioria por mulheres, cabendo-lhes a direção e a organização. A
organização e a disciplina em relação as marujas e marujos são exercidas por uma "Capitoa". Dentre essas
protagonistas, destaco neste trabalho, as Capitoas das marujadas que são realizadas no Pará, representação
máxima de um ritual. É a Capitoa quem escolhe a sua substituta, nomeando a "vice-capitoa", que somente
assumirá o bastão de direção em caso de morte ou renúncia daquela. A Capitoa, geralmente uma das mulheres
mais velhas do grupo, carrega na mão um bastão ou ramo com flores que remete o símbolo da sua autoridade.
As apresentações das marujadas, geralmente acontecem no período de 25 de dezembro ao dia 21 de janeiro do
ano seguinte. Além da cidade de Bragança no Pará, a manifestação se ramificou em outros municípios vizinhos.
Essa pesquisa em relação à abordagem é qualitativa, com relação aos objetivos apresenta-se como
descritiva/explicativa e o principal método utilizado nesse trabalho é a coleta de dados baseada nas
técnicas conhecidas como Procedimentos de Investigação Etnográfica. A pesquisa tem como sujeitas
interlocutoras, 13 mulheres, com a função de capitoa, nas irmandades e ou associações das festas de São
Benedito e São Sebastião na Amazônia paraense.
Admite-se e reconhece-se que a mulher foi objeto de injustiça e privações no decorrer da história e continua
sendo ao ser valorizada apenas por seus atributos físicos e, logo, essas se reportam à Capitoa (uma mulher
velha) como referência do feminino na festa, para além disso, todos/as reverenciam e reconhecem a Capitoa
como comandante deste ritual.
O objetivo deste estudo é revelar o lugar e a presença das Capitoas nas festas religiosas, por uma
perspectiva agentiva, na qual as mulheres velhas, negras, pobres e em condições de analfabetismo, são vistas
como protagonistas sociais em um certo período do ano.
Acredita-se que a presença de mulheres velhas, nas festas religiosas, pode ser vista como protagonismo
feminino social. As festas religiosas são um tema presente na antropologia desde longo período e as questões
da ordem cultural que envolve religião, festa e ritual, têm sido registradas na disciplina por meio da
etnografia, e se constituem como importante no seu arcabouço teórico.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Letícia Vicentin (PPGAS/UNICAMP)
Resumo: O objetivo deste trabalho é tecer compreensões, a partir de uma metodologia qualitativa, sobre como
práticas do cuidado e o cotidiano da vida religiosa consagrada feminina se afetam e se relacionam quando
inseridos no contexto contemporâneo de envelhecimento, com idades elevadas, de freiras católicas de uma
congregação localizada em São Paulo, seguido do baixo número de novas vocações e abertura, pela primeira vez
na história delas, para atuação de cuidadoras e outras trabalhadoras remuneradas. O campo da pesquisa é a
Residência, como chamam, criada pelas Irmãs em 2012 com a finalidade de funcionar como lugar comum para
aquelas que, antes residindo e atuando em outras comunidades no Brasil, passam a depender de cuidados, por
motivos de doenças crônicas ou enfermidades pontuais. Estas, irmãs que ali viverão até o final da vida e ali
serão veladas na ocasião da morte, ou que retornarão para às suas comunidades anteriores após um período de
realização de consultas, exames e cuidados, e que, ao longo da vida religiosa, foram agentes do cuidado,
passam a conviver com as trabalhadoras remuneradas, em sua maioria migrantes vindas da região nordeste para
a capital de São Paulo, não-religiosas consagradas, que cuidam delas no cotidiano da casa, ou nos hospitais
e clínicas ao as acompanharem nos tratamentos. A imersão e escrita etnográfica composta de mais de um mês
vivendo com elas e seguindo os turnos diurnos e noturnos de trabalho das cuidadoras e outras trabalhadoras
dos serviços gerais e cozinha entre observações participantes, conversas informais e entrevistas, me
aproximaram das relações entre práticas de cuidado e tudo o que isso implica: noções de envelhecimento,
dependência, doença e cura; extensão do cuidado o trabalho remunerado e não remunerado; os fluxos
migratórios internos; os investimentos emocionais; os "bons cuidados"; as fronteiras não tão obvias entre
irmãs vivendo a velhice e dependentes de cuidados e vivendo a velhice e não dependentes,entre as que residem
permanentemente e as que "melhoram e vão embora". Também, me aproximaram de um cotidiano que evidência
diferenças de gênero, religião, raça e classe. Sabendo que o cuidado, é uma arena de conflitos, negociações,
ambiguidades e agenciamentos, que só foram possíveis de serem conhecidos através da imersão etnográfica e do
estabelecimento de certos laços de confiança e intimidade. Por fim, a pesquisa também busca cumprir com um
papel de rever pressupostos e fazer conhecer especificidades e formas de sociabilidades vividas e com um
campo ainda pouquíssimo explorado na Antropologia, que são, os desafios enfrentados pelas congregações
contemporâneas em relação ao cuidado, diante do envelhecimento de suas irmãs e baixa no número de ingresso
de mulheres na vida religiosa consagrada.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Luana Papelbaum Micmacher (Unifase)
Resumo: O presente trabalho visa refletir como envelhecimento e trabalho de cuidados se encontram nas
experiências de sofrimento de mulheres usuárias de um serviço de saúde da família de um município da região
serrana do Rio de Janeiro. Esta reflexão parte da minha experiência enquanto psicóloga residente na unidade
de saúde, entre março de 2023 e 2024. Este município conta com 21,3% de idosos em sua população, acima da
média nacional, que pelo Censo realizado em 2022 apresentou um percentual de 15,6 % de idosos. Ao longo de
meu primeiro ano no programa de residência multiprofissional em saúde da família, me encontrei com a
frequente demanda de atender usuárias idosas em suas casas, devido à dificuldade de locomoção. Em outros
momentos, tive a oportunidade de propor um grupo de convivência que contou com a participação de 15 mulheres
idosas ao longo do ano, ocorrendo semanalmente no território. Nestes dois espaços de cuidado, as categorias
de vergonha e humilhação foram frequentemente nomeadas pelas usuárias diante da experiência de depender de
cuidado de outro sujeito, posição na cadeia de cuidados (FRASER, 2017) que já desconheciam após uma longa
vida cuidando de todos que as cercam. Agora, inverte-se a relação, e em seus relatos esta nova configuração
produz sofrimento. Podemos assim nos aproximar das relações de cuidado enquanto relações de poder (BUTLER,
2019; LOWENKRON, 2015). Cuidar em excesso adoece mas é, para muitas, aquilo que garante um lugar de
estabilidade no tecido social. Relatam em suas narrativas uma vida dedicada ao cuidado e como assumir este
trabalho incessante de reprodução da vida foi fundamental para que seus filhos e netos tivessem uma vida
melhor. Compartilham da máxima Quem não vive para servir, não serve para viver, que circula em seus grupos
de oração religiosa, e comumente lamentam-se, com vergonha, pelo fato de precisar agora destes filhos e
netos para realizar atividades básicas, como fazer arroz ou limpar a janela. Compartilham, muitas delas, que
o que produz saúde são atos de cuidado, atos que ainda conseguem fazer, e temem que tão logo não possam mais
desempenhá-los. Trazem frequentemente uma dificuldade em lidar com as necessidades e ofertas de cuidado, o
que às vezes aparece como uma recusa - fecham-nos a porta, não atendem o interfone, não aparecem nos
atendimentos agendados. Por meio da busca ativa, uma das atribuições comuns a todos os profissionais da
atenção básica (BRASIL, 2017), retomamos o cuidado com as usuárias. Neste contexto, esta pesquisa busca
explorar como estas idosas relacionam-se com a questão inescapável do cuidado no processo de envelhecimento.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Lucas Faial Soneghet (UFRJ)
Resumo: O envelhecimento ativo, ou saudável, bem-sucedido e produtivo, é objeto de crítica antropológica e
sociológica há pelo menos duas décadas (Debert, 1999; Lamb, 2000; Buch, 2015). Enquanto objetos de
investigação, essas noções podem ser compreendidas como soluções ou recomendações em um processo de
construção do envelhecimento como um problema social. Lenoir (1988) argumenta que envelhecimento,
velhice, terceira idade, dentre outros termos, não são categorias nativas do grupo ao qual se referem, mas
abstrações nascidas nos debates entre economistas, políticos, advogados, sociólogos, antropólogos e médicos,
além de outras especialidades. Nesse campo, a noção do envelhecimento ativo ganhou espaço em paralelo a
iniciativas de saúde pública focadas na comunidade ou em iniciativas comunitárias. De um lado, um discurso
que enfatiza a produtividade, atividade, independência em um enquadramento individualista de pessoa (Lamb,
2014, p. 42) e, de outro, uma espécie de política de terceira via que postula sujeitos eticamente
responsáveis e afetivamente compromissados com suas comunidades (Rose, 2000). Com base em uma etnografia em
andamento de uma organização voluntária de saúde atuante em duas favelas do Rio de Janeiro, procuro
interrogar as intersecções entre envelhecimento, gênero, moralidade e uma economia política do cuidado
centrada na ideia de comunidade. A organização Favela Compassiva oferece cuidados paliativos para pessoas
acometidas por doenças crônico-degenerativas, em sua maioria idosos, na Rocinha e no Vidigal. Conta com a
participação de voluntárias locais, em sua maioria mulheres entre 40 e 70 anos que moram nesses locais e
trabalham voluntariamente com profissionais de saúde para oferecer conforto, qualidade de vida e dignidade
para pessoas no fim da vida. A atuação dessas voluntárias locais ou agentes compassivas é o objeto desse
trabalho. Busco refletir sobre os circuitos de cuidado estabelecidos nessa organização, as noções de
capacidade e capacitação que ali emergem, a construção de problemas de saúde e os discursos de
envelhecimento vigentes. Nessa ecologia local do cuidado, formas distintas de envelhecimento se cruzam,
definidas a partir das capacidades e do potencial de capacitação dos sujeitos definidos como da comunidade.
A atividade no envelhecimento é, por um lado, um potencial objetivo na assistência dos pacientes e dos seus
familiares e, por outro, um tipo de recurso de cariz comunitário agenciado a partir de um discurso de saúde
pública sustentado em relações ética e afetivamente densas de uma localidade.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Marcia Reis Longhi (UFPB)
Resumo: Resumo:
O presente trabalho tem o objetivo de refletir sobre as práticas de cuidados dirigidas às pessoas
consideradas oficialmente idosas (60 anos ou mais), tendo como locus da etnografia um Condomínio Exclusivo,
que se trata de uma política pública de habitação da cidade de São Paulo (BR), resultado da luta do Grupo de
Articulação de Moradia de idosos da Capital GARMIC - movimento de luta por moradia no início dos anos 2000.
O condomínio foi inaugurado em 2007, dispõe de 145 unidades, 55 apartamentos e 90 quitinetes, onde moram em
torno de 200 pessoas. Os critérios para poder morar no condomínio são: ter 60 anos ou mais, ter uma renda de
no máximo 3 salários mínimos e serem autônomos e capazes de realizar as Atividades da Vida Diária. É um
empreendimento de locação social, o que significa que os moradores não são proprietários do imóvel e pagam
um aluguel que equivale à 10% da renda individual. O foco do paper é pensar as tensões existentes entre, por
um lado o paradigma da autonomia que norteia a política pública em questão e por outro, as práticas de
cuidado cotidianas, observadas durante o trabalho de campo. Foi realizada uma etnografia de 3 meses, no
primeiro semestre de 2019, para observar e acompanhar a rotina, as relações, as interdependências e também
as trocas de cuidados, as dádivas, as trocas de serviços e também os conflitos, as carências, as ausências,
as estratégias de sobrevivências, os lazeres e as atividades laborais. Observou-se que as relações de
cuidado indicavam a utilização do tripé de sustentação: Estado (serviços de saúde), Família (através de
laços de parentesco ou não) e o Mercado (através dos serviços pagos). Também ficou evidente o predomínio da
mulher, tanto com relação às equipes profissionais, como nas prestações de serviço e nas redes familiares.
Outra questão que ganhou relevância durante a etnografia foram as relações de sociabilidade entre as idosas.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Marina Fagundes Gueiros (INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA DA UFRJ)
Resumo: O Brasil vem caminhando de maneira acelerada em direção à velhice e à longevidade. No entanto, a
sociedade brasileira não enxerga a pessoa idosa em sua integralidade, tampouco reconhece a pluralidade dessa
etapa da vida. Nesse sentido, o fator que vem precarizando a saúde e ocasionando mortes precoces é a
discriminação etária, que provoca isolamento social e onera a economia. Essa discriminação, também conhecida
como idadismo, diz respeito as ideias estereotipadas que criamos, aos preconceitos que experimentamos e a
discriminação em relação à idade, ao envelhecimento e à velhice. Trata-se de um preconceito que pode
interferir no olhar dos indivíduos para si mesmos e provocar conflitos entre gerações.
Este trabalho pretende contribuir para a reflexão sobre a inclusão, no Sistema Único de Saúde (SUS), de
práticas que promovam a aproximação entre gerações como uma estratégia de enfrentamento do preconceito
contra pessoas idosas.
As reflexões a seguir emergem de uma pesquisa de Doutorado em Saúde Coletiva e, portanto, são recortes de um
estudo em andamento. O estudo está sendo realizado com um grupo de 10 mulheres idosas participantes de
práticas integrativas e complementares (PICS) em um Centro Municipal de Saúde do município do Rio de Janeiro
no município do rio de Janeiro.
O projeto está de acordo com os preceitos éticos da resolução CNS n 466/2012, tendo sido submetido e
aprovado pelo Comitê de Ética de Pesquisa (CEP) do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade
Federal do Rio de Janeiro sob parecer número 5.473.135.
A fala o jovem precisa ser mais educado com a pessoa idosa de uma das participantes, traz relevo para esse
insulamento dos grupos etários que polariza, distancia e solda cada geração em suas representações
idadistas. Entretanto, ao mesmo tempo que esse fato, emerge como irrefutável, permite que se vislumbre os
potenciais benefícios de um entrelaçamento intergeracional.
As polarizações intergeracionais percebidas nas narrativas das participantes deste estudo apontam para um
longo caminho a ser percorrido. No entanto, elas também dão pistas de que as próprias engrenagens de
assistência do SUS tem potência para arrefecer essa polarização intergeracional. Portanto, considerando que
hoje as práticas exclusivas para pessoas criem mais muros do que pontes, cabe a nós pensar no engendramento
de propostas que as tornem permeáveis ao público de outras gerações.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Rebeca Vitória Alberto Costa (UFPA)
Resumo: O presente trabalho se propõe a refletir acerca do trabalho doméstico remunerado (TDR) e o acesso ao
cuidado, ancorado em uma análise interseccional (Crenshaw, 1989). Sendo o trabalho doméstico uma atividade
forjada em um passado escravocrata, muitas são as marcas que refletem essa estrutura, por ser uma atividade
predominantemente realizada por mulheres não-brancas e com baixa índice de escolaridade, o trabalho
doméstico remunerado sofre um processo histórico de subalternização e desvalorização. Teoricamente e
metodologicamente, o trabalho doméstico e o cuidado encontram-se em posições distintas, portando,
intenciona-se compreender e tencionar os dois campos de debate. A pesquisa pretende abordar e refletir sobre
cuidado a partir das narrativas de quatro trabalhadoras domésticas moradoras da região metropolitana de
Belém/PA, buscando compreender as problemáticas que envolvem o TDR. Foram realizadas entrevistas
semiestruturadas e conversas informais, priorizando a produção de dados qualitativos.