Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 051: Envelhecimentos, Interseccionalidade e Cuidados
Envelhecer no abrigo: entre a Igreja, o Estado e a Iniciativa Privada
As Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI) se apresentam de formas diversas, principalmente
no que se refere a seus aspectos socioeconômicos e estruturais. A depender da época e do local em que foram
fundadas, o estilo arquitetônico e a condição socioeconômica das pessoas idosas institucionalizadas, o
cotidiano nessas instituições apresenta particularidades como a presença de rituais e símbolos religiosos
específicos e rotinas perpassadas pela dinâmica religiosa. Por outro lado, o Estado, ao adentrar nessas
instituições que possuem viés caritativo, também traz elementos e ritos específicos e atrelados à práticas
biomédicas de cuidado. Neste trabalho discutiremos as características da rotina de cuidados de idosos
institucionalizados em uma ILPI fundada pela Igreja Católica em meados do século XX. A instituição, situada
no interior do estado de Pernambuco, no nordeste brasileiro, recebe aporte funcional e financeiro da
Prefeitura local, além de doações de materiais diversos por parte de empresas locais. O espaço físico em que
a ILPI funciona faz parte do conjunto arquitetônico de uma igreja construída em 1752 e sofreu poucas
modificações. O corpo funcional da instituição está organizado em duas partes: uma composta por funcionários
da prefeitura pertencentes ao quadro da secretaria de saúde, como enfermeiros, médico (no singular),
fisioterapeutas e nutricionistas e; b) outra composta por cuidadoras de idosos pertencentes ao quadro
funcional da própria ILPI. Sob a forma de doações, a instituição ainda recebe equipamentos, produtos
alimentícios e produtos de higiene pessoal por parte de empresas locais. Nesse sentido, Igreja, Estado e
iniciativa privada formam um tripé por meio do qual a instituição se sustenta e atua na prestação de
cuidados aos idosos institucionalizados, criando uma rotina de cuidados caracterizada pelo viés caritativo,
tensões entre saberes biomédicos e não-biomédicos, perpassada por interesses econômico-financeiros e
sociais. Em meio a disputa pela prestação desse cuidado necessário, homens e mulheres envelhecem sem muita
agência sobre as decisões que são tomadas a seu respeito.
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
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