ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 051: Envelhecimentos, Interseccionalidade e Cuidados
"Não sou velho, só tenho mais idade": reflexões sobre envelhecimento, homoerotismo e masculinidades entre homens de meia idade no Rio de Janeiro e Extremo Sul da Bahia
Meia idade é o nome comumente dado a uma fase do curso da vida na qual se está num entre lugares, utilizando a noção de liminaridade de Turner (2005): não se está mais nos primeiros anos da fase adulta, ainda bastante relacionados à juventude, mas também ainda não se chegou à velhice e suas marcas, sobretudo físicas. De definição imprecisa quando se trata de marcos cronológicos, tem como principal característica sua proximidade com a última etapa da vida. Embora qualquer pessoa comece a envelhecer a partir do momento em que nasce, é a meia idade que costuma nos lembrar da passagem do tempo. Entretanto, essa atenção ao envelhecer não é uma regra inflexível: a percepção do envelhecimento se dá de variadas maneiras, e parece mais ser apontada pelo outro do que por nós mesmos. Assim, este trabalho apresenta parte da minha pesquisa de doutorado que analisou como homens com práticas homoeróticas de meia idade entendem o envelhecimento e como se preparam se é que se preparam para essa nova fase da vida. Morando na Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ) e no Extremo Sul da Bahia (ESB) regiões completamente díspares se considerarmos dados demográficos e socioeconômicos, esses homens são perpassados não apenas pelo curso da vida, mas também por outras categorias sociais de diferenciação, como gênero, sexualidade, corporalidade, território/local de origem e/ou moradia, classe social, raça/cor da pele e também geração, apesar de sua proximidade etária. Assim, mostram similaridades e diferenças que indicam as inúmeras nuances que o envelhecer traz às suas vidas. A partir de referenciais teóricos sobre homossexualidade, envelhecimento e outros marcadores sociais da diferença, o estudo foi desenvolvido por meio de entrevistas semi-estruturadas, em profundidade, que buscaram saber desses sujeitos o seu presente quem são e o que fazem atualmente; o seu passado a descoberta do desejo homossexual e como tal fato se desdobrou nas relações familiares e de amizade; e o que imaginam para o seu futuro quando (e se) perceberam que o tempo está passando e se fazem algo para frear as máscaras do envelhecimento, como aponta Simões (2004). Necessário ressaltar que o desenvolvimento da pesquisa foi profundamente afetado pela pandemia de Covid-19, que não apenas ampliou o território a ser estudado do Rio para o Sul da Bahia, como também impediu a proposta inicial de uma frequência efetiva em locais de sociabilização desses homens, de modo a captar suas relações. Apesar disso, o que se percebe é que a proximidade da velhice, embora não apontada como um fator que cause medo, é agenciada de variadas formas. E também modificada de acordo com a situação e as relações vividas por esses homens seja no Rio, seja no sul baiano.