ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 051: Envelhecimentos, Interseccionalidade e Cuidados
Envelhecimento e cuidado das Irmãs: uma etnografia em torno das práticas e relações no cotidiano
O objetivo deste trabalho é tecer compreensões, a partir de uma metodologia qualitativa, sobre como práticas do cuidado e o cotidiano da vida religiosa consagrada feminina se afetam e se relacionam quando inseridos no contexto contemporâneo de envelhecimento, com idades elevadas, de freiras católicas de uma congregação localizada em São Paulo, seguido do baixo número de novas vocações e abertura, pela primeira vez na história delas, para atuação de cuidadoras e outras trabalhadoras remuneradas. O campo da pesquisa é a Residência, como chamam, criada pelas Irmãs em 2012 com a finalidade de funcionar como lugar comum para aquelas que, antes residindo e atuando em outras comunidades no Brasil, passam a depender de cuidados, por motivos de doenças crônicas ou enfermidades pontuais. Estas, irmãs que ali viverão até o final da vida e ali serão veladas na ocasião da morte, ou que retornarão para às suas comunidades anteriores após um período de realização de consultas, exames e cuidados, e que, ao longo da vida religiosa, foram agentes do cuidado, passam a conviver com as trabalhadoras remuneradas, em sua maioria migrantes vindas da região nordeste para a capital de São Paulo, não-religiosas consagradas, que cuidam delas no cotidiano da casa, ou nos hospitais e clínicas ao as acompanharem nos tratamentos. A imersão e escrita etnográfica composta de mais de um mês vivendo com elas e seguindo os turnos diurnos e noturnos de trabalho das cuidadoras e outras trabalhadoras dos serviços gerais e cozinha entre observações participantes, conversas informais e entrevistas, me aproximaram das relações entre práticas de cuidado e tudo o que isso implica: noções de envelhecimento, dependência, doença e cura; extensão do cuidado o trabalho remunerado e não remunerado; os fluxos migratórios internos; os investimentos emocionais; os "bons cuidados"; as fronteiras não tão obvias entre irmãs vivendo a velhice e dependentes de cuidados e vivendo a velhice e não dependentes,entre as que residem permanentemente e as que "melhoram e vão embora". Também, me aproximaram de um cotidiano que evidência diferenças de gênero, religião, raça e classe. Sabendo que o cuidado, é uma arena de conflitos, negociações, ambiguidades e agenciamentos, que só foram possíveis de serem conhecidos através da imersão etnográfica e do estabelecimento de certos laços de confiança e intimidade. Por fim, a pesquisa também busca cumprir com um papel de rever pressupostos e fazer conhecer especificidades e formas de sociabilidades vividas e com um campo ainda pouquíssimo explorado na Antropologia, que são, os desafios enfrentados pelas congregações contemporâneas em relação ao cuidado, diante do envelhecimento de suas irmãs e baixa no número de ingresso de mulheres na vida religiosa consagrada.