Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 051: Envelhecimentos, Interseccionalidade e Cuidados
Envelhecimento ativo, capacitação e adoecimento: quem cuida de quem e para que fim?
O envelhecimento ativo, ou saudável, bem-sucedido e produtivo, é objeto de crítica antropológica e
sociológica há pelo menos duas décadas (Debert, 1999; Lamb, 2000; Buch, 2015). Enquanto objetos de
investigação, essas noções podem ser compreendidas como soluções ou recomendações em um processo de
construção do envelhecimento como um problema social. Lenoir (1988) argumenta que envelhecimento,
velhice, terceira idade, dentre outros termos, não são categorias nativas do grupo ao qual se referem, mas
abstrações nascidas nos debates entre economistas, políticos, advogados, sociólogos, antropólogos e médicos,
além de outras especialidades. Nesse campo, a noção do envelhecimento ativo ganhou espaço em paralelo a
iniciativas de saúde pública focadas na comunidade ou em iniciativas comunitárias. De um lado, um discurso
que enfatiza a produtividade, atividade, independência em um enquadramento individualista de pessoa (Lamb,
2014, p. 42) e, de outro, uma espécie de política de terceira via que postula sujeitos eticamente
responsáveis e afetivamente compromissados com suas comunidades (Rose, 2000). Com base em uma etnografia em
andamento de uma organização voluntária de saúde atuante em duas favelas do Rio de Janeiro, procuro
interrogar as intersecções entre envelhecimento, gênero, moralidade e uma economia política do cuidado
centrada na ideia de comunidade. A organização Favela Compassiva oferece cuidados paliativos para pessoas
acometidas por doenças crônico-degenerativas, em sua maioria idosos, na Rocinha e no Vidigal. Conta com a
participação de voluntárias locais, em sua maioria mulheres entre 40 e 70 anos que moram nesses locais e
trabalham voluntariamente com profissionais de saúde para oferecer conforto, qualidade de vida e dignidade
para pessoas no fim da vida. A atuação dessas voluntárias locais ou agentes compassivas é o objeto desse
trabalho. Busco refletir sobre os circuitos de cuidado estabelecidos nessa organização, as noções de
capacidade e capacitação que ali emergem, a construção de problemas de saúde e os discursos de
envelhecimento vigentes. Nessa ecologia local do cuidado, formas distintas de envelhecimento se cruzam,
definidas a partir das capacidades e do potencial de capacitação dos sujeitos definidos como da comunidade.
A atividade no envelhecimento é, por um lado, um potencial objetivo na assistência dos pacientes e dos seus
familiares e, por outro, um tipo de recurso de cariz comunitário agenciado a partir de um discurso de saúde
pública sustentado em relações ética e afetivamente densas de uma localidade.