ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Grupos de Trabalho (GT)
GT 039: Crise civilizacional, neoextrativismo e giro ecológico: perspectivas para outros futuros possíveis
alt

Coordenação
Breno Trindade da Silva (NEPPAMCs-UFMG), Davi Pereira Junior (UEMA)
Debatedor(a)
Breno Trindade da Silva (NEPPAMCs-UFMG), Davi Pereira Junior (UEMA)

Resumo:
Nas últimas décadas, diferentes áreas do conhecimento se debruçaram sobre as transformações climáticas que apontam para uma possível era de extremos ambientais, e uma sexta extinção passou a ser anunciada. Nesse contexto, evidencia-se que a história moderna da humanidade e da natureza se estruturou em meio à exclusão da maioria dos humanos da própria Humanidade - povos indígenas, negros, mulheres e homens de diferentes etnias, árabes, ciganos, asiáticos e tantos outros. O sistema Capitalista, principal força da crise biosférica, criou formas específicas de organizar e gerir a natureza, muitas vezes, por meio de uma ecologia com contornos necrófilos. Reconhecer outras formas de habitar ambientes em meio a um mundo em ruínas torna-se necessário para se pensar outros mundos em devir. As destruições ambientais não atingem todos da mesma maneira. A Antropologia vem denunciando as frentes de desenvolvimento que transformam e expropriam coletividades e perturbam as relações com o espaço e as teias ecológicas que estabelecem as conexões multiespécies que formam ambientes particulares. Sendo assim, são esperadas contribuições que tratam das relações ecológicas desenvolvidas entre grupos humanos e seus ambientes frente às perturbações ocasionadas pelo avanço de um capitalismo voraz. São bem vindos trabalhos concluídos ou em andamento vinculados à Antropologia política, desenvolvimento e neoextrativismo, conflitos ontológicos, autonomia indígenas e de povos tradicionais.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Cartografando paisagens em risco: uma análise sobre o impacto do Doutor no habitar de Antônio Pereira, MG
Ana Paula Leal Pinheiro Cruz (UNICAMP)
Resumo: O paradigma moderno científico, que direcionou a maneira como a sociedade ocidental passou a se relacionar com o meio e com o Outro, segue influenciando diferentes dimensões da vida humana e não-humana. A perspectiva que colocou em oposição e que justificou a dominação da natureza pela sociedade, gera múltiplos impactos, considerados enquanto era geológica do Antropoceno. Problematizações no campo social buscam enfatizar a profunda relação com o capitalismo, Capitaloceno, e com os modos de produção, Plantationceno e Miraloceno tratando de endereçar a responsabilidade pela crise planetária à uma parcela da humanidade que desconsiderou e dominou outras formas de existir ao longo os séculos (Machado Aráoz, 2023). A pesquisa em andamento, ancora-se nesse debate para pensar sobre a relação histórica estabelecida com a atividade mineral e as consequências das apropriações neoextrativistas (Gudynas, 2012; Svampa, 2019) que se fazem sobre a paisagem, o habitar e as subjetividades de comunidades atingidas. Para tanto, partimos dos episódios de rompimentos das barragens de rejeito das empresas Samarco/BHP Billiton e Vale S.A., em Mariana (2015) e Brumadinho (2019), Minas Gerais, para pensar os desdobramentos que se seguiram com a promulgação da Lei Mar de Lama Nunca Mais. Desde 2019, comunidades passaram a conviver com ações que interferem intensamente no seu cotidiano, não só nas Zonas de Autossalvameno (ZAS) - delimitação geográfica inundável mas no município como um todo (Laschefski, 2020). Essa pesquisa estuda o distrito de Antônio Pereira, Ouro Preto/MG, e busca evidenciar e analisar os processos conflituosos de remoções de moradores das ZAS iniciado em abril de 2020, devido a alteração do grau do risco da barragem do Doutor, Vale S.A.. O objetivo é analisar e cartografar as paisagens (re)configuradas pela mineração, destacando os impactos e complexidades causadas pela atividade nos modos de vida e nas subjetividades daqueles que ali habitam. Além da análise de documentos e planos de ação, a ida a campo tem permitido o reconhecimento da área através do mapeamento dos atores envolvidos e da observação, por uma aproximação etnográfica, das dinâmicas locais da paisagem em que se inserem. A pesquisa assim busca destacar as narrativas de mulheres atingidas, principais impactadas pela atividade mineral (Brito, 2016) em suas buscas por (re)significação e (re)existência nesse território pela contra-cartografia.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
CAMINHOS DO TERRITÓRIO QUILOMBOLA RAMAL DE QUINDIUA: análise da resistência do território quilombola Ramal de Quindiua frente as políticas de desenvolvimento do Estado de Maranhão
Ana Paula Silva Oliveira (UFSCAR)
Resumo: Este trabalho é pesquisa que objetiva analisar os impactos socioambientais que foram causados pela construção do complexo ponte/estrada pensando a perspectiva territorial a partir do racismo estrutural com a face do racismo ambiental para pensar a desapropriação dos territórios tradicionais a partir de projetos desenvolvimentista executados pelo Estado dentro dos territórios quilombolas no Maranhão. A partir da laceração feita no território Ramal de Quindiua, a comunidade vem sofrendo diversos tipos de violências como a especulação imobiliária, invasões e cercamento pedaços de dentro do território, o aumento de mortes por acidentes com veículos que andam em alta velocidade pela MA-211. O território quilombola Ramal de Quindiua, é composto pelas comunidades de Santa Rita, Mafra e Ramal de Quindiua, tais comunidades essas que sofrem as consequências socioambientais trazidas pelo empreendimento estatal. A categoria bem viver será trabalhada na perspectiva de Alberto Acosta (2016) que nos provoca a refletir acerca desta categoria do ponto de vista dialético, onde a mesma se opõe a categoria viver bem que é uma construção capitalista que embasar toda concepção de consumismo e fetichismo que o modelo econômico capitalista impõe às estruturas sociais vigentes. Proponho neste trabalho compreender a noção de bem-viver construídos dentro do território quilombola Ramal de Quindiua no Bequimão MA, e entender quais as estratégias de resistência que as humanidades que povoam o território quilombola construíram ao longo de quase 388 anos de resistência à escravidão, construir dentro dos territórios ocupados e aquilombados (Abdias do Nascimento, 2016) o bem-viver (Alberto Acosta, 2016). A comunidade conta que há 43 anos aquele mesmo lugar havia sido cercado pelo pai do homem que que cercou um pedaço do território da comunidade. Chegamos para conversar com a comunidade e fomos surpreendidas com o convite para participar da derrubada da cerca em Ramal de Quindiua. A comunidade se organizou para retirar a cerca que foi construída com para marcar a delimitação da propriedade dentro do território quilombola Ramal de Quindiua. No entanto, a comunidade retirou estaca por estaca, arame por arame e a propriedade deixou de existir e a resistência aos invasores externos foi reafirmada coletivamente pela comunidade.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Outras ecologias possíveis na construção de territórios tradicionais
Breno Trindade da Silva (NEPPAMCs-UFMG)
Resumo: A pesquisa busca compreender os ambientes/territórios reivindicados por povos tradicionais do Norte de Minas Gerais, tomando como base as relações institucionais junto ao Estado e as formas nativas de habitar e se constituir em relação aos seus ambientes, por meio de suas práticas ecológicas que culminam na construção de identidades ecológicas específicas. Desse modo, objetivo refletir sobre os campos de possibilidades de conceber modalidades instrumentais para fins da regularização de terras ocupadas por populações tradicionais. Nas últimas décadas a Antropologia vem contribuindo para o adensamento das reflexões e apontando, por meio de fartos materiais etnográficos, outros caminhos possíveis para que grupos autorreconhecidos como tradicionais possam reivindicar seus territórios como base em suas práticas ecológicas próprias. A partir desses trabalhos evidencia-se a necessidade de se atentar aos limites da construção e da noção do que vem a ser os territórios tradicionais, fazendo-se necessário estabelecer o diálogo e levar a sério o conhecimento dos grupos nativos, como meio necessário para se pensar novas perspectivas que busquem garantir diferentes formas de compreender e habitar esses territórios territórios em processos ou territórios em devir. Desse modo, devido a processos sociopolíticos particulares observo o Norte de Minas Gerais como espaço privilegiado para a presente proposta.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Cartografia dos conceitos-pilares do debate contemporâneo sobre o Antropoceno
Camila Clozato Lara (IFPR), Felipe Augusto Moreira Bonifácio (IFPR)
Resumo: "Afinal, estamos vivendo no Antropoceno?" Esse é o título da reportagem veiculada na imprensa nacional no mês de março de 2024. A matéria nos conta que os cientistas decidem que não: não estaríamos vivendo a nova era, pois carece consenso sobre o tema. O Antropoceno remete à possível capacidade da humanidade de modificar a biosfera terrestre a ponto de inaugurar um regime geológico. Os efeitos estão postos: deflorestamento, crise climática, poluição e toxicidade ubíquas. Populações cada vez mais à margem e à miséria, salientando um novo-velho atravessamento: o racismo ambiental. Do olhar crítico, o Antropoceno seria, de fato, o Capitaloceno. Essa "humanidade" devastadora não passaria, a grosso modo, de alguns milhares de indivíduos que retém assombrosa acumulação do poder. Esses que excluem e segregam a maioria dos humanos da ideia de "humanidade". A ciência tem assumido a posição asséptica de analista de dados. Elementos geológicos, químicos e estatísticos serão capazes de abarcar a complexidade do sistema que empurra vidas humanas e não humanas para a extinção? Não. Entretanto, há muita política nesse poder de decisão, capaz de fundamentar/refutar deliberações de lideranças globais. E, sobremaneira, a nomenclatura tem peso ímpar na compreensão e desdobramentos dessas decisões. Esta pesquisa se propõe a apresentar uma possível cartografia com os conceitos-pilares associados ao debate contemporâneo sobre o tema Antropoceno, e argumentar que, a despeito de um fazer científico supostamente apolítico, a assertividade acerca das causas do problema - acumulação primitiva, extrativismo, exploração da mão-de-obra, mecanismos de expulsão e marginalização - é a forma de assegurar meios de discussão, reflexão e combate. Por tal razão, a palavra-conteúdo de base da pesquisa será Capitaloceno. A cartografia será construída a partir da polifonia de pensadoras/es como Achille Mbembe, Ailton Krenak, Antônio Bispo, David Kopenawa, Donna Haraway, Eileen Crist, Françoise Vergès, Frantz Fanon, Grada Kilomba, Jason Moore, Judith Butler, Lélia González, Malcom Ferdinand, Milton Santos, Paul B. Preciado, entre outras vozes. Como método, elencamos categorias analíticas que pudessem envolver um conjunto terminológico coerente. Foram elas: Capitalismo, Política, Epistemologia e Corpo. Dentro de cada uma, enumeramos conceitos que dialogam entre si, formando uma nuvem semântica. Por exemplo, dentro de Capitalismo, estão os conceitos "globalização", "tecnologia", "trabalho", "crise", entre outros. Dentro de Corpo, estão "gênero", "classe", "racismo". Dessa forma, a intenção do trabalho é relacionar as categorias e suas ramificações pela prática dialógica, e, assim, possibilitar elucidações não só sobre causa e efeito, mas também sobre novas possibilidades de enredamento.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
O projeto da mina guaíba: neoliberalismo, direito e carvão mineral
Christyan Muller Ajala (UFSC)
Resumo: O carvão mineral é o combustível fóssil mais poluente do mundo, com significativo aumento em sua demanda global (MARQUES, 2015). Ademais, no Rio Grande do Sul, maior reserva de carvão mineral do país, milhares de requerimentos de autorização de pesquisa mineral foram aceitos nos últimos anos, potencializando a exploração de carvão no estado (COSTA, 2019). Não por acaso, o projeto Mina Guaíba, que seria instalado na Região Metropolitana de Porto Alegre, chefiado pela empresa Copelmi Mineração LTDA, pretendia extrair 166 milhões de toneladas de carvão bruto ao longo de duas décadas (GIONGO, 2019), sendo objeto de resistência pela população, tendo seu procedimento de licenciamento ambiental anulado pela justiça federal e posteriormente arquivado pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (FEPAM) (G1/RS, 2022); Por meio de análise documental e teórico bibliográfica, essa pesquisa busca refletir criticamente sobre o sistema de justiça e o modo de produção enquanto ferramentas de manutenção do controle social e econômico na esfera ambiental, a partir das experiências e conflitos com minas de carvão no estado do Rio Grande do Sul. Nesse sentido, serão utilizados conceitos advindos da criminologia verde, da criminalidade dos poderosos, do marxismo ecológico e da crítica materialista do direito, para contribuir com o estudo da vitimização ambiental. Portanto, o objeto deste estudo foi delimitado de forma que seja possível a análise do movimento real e contraditório do capital e dos conflitos ambientais em dada configuração social: a da população e indústria mineral do estado do Rio Grande do Sul, sem prejuízo das implicações nacionais e globais advindas dessa configuração. Por fim, considerando o aparente sucesso da proteção jurídica dos direitos ambientais, por meio do arquivamento do Projeto, procura-se compreender tal fenômeno, que muitas vezes não foi replicado em outros megaprojetos ao redor do país.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Agentes locais na rota da exploração dos recursos naturais: breve reflexão sobre a baixada maranhense e o Território Quilombola Camaputiua
Dorival dos Santos (IFMA)
Resumo: RESUMO Objetivo neste texto é uma breve reflexão sobre os impactos ambientais em comunidades tradicionais na contemporaneidade, a partir de pesquisas e observações in loco que presencio no Território Quilombola Camaputiua no Município de Cajari-MA. As observações colocam em relevo as relações atuais que ocorrem nas comunidades rurais entre agentes locais e exploradores dos recursos naturais presentes nestas. Para esta reflexão revisitei inicialmente as relações que foram construídas a partir de nossos ancestrais com os elementos não humanos e seu papel na proteção do ambiente natural. Para tanto referencio Galvão, Pereira Junior e Santos, como forma de visualizar a importância dos elementos invisíveis para o controle dos bens naturais. Em seguida coloco em evidência a relação de exploração da mão de obra local e a indução dos agentes locais cooptados pelo poder econômico, e colocados na posição de escudos que protegem os verdadeiros beneficiários com a retirada dos recursos naturais. Explicito que não se trata necessariamente de operadores de grandes projetos, mas demonstro a fragmentação destas ações por detentores do poder econômico e político local. Por fim, discuto as consequências dessa relação para as ações comunitárias fragilizadas pelas promessas de ganhos econômicos propostas pelo poder econômico, que coloca em posições opostas os sujeitos da mesma comunidade no que concerne à temática dos impactos ambientais. É neste contexto que se faz necessário refletir sobre a dupla exploração dos agentes locais pelo poder econômico; primeiro pela usurpação dos recursos naturais locais e segundo pela exploração da mão de obra dos trabalhadores locais. Palavras-chave: Impactos ambientais, Território, exploração do trabalho

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Globalização e a produção de commodities na Amazônia Maranhense: agroestratégias sobre territórios camponeses em Imperatriz MA
Filipe da Cunha Gomes (UFPE), Josefa Salete B. Cavalcanti (UFPE)
Resumo: A análise sociológica sobre o campesinato maranhense defronta-se à necessidade de voltar atenção para as relações natureza-sociedade, a partir de novos paradigmas sinalizados pela Nova Sociologia Rural (BUTTEL,1990). Esse campo de estudo requer uma leitura crítica sobre os efeitos da globalização nas novas dinâmicas dos territórios locais. Desde as últimas décadas do século XX, no Brasil, as políticas ditadas pela agenda neoliberal priorizaram a abertura das fronteiras nacionais a investimentos privados, implantados sobretudo por grupos multinacionais na Amazônia maranhense sob um modelo neoextrativista de exportação de produtos primários. Aponta-se Imperatriz como campo empírico, município localizado no oeste do estado do Maranhão, compreendido na área da Amazônia Legal e inserido no repertório dos grandes projetos desde finais da década de 60 sob influência do então Programa Grande Carajás. A partir de pesquisas de campo realizadas em diferentes unidades sociais, busca-se compreender como essa dinâmica de acumulação guiada pelo mercado globalizado tem produzido diferentes transformações na vida social e simbólica das famílias camponesas Apoia-se na problematização das denominadas agroestratégias elaboradas pela empresa Suzano Papel e Celulose, que, no ano de 2014, implantou uma fábrica para fins de produção de commodities como papel e celulose. Essa empresa articula-se a extensos plantios de eucalipto, que dependem do contínuo movimento de compra de grandes e pequenas propriedades rurais no entorno de unidades sociais nas quais camponeses e comunidades tradicionais praticam a implantação de roçados, o extrativismo do coco babaçu e pequenas criaçõesde gado bovino. Essa situação social concreta tem construído novas formas de relações sociais, à medida que a exploração econômica de territórios é potencializada pela intensa mobilidade do capital e tem provocado acentuadas transformações, como a devastação da floresta nativa, privatização e cercamento dos babaçuais, disciplinamento do extrativismo, tradicionalmente realizado, e o acirramento de conflitos internos. Estas transformações são identificadas à medida que a gestão do território e dos recursos naturais depende de setores empresariais, que protagonizam relações de poder por meio de políticas ditas de responsabilidade social e ambiental com o propósito de neutralizar críticas à ação empresarial, aspecto essencial na governança dos territórios e que é reivindicado por grupos com posição crítica ao empreendimento. Dessa maneira, as reflexões apresentadas neste trabalho, articulam-se às análises sobre como o processo de globalização, traduzido nas práticas do modelo neoextrativista de monocultivo de eucalipto, tem afetado o cotidiano desses territórios.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Tecendo uma trama com sensibilidades de mundo contra-hegemônicas frente à crise ambiental
João Francisco Canto Loguercio (UNICAMP)
Resumo: Tendo-se como chave analítica o divisor natureza-cultura, decorrente do projeto civilizatório moderno Ocidental, procura-se tecer uma trama de múltiplos fazeres-saberes-seres contra-hegemônicos a esse malsucedido empreendimento, de tal forma a vislumbrar potenciais alternativas ao processo de agravamento da crise ambiental que testemunhamos. Nesse sentido, este trabalho, baseado em um projeto de estágio pós-doutoral, desdobra-se na busca por fazer convergir distintos núcleos de resistência alinhados com o questionamento às e/ou o desprendimento das ontologias e epistemologias euro-norte-americanocêntricas. O tecido visado compõe-se de dois grandes grupos - acadêmicos e não acadêmicos. O primeiro destes representado: pelos fenomenólogos; pelos estudos voltados às relações entre humanos e não-humanos; pelo movimento que ficou conhecido como virada ontológica”; pelos autores dedicados aos estudos pós-coloniais, assim como aos estudos da modernidade, colonialidade de decolonialidade. O segundo, por sua vez, representado: por grupos subalternizados pelos processos de colonização, os quais tiveram suas sensibilidades de mundo invisibilizadas ao confrontarem a lógica inerente à expansão colonial/capitalista, ou seja, povos originários e populações tidas como tradicionais”, como, por exemplo, caiçaras, extrativistas, quilombolas e ribeirinhos; e por coletivos (grupos, associações, ONG’s etc.) voltados à causa ambiental.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Liberem o mofo: controvérsias na regulamentação do Queijo Minas Artesanal de Casca Florida
Letícia Helena Pereira Rosa (IPHAN), Tainah Victor Silva Leite (iphan)
Resumo: Mundialmente reconhecido por suas características únicas, o Queijo Minas Artesanal, está presente na vida mineira há pelo menos quatro séculos. O Modo Artesanal de Fazer o Queijo Minas foi registrado pelo IPHAN como Patrimônio Imaterial do Brasil em 2008, revalidado em 2021, com a ampliação da abrangência territorial para todas as regiões com produção de queijo existentes, incluindo as que surgissem posteriormente. Os bens culturais de natureza imaterial acautelados na constituição pelo artigo 216, são portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira”. O Queijo Minas Artesanal de Casca Florida possui em sua superfície a presença de fungo, popularmente conhecido como mofo branco”. Em âmbito estadual, foi reconhecido pela resolução nº 42 da SEAPA2, em dezembro de 2022. Em 2023, o Instituto Mineiro de Agricultura (IMA) submeteu Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade do Queijo de Casca Florida à consulta pública. Nela, havia a previsão deingrediente obrigatório“cultura fúngica comercial liofilizada de Penicillium candidum e Geotrichum candidum Foi iniciada uma corrida contra o tempo para manifestação contrária à minuta da portaria, tendo como um dos espaços privilegiados o Coletivo da Salvaguarda Dos Modos de Fazer o Queijo Minas Artesanal, instância deliberativa e de participação social no esteio da política de patrimônio imaterial, questionando, entre outras coisas, a imposição de uma cultura fúngica específica para regulamentação de um produto artesanal, oriundo de um saber tradicional. Para além da necessidade de testes para segurança sanitária e alimentar, a salvaguarda do patrimônio imaterial pela e para comunidade, é pela junção de conhecimentos e poderes que o caminho se constrói. A partir daí, abriu-se um amplo campo de debates e discussões, em diferentes áreas e cenários, colocando em diálogo diferentes campos de conhecimento (microbiologia, engenharia de alimentos, veterinária, conhecimentos tradicionais de produtores de queijo, história e antropologia) e agentes (entidades vinculadas ao sistema agricultura do governo estadual, produtores rurais; pesquisadores do campo da microbiologia; entidades ligadas à proteção do patrimônio, além claro de diferentes fungos).

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Desafios do ambientalismo radical dos povos: caminhar em direção à autonomia nos territórios para regenerar a vida na T(t)erra
Letícia Magalhães Fernandes (UESB), Erahsto Felício de Sousa (IFBA), Mônica Celeida Rabelo Nogueira (UNB)
Resumo: A exploração da Terra e a privatização das terras estão na origem da acumulação primitiva do capital, que se forjou na sociedade moderna a partir da degradação da natureza, da desterritorialização e genocídio de povos originários, da exploração do trabalho feminino não remunerado e da escravização dos povos de África. A conversão dos povos em trabalhadores assalariados e expropriados de suas terras também contribuiu para o contexto de policrise ao qual estamos expostos na atualidade. Apesar disto, observamos cada vez mais perplexos a banalização dos discursos contemporâneos sobre sustentabilidade e ambientalismo. Cada vez mais vazios e permeados de contradições, que não conseguem dar materialidade e concretude ao enfrentamento da catástrofe capitalista que ameaça vidas humanas e não humanas na T(t)erra. Neste cenário de disputas reside o perigo e/ou a grande oportunidade que precisamos agarrar para enfrentar o alarido publicitário da sustentabilidade do mercado, de ONG’s do norte global e do desenvolvimento sustentável encampado pelos Estados nacionais que não enfrentam com responsabilidade o cerne da questão: a questão fundiária. Atualmente, as lutas protagonizadas por mulheres, povos tradicionais, sem terras e outros em busca de emancipação para a garantia dos seus projetos de vida em territórios ancestrais, nos inspiram a olhar para novas/antigas práticas de convivências com a T(t)erra. Ao invés de continuarmos apostando nas correntes convencionais, estamos olhando para os povos que vivem numa relação mais integral com os seus biomas e nos perguntando: é possível aprender práticas, cosmovisões e categorias políticas que nos ajudem a viver de maneira mais equilibrada na T(t)erra? Em outras palavras, a ruptura com o ambientalismo difuso e a sustentabilidade pregada nos mercados talvez possa ser iniciada a partir do entendimento sobre o ambientalismo radical executado por quem luta por terra e pelo Planeta Terra desde uma perspectiva territorial: extrativistas, raizeiros, geraizeiros, povos indígenas, quilombolas, sem terras e etc. Para isto, visamos apresentar e discutir o ambientalismo radical proposto pela articulação Teia dos Povos (surgida em 2012 na Bahia e no Maranhão e presente em mais de 10 estados do Brasil) que apresenta um projeto político forjado na tradição política dos povos brasileiros em luta por sua emancipação contra o imperialismo colonial capitalista. A Teia propõe uma aliança preta, indígena e popular de comunidades em defesa da T(t)erra e dos territórios, com foco na promoção de suas autonomias, de modo a favorecer modos de vida mais integrados aos sistemas naturais, menos dependentes do capital, e menos predatórios, capazes de abrigar e grande potencial material e imaterial para a regeneração da T(t)erra.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
50 anos de A Sociedade Contra o Estado: permanências e Insurgências
Margot-Ann Bachi dos Santos (UNESP)
Resumo: No ano de 2024, em meio a crises climáticas e econômicas, se completam 50 anos do lançamento do célebre ensaio de Pierre Clastres "A Sociedade Contra o Estado". Na obra, o antropólogo e etnólogo francês, de maneira profunda e dialogando de maneira crítica tanto com marxistas quanto com estruturalistas, nos convida a nos questionar sobre a suposta inevitabilidade histórica do Estado e as consequências discursivas dessa inevitabilidade, e que, como expõe ao longo do ensaio, tão logo se mostra um embuste quando se analisam as sociedades ditas primitivas ameríndias. Nesse sentido, para o autor, o Estado se mostra impossível nessas sociedades, uma vez que nelas existem mecanismos sociais para impedir o surgimento da figura do chefe de Estado, detentor do poder. O presente ensaio então busca compreender as permanências e a atualidade do pensamento de Clastres na antropologia através do antropólogo brasileiro Eduardo Viveiros de Castro, em especial de que maneira, ainda hoje, podemos pensar o Estado como vetor de um poder destrutivo e responsável pela crise climática do Antropoceno.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Neoextrativismo e Desenvolvimento na Mineração de Grafite: Uma Análise no Município de Pedra Azul-MG
Mauro Magno Quadros Ruas (UFMG)
Resumo: O Grafite é a forma mais pura do carbono, pode ser considerado o melhor condutor térmico e elétrico entre os não metais. Especialmente na Região Geográfica Imediata de Pedra Azul-MG, tem-se uma mineradora que por mais de 45 anos extrai grafita ou grafite, localizada no Município de Pedra Azul-MG, a finalidade da extração do minério é a comercialização da matéria prima e vários derivados nos mercados interno e externo. A abordagem extrativista ou do neoextrativismo propõe uma leitura crítica da extração dos recursos naturais, apontando os danos ambientais e sociais deste processo. O define como estruturalmente baseado na violência da extração, violações de direitos, nas alegalidades, na exportação de riquezas e empobrecimento dos povos e dos lugares. Alberto Acosta denominou isso como a maldição da abundância”, isto é, a riqueza natural de um país é exportada, gerando empobrecimento dos lugares. Toda a literatura sobre o neoextrativismo demonstra como as grandes corporações minerárias se enriquecem em detrimento dos lugares (pessoas e natureza). Nesse sentido, a abordagem do Neoxtrativismo é uma abordagem que faz a crítica profunda do desenvolvimentismo, mesmo em governos progressistas, sob o manto do desenvolvimento sustentável. Em síntese, o Neoextrativismo é uma crítica ao desenvolvimento sustentável levado à cabo na América Latina, em que atividades como a mineração são taxadas como economia verde”, lítio verde”, ferro-gusa verde”, aço verde”, etc. Analisando estes aspectos, a presente pesquisa tem como tema central a identificação das características do neoextrativismo na mineração no município, abordando que o Neoextrativismo tem mostrado que os processos de extração e exportação das riquezas naturais empobrecem os lugares (as pessoas, as paisagens, a flora, a fauna, os rios, etc. etc.) Esse empobrecimento é incompatível com a ideia de desenvolvimento. Pode-se falar de crescimento econômico, aumento do PIB Total e Per Capita, etc. Mas, não em desenvolvimento. Esse é um princípio analítico do campo investigativo do Neoexttrativismo. A pesquisa se desenvolverá no âmbito dos Órgãos Ambientais, do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável, do Poder Judiciário, Agência Nacional de Mineração, recursos hídricos, analisando-se quais são os principais atores sociais envolvidos, os fatos apresentados pelas partes, bem como os documentos apresentados, os depoimentos testemunhais sendo aplicado questionário semiestruturado, com objetivo verificar o local de ocorrência do conflito; quando ocorreu ou se ainda é atual; quais são os envolvidos na disputa; qual o motivo que o provocou; se já foi solucionado e de que forma o foi; por quais instâncias se desenvolveu o conflito; dentre outros pontos