Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 039: Crise civilizacional, neoextrativismo e giro ecológico: perspectivas para outros futuros possíveis
Cartografia dos conceitos-pilares do debate contemporâneo sobre o Antropoceno
"Afinal, estamos vivendo no Antropoceno?" Esse é o título da reportagem veiculada na imprensa nacional no mês de março de 2024. A matéria nos conta que os cientistas decidem que não: não estaríamos vivendo a nova era, pois carece consenso sobre o tema. O Antropoceno remete à possível capacidade da humanidade de modificar a biosfera terrestre a ponto de inaugurar um regime geológico. Os efeitos estão postos: deflorestamento, crise climática, poluição e toxicidade ubíquas. Populações cada vez mais à margem e à miséria, salientando um novo-velho atravessamento: o racismo ambiental. Do olhar crítico, o Antropoceno seria, de fato, o Capitaloceno. Essa "humanidade" devastadora não passaria, a grosso modo, de alguns milhares de indivíduos que retém assombrosa acumulação do poder. Esses que excluem e segregam a maioria dos humanos da ideia de "humanidade". A ciência tem assumido a posição asséptica de analista de dados. Elementos geológicos, químicos e estatísticos serão capazes de abarcar a complexidade do sistema que empurra vidas humanas e não humanas para a extinção? Não. Entretanto, há muita política nesse poder de decisão, capaz de fundamentar/refutar deliberações de lideranças globais. E, sobremaneira, a nomenclatura tem peso ímpar na compreensão e desdobramentos dessas decisões. Esta pesquisa se propõe a apresentar uma possível cartografia com os conceitos-pilares associados ao debate contemporâneo sobre o tema Antropoceno, e argumentar que, a despeito de um fazer científico supostamente apolítico, a assertividade acerca das causas do problema - acumulação primitiva, extrativismo, exploração da mão-de-obra, mecanismos de expulsão e marginalização - é a forma de assegurar meios de discussão, reflexão e combate. Por tal razão, a palavra-conteúdo de base da pesquisa será Capitaloceno. A cartografia será construída a partir da polifonia de pensadoras/es como Achille Mbembe, Ailton Krenak, Antônio Bispo, David Kopenawa, Donna Haraway, Eileen Crist, Françoise Vergès, Frantz Fanon, Grada Kilomba, Jason Moore, Judith Butler, Lélia González, Malcom Ferdinand, Milton Santos, Paul B. Preciado, entre outras vozes. Como método, elencamos categorias analíticas que pudessem envolver um conjunto terminológico coerente. Foram elas: Capitalismo, Política, Epistemologia e Corpo. Dentro de cada uma, enumeramos conceitos que dialogam entre si, formando uma nuvem semântica. Por exemplo, dentro de Capitalismo, estão os conceitos "globalização", "tecnologia", "trabalho", "crise", entre outros. Dentro de Corpo, estão "gênero", "classe", "racismo". Dessa forma, a intenção do trabalho é relacionar as categorias e suas ramificações pela prática dialógica, e, assim, possibilitar elucidações não só sobre causa e efeito, mas também sobre novas possibilidades de enredamento.