Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 039: Crise civilizacional, neoextrativismo e giro ecológico: perspectivas para outros futuros possíveis
Cartografando paisagens em risco: uma análise sobre o impacto do Doutor no habitar de Antônio Pereira, MG
O paradigma moderno científico, que direcionou a maneira como a sociedade ocidental passou a se relacionar com o meio e com o Outro, segue influenciando diferentes dimensões da vida humana e não-humana. A perspectiva que colocou em oposição e que justificou a dominação da natureza pela sociedade, gera múltiplos impactos, considerados enquanto era geológica do Antropoceno. Problematizações no campo social buscam enfatizar a profunda relação com o capitalismo, Capitaloceno, e com os modos de produção, Plantationceno e Miraloceno tratando de endereçar a responsabilidade pela crise planetária à uma parcela da humanidade que desconsiderou e dominou outras formas de existir ao longo os séculos (Machado Aráoz, 2023). A pesquisa em andamento, ancora-se nesse debate para pensar sobre a relação histórica estabelecida com a atividade mineral e as consequências das apropriações neoextrativistas (Gudynas, 2012; Svampa, 2019) que se fazem sobre a paisagem, o habitar e as subjetividades de comunidades atingidas.
Para tanto, partimos dos episódios de rompimentos das barragens de rejeito das empresas Samarco/BHP Billiton e Vale S.A., em Mariana (2015) e Brumadinho (2019), Minas Gerais, para pensar os desdobramentos que se seguiram com a promulgação da Lei Mar de Lama Nunca Mais. Desde 2019, comunidades passaram a conviver com ações que interferem intensamente no seu cotidiano, não só nas Zonas de Autossalvameno (ZAS) - delimitação geográfica inundável mas no município como um todo (Laschefski, 2020). Essa pesquisa estuda o distrito de Antônio Pereira, Ouro Preto/MG, e busca evidenciar e analisar os processos conflituosos de remoções de moradores das ZAS iniciado em abril de 2020, devido a alteração do grau do risco da barragem do Doutor, Vale S.A.. O objetivo é analisar e cartografar as paisagens (re)configuradas pela mineração, destacando os impactos e complexidades causadas pela atividade nos modos de vida e nas subjetividades daqueles que ali habitam.
Além da análise de documentos e planos de ação, a ida a campo tem permitido o reconhecimento da área através do mapeamento dos atores envolvidos e da observação, por uma aproximação etnográfica, das dinâmicas locais da paisagem em que se inserem. A pesquisa assim busca destacar as narrativas de mulheres atingidas, principais impactadas pela atividade mineral (Brito, 2016) em suas buscas por (re)significação e (re)existência nesse território pela contra-cartografia.