Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 039: Crise civilizacional, neoextrativismo e giro ecológico: perspectivas para outros futuros possíveis
Desafios do ambientalismo radical dos povos: caminhar em direção à autonomia nos territórios para regenerar a vida na T(t)erra
A exploração da Terra e a privatização das terras estão na origem da acumulação primitiva do capital, que se forjou na sociedade moderna a partir da degradação da natureza, da desterritorialização e genocídio de povos originários, da exploração do trabalho feminino não remunerado e da escravização dos povos de África. A conversão dos povos em trabalhadores assalariados e expropriados de suas terras também contribuiu para o contexto de policrise ao qual estamos expostos na atualidade. Apesar disto, observamos cada vez mais perplexos a banalização dos discursos contemporâneos sobre sustentabilidade e ambientalismo. Cada vez mais vazios e permeados de contradições, que não conseguem dar materialidade e concretude ao enfrentamento da catástrofe capitalista que ameaça vidas humanas e não humanas na T(t)erra. Neste cenário de disputas reside o perigo e/ou a grande oportunidade que precisamos agarrar para enfrentar o alarido publicitário da sustentabilidade do mercado, de ONGs do norte global e do desenvolvimento sustentável encampado pelos Estados nacionais que não enfrentam com responsabilidade o cerne da questão: a questão fundiária. Atualmente, as lutas protagonizadas por mulheres, povos tradicionais, sem terras e outros em busca de emancipação para a garantia dos seus projetos de vida em territórios ancestrais, nos inspiram a olhar para novas/antigas práticas de convivências com a T(t)erra. Ao invés de continuarmos apostando nas correntes convencionais, estamos olhando para os povos que vivem numa relação mais integral com os seus biomas e nos perguntando: é possível aprender práticas, cosmovisões e categorias políticas que nos ajudem a viver de maneira mais equilibrada na T(t)erra? Em outras palavras, a ruptura com o ambientalismo difuso e a sustentabilidade pregada nos mercados talvez possa ser iniciada a partir do entendimento sobre o ambientalismo radical executado por quem luta por terra e pelo Planeta Terra desde uma perspectiva territorial: extrativistas, raizeiros, geraizeiros, povos indígenas, quilombolas, sem terras e etc. Para isto, visamos apresentar e discutir o ambientalismo radical proposto pela articulação Teia dos Povos (surgida em 2012 na Bahia e no Maranhão e presente em mais de 10 estados do Brasil) que apresenta um projeto político forjado na tradição política dos povos brasileiros em luta por sua emancipação contra o imperialismo colonial capitalista. A Teia propõe uma aliança preta, indígena e popular de comunidades em defesa da T(t)erra e dos territórios, com foco na promoção de suas autonomias, de modo a favorecer modos de vida mais integrados aos sistemas naturais, menos dependentes do capital, e menos predatórios, capazes de abrigar e grande potencial material e imaterial para a regeneração da T(t)erra.