ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 039: Crise civilizacional, neoextrativismo e giro ecológico: perspectivas para outros futuros possíveis
Globalização e a produção de commodities na Amazônia Maranhense: agroestratégias sobre territórios camponeses em Imperatriz MA
A análise sociológica sobre o campesinato maranhense defronta-se à necessidade de voltar atenção para as relações natureza-sociedade, a partir de novos paradigmas sinalizados pela Nova Sociologia Rural (BUTTEL,1990). Esse campo de estudo requer uma leitura crítica sobre os efeitos da globalização nas novas dinâmicas dos territórios locais. Desde as últimas décadas do século XX, no Brasil, as políticas ditadas pela agenda neoliberal priorizaram a abertura das fronteiras nacionais a investimentos privados, implantados sobretudo por grupos multinacionais na Amazônia maranhense sob um modelo neoextrativista de exportação de produtos primários. Aponta-se Imperatriz como campo empírico, município localizado no oeste do estado do Maranhão, compreendido na área da Amazônia Legal e inserido no repertório dos grandes projetos desde finais da década de 60 sob influência do então Programa Grande Carajás. A partir de pesquisas de campo realizadas em diferentes unidades sociais, busca-se compreender como essa dinâmica de acumulação guiada pelo mercado globalizado tem produzido diferentes transformações na vida social e simbólica das famílias camponesas Apoia-se na problematização das denominadas agroestratégias elaboradas pela empresa Suzano Papel e Celulose, que, no ano de 2014, implantou uma fábrica para fins de produção de commodities como papel e celulose. Essa empresa articula-se a extensos plantios de eucalipto, que dependem do contínuo movimento de compra de grandes e pequenas propriedades rurais no entorno de unidades sociais nas quais camponeses e comunidades tradicionais praticam a implantação de roçados, o extrativismo do coco babaçu e pequenas criaçõesde gado bovino. Essa situação social concreta tem construído novas formas de relações sociais, à medida que a exploração econômica de territórios é potencializada pela intensa mobilidade do capital e tem provocado acentuadas transformações, como a devastação da floresta nativa, privatização e cercamento dos babaçuais, disciplinamento do extrativismo, tradicionalmente realizado, e o acirramento de conflitos internos. Estas transformações são identificadas à medida que a gestão do território e dos recursos naturais depende de setores empresariais, que protagonizam relações de poder por meio de políticas ditas de responsabilidade social e ambiental com o propósito de neutralizar críticas à ação empresarial, aspecto essencial na governança dos territórios e que é reivindicado por grupos com posição crítica ao empreendimento. Dessa maneira, as reflexões apresentadas neste trabalho, articulam-se às análises sobre como o processo de globalização, traduzido nas práticas do modelo neoextrativista de monocultivo de eucalipto, tem afetado o cotidiano desses territórios.