ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 039: Crise civilizacional, neoextrativismo e giro ecológico: perspectivas para outros futuros possíveis
Liberem o mofo: controvérsias na regulamentação do Queijo Minas Artesanal de Casca Florida
Mundialmente reconhecido por suas características únicas, o Queijo Minas Artesanal, está presente na vida mineira há pelo menos quatro séculos. O Modo Artesanal de Fazer o Queijo Minas foi registrado pelo IPHAN como Patrimônio Imaterial do Brasil em 2008, revalidado em 2021, com a ampliação da abrangência territorial para todas as regiões com produção de queijo existentes, incluindo as que surgissem posteriormente. Os bens culturais de natureza imaterial acautelados na constituição pelo artigo 216, são portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira”. O Queijo Minas Artesanal de Casca Florida possui em sua superfície a presença de fungo, popularmente conhecido como mofo branco”. Em âmbito estadual, foi reconhecido pela resolução nº 42 da SEAPA2, em dezembro de 2022. Em 2023, o Instituto Mineiro de Agricultura (IMA) submeteu Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade do Queijo de Casca Florida à consulta pública. Nela, havia a previsão deingrediente obrigatório“cultura fúngica comercial liofilizada de Penicillium candidum e Geotrichum candidum Foi iniciada uma corrida contra o tempo para manifestação contrária à minuta da portaria, tendo como um dos espaços privilegiados o Coletivo da Salvaguarda Dos Modos de Fazer o Queijo Minas Artesanal, instância deliberativa e de participação social no esteio da política de patrimônio imaterial, questionando, entre outras coisas, a imposição de uma cultura fúngica específica para regulamentação de um produto artesanal, oriundo de um saber tradicional. Para além da necessidade de testes para segurança sanitária e alimentar, a salvaguarda do patrimônio imaterial pela e para comunidade, é pela junção de conhecimentos e poderes que o caminho se constrói. A partir daí, abriu-se um amplo campo de debates e discussões, em diferentes áreas e cenários, colocando em diálogo diferentes campos de conhecimento (microbiologia, engenharia de alimentos, veterinária, conhecimentos tradicionais de produtores de queijo, história e antropologia) e agentes (entidades vinculadas ao sistema agricultura do governo estadual, produtores rurais; pesquisadores do campo da microbiologia; entidades ligadas à proteção do patrimônio, além claro de diferentes fungos).