Grupos de Trabalho (GT)
GT 003. A luta pelo espaço nos centros urbanos contemporâneos
Urpi Montoya Uriarte (Universidade Federal da Bahia) - Coordenador/a,
Cornelia Eckert (UFRGS) - (Coordenador/a),
Cristina Patriota de Moura (Universiade de Brasília) - Debatedor/a,
Luísa Maria Silva Dantas (PPGAS/UFRGS) - Debatedor/a,
Ana Luiza Carvalho da Rocha (Universidade Feevale/RS) - Debatedor/a
Resumo:
Nos centros urbanos convivem uma grande quantidade de espaços vazios desocupados e pessoas morando nas ruas, prédios abandonados e cortiços superlotados, edifícios restaurados e ruínas urbanas, imóveis ocupados por refugiados de todos os tipos, territórios de legalidades e ilegalidades. Neste espaço de múltiplas contradições e conflitos se livram, na atualidade, de forma aberta ou difusa, uma luta violenta e desigual pelo espaço, protagonizada por racionalidades opostas e lógicas complexas, formas distintas de entender a ordem, de habitar e de circular, de rememorar, de usar ou contra-usar. Projetos de reabilitação, revitalização, gentrificação, empreendedorismo e ordenamento urbano intervêm no espaço público usado por milhares de pessoas para sobreviver e nos prédios habitados por aqueles outros tantos que mal conseguem sobreviver. O capital destrói, constrói ou reconstrói ali onde lhe é conveniente enquanto os habitantes e usuários do centro se refugiam em espaços opacos, nas dobras dos espaços abstratos, construindo e reconstruindo suas formas de habitar os lugares centrais. O objetivo deste grupo de trabalho é congregar os diversos tipos de abordagens etnográficas que revelem e discutam a complexidade e os antagonismos que se defrontam nos centros urbanos contemporâneos, a “guerra de lugares” que se processa nele e as formas de entender o que é o centro e como habitá-lo.
Apresentação Oral em GT
Alexandre Fleming Câmara Vale, Elisa Alencar
Poéticas e políticas do território nos filmes “Dia de Voltar” e “Nos Pódios da Draga”
Resumo: Os projetos “Poéticas do Poço: etnografias e imagéticas compartilhadas” e “Vidas na Orla” constituíram-se como empreendimentos de pesquisa colaborativa e inclusiva acerca das condições de vida e existência da população que habita a comunidade do Poço da Draga, situada em “área nobre” de Fortaleza, o Bairro Praia de Iracema. No âmbito desses projetos, dois filmes especificamente tematizaram as questões ligadas à territorialidade, aos conflitos habitacionais e os deslocamentos na cidade: “Dia de Voltar”, de Alexandre Vale e “Nos Pódios da Draga”, de Elisa Alencar. O primeiro narra a trajetória de duas famílias que foram removidas para bairros da periferia de Fortaleza, mas que, em ano eleitoral, retornam ao Poço da Draga para votar, dado que nunca trocaram seus endereços eleitorais. O segundo narra as lutas pela apropriação de uma quadra de esportes para a prática do futebol por garotas que habitam o Poço da Draga e que são amantes daquele esporte. Ambos os filmes constituem matéria-prima privilegiada para pensar, tanto numa perspectiva exógena (Dia de Voltar) quanto endógena (Nos Pódios da Draga), a importância do binômio espaço-território para refletir sobre os processos participativos de “auto-representificação” e “reflexividade” da comunidade do Poço da Draga, especialmente no que se refere aos seus modos de viver, habitar e responder ao processo de gentrificação pelo qual o Bairro Praia de Iracema vem passando ao longo das ultimas três décadas. Para moradores e moradoras que resistem, gentrificação, em um “bairro nobre” e cobiçado do ponto de vista do mercado imobiliário, é quase sinônimo de novas investidas de remoção, uma realidade com a qual a população da localidade lida desde sua fundação.
Apresentação Oral em GT
Aline Maria Matos Rocha, Linda Maria de Pontes Gondim
"Os filhos da Vila resistem": mobilização, organização e confronto num movimento social urbano em Fortaleza, CE.
Resumo: Esta pesquisa, em andamento, consiste num work de tese que tem como recorte empírico o movimento Resistência Vila Vicentina. Objeto de filantropia, a Vila Vicentina da Estância é um conjunto de 45 casas e uma capela, construídas no final da década de 1930, para abrigar idosos que migraram para Fortaleza por conta da estiagem. Localizado no bairro Dionísio Torres, o terreno ocupado pela Vila vem sendo objeto de disputa do mercado imobiliário, em virtude de sua valorização. Organizado desde 2016, um grupo de moradores do local vem se mobilizando com o objetivo de contestar a venda do terreno e a negociação de algumas casas, que foram demolidas no mesmo ano, numa ação de reintegração de posse. Contribuindo para legitimar a luta, está o mapeamento da área como Zona Especial de Interesse Social (Zeis) no último Plano Diretor de Fortaleza; além do tombamento provisório do local, por seu valor histórico, arquitetônico e urbanístico. Por meio de um estudo de natureza qualitativa, mediante permanência prolongada e intermitente no campo, venho realizando observações e incursões etnográficas, entrevistas e análise de documentos, além de estudo da literatura que envolve a ação coletiva na teoria social. Desse modo, analisar estratégias de mobilização e confronto utilizadas pelos movimentos sociais urbanos é o principal objetivo do work. Dedico-me a compreender práticas de organização da ação coletiva atuais, envolvendo conflitos relacionados ao direito à cidade, os quais permeiam a luta pela moradia e permanência no espaço urbano. Fazendo parte dos objetivos, estão a consideração dos diferentes recursos acionados pelo movimento e sua efetividade para pressionar opositores, o que implica na identificação do papel que as tecnologias de informação e comunicação desempenham nesse processo. Fator relevante é que, atualmente, a mobilização em torno de problemas sociais tem encontrado na Internet um espaço de expressão e visibilidade importante, mas não exclusivo, destacando o caráter híbrido de fenômenos dessa natureza. Essa condição conduz a posturas que se “desdobram”, de maneira simultânea, na observação e inserção em espaços on e offline - o que tem exigido uma reflexão constante sobre meu papel e conduta em campo. Por sua vez, o percurso metodológico envolve disposições e triangulações que consideram contexto virtual e presencial, caracterizando, por meio desse percurso, o estudo de objetos multissituados. Os achados parciais da pesquisa trazem a descrição do caso, destacando os repertórios de confronto que têm se mostrado efetivos na disputa. Além disso, soma-se ao conjunto das reflexões, aspectos vinculados à memória, ao afeto e ao sentimento de pertença dos moradores-resistentes para com o lugar que ocupam há décadas.
Apresentação Oral em GT
Ana carolina Amorim da Paz
Habitar as ruas e os modos de fazer política no cotidiano
Resumo: O presente work compreende um breve esforço em identificar e compreender práticas políticas desenvolvidas por pessoas que habitam as ruas na tentativa de acessar e garantir direitos em situação de grande vulnerabilidade social, econômica, emocional e de saúde. Trata-se de uma tentativa de apontar alguns aspectos de como esses corpos experimentam, compreendem e exercem a política no cotidiano, em suas relações próximas e rotineiras de sociabilidade, procurando explorar a dimensão simbólica dos direitos, o modos de acessá-los, as concepções e dilemas acerca do usufruto do espaço urbano e a maneira pela qual as relações de conflito e poder emergem, adquirem significados e como esses sentidos orientam suas ações no cotidiano da cidade. Para tanto, utilizo como dados empíricos anotações de caderno de campo desenvolvidas durante pesquisa de mestrado, entre 2014 e 2016, no centro da cidade de Cabedelo/PB, agora analisados na perspectiva da pesquisa de doutorado em antropologia – PPGA/UFBA. Acredito que ao voltar à atenção para o cotidiano de parte dessas vivências podemos ter acesso não só a pluralidade das práticas e interações, mas também os sentidos e particularidades que a política pode assumir em tal ambiente, desvelando representações, corporalidades e modos de agir através das quais essas pessoas criam e reivindicam seu lugar nas relações locais. Sendo assim, sigo as indicações de Machado Pais (2003, p.29), do cotidiano como uma “rota de conhecimento” para traçar um diálogo com a chamada Antropologia do direito, da cidade e urbana, além das teorias já consolidadas sobre a temática das pessoas em situação de rua (PSR). Trago como aporte teórico autores como Agier (2015), Trindade (2012), De lima (2009), Oliveira (2010), Foucault (1996; 2013), entre outros. A partir desse diálogo, podemos observar como esses corpos que habitam as ruas lidam com a dimensão normativa e suas formas institucionalizadas, lançam mão da inventividade em suas existências e exploram a potência do habitar nas ruas, alcançando, mesmo que de forma insuficiente, circunstancial e marginalizada, o direito à centralidade, entre outros. Com isso, podemos suspeitar se certas práticas desenvolvidas nessas condições de vida podem ser entendidas como práticas políticas de fazer acessar um direito à cidade.
Apresentação Oral em GT
Beatriz Ribeiro Machado
#CentroVivo: Uma Nova Perspectiva de Ocupação do Centro de Belo Horizonte - MG.
Resumo: Este work aponta para as desigualdades de acesso a moradia na cidade de Belo Horizonte, em especial na região central da metrópole, onde parte da população que vive em regiões periféricas da cidade não é incluída em suas agendas políticas e de lazer. A construção de Belo Horizonte – final do séc. XIX início do séc. XX - nos aponta para um processo histórico de exclusão das populações trabalhadoras, que desde os primeiros anos foi negligenciada para além das bordas da avenida Contorno. Neste sentido, o caso da Ocupação Vicentão evidencia um movimento contemporâneo que busca a partir da #centrovivo trazer uma nova perspectiva de ocupação, moradia e work ao centro da cidade, a partir da luta por moradia e do direito do trabalhador ambulante. A história da construção da cidade de Belo Horizonte se mistura à história desses novos moradores e suas práticas políticas de luta pelo direito à cidade. A cidade neoliberal passa a ser questionada pelos agentes ocupantes dos espaços que outrora eram reservados à branquitude da cidade tradicional.
Apresentação Oral em GT
Enderson Geraldo de Souza Oliveira
‘Tá no jornal, tá na rua’ ou um diálogo entre Antropologia e Comunicação acerca de disputas, pastiches e paisagens na fisionomia urbana contemporânea de Belém do Pará, na Amazônia
Resumo: Não é raro notar em Belém, em especial em áreas mais habitadas ou mesmo frequentadas principalmente por pessoas de classe média e alta, edificações, empreendimentos ou ainda outros locais que possuem, em sua arquitetura ou mesmo “nomenclatura”, expressões e/ ou referências a outras regiões ou lugares, especialmente estrangeiras, de fora do Brasil. O mesmo ocorre nos cadernos de “Negócios” dos jornais da capital, principalmente - e não por acaso desde a capa - dos dominicais, com anúncios e previsões de novos empreendimentos imobiliários e/ou de outras ordens na capital paraense.
Neste work discuto então tais “estrangeirismos”, notando tal processo não apenas como a reprodução de termos de outra região do país ou mesmo fora do Brasil, mas sim como indicadores da tentativa de se buscar outra vivência ou mesmo experiência através de elementos estéticos: os estabelecimentos; suas imagens e os jornais em que são apresentados. Mais que isso: discuto o quanto tais processos talvez ampliem hiatos ou mesmo esgarçam tênues linhas de compreensão do espaço urbano ou mesmo de apropriações ou afastamentos por parte dos sujeitos a que se destinam ou não tais “anúncios”.
Levando em conta o caráter polissêmico de tais discussões, como afirma Flávio Leonel Abreu da Silveira (A paisagem como fenômeno complexo, reflexões sobre um tema interdisciplinar, 2009), me aproximo da categoria “pastiche”, processo estético que visa uma “homenagem” a estilos ou obras anteriores (Pós-Modernismo: A lógica cultural do capitalismo tardio, Fredric Jameson, 2002.
Indo além, ciente de que “percorrer as paisagens que conformam um território, seguir os itinerários dos habitantes, reconhecer os trajetos, interrogar-se sobre os espaços evitados, é evocar as origens do próprio movimento temporal desta paisagem urbana no espaço” (Etnografia de Rua: Estudo de Antropologia Urbana, Cornelia Eckert e Ana Luiza Carvalho da Rocha, 2003) proponho ainda o diálogo entre Antropologia e Comunicação para compreender tal utilização de terminologias nos referidos empreendimentos, que apontam para um curioso e profícuo diálogo entre a paisagem urbana e seu “prolongamento” impresso em jornais, que talvez indiquem para um modo peculiar de consumo ou ainda de aderência às imagens e significados que “carregam” e instigam.
Apresentação Oral em GT
Francine Nunes da Silva
Imaginar e habitar a cidade: reflexões sobre ocupação, arte e resistência
Resumo: Em 2014, um casarão abandonado no centro da cidade de São Paulo foi ocupado por um grupo de artistas e produtores culturais para a organização de um ateliê compartilhado de criações artísticas e posteriormente espaço de moradia. Construído em meados de 1920, o imóvel teve várias finalidades e modificações na estrutura. E atualmente é intitulada Casa Amarela Quilombo Afroguarany. Os ocupantes procuram mobilizar localmente ações sócio-culturais que trazem no seu bojo as temáticas da arte, ocupação e resistência voltadas para as matrizes afro-indígenas, por isso a denominação "Quilombo" e "Afroguarany". A realização de atividades ligadas à música, arte urbana (TAG, pixo e graffiti), audiovisual, dança, teatro, performance, ensaio, bazar, sarau e festa de Dancehall confere ao território ocupado uma re-existência e sociabilidade que espelham referenciais culturais e coletivos da vida urbana. A conflitualidade no centro de São Paulo em relação principalmente a habitação é recorrente e os moradores das ocupações, como a da Casa Amarela, sofrem com as inúmeras tentativas de ordem de despejo e reintegração de posse. Assim, pode-se redimensionar a cidade a partir da chave da precariedade de condições e desigualdades sociais, econômicas, políticas, institucionais, laborais que afetam os habitantes, mas sobretudo pela luta por moradia digna como afirmação e organização por direitos de participação e acesso aos serviços públicos e bens culturais que a região central proporciona. Dentro dessa perspectiva as zonas centrais são caracterizadas pelas recorrentes remodelações que reiteram os processos de afastamento do 'outro', discriminação e preconceito. O presente work busca a compreensão da ocupação enquanto habitação e espaço de ação cultural, artística e politica a partir das falas e narrativas dos residentes em meio a situações de negociação, representação e classificação ancoradas em fatores como, etnia, gênero, origem migrante, raça, idade, opção politica, ocupação profissional. As conclusões preliminares trazem reflexões segundo uma abordagem agonística, de que a arte e a "cultura de rua, negra e periférica" podem intervir e ressignificar territórios em um contexto de dissenso em torno de temas silenciados e submersos que o consenso neoliberal tende a obscurecer e obliterar. Ao escapar das essencializações, das histórias oficiais e dos olhares disciplinares, a pesquisa etnográfica opera no sentido de que as conexões entre arte, cultura e política revelam que as formas de resistência podem criar engajamentos de cunho estético e crítico e um tipo de responsabilidade coletiva pela vida, pelas formas de habitar e pelo uso criativo e alternativo de imaginar a cidade.
Apresentação Oral em GT
Gustavo Belisário d'Araújo Couto
Preconceito de moradia: moralidades e violências contra LGBTs no contexto urbano de São Paulo
Resumo: Este work é fruto da pesquisa de doutorado em curso na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) sobre o feixe de relações de LGBTs e suas casas - as que moram, as de suas famílias, de locatários e anfitriões. A pesquisa é uma etnografia feita com LGBTs que frequentam movimentos de moradia na cidade de São Paulo. Para isso, faço uso de um termo utilizado pela travesti Raquilana. Em uma entrevista para o jornalistas livres sobre LGBTs em uma ocupação do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) na cidade de Mauá (SP), Raquilane diz que sofre preconceito de moradia, devido a sua dificuldade de alugar um lugar para morar. Neste work, uso "preconceito de moradia" como categoria analítica que compreende o conjunto de entraves e constrangimentos que separam LGBTs de suas casas. Para isso, também recorro a alguns elementos de história urbana da cidade de São Paulo para analisar o projeto urbanístico da cidade - passando pela constituição dos cortiços do centro da cidade, o sonho da casa própria, o Largo do Arouche - e sua intenção normalizadora dos corpos.
Apresentação Oral em GT
Jesus Marmanillo Pereira, Antonia Eliane Lobo Carneiro
A CIDADE E A PRAÇA Interações, práticas e atores sociais da Praça da Bíblia - ACD
Resumo: A presente pesquisa trata da análise dos principais atores que compõe a dinâmica social e espacial da Praça da Bíblia na cidade de Açailândia-MA, especificamente os usos sociais praticados naquele espaço localizado entre a Rodovia BR 010 e o bairro Jacu. Partimos da hipótese de que é possível compreender a história e alguns aspectos da cidade por meio do estudo sobre as sociabilidades e as formas de uso do referido logradouro público. Neste sentido, nos valemos de embasamentos teóricos fundamentados na Etnografia de Rua (ECKERT e ROCHA, 2001), nos estudos sobre praças empreendidos por Low (2005) e no conceito de centralidade (MCKENZIE, 1948 apud PEREIRA, 2016, p.2). Tais referenciais foram operacionalizados por meio do mapeamento dos principais atores sociais que ocupam a praça, bem como dos usos e práticas que eles desenvolviam naquele cenário. Assim, buscamos entender os comportamentos, sentidos e situações que possibilitam a existência do agrupamento de pessoas na Praça da Bíblia. Em termos metodológicos, realizamos uma pesquisa de campo de cinco meses, situados entre os anos de 2016 e 2018. Por meio desta foi possível estabelecer diálogos com os principais atores do lugar, realizar observações diretas e obter outras fontes que nos possibilitaram estabelecer algumas relações entre às interações e às práticas sociais desenvolvidas na praça e o próprio contexto da cidade de Açailandia-MA.
Apresentação Oral em GT
Luciano Magnus de Araújo
Uso dos espaços, etnografia visual e embates (quase) silenciosos: aspectos de ‘contemplações de passagem’ na comunidade Vila Matos em Salvador/BA
Resumo: A cidade guarda mistérios, disso não há dúvidas. A cidade vivida por aquele-aquela que cria familiaridades é um ente de conhecimento-desconhecimento. A cidade pode ser desbravada, apropriada, consumida,... A relação do indivíduo que vive essa cidade é mediada por categorias e entendimentos dinâmicos, de falas várias, de interpretações fluidas e fugidias. E para aqueles-aquelas que não a conhecem, como se dá a natureza dessas percepções? Desconhecer e desconhecer-se na cidade são coisas próximas e distantes. Como é definido um primeiro contato com certa experiência urbana? Que elementos, de fato, mediam essa relação? O que é o ente cidade que exija ou possa ser vista como condição - meio-fim - para abordagens-entendimentos sobre e para sua própria exploração e envolvimento? Essas questões fazem parte de um contexto de análise que pode servir para pensar estratégias para viver em e a cidade. De toda forma, é um sugestionamento que carece de adoção espontânea: ser-estar como indivíduo urbano, muitas vezes, prescinde um saber sê-lo. Mas não custa tentar outras maneiras de ser-estar...A presente proposta provoca olhares de passagem tendo como motivo protagonista a comunidade de Vila Matos na cidade de Salvador, Bahia. Observar o uso do espaço urbano, em área nobre do município soteropolitano, contrastando com lugares da cidade organizadas pelo poder especulativo do capital e registrar a coexistência de ocupações entre planejadas, organizadas e outras formas de estar no lugar é nosso presente movimento etnográfico e visual. Para os recortes teóricos algumas autorias serão prestigiadas: Eckert e Rocha (2013), sobre Etnografia de Rua e estudos de antropologia urbana; Santo e Becker (2011), sobre ordenamento territorial e uso dos espaços; Mirandola Jr, Holzer e Oliveria (2014), sobre o lugar do espaço e outras contemplações; Mongin (2009), sobre a experiência de explorar a cidade na era da globalização; Carlos, Santos e Alvarez (2018), sobre resistências, centralidades periféricas e segregações espaciais.
Pôster em GT
Matheus Cervo, Felipe da Silva Rodrigues
O Portal Memória Ambiental e Memória das Águas Urbanas – Porto Alegre, RS.
Resumo: O portal Memória Ambiental é resultado de um projeto realizado pelo grupo de pesquisa Banco de Imagens e Efeitos Visuais (BIEV) do Laboratório de Antropologia Social/PPGAS/UFRGS desde 2009. Iniciado com a construção da pesquisa antropológica em hipermídia denominada “Habitantes do Arroio: estudo de conflitos de uso de águas urbanas, risco, saúde pública e comunidades étnicas em Porto Alegre-RS” e que resultou em um blog e um documentário interativo disponíveis na internet, o projeto incialmente refletia especificamente sobre os usos e abusos das águas do Arroio Dilúvio. Financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e desenvolvido pelo BIEV e pela ONG Instituto Anthropos, refletiu-se principalmente sobre as condições ambientais dos recursos hídricos em questão contrapostos à diversidade sociocultural de representações simbólicas, ethos e visão de mundo das populações que habitam a micro bacia estudada.
Com o posterior desenvolvimento do projeto coordenado por Ana Luiza Carvalho da Rocha e Cornélia Eckert, a pesquisa desenvolvida sobre os processos de metropolização e os consequentes impactos para a gestão de águas urbanas nas modernas sociedades complexas se tornou apenas um dos eixos que estruturam a plataforma atual. Compreendendo a “questão ambiental” através da ótica temporal do viver citadino, propomos uma aproximação entre a etnografia da duração (ECKERT; ROCHA, 2013c) e as múltiplas perspectivas sobre o meio ambiente trazidas pela perspectiva antropológica. Compreendendo que o “Processo Civilizatório” Ocidental (ELIAS, 1985) desencanta e racionaliza a Natureza através de uma concepção específica de inter-relação entre ser humano e ambiente, pretendemos complexificar o que é considerado hoje como crise ambiental ao expressar a heterogeneidade cultural existente em Porto Alegre em relação às águas, aos animais, aos vegetais e outros não-humanos que compõem a paisagem do urbano.
Refletindo sobre a utilização de recursos multimídia como meio de ampliar a divulgação dos resultados da pesquisa etnográfica nas e das cidades para além dos muros da universidade, o processo de desterritorialização e desmaterialização dos suportes físicos tradicionais revela novos desafios para a representação da pesquisa social. A pesquisa aqui proposta se concretiza através da construção de um banco de conhecimento que incorpora escritos, crônicas, narrativas biográficas, cartografias, fotografias, vídeos, sons, etc. Com a construção de coleções de documentos de diversos fundos de origem através de categorias e palavras-chave, utilizamos as ferramentas de georeferenciamento do My Maps da Google para criar uma experiência ao leitor-navegador (CHARTIER, 1999) com o mapa da cidade.
Apresentação Oral em GT
Mayara Ferreira Mattos
As ocupações urbanas de Belo Horizonte em suas práticas do fazer-cidade pelas margens: ocupando territórios e (re)construindo dispositivos discursivos.
Resumo: Frente à incapacidade e ao desinteresse de determinados aparatos de estado em promover uma política urbana preocupada em garantir o direito à moradia para todos(as) que nas, e das, cidades vivem, as ocupações urbanas emergem no contexto urbano como lugares de tencionamento e possibilidades outras do fazer-cidade. Inscritas nos recantos da cidade formal, como reflexo da espoliação urbana e das formas de acumulação de riquezas na produção dos espaços, sua presença reivindica um espaço de sobrevivência que responde à burocracia e à ordem excludente estatal, e reclama por direitos. Como reflexão quanto à gestão diferencial dos ilegalismos, as ocupações urbanas emergem como movimento de luta que desloca a discussão da tautológica dicotomia operante entre o legal e o ilegal, formal e informal. O objetivo então, é colocar no centro do debate o modo como as leis operam, não para controlar ou suprimir os ilegalismos, mas para diferenciá-los internamente (TELLES, 2010). Para tal empreendimento, é importante a compreensão das relações operantes entre a política popular (atividade organizada por grupos subalternizados), e as funções e o exercício dos modernos/coloniais sistemas governamentais, os quais concentram suas práticas em esquemas classificatórios orientados pela noção de população, que conduz a administração de políticas desenvolvimentistas em prol da relação/confluência estado-capital (CHATTERJEE, 2008). Na medida em que transgridem a linha tênue entre a legalidade/ilegalidade, formalidade/informalidade, na luta por moradia e permanência, as ocupações incidem sob a ordem estatal ocupando propriedades inutilizadas, que muitas vezes pertencem ao interesse privado ou mesmo ao próprio estado. Desde o abastecimento de água e eletricidade até mesmo a organização política dentro desses locais, escapam ao controle tutelar e econômico do estado. Contudo, muito além de estarem descoladas das agências estatais e da própria cidade formal numa relação centro-periferia em que a periferia se encontra totalmente aquém e além desse centro, as ocupações atravessam as instâncias formais. Pensar as margens como agentes capazes de atravessar e também serem atravessadas pela trama das práticas estatais rompe com a visão ocidental colonizadora do estado como forma administrativa racional de organização (DAS & POOLE, 2008). Apesar do estado e das margens estarem em uma relação de poder muito desigual, é importante entender que ambos se formam através das experiências locais e não apenas na ação política organizada.
Apresentação Oral em GT
Pedro Henrique Baima Paiva
Etnografando Audiências Públicas: o caso da Operação Urbana Consorciada Jardim Botânico
Resumo: O antropólogo Claude Lévi-Strauss visitou a cidade de Goiânia em 1937, quatro anos após o lançamento da pedra fundamental pelo então interventor federal Pedro Ludovico Teixeira, e sua impressão foi que “ali nos sentíamos como numa estação de trem ou num hospital, sempre passageiros, e nunca residentes” (LÉVI-STRAUSS 1996, p. 132).
A cidade planejada e modernista que nasceu no centro oeste do país, durante esse tempo foi escolhida por pessoas vindas de vários Estados para trabalhar e viver. Contudo, para algumas dessas pessoas que há mais de 60 anos lutam pela escritura de suas casas, essa sensação de “passageiro”, vez ou outra ainda volta à lembrança.
Este é o caso dos moradores da Ocupação do Jardim Botânico (OJB), que mais uma vez enfrentam a ameaça de despejo após o anúncio de projetos urbanísticos para a região. Construída às margens do Botafogo, córrego que historicamente acolheu muitas famílias vindas para a construção da cidade planejada, a OJB trava uma disputa com a prefeitura em busca da regularização fundiária das casas no mesmo momento em que o setor imobiliário lança seu olhar para o potencial de valorização da área e pressiona o poder público por intervenções.
É nesse contexto que a cidade de Goiânia, planejada e construída na década de 1930 como símbolo da ruptura do tradicional em busca da modernidade, se torna um ótimo caso para análise. A capital do Estado de Goiás tem experimentado o que Harvey (2014) chamou de desenvolvimento incoerente e insípido que ganhou legitimidade no movimento chamado “novo urbanismo” e que enalteceu a venda da comunidade e do “estilo butique” como modo de vida, criando um produto feito por agentes imobiliários para satisfazer os sonhos urbanos.
Ao analisar o diálogo entre a prefeitura, os moradores e os investidores imobiliários considerando-o como sugere Herzfeld (1991), um debate cultural na prática social, procuro contribuir com o estudo de processos urbanísticos e de intervenções urbanas aprofundando o olhar para a relação de familiaridade que os moradores têm com os lugares. Conhecer o saber local a partir das dinâmicas dos moradores, seus valores e suas memórias pode fornecer informações importantes sobre os lugares, que devem ser incorporadas ao saber técnico e especializado do ambiente político e burocrático do planejamento das cidades.
Portanto, após o anúncio da prefeitura da capital de realizar sete audiências públicas para discutir com a população uma proposta de Operação Urbana Consorciada para a região, lanço mão da câmera participante, dinâmica de apresentar ao grupo o material registrado durante o work de campo, para filmar essas audiências com os moradores da (OJB) registrando, sobretudo a forma com que as pessoas veem ou imaginam a região.
Apresentação Oral em GT
Victória Ester Tavares da Costa
Reforma do Bar do Parque, em Belém do Pará: dinâmicas de ocupação e repercussão
Resumo: Ponto de encontro de músicos, poetas, prostitutas que lá encontravam seus clientes e moradores das proximidades ou das ruas, o Bar do Parque era conhecido desde os anos 1960 por sua característica mais intensa: a boemia. Rastro da Belle Époque em Belém, a arquitetura europeia de casarões e prédios localizados no centro da cidade contém certa estrutura histórica. Próximo ao centenário Cine Olympia e ao Theatro da Paz, na Praça da República, o Bar do Parque é o local de observação deste texto.
Em 2017, o anúncio de um edital municipal que previa encontrar novos gestores para o Bar, que fizessem modificações na estrutura, trazendo uma “revitalização conceitual” baseado em um novo modelo “comum na Europa”, segundo o próprio documento oficial, fez com que a mobilização acerca das possibilidades de descaracterização deste espaço fossem sentidas por seus frequentadores e simpatizantes. Apesar das petições e reivindicações, o Bar do Parque foi fechado e reinaugurado no início de agosto de 2018, cuja repercussão foi notada principalmente nas mídias sociais, em que há nítida divisão de opiniões no que tange a reforma, seu público e às questões de gestão.
Partindo de Certeau, sobre um espaço tornar-se local (“A invenção do cotidiano”, 1990) a partir das características que se desvelam nas interações entre as pessoas e os elementos presentes, então tem-se, hoje, várias percepções sobre o Bar do Parque. Neste ínterim, o uso e a ocupação do espaço tornou-se tema de debates (por vezes fervorosos) cujos resultados repercutiam diretamente no usofruto do Bar e seu entorno. A reforma trouxe mais que mudanças físicas à paisagem deste trecho do bairro da Campina, gerou mobilização de grupos em relação a esta área, seja na convocação dos batuques na praça, seja nos clientes (novos ou antigos) do bar ou mesmo curiosos, à distância.
O abandono público antes da reforma é unanimidade. As alterações nos preços, na estrutura, nos serviços oferecidos e, principalmente, no público, são os questionamentos mais frequentes nas mídias digitais, mas foi também o que gerou uma dinâmica de ocupações. Assim, através de etnografias pelo próprio Bar do Parque e do contato com frequentadores e ex-frequentadores, acrescentarei à pesquisa algumas das opiniões emitidas na internet (Kozinets, “On Netnography: Initial Reflections on Consumer Research Investigations of Cyberculture”, 1998), elencando pontos que desvelam as diversas percepções da reforma no âmbito do prédio e de seu entorno. Deste modo, discuto também a partir de Agier (“Do direito à cidade ao fazer-cidade: O antropólogo, a margem e o centro”, 2015) e de Magnani (“Etnografia como Prática e Experiência”, 2009) de que forma as práticas sociais que estão ocorrendo podem refletir diretamente neste recorte da cidade.
Apresentação Oral em GT
Vinícius Moraes de Azevedo
“Posso perder a carteira, mas não perco a identidade”: a linguagem da pichação como forma de ação e reapropriação na cidade do Rio de Janeiro.
Resumo: Misteriosas assinaturas monocromáticas feitas com spray de tinta que aparecem repentinamente em diferentes alturas e superfícies da cidade são alguns dos elementos centrais que compõem o visual do ambiente urbano carioca. É impossível circular pelas ruas, sobretudo as das regiões periféricas da cidade, sem encontrar paredes repletas de pichações. Indivíduos, majoritariamente homens, de diferentes níveis econômicos e educacionais, são os autores dessas caligrafias proibidas. Com o objetivo de garantir notoriedade entre seus pares, eles espalham seus nomes e criam uma forma específica de se comunicar usando o corpo da cidade como seu suporte base. Trata-se de uma linguagem codificada que só pode ser acessada pelos iniciados nessa cosmologia.
No contexto de urbanização espetacular observado no Rio de Janeiro, a linguagem da pichação é compreendida como antagônica à noção normativa de uso apresentada pelos setores hegemônicos da sociedade. Esse é um dos fatores do complexo jogo de valores que faz com que a pichação e seus praticantes sejam violentamente combatidos por seus opositores. Para sobreviver e dar vida a uma estética construída coletivamente, os pichadores elaboram uma lógica específica de ocupação dos espaços.
Essa metodologia de (re)significar o ambiente urbano, tanto com o corpo como com suas assinaturas, consiste em uma atuação noturna e furtiva na qual meus interlocutores visam paredes e muros que garantem destaque visual e durabilidade para as pichações. Eles fazem uso de brechas e realizam manobras com o intuito de driblar o moderno sistema de segurança citadino. O corpo não pode ser visto, mas deixa a marca de sua presença em diversos espaços e alturas da cidade.
Imersos na atividade de produção de seus nomes, esses interlocutores iniciam trajetórias que entendo como carreiras na pichação. São processos de progressão sequencial, marcados por etapas de transição, isto é, mudanças significativas dentro de um sistema, a afetar diretamente o indivíduo e sua subjetividade, e alterar, portanto, seus projetos, sua forma de atuação, de uso do ambiente urbano e sua significação.
O objetivo central do work é, através da pesquisa etnográfica, compreender como indivíduos socialmente estigmatizados obtêm prazer, reconhecimento e satisfação pessoal através de uma prática que, em aparência , oferece mais problemas do que benefícios. Nesse contexto, abordo a pichação como código comunicacional, ação política de ocupação do território, e forma de reconhecimento e lazer, a engendrarem especificidades da cultura de rua carioca. Nesta comunicação, apresento as questões centrais da dissertação. Essas problematizações serão apontadas através da exibição de material iconográfico.
Pôster em GT
Vladimir Eiji Kureda, Guilherme Passamani
Revitalizar a “Rodô”: entre conflitos, alianças e diferenças
Resumo: O presente work tem como finalidade apresentar as reflexões realizadas sobre o processo de revitalização na antiga rodoviária de Campo Grande – MS. Ressalta-se que esse work é parte do work de Conclusão de Curso em Ciências Sociais concluído no ano de 2017 na UFMS. O foco da análise centra-se na compreensão da antiga rodoviária, conhecida popularmente como “Rodô”, situada numa área próxima ao centro comercial da cidade, como um espaço em disputa, aonde se congrega uma heterogeneidade de sujeitos que produzem relações com o lugar e entre si. Essas disputas em torno da antiga rodoviária, que envolvem relações de conflitos e alianças, se manifesta com o processo de revitalização. Nesse sentido, o work traz as pessoas em situação de rua, evangélicos e instituições estatais, que estão diretamente relacionadas com o processo citado acima, destacando algumas de suas formas de uso, contra-uso, territorialização, representações e intervenções. Do ponto de vista metodológico, a análise é fruto de dados produzidos nas observações realizadas no work de campo de cunho etnográfico, bem como de documentos públicos e entrevistas semiestruturadas. No que tange a algumas inferências, pode-se afirmar que: parte dos comerciantes situados nas imediações da antiga rodoviária reitera a necessidade de reaquecer a economia local, almejando-se o retorno da clientela formal e dos turistas que passam pela cidade, através de projetos implementados pelo Estado, que levariam, consequentemente, à retirada das pessoas em situação de rua do local; além disso, as ações caritativas de evangélicos para com a população em situação de rua é concebida por alguns comerciantes como uma prática pouco “solucionadora” e que colabora para a manutenção desses sujeitos no universo das ruas. Logo, algumas dessas igrejas são percebidas pelos comerciantes como um entrave para a revitalização local; por fim, em dois documentos estatais, de instituições ligadas ao planejamento urbano municipal, aparece a necessidade de ocupar “áreas vazias” de regiões da cidade, que incluem a antiga rodoviária, bem como resolver o “problema social” do bairro, corporificado na figura de “mendigos, usuários de drogas e moradores de rua”, ou seja, o Estado torna visível esses sujeitos ao categorizá-los como um “problema social” que precisa de intervenção, enfatizando o uso de drogas nesse contexto, bem como trata esse espaço da cidade como um lugar que carece ser ocupado por novos equipamentos e sujeitos, logo, gentrificado.
Apresentação Oral em GT
Wendell Marcel Alves da Costa
Lugares de luta e resistência: classes populares, espaços políticos e intervenção cinematográfica na reestruturação urbana do Recife/PE
Resumo: Este work tem por objetivo discutir sobre os lugares de luta e resistência que constituem formas de proposição de negociação em relação à questão da reestruturação urbana por qual passa a cidade do Recife/Pernambuco. Na última década, a cidade recifense tem se transformado num palco de resistência diante dos projetos de remodelação da paisagem e mobilidade urbana, produzindo lugares de luta política de classes populares e médias urbanas. Estes lugares de luta e resistência estão imbricados nos departamentos autárquicos do governo (na figura de deputados e vereadores), em movimentos sociais de cunho urbano-produtivo liderados pelas classes populares que reivindicam o direito à cidade e em setores da produção cultural e cinematográfica (produtores, diretores, fotógrafos, atores/atrizes). O cenário da reestruturação urbana do Recife tem fomentado iniciativas cinematográficas que representam os desafios, os paradigmas e os discursos construídos sobre a questão urbana recifense, como nos filmes de ficção dos diretores Marcelo Pedroso, Gabriel Mascaro e Kleber Mendonça Filho. Os lugares de luta e resistência estão presentes, assim, em duas modalidades de intervenção, a burocrática e a estética – a governamental-capitalista e a cinematográfica. Neste sentido, elaboramos aqui uma discussão sobre estas duas modalidades de intervenção política e estética no centro urbano do Recife contemporâneo, dialogando com a Antropologia Política, Urbana e as formas expressivas de constituição e representação dos discursos sociais.